Executando verificação de segurança...
18

Vagas internacionais: Meu inglês precisa ser perfeito?

Em novembro do ano passado palestrei no WordCamp São Paulo sobre trabalho remoto e finalmente aqui está a versão em texto! Se você prefere vídeos, pode assistir à palestra completa lá no YouTube.

A palestra foi longa, então vou publicar o texto dividido em partes. Pretendo publicar todas as partes aqui no TabNews, mas se quiser receber avisos, você pode assinar a newsletter lá do blog ;)

Meu inglês precisa ser perfeito?

Essa é a primeira pergunta que as pessoas se fazem quando falamos de trabalhar para uma empresa estrangeira. Achar que é essencial falar inglês como um nativo para conseguir uma vaga é uma barreira que só existe na sua cabeça.

Entender e ser entendido são as coisas que você realmente precisa.

É realmente só isso. Se você consegue entender alguém que esteja falando em inglês e se as pessoas conseguem te entender mesmo com sotaque (todo mundo tem sotaque) você já está pronto.

Nada substitui um curso

De vez em quando a gente ouve sobre alguns super-heróis e heroínas que aprenderam inglês sozinhos, mas essa não é a realidade para a maioria das pessoas. Existem duas coisas que você praticamente só tem indo em um curso:

  • Prática de escrita - Só praticando você vai saber o passado dos verbos irregulares (think > thought), como se soletra algumas palavras, etc.
  • Gramática - Conhecer o básico da gramática vai facilitar a vida quando você não entender uma palavra e precisar pegar o sentido pelo contexto.

Você não precisa fazer 15 anos de Cultura Inglesa, não é isso. Mas você precisa ter certeza de que tem pelo menos o básico de escrita e estrutura gramatical.

Filmes, séries, jogos e lives de código

Eu morria de medo de chegar em uma reunião e não entender nada do que estava sendo dito. Comecei então a assistir séries e vídeos no YouTube. Primeiro com legendas em inglês e depois sem legenda nenhuma. Esse exercício me ajudou e ajuda até hoje.

Lives de código na Twitch também ajudam muito. Nelas você vai ouvir os jargões da profissão, que muitas vezes nós só lemos.

Abaixo estão alguns exemplos que funcionam para mim. Na época da palestra estava assistindo a Andor, hoje colocaria The Last of Us.

Andor (Disney+)
Gameranx (YouTube)
Zanny (YouTube)
RyanWelcherCodes (Twitch)

Na vida real

Cursos, vídeos no YouTube, séries... nada disso te prepara para a vida real. Na vida real você precisa lidar com:

  • Gerentês - O povo adora siglas. EOD, ASAP, AFAIK são só algumas delas, mas você vai ver várias coisas novas quando começar. Expressões como Ballpark estimate são outra parte desse item.
  • Áudio interrompido - Em um filme todo mundo se escuta sem ruído. Na vida real o vídeo congela, o áudio picota e por aí vai. Expressões como Do you mind saying that again? ou You broke up a bit eu só aprendi vendo os outros usarem durante as reuniões.
  • Sotaques - Dei sorte de fazer parte de uma equipe muito plural. Tem americano, alemão, indiano, paquistanês, húngaro, mexicano e mais. Às vezes é difícil entender uma explicação ou outra, mas ao invés de fingir entender, é melhor falar um I’m not sure I follow… e pedir que expliquem de outro jeito. Isso acontece com bem mais frequência do que as pessoas imaginam.

Nos cursos a gente aprende o "How are you? I'm fine, thanks, and you?", certo? Pois é, por um tempo eu até usei isso. Acontece que na vida real ninguém fala assim. Esteja sempre atento a como os outros falam e esteja disposto a se adaptar e aprender.

Quando eu entrei na empresa eu quase desisti!

Estou na 10up há três anos e eu quase desisti nas primeiras semanas. A gente tem uma reunião diária com toda a equipe e era praticamente impossível entender um dos colegas.

Falei com os meus chefes e eles disseram que era normal e que depois de um tempo eu acostumaria. Realmente acostumei.

O começo vai ser difícil. Não desista!

Aqui fica uma dica: sempre seja sincero, nunca finja que entendeu. As empresas valorizam muito as pessoas que se comunicam bem, e (por incrível que pareça) parte de se comunicar bem é dizer quando algo precisa ser explicado de novo e de outra forma.

Ferramentas

Além do Google Translate, existem pelo menos duas ferramentas que me ajudam demais no dia a dia e que acho que vale a pena compartilhar com vocês:

Grammarly

O Grammarly é um serviço que ajuda na escrita em inglês. Eu uso como extensão do navegador e me ajuda em coisas como as da imagem: qual preposição usar, ordem das palavras, etc.

Google “define:SIGLA”

Como eu comentei, siglas são coisas bem comuns na comunicação em inglês. Quando eu vejo alguma sigla que não conheço ainda, coloco define:SIGLA no Google e normalmente, o primeiro resultado já resolve.

Conclusão

Nesse primeiro post da série vimos que entender e ser entendido é o nível de inglês que você precisa ter.

Prática de escrita e conhecimentos de gramática são essenciais, então um curso é recomendado. Não precisa ser 10 anos de curso, mas um estudo estruturado de alguns meses pelo menos.

Assistir a alguma coisa que você gosta como vídeos do YouTube, séries e filmes ajudam muito, mas com legendas em inglês ou sem legenda nenhuma. Lives de código também são interessantes.

Nada substitui a experiência da vida real. Expressões e problemas do cotidiano não são representados em séries e filmes, então esteja disposto a aprender muito no começo.

Também contei um pouco sobre como eu quase desisti e como é importante insistir. Vale a pena!

Por fim, vimos algumas ferramentas que você vai querer manter por perto enquanto estiver se comunicando em outro idioma.


Essa foi só a primeira parte! Assine a newsletter e me siga nas redes sociais para saber sobre a parte 2.

Carregando publicação patrocinada...
3

Conteúdo perfeito. Eu só gostaria de contribuir com algumas visões pessoais.

  1. Não foque em filmes e séries se você é iniciante (até B1).

O que mais cansei de ouvir como professor era "teacher, tô assistindo todo dia aquela série nova, você acha isso bom"? Filmes e séries são excelentes por uma coisa: nativos conversando confortavelmente no dialeto deles, na velocidade deles, com as gírias e erros deles. Isso é um tesouro pra estudantes avançados que já sabem como o idioma funciona e só precisam aprender a usá-lo como os nativos usam. Se você não tem uma base sólida suficiente pra saber o que está acontecendo, vai acabar aprendendo muita coisa errada ou aproveitando muito pouco de tudo que assistir e, principalmente se for uma série, todo o tempo que gastou "estudando" poderia ter sido usado pra aprender algo com mais qualidade. Não estou dizendo pra fugir dos filmes/séries, apenas que não espere aprender tanto assim e não se sinta mal caso não entenda um monte de coisa. Calma, tudo tem seu tempo.

  1. Mais aprendizado ativo, menos aprendizado passivo.

Aproveitando o gancho do último item, é legal você saber de algo sobre o processo de aprendizagem. Em geral, ele é dividio entre aprendizado ativo e passivo. Aprender algo ativamente é quando seu cérebro é forçado a produzir e então aprende a partir do processo - no nosso caso isso seria escrever e falar. Aprender passivamente significa ser uma esponja: apenas absorver aquilo que vem pelos sentidos - no nosso caso, ler e escutar. Fica fácil entender onde o último item entra e porque tanta gente gosta de ficar só ouvindo música, vendo filme e série enquanto acha que isso é suficiente. Não é. Você SEMPRE vai aprender menos passivamente porque depois seu cérebro joga fora a maioria do que viu. PRATIQUE. Escreva em inglês e converse com você mesmo em inglês. Quando se sentir mais confortável, pode usar alguns aplicativos como Tandem.

  1. O (in)famous Duolingo.

Indo direto ao ponto: Duolingo não é ruim. Isso não significa que ele sozinho é suficiente. Nele você vai achar basicamente um monte de exercícios específicos e que podem virar algo muito repetitivo e automático. Use ele como um treino esporádico pra testar como vai, mas eu não recomendaria usar como fonte principal de estudos. Estudar a gramática pra entender porque as coisas são como são, escrever textos reflexivos sobre algo, conversar e expressar sua opinião - isso sim são formas esplêndidas de estudo.

  1. A gramática serve a língua, não o contrário.

Não vou ser o professor chato e dizer que estudar gramática é legal. Entender como o idioma funciona pra poder usar ele é legal. A gramática é a chave pra isso. Você nunca precisou estudar gramática pra aprender a falar português porque o cérebro humano aprende um idioma naturalmente até os 6 anos de idade. Como não nativo, você precisa entender o porquê de algo ser feito em inglês pra não apenas decorar e repetir como um papagaio, arriscando fazer feio em alguns casos. Meu conselho é: estude gramática sempre que precisar, não estude ela apenas por estudar. O poder da curiosidade é o que leva as pessoas longe nos estudos! Seja curioso: pesquise sobre tudo que não entender. O que significa essa palavra? Será que eu poderia ter usado aquela outra no lugar? Por que essa frase foi escrita assim? A gramática deve ser sua caixa de ferramentas que você consulta de vez em quando pra conseguir compreender as coisas, e quanto mais você consulta, mais aprende e menos precisa consultar.


CURSOS vs AUTODIDATISMO
Com base em tudo isso que disse acima, o único ponto que discordo do post é sobre cursos serem indispensáveis. Eu fui professor de curso e sempre estudei idiomas por conta própria. Eu conseguir não significa que é fácil pra todo mundo, eu sei muito bem. Mas o que quero dizer é: você NÃO DEPENDE de curso hoje em dia com a internet onde tudo está disponível: desde vídeos explicativos e artigos avançados até exercícios pra praticar. Um curso, na minha opinião, é muito mais valioso pra especialização. Acho sim que vale procurar um curso quando você "já sabe" o idioma, mas precisa se especializar em um inglês acadêmico pra estudar pro TOEFL ou IELTS, ou em um inglês voltado pra business. E quando digo curso também quero dizer professor particular - aqui vai da sua preferência e confiança na pessoa/instituição.

Se você sabe ter disciplina e tem vontade de aprender, pode ir muito longe e muito mais rápido que num curso. Se você não tem esses dois, gastar centenas por mês e sentar a bunda na cadeira algumas horas por semana não vai fazer a diferença. Se você acha estudar chato então é porque está fazendo errado. Não tem essa de "não nasci pra isso", confie mais em você mesmo! Cada um tem seu tempo.

2

Grande contribuição, Felipe.

Sou muito inseguro quanto ao meu inglês. Usei o Duolingo, Elsa Speak e muitos outros aplicativos para tentar aprender e, de fato, em algum momento, você entra no modo automático e tudo fica muito fácil. Obviamente, eu me saí mal na minha primeira e única entrevista internacional. Não fiquei chateado, pois fiz por fazer mesmo, queria testar meu inglês. Depois disso, resolvi contratar um professor particular e a evolução tem sido incrível.

Acho que as pessoas precisam entender seu perfil, eu me dou melhor com alguém apontando meus erros. O professor me passou uma lista de atividades antes da primeira aula, o básico, correção de texto, e a gravação de um áudio falando sobre o assunto. Já começamos a primeira aula com ele explicando os erros que cometi e qual a forma correta. Ele já passou exercícios com base nisso e já enviou o conteúdo para a próxima aula.

Tomei o cuidado de escolher um professor nascido em Portugal e que cresceu em Londres. Preferi assim, pois, com base nos estudos que fiz sozinho, percebi que tinha mais facilidade com o conteúdo publicado utilizando o inglês britânico. Até mesmo para entender alguém falando comigo, o britânico é mais simples, pelo menos no meu caso.

Acredito que para quem estiver começando, o ideal é encontrar um roteiro e tentar ir até onde pode sozinho. Quando chegar no ponto de "não sinto que estou evoluindo além disso sozinho", a pessoa deve procurar ajuda.

O importante também é ter metas. Por exemplo, meu nível de inglês, nos testes que fiz, deu A2 ou B1, variou um pouco. Meu objetivo é chegar ao nível B2 até abril. A vida é feita de metas, precisamos traçar objetivos e prazos para alcançá-los. Se apenas dizemos "eu vou aprender inglês" sem colocar uma data e um objetivo específico, nunca vai acontecer.

1
1
1
1

Que post bacana! Me identifiquei demais com tudo que você falou. Moro na Holanda desde 2019 e no começo foi dificil mesmo. Primeiro dia de trabalho saí com dor de cabeça.
Uma coisa em relação as ferramentas é que dependendo do trabalho não pode usar. Faz parte da política da empresa e precisa ficar atento com isso pois algumas informações confidenciais podem transitar por essas ferramentas.
Valeu pelo post!

1
1

Cara, esse sem dúvida foi o melhor post que eu poderia ter lido. Eu ja passei por algumas entrevistas, e algumas delas havia a necessidade de usar o inglês.

A princípio a gente fica nervoso, mas aconteceu exatamente o que você disse. Basta entender e ser entendido.

Mas mesmo assim, nunca me senti capaz de realizar todas as comunicações, mesmo entendendo bastante o que é dito.
Me sinto na responsabilidade de falar sem erros, de fazer com que todos entendam de primeira, e isso com certeza me prejudica para tentar novas posições em outros lugares que falam inglês.

Mas quem sabe um dia eu mude esse meu mindset.

Obrigado por compartilhar de sua experiência. Abraços e sucesso pra ti!

1
1

Ótimo post, muito bom ver a experiência de alguém que tem a oportunidade que você quer ter no futuro.
Um site que foi mencionado aqui no tabnews e que ajuda a praticar conversação é o Free4Talk, larguei por falta de tempo mesmo, mas enquanto eu estava utilizando por poucas semanas eu percebi uma melhora na minha segurança ao falar inglês.

1

Fantástico! Obrigado pelo seu relato. Acho que o maior inimigo sempre será a insegurança sobre o próprio inglês, eu inclusive tenho bastante sobre o meu, mesmo sabendo entender e me fazer entender também. Seus conselhos foram muito importantes.

1

Boas dicas! Valeu por compartilhar 👏

Também trabalho pros gringos e uso inglês diariamente. Uma coisa que reparo quando escuto brasileiros falando inglês é a pronuncia incorreta de palavras em inglês, com a sílaba tônica como se fosse a palavra em português. Por exemplo, a própria palavra portuguese é dita errada diversas vezes (e eu mesmo já pronunciei muito errado 😬). Escuto a maioria das pessoas pronunciando portuGUEse quando na verdade é PORtuguese. Já ouvi até devs pronunciando a palavara developer errado como deveLÔper, quando o correto é deVÉloper. Os gringos entendem, mas deve ser estranho (ou até engraçado) ouvir alguém não nativo falando uma palavra com a silába toníca errada xD

Um site que me ajuda muito a tirar dúvidas a respeito da pronúncia de novas palavras é o https://youglish.com.

1