Quando pedir direção leva à saída - Uma reflexão sobre Gestão e Carreira
Passei por uma situação bem desconcertada recentemente e gostaria de trazer uma reflexão sobre o assunto, gostaria que todos que lerem esse texto, tragam também as suas experiências caso em algum momento se identifiquem.
O Pedido
Após um bimestre de entregas intensas, me senti insatisfeito com meu desempenho e solicitei à minha gestão um direcionamento. Após um periodo de luto e muita terapia, havia retomado os estudos mais avidamente e estava refinando temas voltados a planejamento e gestão de pessoas, mas sentia que a empresa precisava que eu focasse em outros processos, mais operacionais.
Decidi então chamar minha gestão direta para uma conversa. Sabia que precisava de mais clareza para alinhar meus esforços ao que realmente era esperado de mim. Na tentativa de buscar ajuda, questionei: "O que vocês precisam de mim nesse momento?". Afinal, considerando todos os aprendizados que tive, pedir direcionamento é essencial quando se está na posição de liderado.
Esperava receber um feedback construtivo, algo que me ajudasse a melhorar, evitar possíveis falhas e avançar. Na minha visão, as coisas estavam indo bem, especialmente após bons retornos que havia recebido nas semanas anteriores.
O Encontro
Após a conversa inicial, na qual expus os pontos em que precisava de direcionamento e compartilhei planos para o próximo semestre, aprofundei os questionamentos sobre plano de carreira, apresentei os cursos e certificações que estavam na minha pauta e recebi um retorno dizendo que a diretoria iria se reunir, avaliar melhor a minha situação e trazer um feedback mais elaborado. Fiquei animado com a atenção, pois me sentia completamente perdido naquele momento.
Alguns dias se passaram até que, logo pela manhã, fui chamado para uma conversa. Confesso que convites para reuniões no início do expediente geralmente me trazem um certo receio. Contudo, dessa vez, entrei na sala com confiança, pronto para ouvir e aprender. A conversa começou com um tom estranho, e logo percebi o rumo que ela estava tomando. Esperei por uma resposta que me ajudasse a avançar, mas o que recebi foi completamente inesperado: um convite para repensar minha permanência na empresa.
Fiquei abalado e inquieto. Não soube como reagir. Não esperava essa notícia, ainda mais após ter pedido ajuda. Permaneci em silêncio durante boa parte do discurso, mas, ao final, questionei: "Quando vocês pretendiam me dar essa notícia, caso eu não tivesse questionado?" Entre muitas coisas ditas, uma frase ficou marcada: "Com o seu salário, conseguimos contratar duas pessoas". Nesse momento, a realidade de que, muitas vezes, somos apenas números em algumas organizações me atingiu em cheio e não me dei ao trabalho de argumentar e questionar, somente aceitei.
A Reação
Saí daquela sala com uma mistura de emoções: incredulidade, frustração e, acima de tudo, a sensação de que algo maior estava em jogo. Será que pedir ajuda foi um erro? Isso é uma atitude comum vinda de gestores e diretores? Quanto tempo demoraria para essa decisão ser tomada, caso eu não tivesse me expressado? Será que eu não me encaixava mais na empresa, mesmo sem perceber? E, se fosse esse o caso, por que não houve uma conversa franca antes?
A Reflexão
Ao olhar para trás, percebo que aquela conversa não era apenas sobre mim. Era sobre cultura organizacional, comunicação entre líderes e liderados, e como lidamos com vulnerabilidades no trabalho.
Foi um reflexo da falta de visão, gestão e profissionalismo. Como gestor, nunca tomaria essa abordagem. Em meu entendimento, o correto seria trazer um feedback claro, apontar os pontos que não estavam satisfatórios e estipular metas para melhorias. Um acompanhamento próximo seria necessário, e somente ao final de um prazo combinado, a decisão sobre o desligamento seria tomada, caso as mudanças não ocorressem.
Essa postura seria muito mais profissional e embasada. Mas enfim, essa é apenas a minha visão de como uma gestão deve funcionar.
Após algumas horas, em casa com minha família, após algumas boas reflexões, senti uma leveza enorme, como se um peso tivesse sido retirado de mim. Eu estava muito envolvido com o projeto e tinha grandes visões sobre tudo o que ele poderia prover à sociedade, mas, no fim, isso ficará apenas na zona do querer.
O Renascer
No mesmo dia do convite para desligamento, entrei em contato com pessoas da minha rede: gestores, diretores e desenvolvedores. Não gosto de perder tempo. Candidatei-me a algumas vagas e, em pouquíssimo tempo, recebi propostas promissoras, identifiquei a que me mais me desafiou e segui com ela sem pensar duas vezes.
Esse episódio se tornou um ponto de virada na minha trajetória, assim como foi entrar na empresa que me trouxe essa experiência frustrante. Foi um chamado para revisitar minhas prioridades, revisar meus pilares, redefinir minha direção e, acima de tudo, confiar no meu próprio potencial.
Pedir ajuda não foi um erro. Na verdade, foi o primeiro passo para um novo caminho. Essa experiência, além de me ensinar o que evitar como gestor, serviu como um incentivo para aprimorar minha jornada profissional e pessoal.