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A Nova Onda do "Vibe Coding"

  • Este é meu primeiro artigo, tentando aprender essa arte. É um compilado de comentários que fiz em algumas plataformas pela web afora e aqui também. Tentei colocar nexo em algo desconexo. Espero que possa aliviar suas preocupações com todo esse hype da IA.

Sopas de Pedras

Eu não sei cozinhar, não no mesmo nível das pessoas que dizem saber cozinhar. Mas eu tenho bastante experiência com "Vibe Cooking". Posso até dar aula. Sei fritar ovo e preparar miojo; sei que tem que colocar um pouco de água no arroz antes de esquentar e que, para fritar ovo, usar manteiga é melhor que óleo ou margarina. E nada mais sofisticado para contar.

Sei colocar a água para ferver, colocar o miojo (sem o pozinho porque é sódio puro), mais molho de tomate, mais o que tiver sobrado do dia anterior. Tempero com sal, orégano e salsinha, se tiver, e pimenta também. Se tiver carne moída, ótimo. Se não, salsicha ou ovo cozido serve, faço em uma task paralela. Se eu estiver inspirado, vai feijão e batata palha. O resultado é o famoso prato "sopa de pedra".

É algo engraçado de se ver fazendo, pode ser até legal para gravar vídeo e colocar no TikTok, mas não vou conseguir montar restaurante e faturar com isso. A não ser claro que eu tenha milhares de seguidores. Como não sou ninguém na fila do pão, faço só para mim. Mas resolve meu problema, porque não curto cozinhar e nem quero aprender.

Influenciadores podem ter sorte aqui. Muitos estão bombando no Instagram e TikTok fazendo coisa pior. Imagino que seja pelo efeito manada, não acredito que seja um negócio duradouro. Mas é curioso acompanhar. O X/@levesio publicou essa semana a expectativa dele de faturar U$1 million ARR com seu fly-game feito com vibe coding. Uma sopa de pedra bem rentável. Estou acompanhando de perto para entender tudo isso.

Vibe Cooking Não Assusta

Nenhum chef de cuisine jamais perdeu o sono com a venda de eletroportáteis de cozinha ou com a industrialização do miojo. Tem muito consumidor leigo fazendo vibe cooking em casa com miojo e macarrão. Tem a vantagem de não precisar gastar comendo fora quando se faz vibe cooking. Mesmo assim, os restaurantes continuam cheios, e food trucks continuam dividindo as calçadas com barracas de hot-dog.

Eu comparo o uso de assistentes de IA ao uso do forno de micro-ondas e outros eletroportáteis, usando a mesma visão do chef Gordon Ramsay. É bastante útil, mas se você depender dele para tudo, só vai fazer porcaria. E saber usar um forno de micro-ondas ou air-fryer não vai fazer de você um chef. Grandes chefs possuem kits de facas profissionais porque ainda fazem muito trabalho manual (e artesanal) na cozinha, e isto não vai mudar tão cedo. Com programação não é diferente; criar games, então, é quase artesanal.

O vibe coding trouxe muitos curiosos para a área de TI, os chamados citizen developers, e isso é ótimo. Estimular o aprendizado de programação e criar oportunidades de emprego e negócios contribuiria muito para qualquer nação. Acredito que há um grande potencial para o aprimoramento das ferramentas voltadas para vibe coding. Quem sabe num futuro próximo, a questão do comportamento não determinístico em LLMs teria uma melhor abordagem.

Mas acho que muitos não ficarão na área. No início é divertido, até o momento que a IA não "vibe" mais, e então precisa arregaçar as mangas e "meter a mão" no código. Codar pode ser um pouco chato para algumas pessoas, exige pensar de forma metódica. Já estou vendo pela web afora comentários de quem fez um SaaS e não tem paciência para ficar corrigindo bugs. Está tentando vender e pular fora.

Por essas e outras, não boto muita fé nesse mercado de Vibe Coding para Citizen Developers. Ao menos não como modelo de negócios. Desenvolver é mais que codar e pessoas "normais" não conseguem entender como conseguimos ficar 8 horas olhando para a tela e "mastigando" código-fonte. A ciência da computação evoluiu muito nas últimas décadas, tem muita coisa para entender e muito jargão técnico que ainda assusta. Mas eu posso estar errado; como disse antes, estou acompanhando tudo de perto porque é fascinante.

O Bicho Papão da IA

Na década de 90, as ferramentas CASE e geradores de código também causaram alvoroço, e marqueteiros diziam que o trabalho do programador iria acabar. Venderam bastante no início, mais pela pressão psicológica do que pela utilidade. Mas aí os usuários ficaram de saco cheio de "programar" porque viram que não levavam jeito para a coisa, ou porque não tinham saco de aprender coisa nova. E na hora da manutenção, ninguém queria sentar e dedicar tempo para resolver bugs no código "espaguete" gerado. Jogavam no colo dos analistas e programadores, e esses diziam que era melhor jogar fora e começar de novo.

Eu tenho visto muitos programadores realmente preocupados em perder emprego ou não conseguirem mais trabalhar na área. E a nova onda do vibe coding parece que tem piorado isso ainda mais. Tudo por causa desse hype da IA. São vítimas circunstanciais do sensacionalismo que as big-techs e startups estão promovendo. A bem da verdade, programadores não são o foco delas. O foco são investidores. Por isso tem muita demo falcatrua (vide infame Devin). Não importa se "ainda" não funciona 100%; se deixa as pessoas de boca aberta, é porque tem potencial. Por isso investem bilhões, pelo potencial.

Isso que estão fazendo com os dev-juniores não tem muito sentido. Estão reduzindo o salário, reduzindo contratações por conta da IA, tocando o terror dizendo que IA vai fazer o trabalho de um dev-júnior — só para manter o hype de IA e garantir aumento no valor das ações. Acabam desestimulando a nova geração. Depois acaba ficando como o mercado de Cobol, onde os mais experientes estão morrendo e poucos da nova geração se interessam.

Na minha opinião, essa entropia está com os dias contados. Está um pouco turbulento por conta do hype, mas aos poucos está entrando no eixo. A IA não vai substituir os programadores, mas vai estimular as empresas a investirem mais no desenvolvimento de software em virtude da agilidade que ganhamos com a IA. Isso significa mais vagas, principalmente para júniores. Mas tem que ter paciência para esperar esse "circo" desmontar.

Admirável Mundo Novo

Estamos passando por uma nova evolução na programação de computadores. Vamos continuar programando, mas o "modus operandi" vai mudar. Do mesmo jeito que mudou quando deixamos de usar cartão perfurado e disquetes ou quando vimos o Adobe Flash ceder lugar ao HTML5 e novos frameworks front-end. Surgiram várias novas linguagens de programação na década de 90 e início dos anos 2000, e acredito que novas linguagens surgirão nos próximos anos.

Recentemente, a IA trouxe uma nova leva de IDEs e ferramentas, da mesma forma que o novo milênio trouxe Eclipse, Xcode, IntelliJ IDEA, Android Studio e VS Code. Na área de TI, não é comum ver alguém preso no passado usando ferramentas obsoletas. (Quase) Todos absorvemos mudanças bem rapidamente, faz parte de nossa vida profissional.

Provavelmente haverá impactos ainda maiores. Sites de IA chatting estão afetando outros sites como Stack Overflow e CodeProject que agora enfrentam o risco da extinção, da mesma forma que o Google afetou outros sites de pesquisa. Redes sociais estão cada vez mais repletas de bots turbinados com IA, o YouTube agora tem vídeos feitos com IA e Spotify está repleto de músicas geradas artificialmente.

O trabalho que a IA faz em codificação ainda é na base do autocomplete, usando o que ela absorveu da web. Dia desses eu pedi pro ChatGPT gerar um lexer e parser em Python para JavaScript. Gerou um programa usando a lib ply, e era um código disponível no GitHub. Simplesmente cuspiu o repositório de alguém. Copiou e pastou...

Mas são tempos fascinantes, viver toda essa evolução com essas ferramentas ao nosso alcance. Usar o app do ChatGPT para treinar fluência em inglês é surreal, há 20 anos isso seria sci-fi. E às vezes o GitHub Copilot sugere código que me espanta, parece que leu minha mente. O lexer/parser que mencionei, pedi pro ChatGPT explicar algumas partes do código, ele explicou direitinho, parecia que eu estava conversando com o autor do repositório.

Nova Evolução na Programação

Se você, leitor, for gen-z, então não tem memória do que seria viver sem celular. Eu sou gen-x, vivi décadas antes de usar um celular, lembro bem como era a vida com "orelhão" na rua e telefone fixo em casa. E acompanhei de perto o impacto dos smartphones após 2008. Mudou o mundo, melhorou bastante, e vai melhorar ainda mais com a IA.

Assistentes de IA na programação são a mesma coisa: não tem mais volta, usa ou fica obsoleto, adota ou se torna um "urtigão" eremita isolado nas montanhas. Não vai substituir um desenvolvedor, mas vamos utilizar ao longo da programação do que quer que façamos. Se você programa kernel do Linux, vai usar pouco. Se trabalha em alguma corporação, vai usar para tudo.

Quem programa em Java não escreve métodos construtor e getter-setter há tempos. É tudo gerado automaticamente (salve, Lombok!) e ninguém nunca ligou para isso. Um assistente IA como o MS Copilot vai ajudar bastante gerando código, mas ainda teremos que depurar e escrever muito código, resolver bugs, etc. Além disso, muitas vezes é preciso dar um tapa e testar bastante o que for sugerido/gerado.

Se você não decora números de telefone, então depende do celular para isso. Você se tornará dependente da IA em programação da mesma forma que é dependente do acesso à internet, da água e gás encanados e da eletricidade. Você depende de banco, de cartão de crédito, de supermercado, e vai depender de um agente IA personalizado em pouco tempo. Vida que segue...

Tem muitas oportunidades ainda para desbravar na área de TI, e vai surgir muito mais demanda agora com IA "subindo a régua". Vamos ter novas plataformas de programação, novos celulares e computadores (chip quântico), e novos profissionais requisitados, principalmente na área de desenvolvimento. Não se preocupe com a síndrome do impostor, apenas procure se atualizar e saber o suficiente para criticar e corrigir o código gerado pela IA. Foque no seu trabalho, estude o que achar interessante e não se compare a ninguém.

Sucesso para você.

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Cara, uma coisa que li e levo como mantra na vida é: "O ecossistema de desenvolvimento de software está em constante evolução." Acredito que, a partir dessa frase, podemos refletir sobre como esse ecossistema está hoje e como ele pode estar em 3 ou 4 anos. Qualquer área é passível de automatização. Pegue como exemplo a Revolução Industrial: pessoas eram substituídas por máquinas, mas não todas — apenas aquelas que se acomodaram e não evoluíram junto com o contexto industrial da época.
O mesmo ocorre no mundo do desenvolvimento de software. Nos anos 2000, durante a bolha das .com, quem sabia HTML, CSS e o mínimo de JavaScript para interação era rei. Com a revolução DevOps, a partir de 2008, os desenvolvedores precisaram se adaptar às novas arquiteturas e aos conceitos que aprimoraram o mercado. O mesmo ocorrerá com a inteligência artificial. Ela pode, sim, substituir muitas pessoas no mercado atual, mas essas são pessoas que não possuem uma base sólida para entender o que estão fazendo — o famoso desenvolvedor que depende de frameworks e não sabe se virar sem eles.
A questão principal é que, diferentemente da Revolução Industrial, os modelos de IA, como os da DeepMind ou OpenAI, estão ao alcance de todos. Basta decidir se você vai surfar a onda da IA ou esperar que ela te afunde.

(texto corrigido por ia)

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Na década de 80, programas BASIC eram encontrados em revistas. Tu via o código fonte ali no canto da página, digitava no teu microcomputador e brincava alterando algumas linhas do código. Em geral os programas, mesmo os criados em empresas, eram menores. Hoje em dia não tem como publicar em revistas, porque programas hoje são bem maiores.

IA vai gerar muito código, mas a complexidade dos programas irá aumentar e ainda continuaremos codando algumas partes. Só que em outras linguagens, porque eu acho que linguagens de 3ª geração serão substituídas. Acho que essa é a última década em que iremos codificar nessas linguagens. Década de 30 em diante, linguagens de 4ª geração irão dominar. Acho eu né, difícil prever as coisas na nossa área...

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Linguagens da 4º geração ainda vão demorar bastante a aparecer no mercado, vai ser algo bem imperativo mesmo, do tipo, "faça x com isso e assado com y", o futuro é que cada vez menos vamos nos preocupar com linhas de código e tecnologias, e mais em como resolver problemas e pensar soluções de escala, arquitetura, design e interação humano-computador, esse tipo de profissional será valorizado junto aos cientistas da computação, pedreiros de software vão ter que achar outra linha de manufatura onde podem embalar parafusos e porcas em caixas continuamente de um jeito novo.

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Tá aí uma área que ainda vai demorar bastante pra I.A tomar conta como ferramenta primária, jogos, precisam de muita criatividade e esforço humano, pela complexidade e dificuldade de fatores associados.