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É possível ser um profissional competitivo em programação e ao mesmo tempo ter uma rotina de vida equilibrada?

Esclarecimentos

Antes de entrar em mais detalhes sobre a pergunta, gostaria de esclarecer o termo competitivo que utilizei no título: me refiro a um profissional que possui habilidades e capacidade produtiva equiparável a outros bons profissionais da área com o mesmo nível de senioridade, de modo que um empregador ou cliente não deixaria de selecioná-lo para uma oportunidade ou o demitiria somente por falta de capacidade ou de produtividade.

Contexto

Atualmente, estou trabalhando para retornar à indústria de desenvolvimento de software depois de um ano trabalhando em outra área e mais de uma década em contato com computação e programação de uma forma ou de outra.

Os detalhes dessa jornada fogem do escopo dessa publicação, então vou me limitar a destacar que ainda tenho dúvidas se gostaria de construir uma carreira e finalmente me firmar nessa área.

Como parte desse esforço para reingressar no mercado como desenvolvedor, estou contribuindo de forma voluntária para um projeto importante liderado pelo meu antigo tech lead.

E foi justamente ao final de um dia de trabalho relativamente longo nesse projeto, em uma semana muito agitada na minha vida pessoal, que me fiz a pergunta do título:

É possível ser um profissional competitivo em programação e ao mesmo tempo ter uma rotina de vida equilibrada?

Motivação

Acredito que comecei a fazer essa reflexão não só pelo contexto do meu dia e da minha semana, mas também por observar ou ao menos ter uma forte impressão de que longas jornadas de trabalho são muito comuns nessa área.

O meu próprio antigo tech lead está sempre trabalhando aos finais de semana e até mesmo durante as viagens de lazer que faz com alguma frequência.

Isso parece ter são prevalente que fico com a sensação de que uma jornada de trabalho mais padrão, 9 to 5, é insuficiente para quem quer ser um bom desenvolvedor de software e um profissional verdadeiramente competitivo.

Qual é a sua visão?

Por isso gostaria muito de saber de vocês, especialmente de quem tem mais experiência no mercado, se esse de fato é o caso.

Se para se manter nessa indústria de forma bem posicionada é necessário trabalhar quase que incessantemente, ou se é possível atingir um relativo sucesso nessa carreira sem sacrificar outros aspectos importantes da vida.

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Sim, é possível, mas não é fácil, especialmente no Brasil.

Primeiro, temos que deixar claro que muitas pessoas fazem isso porque querem. Eu mesmo tenho fases em que adoro só trabalhar, e faço isso por pura felicidade, não por dinheiro. Algumas pessoas não gostam tanto assim, mas elas têm um objetivo e é necessário fazer isso para atingir esse objetivo.

Claro que existem casos de abuso do empregador (vou considerar que se a pessoa é empreendedora ela faz do jeito que quiser, até porque se não for assim ela é empregada sem CLT). Aí começa a complicação que vou explicar. Algumas pessoas não têm a opção de sair do abuso porque falta algo.

Algumas pessoas precisam trabalhar tanto para compensar o fato de trabalharem mal. Existem vários dados que mostram que o brasileiro, entre vários outros povos são 3, 4 5 vezes menos produtivos que os países mais desenvolvidos. Claro que parte disso é puramente (macro)econômico, parte é estrutural que envolve toda a sociedade, parte é culpa do governo, mas que só é o que é por causa do povo, parte é individual, ainda que você possa dizer que isso também é estrutural.

Existem áreas que há mais produtividade que outras.

A educação no Brasil é das coisas mais terríveis que existe. As pessoas não conseguem enxergar o quanto é ruim. E pra deixar justo a educação está piorando em (quase) todo o mundo, inclusive países desenvolvidos (mas estes têm a vantagem das gerações anteriores ajudarem manter o patamar alto e não baixar tão rápido.

Começando nos anos 70, mas principalmente nos anos 80 e 90 alguns países começaram revolucionar sua educação. Outros só precisaram continuar com a forma que estavam, embora isso podem estar os colocando em vulnerabilidade perante os novos players na competição pela melhor educação.

Há cada vez mais no país a idolatria à idiotice. Os pais aqui, começando nos anos 90 começaram defender seus filhos contra os "cruéis professores" (alguns são cruéis mesmo, ou eram, mas é exceção), e os professores entraram na dança, e fazem de conta que ensinam, assim atendem o desejo dos alunos e seus pais. Tudo tem exceção, mas a exceção não sustenta um país.

Só a educação muito forte, mas muito mesmo, produzindo pessoas que raciocinam, que tenham pensamento crítico, que saibam buscar as informações por conta própria e filtrar adequadamente, porque a informação ruim não vai desaparecer, muito pelo contrário, e cada vez mais é necessário saber criar, embora em primeiro momento parece que existem novas oportunidades.

Existem pessoas que se auto clamam com pessoas do bem que emperram a educação no Brasil. Existem vários outros fatores, alguns que remetem à teorias da conspiração, que podem ou não ser verdades. Mas o mais importante é que as pessoas não querem a educação forte mesmo que entrega da melhor forma. E ceder não é a solução, e é isto que está acontecendo.

Se você quer sair dessa situação precisa furar isso por conta própria, o que não é fácil, especialmente para quem não nasceu privilegiado intelectualmente e/ou não nasceu em família que colabore em vez de atrapalhar. A sociedade está organizada para dificultar a vida de quem quer ser mais produtivo.

Se a pessoa consegue sair dessa situação e gera produtividade adequada não é difícil ser competitivo e ter vida equilibrada. Mesmo que no Brasil ela não tenha oportunidades assim ela conseguirá fora. E pode inclusive ter renda de país desenvolvido com custo de vida de país de pobre. A pessoa consegue ter escolhas.

O que eu vejo na área é a pessoa entrar em a base (pode não ser culpa dela, mas não muda o fato), e quando ela vai aprender sobre a área, que é das mais difíceis intelectualmente, ao contrário do que influencers dizem, ela não está acostumada em pegar no pesado para aprender, ela não tem tempo (ou vontade) para aprender corretamente, e precisa compensar com trabalho braçal. Tá todo mundo fugindo de se preparar para ser competitivo de forma natural, então ela precisa ser trabalhando mais.

Gratificação imediata cobra um preço alto. É parecido com a tal dívida técnica que encontramos na área, você deixa de fazer algo que não vê tanto valor e a dívida fica lá, aumentando com juros compostos. Tem que pagar antes para não pagar muito mais depois. Essa é a solução. Sempre foi difícil e está cada vez mais.

Não sei o que a IA fará com isso, mas por muito tempo, e sem regulamentação, a tendência é só piorar, quando a produtividade de todos sobem por alguma ferramenta será mais exigido de todos. Ser competitivo é individualmente ser melhor.

Só não se esqueça que tempo disponível para si sempre fará você ter renda menor fazendo a mesma atividade. A questão é que se você tem pro9dutividade para ter uma renda alta pode optar por ter menos tempo de trabalho.

Se você puder delegar tarefas para outras pessoas você tem muito mais chance de conseguir ter alta renda e tempo pessoal. Quase sempre só conseguirá isso sendo investidor, empreendedor de alto sucesso, ter alguma função pública bem específica (praticamente ser funcionário fantasma) ou fazer outras coisas ilegais de altíssima margem. Então na área, legal e eticamente ter as duas cosias só se criar um produto monumentalmente bom e vender total ou parcialmente e praticamente aposentar. Mas dá para ter uma renda decente, mas não alta, e trabalhar sem um esforço brutal.

Fora muita sorte, é difícil, mas não impossível ter esse equilíbrio. A maioria não conseguirá. Eu não consegui da forma como eu gostaria, ou abro mão de uma coisa ou outra, eu tenho minhas limitações.

Estou fazendo uma enorme simplificação, mas é isto. Em resumo, seja competente por completo, se puder.


Farei algo que muitos pedem para aprender a programar corretamente, gratuitamente (não vendo nada, é retribuição na minha aposentadoria) (links aqui no perfil também).

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Quando me fiz esse questionamento, não imaginava essa profundidade que você trouxe aqui. Muito obrigado por trazer uma visão tão abrangente sobre o tema.

Mas dá para ter uma renda decente, mas não alta, e trabalhar sem um esforço brutal.

Quando você diz renda decente, mas não alta, qual seria o seu parâmetro?

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Isso é bem pessoal, pra mim mesmo já mudou várias vezes, eu já fui mais ambicioso e achava que o dinheiro era mais importante que eu acho hoje, sou mais feliz ganhando menos. E estou quase semi-aposentando porque quero outros desafios, apesar de que ainda vou continuar em parte na área, vou lançar meu canal, e continuo gostando da profissão, pelo menos como ela era.

De qualquer forma, isso isolado não quer dizer muita coisa, o resto importa mais, tem gente que mesmo com esforço brutal não vai ganhar muito mais do que 2 mil. Se a pessoa der sorte, tiver capacidade política acima da média, como tem amigo meu que é assim, mesmo sem muito esforço, trabalhando em casa, muitas vezes até com horário reduzido e até com pouca experiência, apesar de competência técnica grande, ganha 40k.

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Li até o final... .
Que interessante sua observação cara.
E aproveito aqui pra te agradecer por sua contribuição nos posts do stackoverflow também. kkk

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conhece lei de pareto de 20% e 80% que diz que 80% do resultado vem de 20% do seu esforço, existem questões chaves que vc deve considerar para identificar o que são esses 20% que te dão mais resultado e focar neles em primeiro plano, o resto é consequência, servirá de diferencial mas não é o que vai te destacar.

o que quero dizer é que no início vc vai precisar abster sim sua vida pessoal para focar no profissional, e depoiss com maturidade vc inverte.

dos meus 15-25 anos eu vivi pro trabalho e estudo intensamente hj aos 30+ eu tenho bagagem pra identificar os momentos que preciso me dedicar mais ao trabalho do que a família, mas hj a família está em primeiro lugar e raramente o trabalho me impede de fazer o que eu quero, pq hj eu sei estimar bem minhas demandas, sei o que sou excelente, sei o que sou bom e sei principalmente o que eu NÃO sou bom.

essa maturidade é libertadora.

mas não precisa se trancar no quarto e usar 100% do tempo em estudo ou carreira (ao menos que vc esteja com um objetivo de curtissimo prazo, pq nesse caso vc tem que se dedicar 185%) e reserve 80% do seu tempo para estudo e trabalho e 20% pra distrair a mente.

espero ter ajudado, nenhuma lei aqui é pra ser seguida a risca, adapte a sua necessidade e o principal: conheça seus limites, mas não se limite a eles.

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Acho que no fim das contas, o que vale é o nível de esforço que você consegue fazer de forma consistente ao longo do tempo sem prejudicar sua saúde, seja ela física ou mental.

eu sei estimar bem minhas demandas, sei o que sou excelente, sei o que sou bom e sei principalmente o que eu NÃO sou bom.

De fato essa é uma habilidade importantíssima. Tenho criado mecanismos para fazer reflexões a respeito disso periodicamente para identificar esses pontos.

Obrigado por trazer essa visão!

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Sim, em curtas palavras estou sempre em busca de aperfeiçoamento em línguas e conhecimento técnico, mas não deixo isso ser a única prioridade da minha vida. Logo, manter o foco em cuidar do meu corpo e minha saúde estão em primeiro lugar. Afinal, se eu não cuidar dos dois, não vou conseguir atingir meus objetivos profissionais

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Nao, proxima pergunta.

brincadeiras a parte, no mundo que vivemos onde entrevistas sao infinitamente mais dificeis que o trabalho em si, acho bem claro o quao stressfull e se manter competitivo e super mega atualizado.

Creio que enquanto Junior Ou Pleno e muitoo mais dificil de se encontrar tal equilibrio, quando atingido a senioridade+ as coisas mudam, por si so ficam mais tranquilas.

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Eu diria que você só vai conseguir ser altamente competitivo se tiver uma vida equilibrada.

Você até pode seguir com esse rojão por muito tempo, mas uma hora a conta chega e vai te fazer muito mal. Me refiro a problemas de saúde e psicológicos.

É extremamente necessário ter uma vida equilibrada: alimentar-se bem, fazer exercícios, ter a vida familiar e por aí vai.

Há momentos em que você precisa abdicar de várias coisas pra entregar algo com urgência, porém isso não deve ser a regra.

Eu já cheguei a trabalhar muitas horas por dia, mas por que eu gostava e não achava nada mais divertido pra fazer. Isso é diferente de ter de me dedicar loucamente ao trabalho ou estudo.

Hoje, com minha família, com a saúde pra cuidar e com vários outros projetos pra tocar, não posso mais me dar ao luxo de ficar trabalhando demais todo dia, entende? Isso na verdade me faz ser mais competitivo, por que passo a aproveitar mais o tempo que tenho disponível para trabalhar e tento ser cada vez mais competente.

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É extremamente necessário ter uma vida equilibrada: alimentar-se bem, fazer exercícios, ter a vida familiar e por aí vai.

Concordo muito com isso! Acho que o equilíbrio é inegociável quando estamos falando de meses e anos das nossas vidas, por isso meu receio de me comprometer com uma área que talvez exija mais de mim do que eu conseguiria entregar de forma consistente.

Mas é reconfortante saber que existem caminhos saudáveis para se tornar um bom profissional da área.