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Há espaço para programadores no Serviço Público?

Olá a todos!
Grata satisfação em participar por aqui. Entrei no TabNews após assistir o vídeo https://www.youtube.com/watch?v=bYBVCxVwrdY e acho a iniciativa muito interessante.

(Disclaimer: Não trago aqui códigos de programação, apenas algum insight para apreciação)

Sou funcionário público estadual (SP), na área de segurança pública. NÃO SOU PROGRAMADOR (sou pai de um https://www.linkedin.com/in/mographllo/), mas sinto na pele a falta dessa galera dentro da instituição.

No serviço público há 26 anos e participando junto à alta gerência, a cada job rotation me deparo com MUITA deficiência de métodos e processos automatizados em TODOS os setores. É incrível ver como muitos setores estão arcaicos com seus processos, apesar de produzirem muitos dados. Em todas as áreas vejo oportunidade para programadores e cientistas de dados!

Participando de uma instituição bicentenária, com mais de 80.000 funcionários públicos em atividade, vejo que há campo para a aplicação de sistemas e até criação de setores específicos, pois muitos processos ainda são analógicos ou trabalhados com pessoas "emprestadas" de outras áreas. Na instituição há verdadeiros "heróis" em cada setor, trabalhando os dados como acham que é viável ou necessário, não havendo na maioria dos casos um desenvolvimento profissional e dedicado.

A título de exemplo, trabalho com analistas que tem à disposição um banco de dados de ocorrências ambientais com métricas coletadas desde 1997, as quais contém data da ocorrência, hora, coordenadas geográficas, nome do infrator, data de nascimento, natureza da ocorrência/crime, endereços relacionados, número identificador único. Contudo, não se faz análises profissionais. Fazemos análises descritivas, apenas. Não fazemos rotineiramente análises preditivas ou prescritivas, somente via demanda (o que não ocorre com frequência).
Dessa forma, ficam subutilizados todos esses dados e perde-se uma grande oportunidade em saber com antecipação como melhor direcionar os trabalhos (e isso é só UM exemplo).

É certo que muita informação no serviço público ainda não é aberta, mas isso está mudando. Creio que o caminho mais eficiente para a abertura de dados do serviço público seja o inverso, ou seja, do estudo e interesse do programador para o gestor público, porque nem todo o gestor público tem essa visão e esse nível de assessoramento.
Nesse sentido, a criação de uma Startup ou Hub dedicada a um problema do serviço público me parece interessante.

Vejo um grande potencial no desenvolvimento de aplicações para o serviço público e não é tão difícil encontrar desafios nem mesmo acessar as pessoas envolvidas. Basta que a comunidade se interesse pelo assunto e procure conversar com quem trabalha diariamente nesse tipo de atividade.

Espero que este tópico traga alguma reflexão aos programadores e nos ajude a resolver alguns de nossos problemas!

**Grato a todos.
Abraços
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Eu não sou programador, mas me interesso pela área desde o início dos anos 2000. Também sou servidor público desde essa época e, por isso, acho que posso acrescentar algo a essa discussão.
Como todo mundo sabe (eu acho), pra você ingressar no serviço público, hoje, ou você faz um concurso ou é nomeado para um cargo em comissão -- os famosos CCs. (Não considero quem presta serviço para órgãos públicos porque não fazem parte do serviço público, apenas prestam um serviço e recebem por isso.)
Eu diria que a questão da adoção da tecnologia como um todo, quando falamos em serviço público -- e aí podemos incluir não só a tecnologia como comumente pensamos nela, mas também incluindo a questão de processos melhores -- essa adoção sempre foi bastante lenta, se não inexistente.
Temos que ter em mente que, enquanto que na iniciativa privada os gestores tem sempre como último fim de suas ações o aumento dos lucros (teoricamente, é claro, mas nem sempre é assim) e, por consequência se determinada tecnologia consegue colaborar para esse fim ela tende a ser adotada; o setor público trabalha de forma diferente em virtude de sua natureza. Ou seja, no setor público não se almeja o lucro, mas o bem-estar da sociedade (ou deveria ser). Então, mesmo que determinada tecnologia (em sentido amplo da definição) possa trazer uma redução da despesa ou aumento da receita -- o que é bom para a sociedade pois acaba por ter mais recursos para outros programas públicos -- não é essa preocupação que existe na cabeça dos gestores públicos. Como todos nós sabemos, os gestores públicos, desde o presidente do Brasil até o secretário de obras de um município do interior do Piauí, todos estão alí por meio da política, e nem sempre eles têm capacidades gerenciais. Na verdade é bem comum que estas pessoas que tem na ponta de suas canetas orçamentos de milhões de reais, que elas tenham dificuldades para gerenciair o próprio orçamento doméstico. Mas são elas que tomam as decisões.
Então, quando um técnico apresenta uma proposta de adoção de alguma tecnologia nova, muitas vezes sequer se entra na discussão de custos e de retorno. Muitas vezes a ideia é de pronto abortada simplismente porque o gestor não consegue entender qual seriam os benefícios para o órgão público, ou porque ele não consegue ver como aquela tecnologia vai favorecer o atendimento dos interesses pessoais dele e do grupo que representa. Também a questão do custo financeiro é considerada: porque investir num sistema de predição de quem vai pagar e quem não vai pagar o parcelamento de dívida ativa se ele pode usar isso para comprar medicamentos ou pagar consultas para a população (ainda que esse tipo de tecnologia possa levar a um aumento considerável da arrecadação)?
Outro fator é a própria mentalidade dos servidores públicos, na qual parcela expressiva é avessa à mudança ou tem medo de que ela traga-les mais trabalho (ou em alguns casos, os obrigue a trabalhar). Pensemos nos objetivos de quem entra no serviço público a partir do que os cursinhos preparatórios despertam nas pessoas: você procura estabilidade, inclusive financeira, altos salários (pelo menos acima do mercado) e "vida tranquila". É isso que eu via ser difundido nos cursinhos (quando eu estudava e ainda vejo isso hoje). O que isso reflete no comportamento das pessoas? Que funcionário público "está com a vida ganha". Poucos são os que veem o serviço público como uma oportunidade de fazer algo de valor para a sociedade. A maioria trata isso como uma forma de "ver o mês correr por 30 dias" e ter um salário grantido no final do mês.
Falando dos programadores -- como vamos atrair bons programadores sem oferecer salários compatíveis com o mercado, sem perspectivas de crescimento profissional e muito menos de valorização e reconhecimento e onde o ambiente não favorece -- e pelo contrário, desestimula -- a inovação?
E por fim, sim o serviço público é uma fonte inesgotável de informações que tem um infindável potencial para inovação e melhoria para a sociedade, mas assim como na física, a energia só gera trabalho quando deixa de ser potencial e se trasnforma em movimento. E isso é o que menos tem no setor público brasileiro, para infelicidade de nosso povo.

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Olá, ponto de vista bastante realista e coerente.
Grande parte que vc pontuou sobre o serviço público acontece de verdade e é uma grande fonte de desestímulo para os novos entrantes que têm propósito de trabalho e para os mais antigos, determinados e idealistas.
Contudo, é exatamente nesse ponto que vejo oportunidade. O Brasil ainda é um bebê em desenvolvimento, política e culturalmente. Agregar tecnologia no serviço público, por menor alcance que tenha e mesmos que se apliquem altas somas, já libertaria alguém para desempenhar outras funções, desburocratizando e promovendo eficiência.
Nós, massa que vota, deveríamos pensar muito antes de escolher nossos representantes e deveríamos ter uma postura de maior cobrança junto aos políticos.

Creio que esse seja o caminho da evolução constante.
Abraços

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**Post muito bom! **

É um tema que como programadores não pensamos muito, acredito que por justamente não existir uma demanda/comunicação muito clara entre o setor público e profissionais da área.

Partindo desse ponto, como você acredita que essa intereção/aproximação do programador com o serviço público deveria ocorrer?

Abraços!

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Olá, obrigado pelo comentário.

Eu acredito que o profissional possa consultar um funcionário público envolvido em processos administrativos ou operacionais. Se não conhecer um, pode fazê-lo tentando contato via LinkedIn, por exemplo.
Certamente ele saberá indicar um problema capaz de ser resolvido com tecnologia.

Abraços

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Há alguns dias, li um artigo no Medium com um relato pessoal de uma UX Designer americana que saiu de sua posição no Google para trabalhar no governo local da cidade de San Franscisco. No artigo, ela conta sobre como uma parceria entre o Google e governo municipal em um projeto a cativou para buscar, mais tarde, uma vaga no serviço público, já que nele ela identificou a possibilidade de realmente contribuir de uma forma mais efetiva no melhoramento do bem-estar da sociedade e, assim, sentir seu trabalho mais engrandecedor e válido. O artigo é muito bacana, está em inglês, mas é uma ótima leitura:
https://medium.com/@laurenjong/why-i-quit-my-job-at-google-to-work-in-local-government-dc372221048b

Essas experiências são essenciais para alcançarmos o que você levantou no seu post, que trás, não só um problema a ser resolvido, como também uma ótima oportunidade para muitos profissionais que tem de dificuldade de encontrar postos de trabalho e podem começar a tentar resolver esses problemas para se destacar e também para aqueles profissionais que estão estagnados em seus postos e sentem que seus trabalhos não são realmente úteis para a sociedade, independente dos benefícios que recebem por eles.

Investir nessas experiências, abrir a cabeça do setor público e incentivas trabalhadores a se engajarem nesse caminho é realmente essencial e pode trazer muitos benefícios, desde empregos até mais rapidez na burocracia cotidiana desses serviços.

Abraços

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Olha só, excelente informação!

É realmente muito válida a iniciativa de buscar no serviço público uma forma de engajamento. Dentro das organizações públicas há uma grande necessidade de bons profissionais de tecnologia e sabendo se colocar e contribuir, vai longe.

Abraços.

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Tá tendo uma onda de grandes concursos públicos na área de TI neste ano. Tivemos o do Banco do Brasil meses atrás, agora tem o da SERPRO... Penso que talvez esteja começando a haver uma inclinação dos governantes para essa necessidade.

A SERPRO, por exemplo, está por trás de vários projetos que usamos no dia a dia, como RG Digital, CNH Digital, CTPS Digital, o app do imposto de renda (que tem melhorado a cada ano). Tem o PIX, encabeçado pelo BC, também.

Enfim, como vc disse, tem muito espaço pra trabalho. Na segurança pública mesmo, muito poderia se fazer. Em automatizações na área da saude, na área tributária, combate a sonegação...

Tomara que possamos ver essas evoluções no futuro. Respondendo sua pergunta: o que mais precisa no serviço público é programador rsrs.

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Ótima visão amigo!

Certamente tem muita gente acordando para a tecnologia no serviço público. É uma tendência que faz parte da evolução tecnológica geral. Demora, mas chega.

Vejo muito espaço para inovação com o uso de inteligência artificial no serviço público. Na segurança pública, por exemplo, há como utilizar o aprendizado de máquina para prever locais de ocorrências de crimes e assim poder mitigar os danos.
A utilização de imagens de satélites mapeando a vegetação nativa ainda intacta, combinando com dados históricos de fiscalização nessas áreas e o esforço operacional dedicado, podem trazer resultados expressivos.
Tem como fazer.

Abraços.

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Desde cybersegurança no departamento de defesa, policia federal, combate a crimes cibernéticos até um crud em no-code pra salvar o cadastro do posto de saude. O que não falta são oportunidades.

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realmente é dificil imaginar orgãos como prefeituras ou instituições publias quaisquer suprindo suas nescessidades a partir da adequação tecnologica.

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E como funciona a motivação na área?

Paga adequadamente? Há reconhecimento?

As ferramentas disponíveis são sucateadas?

Há interesse que se faça softwares que podem fazer as pessoas trabalharem melhor, evitar fraudes e desperdícios, entre outras questões do tipo?

Há chefia com capacidade e disposição de colegas de trabalho para fazer um bom trabalho?

A seleção da equipe é feita com base em competência real ou avaliação superficial e de conhecimento artificial?

Com o tempo as pessoas que entram motivadas são mais motivadas, ou passam a ser vistas como pessoas ruins que estão atrapalhando o status quo?

Há intervenção indevida?

Há incentivo para as pessoas fazerem o trabalho pelo coletivo e não pelos interesses pessoais?

Consegue afastar um dos membros da equipe que esteja criando dificuldade para o trabalho geral?

Uma startup especilizada na área receberia em dia?

Conseguiria ganhar licitações pela sua capacidade não perderia por outros fatores?

Ela teria uma relação respeitosa?

Não teria achaque?

Conseguiria ter estabilidade quando muda governo?

Haveria interesse suficente para escalar?

Farei algo que muitos pedem para aprender a programar corretamente, gratuitamente. Para saber quando, me segue nas suas plataformas preferidas. Quase não as uso, não terá infindas notificações (links aqui).

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Maniero, maniero... pegou

Todas as questões são pertinentes e realistas e trazem reflexão para o sentimento sobre muitos fatos que permeiam organizações públicas. Mas, responder a cada pergunta colocada no seu post iria descortinar minha limitação sobre o conhecimento do universo das instituições. Não as conheço completamente.

Há desafios, há correnteza contra ...mas vale muito a pena ter resiliência e persistência (no caminho você se fortalece ..afinal, mar calmo não faz bom marinheiro).

Viveremos novos tempos, sejamos otimistas.

Abraços

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Excelentes questionamentos.
No meu caso (dev e servidor público) tudo depende do momento e das necessidades

    • Não há motivação, mas no início me ofereceram salas e hardware atualizado.
    • Não há reconhecimento/remuneração ou qualquer bonificação para desempenhar essa função (sou de outro setor). Aceitei pelo aprendizado e experiência.
    • Há interesse para que se trabalhe melhor, desde que não se aponte para quem não trabalhe.
    • A chefia depende da pessoa, minha atual não tem nenhuma capacidade para orientar uma equipe de trabalho ou conduzir o desenvolvimento, mas o que começou o projeto sempre pedia minha opinião sobre como podíamos melhorar o trabalho usando o sistema e me dava carta branca.
      5 - "Com o tempo as pessoas que entram motivadas são mais motivadas, ou passam a ser vistas como pessoas ruins que estão atrapalhando o status quo" Estou vivenado exatamente esse momento. A partir daqui já não há mais o relação respeitosa e muitos sujeitos "achamque". =(
      6 - Estabilidade no setor público é a vantagem da categoria, mas dizer que você terá o mesmo incentivo e recursos para realizar seu trabalho... não acontece. Principalmente em esferas menores como a municipal que há alta rotatividade de cargos de confiança.

Acho que esses são os pontos principais.

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Minha esposa é funcionária pública do judiciário federal e te garanto que existe uma carência absoluta de programadores e de soluções de TI.

Percebo que é muito difícil implementar qualquer coisa nova e existe muita resistência por parte de todos os envolvidos:

  • o pessoal de TI tem pouca gente;
  • falta dinheiro para terceirizar;
  • falta mentalidade voltada a automação para eliminar atividades repetitivas;
  • existe uma rigidez absoluta, congelando completamente as possibilidades de inovação;

As soluções de sucesso no funcionalismo público só tem sucesso por necessidade absoluta. O melhor exemplo é o atual sistema da Receita Federal para cruzar dados e constestar a malha fina; outro exemplo é o PIX, que é uma grata surpresa para todos, mas que ao mesmo tempo abre portas para o Real Digital e seus problemas.

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Como funcionário público e desenvolvedor respondo que DEPENDE.
Só consegui trabalhar como desenvolvedor no setor público uma vez que os gestores viram a oportunidade de possuir um software que lhes proporcionariam diversas vantagens na redução do trabalho deles mesmos, sem pagar nada mais por isso (eu já era funcionário -de outro setor- mesmo).
Depois de 5 anos trabalhando no sistema e com grande parte do trabalho atendido pelo software, os gestores começaram a me ver como um problema, como nosso colega @maniero mesmo mencionou.

Então o programador só é bem recebido quando ajuda a resolver os problemas dos gestores, hora que começa a gerar cobranças de trabalho - o que fatalmente acontece - ele acaba sendo sabotado de alguma forma.

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TL;DR
Sim, mas depende do perfil do programador. Aqueles que procuram estabilidade encontrarão abrigo. Aqueles que são criativos, sofrerão intensamente.

Empresas públicas operam diferente
Existem duas características essenciais no serviço público que fazem com que tudo, praticamente tudo, seja diferente:

  • burocracia
  • estabilidade de emprego

Burocracia
Apesar de a burocracia ser típica em qualquer empresa grande, tornando-a lenta e com pouca agilidade, em empresas públicas esse processo é mais lento ainda. Não é tarefa simples contratar cursos de capacitação, comprar ferramentas de produtividade, assinar serviços que complementam suas tarefas etc. Se uma empresa privada toma ciência que determinado caminho deve ser seguido, ela seguirá sem amarras.

Estabilidade de emprego
Não é possível demitir funcionários que apresentam péssima performance. Por consequência, é mais difícil contratar profissionais. A rotatividade é baixa e os gestores precisam saber lidar com verdadeiras âncoras de carne e osso. Alguns profissionais, ao passar em um concurso, o encaram como um aposentadoria antecipada e acabam se acomodando. Não há progresso técnico obrigatório.

Não me entendam mal, há pessoas e pessoas. Porém, existe esse possível caminho no serviço público. É inimaginável essa possibilidade em empresas privadas. Isso é, de longe, a característica mais nociva presente em empresas públicas.

Como efeito em cascata, problemas de anos, décadas, ali permanecem. Renovações, frescores, são menos ventilados. E pessoas criativas precisarão se automotivar diariamente para não enlouquecerem, principalmente ao se compararem com colegas mais acomodados e que, não raro, ganham muito mais e produzem muito menos.

É preciso tomar cuidado ao encarar a estabilidade do emprego como algo maravilhoso. Não necessariamente. A estabilidade pode fazer com que você sofra menos e se acomode.

Nem tudo é péssimo
É claro que você pode se aproveitar das características únicas de uma empresa pública a seu favor.
Você pode estudar profundamente conceitos técnicos enquanto está em um emprego estável, sem a necessidade de se matar em vagas que forçam você a colocar a carroça na frente dos burros. Ao invés de, solto no mercado, se candidatar a uma vaga que exige React, você pode no serviço público calmamente estudar profundamente Javascript e se tornar um profissional mais completo. Estenda esse exemplo para outras stacks, a regra é a mesma.
Você pode seguir lapidando seus conhecimentos, fazendo o que deve ser feito no ritmo lento em que as coisas vão, sem se perder no marasmo.