Como a faculdade pública quase me fez desistir de tudo
Desde a adolescência, eu sempre invejei estudantes universitários.
Venho de uma cidade estudantil que tem uma universidade pública muito forte e concorrida, sempre quis estar ali entre eles, ser um deles.
Essa pira com universidade pública veio da adolescência. Muitos me falavam: "não faça faculdade particular, faça faculdade pública, elas são as melhores e se você entrar lá (UFMG, USP, Unicamp...) você vai se dar muito bem".
Eu cresci com essa ideia na cabeça, de que faculdade privada não valia nada e que eu tinha que ter um diploma de uma dessas universidades federais ou estaduais.
Esse sonho de entrar em uma boa universidade só veio a se realizar aos 26 anos, depois de inúmeras tentativas, consegui passar em Engenharia Mecatrônica em uma instituição federal. Porém, quando cheguei no terceiro período eu já estava decepcionado 🥲
Faculdades públicas podem ser muito prestigiadas (inclusive supervalorizadas pelas grandes empresas), mas também considero que tudo é muito teórico com um modelo de ensino que se mantém conservado da mesma forma desde os anos 50,60,70... pouca coisa mudou.
Nunca gostei da ideia de estudar páginas e mais páginas de livros de cálculo para depois fazer uma prova para encontrar o valor de "x". Minhas notas eram bem baixas por não ter vontade de estudar para resolver essas provas. Mas se o assunto fosse criar algum projeto que resolvesse algum problema, eu seria capaz de encarar os livros mais difíceis para achar a solução.
Na faculdade eu aprendia limite e derivada, resolvia alguns exercícios e encontrava o valor de x, mas no final eu queria mesmo era saber onde tudo aquilo se enxcaixava para colocar um avião de pé, onde tudo aquilo se aplicava no mercado para resolver problemas de engenharia, de computação... problemas de negócio. Era isso que eu queria entender.
Acabei desistindo da faculdade, saindo de lá com a sensação de incapacidade, eu me sentia burro e incompente. Mas no fundo eu sabia que nunca fui incapaz ou preguiçoso, eu apenas não me adequava a esse modelo de ensino que eu considerava ruim para a criatividade, para o empreendedorismo e para o mercado de trabalho em geral.
Eu tirava notas baixas nas provas não por incapacidade de entender ou de estudar, eu apenas me distraia com coisas que eu achava mais interessantes como assistir um tutorial de alguém ensinando como analisar dados da bolsa de valores em Python implementando estatística e probabilidade e outros cálculos avançados. Era disso que eu gostava!
Um modelo de ensino ultrapassado
Faculdades tradicionais ainda estão presas no passado com um modelo de ensino que castiga os estudantes para que eles aprendam coisas complexas da pior maneira, da maneira chata! Percebi inclusive, que nessas universidades muitos professores se orgulham de serem campeões de reprovação e de fazerem seus alunos desistirem, como se isso fosse um motivo de orgulho. Mas será que para fazer alguém aprender alguma coisa, temos que fazer esse alguém sofrer?
Lembro de um professor no segundo semestre dizendo que a sala estava bem mais vazia e que engenharia era mesmo para poucos com um orgulho danado. Engenharia não é para poucos, é para muita gente. Acontece que existem muitos alunos que não conseguem se adequar ao modelo de ensino tradicional. Alguns alunos podem ser nota zero em uma prova de cálculo, mas podem ser excelentes estudantes na hora de criarem um projeto de computação que faça uso de cálculos avançados e no final das contas, eles podem entender como esses cálculos funcionam na prática do mesmo jeito.
Me lembro das aulas de estatística extremamente teóricas, o período de provas estava chegando e eu querendo desistir sem motivação alguma para começar a estudar. Foi quando eu peguei sem querer na internet o livro Practical Statistics for Data Scientists. Eu me apaixonei por estatística em poucas páginas de leitura ao entender onde tudo aquilo se aplicava para resolver problemas em todas as áreas da sociedade. Me torcei um devorador das páginas desse livro sem a obrigação de ter que estudá-lo para tirar dez em alguma coisa.
Hoje eu percebo que todos nós temos um pouco de genialidade e que ninguém pode ser considerado burro por tirar zero em uma prova, mas a educação estruturada da forma como ela é hoje vem matando a criatividade e a motivação. A educação precisa cativar as pessoas, precisa gerar um encanamento e não apenas ser empurrada guela abaixo sem nem ao mesno explicar as pessoas onde tudo aquilo se aplica para resolver problemas.
Eu sempre serei preguiçoso para estudar cálculo, estatística e probabilidade para resolver provas em busca de uma boa nota, mas eu sempre terei motivação para estudar horas e horas se o objetivo é criar um projeto de analise para o mercado financeiro por exemplo.
Uma nova perspectiva sobre a educação
Depois de abandonar a faculdade formal e ver meu sonho quebrado, hoje eu estudo em uma universidade dessas mais descoladas no estilo startup, faço hackathons de projetos e vários cursos em plataformas como Coursera ou EDX. Tratam-se de modelos de ensino bem diferentes onde você aprende colocando a mão na massa para criar coisas que funcionam e que resolvem algum problema. Claro que ainda existe uma parte bem conceitual e teórica, mas existe uma parte onde tudo é mais prático e praseroso, uma parte onde você vê as coisas funcionando e se sente realizado sendo capaz de criar algo.
Não creio que esse modelo teórico baseado em achar o valor de x o tempo todo vá se sustentar por muito tempo. Acho que tudo isso pode fazer muito sentido para cientistas e pesquisadores, mas não fazer tanto sentido para quem quer criar projetos, negócios ou empreender.
Pegue um adolescente que odeia matemática e física e que só tira notas baixas nessas matérias e, ao invés de fazer ele passar horas exaustivas estudando, tente construir junto com ele um aeromodelo de isopor mostrando a ele onde a matemática e a física se juntam com o design de produto para construir um protótipo. Mostre a ele como fazer o próprio controle remoto do aeromodelo através de sensores e IoT (internet das coisas). Duvido esse jovem continuar odiando matemática e física.
Sobre tudo isso, eu sempre fui o jovem inadequado que tirava notas ruins, mas que sempre se sentia motivado para aprender um monte de coisas difíceis se eu soubesse que iria construir algo. É tudo uma questão de perspectiva, de oportunidade.
A educação não precisa fazer sofrer para se fazer entender, não precisamos fazer as pessoas aprenderem coisas complexas através da exasutão. Aquela fase em que o professor batia nas mãos dos estudantes com uma régua quando faziam alguma coisa errada já foi superada, isso foi nos anos 60, 70.
Agora estamos no século 21 onde o conhecimento está muito mais democratizado, dinâmico... surgem novas escolas de negócio, professores se juntando e criando startups nas áreas de educação a preços acessíveis com metodologias de ensino bem diferentes do modelo tradicional.
A educação não deveria se restringir a "encontre o valor de x", ela também precisa nos mostras como as coisas funcionam na prática e onde tudo isso pode ser aplicado para resolver problemas na sociedade.
Essa é a minha visão sobre educação.