Como uma teoria educacional pode te ajudar a ser um programador melhor?
Fala tabbers!!
Venho aqui trazer a vocês a minha primeira (re)postagem, falando um pouco sobre uma teoria de aprendizagem que descobri há um tempo e sobre como ela mudou a minha visão de como aprender e me auxiliou no processo de aprendizagem de programação.
Tempo estimado de leitura: 4 minutos
Sumário
- Introdução;
- Aprendizagem experiencial e o ciclo de Kolb;
- Duas maneiras de ficar estagnado;
- Uma alternativa para evoluir;
- 4 dicas rápidas baseadas na aprendizagem experiencial.
- Referências
Disclaimer: postagem é um repost com tempero ✨ de um artigo que tentei trazer para o LinkedIn, mas que não consegui engajar e, convenhamos, o seu público mais adequado para esse tipo de publicação está aqui no Tabnews e aqui me sinto mais livre pra trazer o tema de maneira menos formal.
Introdução
Acho que são raras as excessões daqueles que não ficam confusos quando começam a estudar um tema novo, principalmente na área da programação, onde a cada minuto parece que nascem mais 5 tecnologias novas 10 frameworks JavaScript (rsrs). Eu mesmo, como um completo iniciante em busca do sonhado emprego jr, vivo na pele as dores de me afundar num mar de conteúdos, livros e cursos e no final de todas as aulas, ou depois de terminar o projeto do curso, perceber que na realidade eu não aprendi praticamente nada. Foi por conta disso que me dediquei a pesquisar sobre o tema "aprendizado" e me deparei com um mundo de materiais acadêmicos que explicavam da forma mais completa possível tudo que envolve o ato de aprender, em diferentes perspectivas. Uma dessas perspectivas que mais me chamou atenção e mais se encaixou no meu contexto, enquanto estudante de programação, foi a Teoria da Aprendizagem Experiencial, que pauta a experiência como paradigma para aprendizagem.
Aprendizagem experiencial e o ciclo de Kolb;
Em 1984, o teórico educacional David Kolb desenvolveu sua própria teoria da aprendizagem, na qual ele articulou a experiência enquanto uma abordagem educacional formal. Dessa forma, Kolb descreveu num ciclo contínuo de 4 estágios o processo de aprendizagem junto a duas relações dialéticas entre cada fase.
A etapa de experimentação concreta corresponde ao contato inicial com algum problema ou tema a ser estudado. É nesse modelo que nós obtemos a "matéria-prima" para aprendizagens seguintes (É também aquela etapa onde sentimos que não entendemos nada rsrs)
A observação reflexiva diz respeito ao processo de organização interna de toda a informação bruta obtida a partir da experiência. Processamos a experiência e aprofundamos nossa compreensão sobre ela.
A etapa de concepção abstrata é a fase onde formulamos regras gerais e nos afastamos da experiência concreta tal como ela é, ou seja, abstraímos da nossa experiência a sua "essência" para agirmos em contextos futuros.
A experimentação ativa, por sua vez, opõe-se dialeticamente a observação reflexiva. É a etapa de ação no mundo concreto e repercussão das aprendizagens adquiridas em experiências inéditas. O famoso pôr a mão na massa.
As relações dialéticas entre esses diferentes processos, ativo-reflexivo e concreto-abstrato correspondem, respectivamente, às relações de transformação e preensão, conforme ilustrado na figura.
Na ação ativo-reflexiva (transformação), o aprendizado pode modificar o modelo mental e determinar mudanças no nosso funcionamento psicológico quando centrado no sujeito, ou quando exteriorizado, coloca o conhecimento adquirido em prática/teste pela experienciação ativa.
Já a ação concreto-abstrata (preensão) corresponde à percepção imediata, exemplificação e imitação e tem como base a atenção, quando orientada para o mundo concreto. Já quando tem como o foco o próprio indivíduo, a relação concreto-abstrato formula regras gerais e deduz axiomas a partir da observação.
Para o programador: duas maneiras de ficar estagnado
Durante minha experiência acadêmica, percebi que não só eu, como também muitos colegas de curso que tinham interesse em aprender, muitas vezes se prendiam a uma única fase e como resultado não saiam do lugar com a aprendizagem, ficavam no famoso platô e por conta disso se desmotivavam e exclamavam aquele tão famoso "Isso não é pra mim".
Na área da programação, a nossa estagnação no processo de aprendizagem se dá justamente pela hiperfixação apenas num único estágio. Tanto que, foi observando os meus padrões de estudo e os dos meus colegas que pude fazer um paralelo com o ciclo de Kolb, baseado nas relações dialéticas de preensão e transformação, onde classifiquei o aprendizado em dois tipos gerais de "estagnação" com causas bem distintas.
A estagnação por preensão acontece quando o programador se apega em copiar tutoriais, maratonar cursos on-line e repetir os mesmos projetos iguais. Com base nisso o estudante constrói suas expectativas, tem um falso senso de evolução ao ver que de fato está completando aulas ou construindo algo dentro de condições super controladas e bem tutoradas. A consequência disso tudo é que, quando o estudante de fato quebra o padrão e busca uma experiência real, como desenvolver um projeto do zero, fazer um freela ou encarar o mercado de trabalho, se frustra justamente por perceber que a aprendizagem real foi quase nula. Para esse caso, a forma de resolver o problema é através da ação ativo-reflexiva. Insistir na prática ativa em situações inéditas e utilizar da observação reflexiva para tirar insights para novas ações e abandonar de vez o modo maratonista de curso. O material de apoio e os cursos não correspondem a um terço do seu processo de aprendizagem!!
A estagnação por transformação, diferentemente da estagnação por preensão, costuma atingir um perfil profissional já mais experiente. O platô da aprendizagem, nesse caso, acontece justamente porque a aquisição e compreensão de novos conhecimentos é negligenciada. O programador tem um conhecimento específico em uma área, porém se deixa defasar justamente por não buscar reconstruir e reafirmar o seu conhecimento e desenvolver uma relação crítica com a sua própria ação. A forma de sair desse ciclo, seguindo a teoria de Kolb, é justamente fortalecer a análise crítica da ação pela observação reflexiva e pela exploração de novos projetos/experiências diferentes.
Uma alternativa para evoluir mais rápido
A experiência é a chave central para o nosso aprendizado enquanto programadores. Sendo assim, temos sempre que considerar primeiro nossas aptidões no processo de aprendizagem e dirigir nossa ação sempre pelo equilíbrio entre cada estágio, equilibrando a observação à reflexão, bem como a prática real com a organização interna e associação das nossas experiências vivenciadas. Enquanto programadores, nossa função principal é saber não apenas resolver problemas, mas entender e priorizar entre as diferentes questões a serem atendidas. Dessa forma, o melhor estudo sempre será aquele que busca desenvolver as aptidões técnicas necessárias tendo como fim a resolução de um problema com escopo bem definido. A programação não é um fim por si mesma!!
4 dicas rápidas baseadas na aprendizagem experiencial.
- Busque uma demanda real que pode ser resolvida com tecnologia e, com base nisso, centre seus estudos para o desenvolvimento de uma solução que melhor se adeque ao problema e que vá sempre além de seus conhecimentos técnicos atuais. Tenho certeza que você vai se surpreender com a quantidade de coisas que você ainda não sabe e terá a oportunidade de testar no mundo real os seus conhecimentos desenvolvidos.
- Durante sua experiência prática, busque assimilar toda a sua bagagem teórica adquirida em seu material de apoio com o que você vem desenvolvendo. Para auxiliar nesse processo, tente documentar suas atividades. Isso ajuda no processo de registro de suas experiências de um modo mais desconexo da atividade prática, o que é útil para a abstração dos conhecimentos adquiridos da prática e sua aplicação em projetos futuros e inéditos.
- Exponha seu conhecimento desenvolvido para outras pessoas. Dessa forma você não apenas estará pondo em prova o que você aprendeu, como também poderá ajudar outras pessoas no processo de aprendizagem e poderá incrementar sua solução com novos feedbacks coletados.
- Observe novamente seus projetos anteriores a fim de encontrar melhorias e aprimorar suas capacidades reflexivas. Isso é uma oportunidade para olhar para o que você fez com outros olhos e poder também acompanhar a sua evolução ao longo do tempo de forma mais saudável, tendo como referencial de comparação você mesmo e não apenas os outros.
Referências
Pimentel, Alessandra (2007). A teoria da aprendizagem experiencial como alicerce de estudos sobre desenvolvimento profissional.
Kolb, David. (1984). Experiential Learning: Experience As The Source Of Learning And Development.
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