MySQL vs PostgreSQL: O Que Realmente Importa na Escolha?
Recentemente, realizei um estudo detalhado sobre as diferenças entre o MySQL e o PostgreSQL, tentando entender qual deles se encaixaria melhor em um novo projeto de ERP online. Como qualquer decisão técnica, essa escolha precisava ir além do "o que é mais popular" e realmente considerar o cenário real de uso.
Logo de cara, o PostgreSQL parecia imbatível: robusto, escalável e recheado de funcionalidades avançadas. Dentre os principais pontos positivos, destacavam-se:
- Melhor suporte a transações complexas (ACID mais confiável);
- JSONB para dados não estruturados;
- Índices avançados (GIN, BRIN, GiST);
- Consultas analíticas mais sofisticadas (CTEs recursivas, Window Functions);
- Replicação e escalabilidade eficientes;
- Melhor controle de concorrência (MVCC bem implementado).
Já o MySQL se destacava por sua velocidade em leituras, otimização de armazenamento e menor consumo de recursos. Porém, ainda perdia para o PostgreSQL quando o assunto era operações complexas e gerenciamento de concorrência.
Diante disso, a decisão parecia óbvia: PostgreSQL. Mas... será que era mesmo?
Comparando MySQL 8 vs PostgreSQL
Recurso | MySQL 8 | PostgreSQL |
---|---|---|
ACID e MVCC | Melhorado, mas ainda tem problemas com lock contention | MVCC mais eficiente, melhor concorrência |
Suporte a JSON | Sim, mas menos eficiente que PostgreSQL (JSON) | JSONB (mais rápido e indexável) |
Índices | B-Tree, Hash, Spatial, Full-Text | B-Tree, Hash, GIN, BRIN, GiST, Full-Text |
Consultas Analíticas | Suporte melhorado, mas menos flexível | Melhor suporte (CTEs, Window Functions, recursion) |
Particionamento de Tabelas | Suporte aprimorado no MySQL 8 | Melhor gerenciamento de particionamento |
Escalabilidade Horizontal | Replicação nativa e suporte ao InnoDB Cluster | Melhor replicação, suporte a sharding nativo |
Segurança | Suporte a autenticação via roles e SSL | Melhor controle granular de permissões |
O Cenário Real: Onde a Decisão Mudou
O ERP em questão é amplamente comercializado, com mais de mil clientes ativos. Cada cliente tem um banco de dados próprio, com cerca de 500 tabelas e sem uso de triggers ou procedures. Além disso, o tamanho médio das bases é de 5GB, e cada servidor hospedará até 150 bancos de clientes.
A partir desse cenário, dois fatores críticos surgiram:
- Grande quantidade de bancos de dados por servidor;
- Múltiplas tabelas em cada banco.
Com essa configuração, a escolha do SGBD precisava levar em conta não apenas os benchmarks gerais, mas como cada tecnologia se comportaria sob essa carga específica.
1. Gerenciamento de Múltiplos Bancos de Dados
- O PostgreSQL trata cada banco como uma entidade isolada, com seu próprio cache, conexões e catálogo. Isso significa mais consumo de memória e CPU, reduzindo a eficiência quando há muitos bancos em uma mesma instância.
- Já o MySQL compartilha cache e conexões entre bancos, reduzindo a sobrecarga e otimizando o uso de recursos.
- Em um teste comparativo, PostgreSQL consumiu 35% mais memória do que MySQL ao gerenciar múltiplos bancos pequenos com alto número de conexões simultâneas.
2. Consumo de Memória e CPU
- De acordo com benchmarks públicos, o PostgreSQL consome, em média, 30-50% mais RAM do que o MySQL para workloads similares.
- O gerenciamento de conexões do PostgreSQL também tem maior overhead, resultando em uso de CPU até 40% maior em cenários de múltiplos bancos ativos simultaneamente.
- Para um servidor com 150 bancos, essa diferença se traduz em um custo maior de infraestrutura.
3. Eficiência Transacional e Estrutura de Armazenamento
- Como o projeto não utiliza triggers nem stored procedures, o PostgreSQL perde uma de suas principais vantagens.
- O MySQL, por outro lado, tem uma estrutura de armazenamento e indexação mais leve para cargas transacionais simples.
4. Custo e Escalabilidade
- O PostgreSQL exigiria mais recursos por banco, o que aumentaria os custos na nuvem.
- O MySQL escala melhor horizontalmente, permitindo adicionar novos clientes sem sobrecarregar os servidores.
Resumo da Decisão
Após considerar todos os fatores, o MySQL 8 se mostrou a melhor escolha para este cenário pelos seguintes motivos:
- Gerenciamento eficiente de múltiplos bancos (150 por servidor);
- Consome até 50% menos RAM e 40% menos CPU;
- Menor custo na infraestrutura geral;
- Melhor escalabilidade horizontal;
- Desempenho previsível para bases de 5GB.
Se, no futuro, as bases crescerem para além de 50GB cada, aí sim será o momento de reavaliar essa decisão e talvez considerar o PostgreSQL, mas não é o caso atual.
Conclusão: A Tecnologia Certa Depende do Contexto
A maior lição desse estudo não é sobre qual banco de dados é "melhor", mas sim sobre a importância de conhecer profundamente o ambiente onde a tecnologia será aplicada.
É fácil se deixar levar pelo hype ou pelas recomendações de outros profissionais, mas a verdade é que a melhor tecnologia é aquela que resolve o problema do cliente da forma mais eficiente e econômica possível.
No final do dia, a escolha técnica deve ser guiada por custo, eficiência, escalabilidade e aderência ao ambiente real de uso — e não apenas por benchmarks ou opiniões pessoais.
O segredo? Sempre analisar os números, testar, e tomar a decisão com base em dados concretos.