Micro SaaS, eu falhei "temporariamente", convite à discussão.
Há alguns anos tenho pensado em lançar um SaaS, um software mais completo que possui características de Micro SaaS. Para exemplificar:
Podemos pegar um exemplo de SaaS como o Microsoft Office. No meu ver, ele possui muitas funcionalidades e softwares que são empurrados no cliente no pacote todo.
O Micro SaaS é como se eu tivesse acesso apenas ao Microsoft Word.
Minha ideia era justamente fazer o sistema de modo modular, agregando assinaturas, permitindo ao usuário escolher quais sistemas fariam parte do seu pacote, de forma mais microgerenciada pelo próprio cliente. Cheguei a lançar alguns protótipos no ar de forma pública. Minha ideia era justamente tentar alcançar o público geral, depois tentei ir nichando.
Minha ideia de software era atender um público que era negligenciado no Brasil, as Microempresas e MEIs, aquelas muito novas que estão começando agora. Como eu gosto muito da área de servidores, eu pensei em tentar ajudar a empresa desde sua presença virtual até a aspectos internos como CRM, mas tudo de forma modular.
Um exemplo: criei um servidor Web todo escrito em Python (um dos scripts tinha mais de 8.000 linhas, kkk). Foi um desafio imenso que me propus, literalmente pessoal, fiz por esporte.
Vou enumerar as funcionalidades e os motivos do porquê não funcionaram. Ele comportava as seguintes funcionalidades:
1 - Era multisite, ou seja, por um custo extremamente baixo eu poderia colocar centenas de sites do tipo landing page ou estático no ar pelo mesmo custo, uns sessenta reais por mês com um VPS, e permitia que o cliente fizesse a parte estrutural de forma rápida e com poucos cliques. Bastava adicionar o nome de domínio, escolher uma data de vencimento e clicar no botão salvar. Pronto, o site estava no ar em http com uma página de construção.
2 - A ativação do SSL era com um botão também, bastava clicar e pronto. Eu implantei isso com certificados Let’s Encrypt via Python no servidor Linux.
Ou seja, em segundos o cliente estava com a infraestrutura pronta para rodar um site estático.
3 - Gerenciamento do DNS - No Registro.br, onde ele comprava seu domínio, bastava apontar o IP do servidor e fim. O Apache me ajudou nessa com os Vhosts, e o Python escrevia automaticamente os novos Vhosts para mim.
4 - Segurança, eu decidi impor segurança de criptografia forte desde o início, muito superior ao que há no mercado ainda agora.
5 - Módulo para estudar o mercado que atuava com IA. Antes mesmo da IA ter acesso a pesquisas na internet como hoje, eu já havia colocado IA que pesquisava dados de mercado na Web e dava insights ao cliente de como seu negócio poderia melhorar, como atingir um público maior, ideias sobre seu nicho etc., e ferramentas de criação de texto generativas, para anúncios, descrição de produtos, publicações etc.
6 - Cadastro de clientes, estoque, contas a pagar, fluxo de caixa, PDV etc.
7 – Ele integrava um revenda WHM e CPANEL, totalmente automatizada, bastava poucos cliques para o cliente colocar no ar uma hospedagem completa com mais recursos se fosse necessário.
Na lista havia ainda muito mais funcionalidades que eu iria colocar a médio prazo, como um construtor de sites e também a instalação de CMSs, como WordPress, Magento etc., tudo de forma integrada e automatizada.
Vejam que cada serviço desses era um módulo Micro SaaS que o cliente poderia pagar individualmente, com crédito pré-pago.
Funcionava assim: se você quer por um site no ar e está começando, por que não pagar pelo uso? Tipo, apenas 10, 20 ou 30 dias, com crédito pré-pago, e apenas o serviço que realmente precisa?
Isso mesmo, o cliente poderia inserir um crédito de 20 reais se quisesse e ir tendo descontado centavos por dia. As hospedagens ficavam na faixa de uns 5 reais por mês, já incluindo SSL. Era muito barato, e cada módulo a mais ia aumentando o desconto diário. Se o saldo acabasse, bastava recarregar ou não. O cliente não ficava devendo, a maioria dos recursos do servidor não eram usados se o cliente ficava sem saldo. Ainda acho uma ideia muito boa, mas não funcionou.
Fiz um teste de quase meio ano e nada aí acima funcionou do ponto de vista de engajamento, a não ser um leve interesse especulativo nas ferramentas de IA, muito aquém do que eu esperava. E aí me veio o insight que me fez parar com tudo.
“Eu não estava sendo claro no que eu estava fazendo.”
O cliente não compreendia o potencial que estava na frente dele.
E eu não tinha saco para fazer eles compreenderem, kkkk.
Nunca gostei de público geral, eu gosto do dinheiro deles, e como já tinha outras fontes de renda e essa era uma ideia de hobby pessoal, eu não quis assumir a responsabilidade de ensinar os clientes, porque teria que ter muito conteúdo. O cliente inicial em negócios não sabe absolutamente nada, muitos deles nem entendem a importância de ter um cadastro de clientes. Site então? Misericórdia. Senti que Jesus estava me chicoteando, porque eu não tenho a mínima paciência de pegar alguém pela mão e ensinar. Eu passei anos fazendo isso e me saturei, infelizmente não dá, mas era necessário.
No início, como todo bom ser humano, eu coloquei a culpa no cliente, claro, e me fazia perguntas do tipo: eu não posso crer que as pessoas não entendem o potencial na frente delas. Então acabei pegando poucas pessoas e conversando de forma virtual, explicando as funcionalidades, onde isso podia chegar e como usar e o que eu ainda iria lançar. Me senti Steve Jobs, todo mundo ficava de boca aberta e dizia que ia ser TOP, era maravilhoso etc. (BALELA).
No fim, eu estava cometendo um erro clássico e simples no mundo dos negócios, perguntando às pessoas como era a vara de pescar mais perfeita para elas, em vez de perguntar se estavam a fim de pescar. Isso era induzir a pesquisa, e por isso ela era falha. Você pergunta ao sujeito como é a vara de pescar perfeita para ele, e ele vai te dizer todos os aspectos, mas se perguntar a ele: e você gosta de pescar? A resposta vai ser: odeio, não tenho tempo, estou há 10 anos sem pescar. Será que fazer a vara de pescar perfeita vai funcionar para esse público? É claro que não.
Então cheguei à conclusão de que precisava preparar esse público para o negócio ou então trocar de público. E ambas as opções eram extremamente trabalhosas. Por fim, engavetei o projeto e decidi que no futuro talvez use ele ou pedaços dele para outros projetos.
Muita gente talvez pense que eu deveria ter insistido mais, etc., mas é que eu realmente não tenho nenhuma vontade de interagir com o público. Eu gosto de compartilhar informações e ter boas discussões, mas se resume a isso: dar e obter informações. Não quero saber das dificuldades e menores partes da vida das pessoas, o que é muito difícil não fazer quando se tem um contato maior. Meu tempo é escasso, eu o valorizo e prefiro gastá-lo com pessoas que amo, com meus negócios ou fazendo algo que me dê prazer, como escrever, por exemplo.
E por isso, cá estou eu escrevendo às 6 da manhã.
Eu sei que para os programadores aí, a descrição que dei foi curta demais para entender globalmente o projeto, então, caso queira ir mais a fundo, pergunte.
Agora, eu gostaria de falar mais sobre a ideia de SaaS e Micro SaaS. O problema, ao meu ver, de Micro SaaS é que ele não funciona além de uma bolha e tudo bem, pode ser lucrativo, mas não é muito escalável, além de ser extremamente frágil frente à concorrência. Um exemplo disso, o Microsoft Office 360, para alguém como eu, que conheço Microsoft desde o MS-DOS, simplesmente possui tudo que uma empresa precisa. Eu diria que a Microsoft em si engloba absolutamente tudo que uma empresa precisa. Qualquer solução criada no mercado já pode ser criada dentro da Microsoft pelo próprio cliente, se ele quiser. O problema real aí é o custo disso, não só financeiro, mas o custo de tempo inclusive para aprender a trabalhar com as soluções. Mas a verdade é que tudo já está lá, mas é vendido como pacotes, o que torna mais caro. Os sucessos que vemos por aí em Micro SaaS nada mais são que pegar um pedaço e vender apenas ele, de forma mais nichada. Mas aí vêm os dois problemas: fica preso somente naquele nicho, por isso a escalabilidade tem um limite. Como é um serviço menor, é mais fácil de outros concorrentes copiarem, e você está sempre correndo o risco de fazer sucesso. Como assim, risco de fazer sucesso? Bom, se você fizer sucesso, a bota da Microsoft, do Google ou da Amazon podem simplesmente te esmagar, porque eles pegam um serviço deles que com certeza já é capaz de fazer o mesmo que seu MicroSaaS faz e colocar até de graça para seus clientes. O que pode complicar muito a sua vida.
Agora, veja que eu não estou afirmando que MicroSaaS não dá dinheiro. O que eu estou afirmando é que é limitado e pode ser temporário.
Podemos ver um exemplo bem simples: NETFLIX, AMAZON PRIME, DISNEY+. Os serviços de streaming iniciaram como uma espécie de Micro SaaS de big techs e se mostrou um modelo falho, mesmo rendendo milhões. Como assim? Para empresas que já ganham bilhões, ele é falho, porque os clientes cansam muito rápido dos conteúdos. O cliente raramente vai muito profundamente em todos os tipos de conteúdo. Os clientes que gostam de streaming preferem um tipo de conteúdo e esgotam ele rapidamente e o que resta é cancelar a assinatura e ir para outro ver conteúdos novos. Eu chamo isso de Síndrome de YouTube. Os clientes de Streaming têm uma necessidade enorme de novidade, e os Streamings maiores não conseguem acompanhar isso, pois com mais assinaturas canceladas, a verba para novos conteúdos diminui. Qual a solução? Integrar mais canais de conteúdo, e esse é o caminho que estamos vendo ocorrer com os pacotes que dão acesso a mais de um canal de streaming que vêm surgindo. Moral da história: estamos voltando à boa e velha fórmula que as TVs a cabo usavam: um milhão de canais por alguns reais. Fórmula essa que teve que ser usada pelo YouTube também, apenas repaginada: um milhão de canais por um anúncio (ou dois ou três anúncios, rs), e assim vai, apenas repaginação das mesmas fórmulas, nada contra.
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