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Eu não sou programador, mas me interesso pela área desde o início dos anos 2000. Também sou servidor público desde essa época e, por isso, acho que posso acrescentar algo a essa discussão.
Como todo mundo sabe (eu acho), pra você ingressar no serviço público, hoje, ou você faz um concurso ou é nomeado para um cargo em comissão -- os famosos CCs. (Não considero quem presta serviço para órgãos públicos porque não fazem parte do serviço público, apenas prestam um serviço e recebem por isso.)
Eu diria que a questão da adoção da tecnologia como um todo, quando falamos em serviço público -- e aí podemos incluir não só a tecnologia como comumente pensamos nela, mas também incluindo a questão de processos melhores -- essa adoção sempre foi bastante lenta, se não inexistente.
Temos que ter em mente que, enquanto que na iniciativa privada os gestores tem sempre como último fim de suas ações o aumento dos lucros (teoricamente, é claro, mas nem sempre é assim) e, por consequência se determinada tecnologia consegue colaborar para esse fim ela tende a ser adotada; o setor público trabalha de forma diferente em virtude de sua natureza. Ou seja, no setor público não se almeja o lucro, mas o bem-estar da sociedade (ou deveria ser). Então, mesmo que determinada tecnologia (em sentido amplo da definição) possa trazer uma redução da despesa ou aumento da receita -- o que é bom para a sociedade pois acaba por ter mais recursos para outros programas públicos -- não é essa preocupação que existe na cabeça dos gestores públicos. Como todos nós sabemos, os gestores públicos, desde o presidente do Brasil até o secretário de obras de um município do interior do Piauí, todos estão alí por meio da política, e nem sempre eles têm capacidades gerenciais. Na verdade é bem comum que estas pessoas que tem na ponta de suas canetas orçamentos de milhões de reais, que elas tenham dificuldades para gerenciair o próprio orçamento doméstico. Mas são elas que tomam as decisões.
Então, quando um técnico apresenta uma proposta de adoção de alguma tecnologia nova, muitas vezes sequer se entra na discussão de custos e de retorno. Muitas vezes a ideia é de pronto abortada simplismente porque o gestor não consegue entender qual seriam os benefícios para o órgão público, ou porque ele não consegue ver como aquela tecnologia vai favorecer o atendimento dos interesses pessoais dele e do grupo que representa. Também a questão do custo financeiro é considerada: porque investir num sistema de predição de quem vai pagar e quem não vai pagar o parcelamento de dívida ativa se ele pode usar isso para comprar medicamentos ou pagar consultas para a população (ainda que esse tipo de tecnologia possa levar a um aumento considerável da arrecadação)?
Outro fator é a própria mentalidade dos servidores públicos, na qual parcela expressiva é avessa à mudança ou tem medo de que ela traga-les mais trabalho (ou em alguns casos, os obrigue a trabalhar). Pensemos nos objetivos de quem entra no serviço público a partir do que os cursinhos preparatórios despertam nas pessoas: você procura estabilidade, inclusive financeira, altos salários (pelo menos acima do mercado) e "vida tranquila". É isso que eu via ser difundido nos cursinhos (quando eu estudava e ainda vejo isso hoje). O que isso reflete no comportamento das pessoas? Que funcionário público "está com a vida ganha". Poucos são os que veem o serviço público como uma oportunidade de fazer algo de valor para a sociedade. A maioria trata isso como uma forma de "ver o mês correr por 30 dias" e ter um salário grantido no final do mês.
Falando dos programadores -- como vamos atrair bons programadores sem oferecer salários compatíveis com o mercado, sem perspectivas de crescimento profissional e muito menos de valorização e reconhecimento e onde o ambiente não favorece -- e pelo contrário, desestimula -- a inovação?
E por fim, sim o serviço público é uma fonte inesgotável de informações que tem um infindável potencial para inovação e melhoria para a sociedade, mas assim como na física, a energia só gera trabalho quando deixa de ser potencial e se trasnforma em movimento. E isso é o que menos tem no setor público brasileiro, para infelicidade de nosso povo.

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Olá, ponto de vista bastante realista e coerente.
Grande parte que vc pontuou sobre o serviço público acontece de verdade e é uma grande fonte de desestímulo para os novos entrantes que têm propósito de trabalho e para os mais antigos, determinados e idealistas.
Contudo, é exatamente nesse ponto que vejo oportunidade. O Brasil ainda é um bebê em desenvolvimento, política e culturalmente. Agregar tecnologia no serviço público, por menor alcance que tenha e mesmos que se apliquem altas somas, já libertaria alguém para desempenhar outras funções, desburocratizando e promovendo eficiência.
Nós, massa que vota, deveríamos pensar muito antes de escolher nossos representantes e deveríamos ter uma postura de maior cobrança junto aos políticos.

Creio que esse seja o caminho da evolução constante.
Abraços