Executando verificação de segurança...
9

Por que temos tantos programadores infelizes?

Entrei no TabNews para buscar inspiração para a edição da newsletter desta semana e me deparei com pelo menos três postagens falando sobre como é difícil trabalhar com programação.

Eu trabalhei mais de três anos formando programadores na DevPro e estou relativamente acostumado com esse fenômeno na nossa área: quem tá fora quer entrar, e quem tá dentro quer sair.

Vista de fora, programação é uma área sexy. Trabalhar em startup é cool. Ganhar um salário de mais de R$ 40k é o sonho de qualquer jovem, principalmente num país pobre, como é o Brasil. O canto da sereia é muito forte.

Porém, vista de dentro, a coisa não é tão glamourosa assim. Trata-se de um ofício extremamente técnico, trabalhoso e lento de se dominar. Empresas de tecnologia não são lá os ambientes mais saudáveis do mundo de se trabalhar. Pesquisas apontam que 2 a cada 5 engenheiros de software estão altamente suscetíveis a viver um burnout.

Por que será que trabalhar desenvolvendo software é tão estressante? Tem como evitar isso? Esse é o assunto de hoje!

A Vida Real

Há algum tempo atrás eu assisti um ótimo documentário na Netflix chamado "O Método de Stutz". Nele, o ator Jonah Hill entrevista o seu terapeuta Phil Stutz. É uma conversa bem íntima que fala sobre a vida do Jonah, a vida do Stutz e, principalmente, o seu famoso método.

Segundo Stutz, existem três aspectos da realidade que não podem ser evitados: a dor, a incerteza e o trabalho duro. Por mais que esses aspectos possuam conotações negativas, é possível interpretá-los de maneira positiva e entender que eles podem coexistir com uma vida perfeita.

Todos sentem dor, tanto física quanto emocional. Por mais que a dor doa, ela te faz crescer. A incerteza também nos causa desconforto. Não existe nenhuma garantia de que nossos planos e sonhos se concretizarão. Entretanto, é possível enxergar acontecimentos inesperados como oportunidades de mudança e crescimento.

O trabalho duro, por fim, é sempre visto como um fardo a ser carregado. De fato, é. Mas não significa, necessariamente, que isso seja ruim. É possível encontrar um propósito na nossa labuta diária e, com isso, alcançar um senso de preenchimento e utilidade.

A dor, a incerteza e o trabalho duro são aspectos essenciais para o progresso, o crescimento e a evolução de um indivíduo.

Uma vida perfeita, segundo Stutz, não é sobre realizar seus sonhos, mas sim sobre desenvolvimento pessoal. É sobre aceitar a sua jornada e enxergar os desafios como oportunidades a serem superadas.

E o que tudo isso tem a ver com programação?

Programação é fim, e não meio

Este é o nono texto que escrevo para o TabNews. Acredito que, até agora, não teve uma edição em que eu não fiz questão de frisar que a programação não é um fim em si mesmo. Por que entender isso é tão importante?

A área da tecnologia é muito abstrata. Um pedreiro, por exemplo, consegue enxergar o propósito de levantar uma parede. É fácil tangibilizar que aquela parede será a sustentação do lar de uma família. Para um mecânico, é simples tangibilizar que o parafuso do motor que ele apertou vai permitir que uma pessoa consiga viajar do ponto A ao ponto B.

Já na programação, conseguir tangibilizar o valor que você gera é mais difícil. Aquelas linhas de código resultam no que? A maioria dos programadores têm dificuldade de enxergar o valor que geram. Eu mesmo demorei muito tempo para conseguir enxergar.

Um aspecto da minha carreira que eu acredito ter falado poucas vezes em público é que eu fiquei muitos anos "brigado" com minha profissão. Eu também passei pela tão comum desilusão com a área. Durante alguns tempo eu tentei ganhar a vida com negócios que não tinham programação envolvida. Eu queria fugir o mais rápido possível desse ambiente hostil.

Durante esse período, a programação era algo que eu "era obrigado" a fazer, e não o que eu gostava, o que me dava prazer. Olhar para aquela tela com um monte de letrinhas coloridas, coisa que eu era apaixonado e fazia durante horas quando criança, se tornou um fardo pesado de se carregar.

As pazes vieram quando eu finalmente consegui enxergar que as linhas de código que eu escrevia geravam valor real na vida de outras pessoas.

Eu consegui olhar para os projetos que participei e enxergar que, através do meu trabalho, médicos puderam salvar vidas porque tiveram acesso rápido e livre a literatura científica sobre saúde. Através do meu trabalho, pequenos produtores tiveram acesso a capital barato para financiar seu empreendimento e sustentar suas famílias.

Esses são apenas alguns exemplos do valor que eu gerei ao longo da minha carreira. Estou te contando isso porque eu tenho certeza que você, programador, também tem pelo menos um projeto no seu currículo em que gerou valor concreto na vida de alguém.

Programar não é só desenhar arquitetura, aprender uma nova linguagem ou implementar uma nova feature. Isso é a parte boa da profissão. A parte chata é manter código legado, resolver problemas no suporte, sofrer pressão para fazer entrega em tempo recorde, perder final de semana para migrar banco de dados…

Sinto lhe informar, mas qualquer profissão é composta por um monte de trabalho chato com um pouquinho de trabalho legal. Essa é a vida real. E na programação não é diferente.

Por isso é tão importante entender que a programação não é um fim em si mesmo. Se você não enxergar sentido e propósito no trabalho chato, se a sua única motivação for "brincar" com o novo framework do momento, você vai cair numa depressão.

Trabalhar de casa, não pegar trânsito, ter tempo para si e para sua família é ótimo. Ganhar uma boa grana e poder desfrutar de todo o conforto e segurança que o dinheiro traz é sensacional. Mas isso não pode ser o objetivo final. Deve ser "apenas" um motivador.

O objetivo final precisa ser gerar valor. A mentalidade deve ser de servir o próximo através do seu trabalho. Para isso, não basta programar, é preciso entender, de fato, qual é o problema que você está resolvendo.

Por isso eu digo que programador tem que saber fazer negócio. Programar é apenas uma tarefa. Saber porquê e para quem você está programando é a parte mais importante. Sempre tenha em mente que você não está simplesmente escrevendo código, mas sim remediando a dor de alguém.

Só assim você vai conseguir passar por toda a dor do dia a dia, por toda a ansiedade que a insegurança da vida traz. Só assim você terá disposição para trabalhar duro e, ainda sim, se sentir feliz por isso.


✉️ Esta foi mais uma edição da minha newsletter.

💪🏻 O meu objetivo, com essa newsletter, é ajudar programadores que desejam empreender, ou que querem desenvolver seus soft-skills, mas ainda possuem uma visão muito técnica e pouco estratégica.

Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus aprendizados ao longo dos anos.

Portanto, se você se interessa por empreendedorismo, desenvolvimento pessoal e opiniões relativamente polêmicas, se inscreva para receber as próximas edições. ⬇️

Toque aqui para se inscrever

Carregando publicação patrocinada...
2

É o famoso "a grama do vizinho é mais verde".

Tem gente que me acha chato porque eu falo muito da realidade. Algumas pessoas aprenderam que você deve ser super positivo sempre. E essas pessoas são muito responsáveis pelo problema. Porque elas fazem a percepção da grama ser sempre verde, que é uma fantasia. Elas se calam sempre que sabem de algo ruim para, egoisticamente, parecer que são pessoas boas. Elas só falam das coisas boas. E tudo tem coisas boas e ruins.

Me lembro de ver uma pesquisa que trabalhar com TI era a profissão mais estressante que existe. Muito mais que médico, policial, bombeiro, piloto de avião, e até o segundo colocado, que pode ser surpreendente também, mas faz todo sentido para quem já tentou, que é ser professor.

Por isso é preciso gostar e não fazer pelo dinheiro, pelas vagas fáceis, que inclusive sabemos que é mentira. Se quer isso, tente outras profissões. As pessoas tentam programação para conseguir entrar em vários níveis, mesmo que não atinjam o objetivo de vaga fácil e alto salário. Outras coisas com vaga fácil e alto salário é tudo ou nada. E lá no fundo a pessoa sabe que não será nada para ela.

Por isso eu reforço que deve escolher a área porque tem facilidade com ela, se está preparado para exercê-la, que tem consciência das dificuldades, e porque enxerga nela um meio de criar algo interessante dentro dos desafios que ela realmente oferece.

Dá eu lamento muito quando alguém fala "ferramenta tal paga as contas". Porque ela está dizendo "é uma porcaria, eu odeio, mas uso pelo dinheiro". Nem sempre a pessoa odeia, tem casos que ela está escondendo que na verdade gosta de algo ruim. Eu prefiro a honestidade, ter gosto por algo ruim não deveria ser motivo de vergonha, todos temos prazeres culposos.

Eu acho que todo trabalho pode ser legal quase o tempo todo porque se a pessoa gosta ela faz tudo ser legal, ela se esmera e tem oportunidades para que "tudo" fique legal. E tem algumas profissões que isso funciona melhor ainda. Algumas personalidades aproveitam melhor que outras. Mas é claro que todas têm desafios mesmo. Também não adianta entender que programação é complicada e outras não são. Eu só acho que é uma questão de adequação.

A programação não encaixa com muitas personalidades, e aí complica bastante. E o marketing todo é feito para fazer cada vez mais gente entrando, que é algo egoísta da indústria e não algo pensando no bem das pessoas. E aí vem muita lamentação que a pessoa não consegue. E sempre aparece alguém dizendo que consegue sim, só aumentando a frustração porque na realidade ela não consegue.

Se a pessoa já tem a personalidade do fracasso é muito complicado palavras ajudarem, ela precisa mudar toda a atitude dela, e não ter reforçado que deve insistir no que faz. Muitas vezes ela precisa de ajuda. E em muitos casos é preciso se conformar que nada tem salvação, ao contrário da crença popular. Porque aí a pessoa começa tomar decisões adequadas e para de "dar murro em ponta de faca". Falo por experiência própria. E por isso eu queria que alguém tivesse me alertado antes de forma correta para que eu achasse um rumo melhor.

Quando a motivação da pessoa é o fim, como dito na postagem original, já ajuda bem. É o começo da atitude certa. E é aí que entra o que eu sempre falo que hoje em dia muita gente adota certas técnicas e tecnologias para satisfazer sua necessidade e não de quem vai usar o software, e sai muita coisa ruim.

É muito difícil se dar bem em uma área que vai contra o que um humano está acostumado sem vocação e gosto. É muito difícil avançar sem muita dedicação e compromisso. Eu fiz muita coisa errada na minha jornada, mas o que eu não fiz, foi desistir fácil, estudar só para ver um resultado, achar que basta copiar receitas de bolo, não tentar por conta própria e ir atrás de outros para me dar a solução, de aceitar o mais ou menos, de não me responsabilizar pelo que acontece comigo. Claro algumas dessas eu fiz em algum momento, em alguns casos eu fiz por muito tempo, até eu perceber ou alguém me alertar e virar o jogo pra mim. Por isso eu faço o mesmo.

Eu não faço pela polêmica, mas infelizmente às vezes acontece. Espero que isso ajude as pessoas a acharem seu melhor rumo, não importa o que faça. Eu desejo o melhor para todo mundo, até para quem me odeia, muitas vezes porque não entende o que eu falo.

Obviamente todos devem fazer o que acham melhor para suas vidas. A consequência sempre virá, é inexorável. Você precisa aceitá-la, e mudar se for necessário.

Faz sentido para você?

Espero ter ajudado.


Farei algo que muitos pedem para aprender a programar corretamente, gratuitamente. Para saber quando, me segue nas suas plataformas preferidas. Quase não as uso, não terá infindas notificações (links aqui).

1
1
1
1

Existe uma linkedinização do trabalho. E isso é ainda mais forte na area de TI.

A gente tira uma foto da nossa mesa de trabalho. Três monitores. Aquele monte de letra, tela preta, home office. E vende aquilo como estilo de vida.

Já faz 20 anos que ouço que "TI da dinheiro". Todo mês materia na TV dizendo que tem 500 mil vagas em TI,que cientista de dados ganha 20k/mês.

O youtube cheio de vendedor de curso, prometendo que você pode ter acesso a esse mundo cor de rosa se comprar o curso de duas horas dele da hotmart.

O "primo que faz TI e ficou rico", hoje, rivaliza com o "primo que fez fez concurso" em qualquer mesa de ceia de natal.

Ser de TI é status. É pop. Trabalhamos em startups, nossos escritórios parecem um playground, podemos ir de bermuda, é tudo "cool".

Entende o mundo de mentiras? A linkedinização?

Ai a Joana decide fazer transição de carreira. Porque a area dela é chata, é burocrática, é estressante, paga mal e falta emprego. Ela acha que o mundo da TI é totalmente diferente.

Mas um ano de TI, e ela descobre que TI é trabalho como qualquer outro. Tem chefe. Tem horário. Tem entriga. Tem layoff. Tem abuso moral. Tem abuso sexual. Paga mal (sim, paga!).

Como não ser infeliz quando você descobre que caiu num golpe? Quanto maior a expectativa, maior a queda.

E as expectativas em TI, são altissimas. A camada de chantilly do marketing é espessa.

E em momento nenhum você entra na área porque quer servir. Você quer mudar de vida, salario, status. Estamos no Brasil, um país pobre. Status importa, diante da familia e dos amigos.

Mas, o quanto você está disposto a sofrer pelo "status"?

1

Status importa, diante da familia e dos amigos. Mas, o quanto você está disposto a sofrer pelo "status"?

Nesse caso o problema não é a carreira em TI, mas sim a motivação.

1

Obrigado por essa postagem. Eu realmente precisava disso. Com quase 1 ano de carreira já passei por 1 burnout. Imagina aí o pique que eu tava hahaha. Ainda estou aprendendo a ver a situação "macro" das coisas e de mim.

1
1

Ótimo post, chegou para mim na melhor hora. Já fazem 3 anos que estou na área, e no inicio eu tinha uma empolgação fora do normal, estudava 3 a 4 horas por dia e fazia estágio e facul. Depois que formei entrei em uma startup e aprendi muita coisa, ficava hypado facilmente com frameworks novos e novos projetos para entregar, mas depois que tive um burnout essa animação toda foi água abaixo, não consigo ter a mesma empolgação de antes, mas depois de ler esse post e lembrar dos projetos que trabalhei e o quanto eles impactaram a vida de algumas pessoas consegui enxergar o real motivo por trás do meu trabalho, ajudar as pessoas nas suas dores, isso me ajudou bastante, brigadão :) .

1
1

Não são só os programadores, todas as pessoas,quando a empresa é doente, a pessoa fica doente, eu no meu caso não trabalho com programação, trabalho em uma farmaceutica e estou doente, doente a ponto de pedir demissão.
Trabalho pesado, pressão e falta de responsabilidade emocional, ganhar pouco, trabalhar 12 dias diretos sem descanso, esses sao alguns dos tantos problemas que venho passando. Os pontos que me fizeram a chegar esse ponto.
Mas também há aqueles que reclamam de tudo, é isso, se a empresa não for saúdavel, trabalho duro não coexiste com saúde mental.

É esse meu ponto, hoje foi um dia bem complicado no serviço, faz 7 dias que estou trabalhando e agora só paro na sexta feira, mais 12 dias diréto, ganhando um salário mediocre.

Insatisfação.

1

se a empresa não for saúdavel, trabalho duro não coexiste com saúde mental.

Ótimo ponto. Agora, numa empresa saudável, o trabalho duro é diretamente proporcional à saúde mental, pois você trabalha com propósito.

Força aí, meu amigo.