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Aceite: a IA vai tomar seu emprego

Mas, calma! Nem tudo está perdido

No fim do ano, eu tirei duas semaninhas de folga. Na primeira, eu decidi investir um tempo para me atualizar sobre o tema do momento: inteligência artificial.

Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu falo um pouco mais sobre a minha opinião em relação aos impactos da IA na minha e na sua carreira.

Um bate papo despretensioso

Eu tirei o final do ano para estudar mais sobre Inteligência Artificial. Devido ao grande crescimento do Tintim nos últimos meses, eu fiquei completamente abarrotado e não consegui dar atenção especial para o tema.

Para ser bem sincero, eu não estava dando muita atenção. Pra mim, a IA era hype, até ver um amigo apresentando, num mastermind, o que ele vem fazendo com IA dentro da empresa dele. Fiquei abismado. Não vou entrar em detalhes, mas, o que ele fez é algo que, há anos, grandes startups precisavam de +100 cientistas de dados para fazer. Absurdo.

Nessa mesma época, o meu amigo Renato Haidamous veio falar comigo. Ele veio me apresentar seu mais novo projeto, o dorable.ai, e começamos a discutir sobre o tema. Papo vai, papo vem, o assunto foi para uma linha mais filosófica, sobre os impactos dessa nova tecnologia na sociedade atual.

Eu dei minhas opiniões. Disse o que eu achava e porque pensava daquele jeito. Ele deu as opiniões dele também. No fim da conversa, ele comentou: “isso daria um post da sua newsletter”. Aqui estamos!

As revoluções industriais

Provavelmente, você aprendeu isso na escola. Provavelmente, também, você esqueceu. Então, acho que vale a pena relembrar brevemente quais foram as revoluções industriais que aconteceram ao longo da história, e quais foram os impactos causados na humanidade por cada uma delas.

A primeira revolução industrial

Aconteceu lá pelo final do século XVIII, aproximadamente entre 1760 e 1840. Começou na Inglaterra, e depois se expandiu pela Europa e América do Norte.

O principal impacto da primeira revolução industrial na humanidade foi o uso da energia a vapor para mecanizar a produção. Por conta do descobrimento e da adoção dessa tecnologia, deu-se início ao sistema fabril.

Com o sistema fabril, houve o início da demanda em escala por mão de obra braçal. Guarde essa informação.

A segunda revolução industrial

Aconteceu aproximadamente entre 1850 e 1945, na Europa, Estados Unidos e Japão.

Várias coisas aconteceram nessa época. A invenção do telefone, do telégrafo e do rádio trouxe um salto gigante na forma como o ser humano se comunica. Mas, a grande estrela da vez foi, sem dúvida, o uso da eletricidade como fonte de energia.

A invenção do motor de combustão interna viabilizou a criação de novas indústrias. O Fordismo, também, foi o grande responsável pelo aumento da industrialização e produção em massa.

Por conta de todos esses avanços, a demanda por mão de obra braçal, iniciada na primeira revolução, agora explodiu.

A terceira revolução industrial

Aconteceu aproximadamente entre 1950 e 1970, também nos Estados Unidos, Europa e Japão.

Foi nessa época que surgiu a eletrônica, com destaque para os computadores e, também, para os microchips. A criação e adoção dessas novas tecnologias permitiram o desenvolvimento da automação e robotização na indústria.

A partir dessa revolução, uma coisa muito importante aconteceu: toda aquela mão de obra braçal não é mais necessária, porque as máquinas passam a fazer o trabalho duro.

A demanda por mão de obra deixa de ser braçal e passa a ser intelectual. O ser humano deixa de fazer o trabalho e passa a controlar a máquina que faz o trabalho.

A quarta revolução industrial

Chegamos aos dias atuais. A quarta revolução industrial aconteceu ali no começo dos anos 2000, não num local específico, mas espalhada por todo o mundo. Isso porque a grande tecnologia propulsora dessa revolução foi a internet.

Foram tantas inovações proporcionadas pela internet que fica até difícil citar. Os mercados de trabalho e a produção global foram completamente transformados.

É aqui, inclusive, que eu e você entramos. Eu sou nascido nos anos 90 e tive a sorte de acompanhar e participar, diretamente do meu próprio quarto, do surgimento da internet. Você deve ser um pouco mais novo que eu, mas, também deve ter presenciado isso.

Com a chegada da internet, chegam também os “trabalhadores braçais digitais”. Estamos falando do programador; da pessoa que cuida do servidor; da pessoa que atende o cliente via chat; da pessoa que produz conteúdo para as redes sociais; da pessoa que sobe campanhas no Google Ads e no Meta Ads. Essa é a mão de obra do mundo digital.

Assim como bons trabalhadores braçais ganharam muito dinheiro no passado, nós, “trabalhadores braçais digitais" nos demos muito bem.

A IA vai tomar o lugar do humano?

“Legal, eu estou aqui, no Brasil, trabalhando remotamente como programador para uma empresa estrangeira, ganhando em dólar. Eu fico o dia inteiro de bermuda e chinelo escrevendo código e enchendo o bolso de dinheiro”.

Tenho VÁRIOS amigos que vivem essa vida. E isso não vale só para programador. Todos os trabalhadores das profissões que citei acima, provavelmente, trabalham dessa forma.

Mas aí chega a tal da inteligência artificial. Mais especificamente a inteligência artificial generativa. De repente, a máquina é capaz de produzir texto, áudio e vídeo. De repente, a máquina é capaz de fazer o meu trabalho.

Assim como o trabalho braçal deixou de ser feito pelo humano e passou a ser feito pela máquina, o “trabalho braçal digital” deixa de ser feito pelo humano e passa a ser feito pela máquina.

Antes, o ser humano aprendia a linguagem da máquina para poder controlá-la. Agora, a máquina aprende a linguagem do ser humano. Estamos entrando numa era de cooperação entre o humano e a máquina.

Mas, e aí, será que eu e você vamos perder nossos empregos? A resposta curta é: sim. Mas, calma!

A adoção da inteligência artificial está impactando TODOS os setores da economia. Há a automação de diagnósticos na medicina. Há os carros autônomos na logística. Existem diversos outros exemplos. Como eu sou um só e um completo ignorante em outros setores além da tecnologia, vou me ater a falar somente sobre o que eu entendo.

O “trabalho braçal digital”, ou seja, as tarefas repetitivas e baseadas em regras, passarão a ser feitas por inteligência artificial. Aliás, elas JÁ estão sendo feitas. O código já está sendo escrito pela IA. O conteúdo já está sendo escrito pela IA. O vídeo, a imagem e a música já estão sendo produzidos pela IA. Isso é um fato. Quem só sabe fazer isso, com certeza, vai ser substituído.

Agora, alguém precisa comandar essas máquinas. Assim como na terceira revolução industrial, o ser humano deixa de fazer o trabalho e passa a comandar o trabalho. Se você desenvolver essa capacidade, pode ficar tranquilo que você não será substituído.

Mas, o conjunto de habilidades necessário para comandar é completamente diferente das habilidades necessárias para operar.

Como se preparar para um mundo com IA?

Lá em 2021, eu li um livro muito bom chamado “Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas”. Nele, o autor David Epstein explica porque os profissionais mais valorizados e mais bem-sucedidos em suas áreas de atuação são os generalistas. Pra você ter uma ideia da qualidade do livro, Bill Gates o recomendou como um dos melhores livros lançados no ano.

Generalistas são pessoas que pensam fora da caixa e encontram saídas para problemas aparentemente insolúveis por meio da conexão entre áreas e ideias, a princípio, incompatíveis (pelo menos essa é a definição do autor).

Os generalistas têm vantagem sobre especialistas porque eles têm a capacidade de integrar conhecimentos de diferentes áreas e pensar de forma sistêmica. Essa é a base fundamental de quem é capaz de se adaptar.

Num mundo de IA, quem exerce o papel de especialista é a máquina. Não tente brigar contra isso. Você vai perder. Resta para nós, humanos, nos adaptarmos e assumirmos o papel do generalista. O generalista que será capaz de pensar de forma estratégica e resolver problemas usando a IA como a ferramenta que faz o trabalho duro.

A IA trabalha, o ser humano pensa.

Mas, como ser um generalista?

Desenvolva sua criatividade

A grande habilidade do generalista é, justamente, juntar pontos que, aparentemente, não possuem relação. Para isso, é preciso ter um vasto repertório cultural.

Seja curioso com áreas diversas além da sua área de atuação. Se você é programador, estude sobre arte. Se você é artista, estude sobre programação.

Além disso, estude história e filosofia. Nada no mundo é novo. Quem conhece o passado possui a capacidade de antever o futuro. Muita literatura, música e filmes também te ajudarão nisso.

Desenvolva habilidades interpessoais

De novo: antes, os seres humanos aprendiam a se comunicar com as máquinas. Hoje, as máquinas aprenderam a língua dos humanos. Saber programar tinha um grande valor. Hoje em dia, ao contrário.

Por isso, é preciso aprender a se comunicar com outros seres humanos. É preciso desenvolver empatia, inteligência emocional. É preciso desenvolver autoconhecimento.

São essas habilidades que vão te permitir colaborar e liderar outros seres humanos. Máquinas também.

Aprenda a resolver problemas complexos

De novo: a máquina é capaz de operar. O ser humano é capaz de pensar. Por mais que pareça que uma IA pense, na verdade, ela só é muito boa em entender o padrão necessário para produzir a resposta desejada (recomendo esse vídeo do Akita para mais detalhes).

Problemas simples, monotemáticos, a IA já é capaz de resolver sozinha. Agora, os problemas complexos, que exigem um conhecimento interdisciplinar, só podem ser resolvidos por humanos. Isso porque a IA ainda não é capaz de pensar de forma estratégica e nem de forma holística. Desenvolva essas habilidades e você se dará bem.

Desenvolva, também, a habilidade de pensar por primeiros princípios, e não por analogia (também falei sobre o assunto na edição #40).

Aprenda a se adaptar

Todo esse conhecimento vai te fazer aprender a entender o mundo como ele é. Essa habilidade permitirá ler e antecipar tendências. Mas, nada disso será útil se você não tiver coragem.

Desenvolva a si mesmo, como ser humano, para ter a coragem de agir com base nas suas próprias conclusões. Desenvolva sua autoconfiança. Coma bem, tenha um corpo treinado. Tome riscos. Aprenda a confiar no seu instinto e na sua intuição.

O mundo está em constante mudança e só sobrevivem aqueles que se adaptam. Esses são os treinos que te vão te preparar para ter a coragem necessária para arriscar e se adaptar quando necessário.

Por fim, não se assuste

Por mais que a demanda mude, sempre haverá demanda.

O iPhone foi criado em 2007. Junto com ele, foi criada uma indústria de aplicativos que, hoje, vale mais de $250 BILHÕES de dólares. Do nada. O smartphone resolveu uma série de problemas. Junto, criou uma série de novos. Para cada problema resolvido, surgem novos problemas.

O ser humano só é a espécie mais desenvolvida do mundo porque aprendeu a resolver problemas. Essa é a nossa essência, como espécie.

O mercado de programadores pode deixar de existir. O de gestores de tráfego, de social media, também. Agora, tem um mercado que nunca vai deixar de ter demanda: o mercado de problemas.

Se você for um resolvedor de problemas, você nunca passará fome na vida.


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Existe essa busca desenfreada pela automação, e a IA vai contribuir com isso. Novas plataformas e empresas com máxima automação serão criadas e tal. Mas muitas pessoas como eu irão preferir as outras empresas onde existam pessoas reais pra conversar e resolver problemas. Ou ao menos um endereço, uma sala comercial onde tu possa ir, sentar com alguém da empresa e conversar pra tentar chegar num acordo. Concordo com o final do artigo.

Não querendo fugir do assunto, eu aluguei um apto pelo quinto andar e foi um inferno, porque eles tentam automatizar tudo, e não tem uma única pessoa que te atenda por completo quando tu precisa resolver algum problema. Ficam sempre repassando pra outro setor, pra outro atendente, e o problema não era resolvido.

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Ótimo comentário!

No fundo, as pessoas querem que seus problemas sejam resolvidos da maneira mais eficiente possível. Não importa se é um robô ou um humano.

O grande erro das empresas é automatizar um processo pensando em resolver um problema DA EMPRESA (geralmente custo), ao invés de tentar resolver o problema do cliente. Essas empresas sempre vão perder pra quem coloca o cliente como principal destino de valor.

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Essa IA que vai roubar o emprego de geral podia chegar logo!

Um trecho de um poema de 1967 que nunca foi atual:

I like to think
(it has to be!)
of a cybernetic ecology
where we are free of our labors
and joined back to nature,
returned to our mammal
brothers and sisters,
and all watched over
by machines of loving grace.

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As IAs tão evoluindo de um jeito que eu tou ficando preocupado kkkk a curva de desenvolvimento ta sinistra no meu ponto de vista, parece que cada dia que passa eu estou vivendo um filme tecnológico futuristico diferente do outro

“Legal, eu estou aqui, no Brasil, trabalhando remotamente como programador para uma empresa estrangeira, ganhando em dólar. Eu fico o dia inteiro de bermuda e chinelo escrevendo código e enchendo o bolso de dinheiro”.

Meu sonho de consumo rapaz kkkkk