Em marketing, fala-se muito sobre as "5 forças de Porter". E eu acho que elas ajudam a responder sua pergunta:
Força 1: Concorrência —— difícil concorrer em qualidade e preço com uma bigtech, pois qualidade e preço custa dinheiro, muito. Uma bigtech brasileira precisaria, desde o inicio, ter capital pra oferecer qualidade e preço a ponto de competir com uma bigtech world-class.
Até vimos o iFood desbancando o Uber Eats no Brasil. Mas, sejamos sinceros: quem aqui consegue ver uma tech brasileira em condições de oferecer um produto melhor e mais batato do que uma Open IA, Google, Meta da vida??? Até mesmo muitas empresas gringas acabaram sendo engolidas (compradas ou derrubadas) pelas FAANG.
Força 2: Barganha com fornecedores — Muitas bigtechs tem cadeias inteiras para fornecer a si mesmas seus insumos. A Amazon tem a AWS, Windows tem a Azure, etc. Até mesmo quando a Meta precisou dar tração ao Instagram, ela já tinha o Facebook. Google consegue emplacar novos serviços apenas fazendo publicidade nas suas próprias plataformas.
Uma tech brasileira, inevitavelmente precisará de ter uma bigtech (ou mais de uma) como fornecedoras. O que já faria a bigtech brasileira sair em desvantagem.
Isso, por si só, é um fator impeditivo? Claro que não. Mas é uma dificuldade.
EDIT: aqui entra a questão de uma tech brasileira ter wue consumir patentes das bigtechs, uma vez que pouco produzimos tecnologia.
Força 3: Barganha dos compradores — o usuario final quer o servico de graça, ou a um custo baixo, ou a um custo mais baixo do que o custo mais baixo do mercado. Nessa hora, fica dificil competir com uma bigtech que pode colocar o preço do produto no chão, se quiser. Ainda mais considerando que, a partir do Brasil, tudo custa cinco vezes mais, por causa da moeda. Óbvio, podemos vender lá fora, faturando em dolar ou euro. Mas, como fazer pra dominar o adversário no campo do adversário? Não é tão simples.
Se é impossivel? China e seu titktok estão mostrando que não, mas tambem não é trivial.
EDIT: Aqui eu encaixaria o "custo Brasil" tão discutido aqui nos comentários.
Força 4: Ameaça de Novos entrantes —— É aqui que muitos dos argumentos de vcs se posicionam. É nesta força que reside o Facebook kibando e matando o Snapshot, o Facebook comprando Insta e Whatsapp a bilhões, e o governo americano querendo eliminar o tiktok na base da canetada. É essa força que explica os oligopolios, os contratos — reais ou tacitos — entre os poucos competidores de um mercado para impedir a entrada de uma concorrente novo. É aqui que se discute as leis de truste, monopólio e a ação dos lobistas pra apaziguar os governos. Isso acontece na tecnologia, na indústria automotiva, na indústria alimentícia, até no futebol...
EDIT: aqui eu encaixaria a cadeia alimentar do mercado. Ainda que sua startup seja f-da, uma FAANG vai acabar abocanhando ou atropelando você.
Força 5: ameaça de produtos ou serviços substitutos — essa força eu acho que não interfere no problema que estamos discutindo, então não vou entrar nos detalhes.
Óbvio que esta não é a única forma de explicar esse problema. Dá pra abordar de muitas formas, na verdade, de todas as formas exposta nos comentários. A multiplicidade de respostas só mostra como, na verdade, não existe apenas uma resposta para esse problema, e só comprova como é improvavel que algum dia tenhamos uma bigtech brasileira.
O máximo que consigo vislumbrar é uma empresa nacional protegendo sua fatia no mercado nacional contra uma big de fora. Ex: ifood desbancando o Uber Eats, MELI enfrentando a Amazon, Globo enfrentando a Netflix, Quinto Andar sobrevivendo a Airbnb (embora não sejam exatamente o mesmo mercado). Em nenhum desses casos conseguimos ver a empresa nacional escalando a nivel mundial, mas conseguimos ve-las sobrevivendo no mercado nacional, e até liderando o mercado nacional em alguns casos.