Python não escala, Java é melhor e IA vai revolucionar tudo.
Eu faço faculdade EAD por comodidade. O problema não é o ensino, nem os professores. O problema são os alunos. Tem momentos que me dá vontade de caçar cada integrante da minha turma e ter uma conversa firme com cada um (no sentido filosófico, claro).
O motivo? A quantidade absurda de gente que não entende o básico, mas já se acha o próximo Linus Torvalds. O cara não consegue escrever um for sem Stack Overflow, mas quer revolucionar o mercado com inteligência artificial. Pergunta sobre testes automatizados, padrões de arquitetura, eficiência de código? Silêncio absoluto. Mas fala de IA e pronto: "mano, vou criar um sistema que usa machine learning e GPT pra automatizar tudo!"
Não sabe modelar um banco de dados, mas acha que vai criar um algoritmo que aprende sozinho e otimiza processos.
Agora, pega essa: estou num projeto acadêmico em grupo. A proposta? Criar um simples sistema de biblioteca. Algo trivial, um CRUD com algumas regras de negócio. Então, como um ser humano normal, eu tentei puxar o básico da conversa técnica:
"E aí, pessoal, que tecnologia a gente vai usar?"
- Um falou Java. Ok, robusto, confiável.
- Outro soltou Ruby (estranho, mas vida que segue).
- O terceiro sugeriu JavaScript (porque sempre tem alguém que quer resolver tudo no front).
- Aí eu falei bora de Python, porque é simples, direto ao ponto e resolve o problema sem firula.
Eis que vem o quarto integrante, o iluminado, e solta:
"Python não é rápido e não escala."
Aí eu respiro fundo. Amigo, sério? Um sistema de biblioteca acadêmico, rodando num servidor capenga, e o cara preocupado com escalabilidade? Será que ele acha que estamos criando o backend da Amazon?
Se eu perguntasse sobre GIL, concorrência, load balancing, estratégias de caching ou arquitetura de microserviços, tenho certeza de que ele ia travar. Mas ele leu num blog qualquer que "Python não escala", e agora acha que sabe algo que eu não sei.
Isso é o que me irrita. Não é a escolha da linguagem. É a falta de noção de contexto.
Programação não é sobre escolher a linguagem "mais rápida", "mais escalável" ou "mais moderna". É sobre resolver problemas. Não existe ferramenta perfeita. Existe ferramenta adequada para o problema em questão.
E, sinceramente, para um trabalho acadêmico, Python é mais do que suficiente. Provavelmente qualquer linguagem seria. Mas não, bora entrar numa discussão teórica sobre escalabilidade, como se estivéssemos gerenciando milhões de requisições por segundo.
O que me preocupa não é a ignorância. Todo mundo começa do zero. O problema é o cara que não sabe, mas acha que sabe. Aquele que nunca configurou um balanceador de carga, nunca trabalhou com um sistema de alta disponibilidade, nunca precisou lidar com concorrência de verdade, mas repete frase de efeito sem entender o porquê.
No fim das contas, o projeto vai sair? Vai. Mas minha paciência está saindo primeiro.
E vocês, já passaram por algo assim? Ou sou só eu que tô prestes a pedir isolamento digital definitivo?