Existe uma teoria que fala sobre o ciclo do hype na adoção de novas tecnologias: existe sempre um momento, logo após da introdução de uma nova tecnologia no mercado, em que as expectativas são infladas e ela é tratada como uma panacéia.
Depois, as pessoas que investiram muito tempo na nova ferramenta passam por um periodo de desilusão, onde o mercado fica saturado e as limitações da nova tecnologia começam a ficar aparentes.
Por fim, essa tecnologia se torna madura e as pessoas entendem em quais casos ela deve ser utilizada.
No desenvolvimento de software isso ocorre num intervalo muito curto.
É o caso dos frameworks de javascript, por exemplo, onde sempre surge uma forma "melhor" de desenvolver um site.
Primeiro toda a lógica ficava no backend e retornavamos o html pronto nas requisições (época de ouro do php e ruby on rails) e faziamos alguns ajustes no frontend usando javascript puro ou jQuery.
Depois, passamos a organizar todo o html das páginas no frontend, usando react e vue.js, e os backends se reduziram a camadas finas de APIs servindo json.
Por fim, a nova melhor forma é pré processar o html no backend e fazer pequenos ajustes no front (o tal do server side rendering).
Os princípios por trás das tecnogias seguem os mesmos (criação de sites dinâmicos na internet), e bons desenvolvedores conseguem entender as limitações de cada alternativa sem precisar sempre reimplementar tudo do jeito mais novo.
A diferença disso pro chatgpt é que esses ciclos se restringiam aos desenvolvedores, e não aos usuários.
O dono da empresa não se importa com o stack do site se ele for rápido e estiver tendo vários acessos.
Mas agora, os usuários estão expostos ao hype cycle, e pessoas de todas as áreas estão inflando as expectativas.
Quem ganha a vida escrevendo posts no linkedIn acha que vai ficar sem emprego, pq com um prompt de dez palavras o chatGPT escreve un post perfeito pra aumentar o engajamento.
Quem cria logos pra empresas para de estudar design gráfico e começa a usar exclusivamente o dall-e pra geração de artes.
Um desenvolvedor experiente acha que vai ser substituido por um engenheiro de prompt que pode criar um sistema em poucos dias.
Afinal, estamos num momento onde toda a atenção é direcionada pra forma como a IA resolve problemas que antes não tinham soluçâo: escrita de posts sem um escritor, criação de arte sem artista, desenvolvimento de código sem programador.
Com o tempo, vão entrando na equação os novos problemas que o uso desses modelos trazem, e vão ficar mais aparentes os problemas que eles não resolvem.
Mas nesse momento inicial toda situação vira um prego, e o martelo é o chatgpt.