Pare de programar e comece a FAZER NEGÓCIO!
Me lembro que, lá em 2018, no primeiro ano da Codevance, eu negociei um projeto que foi um divisor de águas na história da empresa.
O cliente que eu estava negociando era um cara muito experiente no seu mercado, com mais de 30 anos de experiência, sempre em cargos de alta liderança. Ele tinha uma ideia e queria ajuda de um programador para iniciar sua empreitada.
Ele estava conversando comigo e também com um outro programador (que inclusive se tornou um dos maiores tech influencers do Brasil). No fim das contas, ambos estávamos disputando o cliente. Eu levei a melhor.
Pouco depois de fecharmos o negócio, o cliente comentou comigo que tinha me escolhido porque eu tinha pautado toda minha argumentação em como eu o ajudaria a colocar o produto rápido no mercado. O outro programador só queria saber de AWS, Lambda, Node.js, Mongodb, arquitetura Serverless, etc.
O cliente, definitivamente, não queria ouvir isso. Ele não queria saber como seria feito. Ele só queria que fosse feito!
Eu já tenho quase 15 anos de experiência na área. Ao longo dos anos eu conheci e fiz amizade com vários outros colegas de profissão. Eu posso afirmar com categoria: **são poucos os programadores que são focados no negócio. **
Nos meetups da vida muito se houve falar sobre o novo framework, a nova linguagem, a nova ferramenta, a nova boa prática. Quase nunca vejo pessoas falando sobre faturamento, lucro, custo de aquisição, ou qualquer outro termo que remeta a business.
Será que um bom programador é feito só de qualidade técnica? Se você acompanha esta newsletter já deve imaginar a resposta. Em todo caso, hoje quero me aprofundar um pouco mais no tema.
Como Funciona uma Empresa?
Antes de começarmos, te proponho uma pergunta: Para que serve a tecnologia? Olhando do ponto de vista de mercado, a tecnologia serve como meio para resolver um determinado problema. **Em resumo, tecnologia é um meio para gerarmos valor. **
A lógica é simples: o empreendedor identifica um problema, utiliza tecnologia para resolver este problema, gera valor para seus clientes e é remunerado com parte deste valor gerado. Um grande amigo, Henrique Bastos, me apresentou esta teoria como a lógica do bom garçom.
Para que uma empresa seja sustentável, ela tem como obrigação gerar lucro. Você pode acreditar no que quiser: que o papel da empresa é ter uma função social, trazer conscientização social, trabalhar pela preservação do meio ambiente, pela inclusão ou qualquer outra história que possam ter te vendido. As empresas que dizem existir por quaisquer um desses motivos só poderão existir se, no fim do dia, existir o lucro. Só existe empresa se existe lucro.
Para gerar valor e obter lucro, toda empresa precisa vender. Falei um pouco sobre isso neste post. Geralmente o que uma empresa vende pode ser categorizado em dois tipos: serviço e produto.
Um comércio, por exemplo, vende produtos. O ofício do comerciante é comprar barato e vender caro. O valor gerado está na intermediação. Já uma empresa que vende serviços obtém lucro "comprando" mão-de-obra barata e vendendo por um preço mais alto. O valor gerado está na especialização e otimização da qualidade desta mão de obra. Por fim, temos a indústria, que obtém seu lucro transformando matéria prima em um produto. O valor gerado está no produto fabricado.
De forma bem grosseira e resumida, toda empresa pode ser categorizada em algum desses três tipos.
Uma empresa que vende tecnologia fica ali no meio termo entre uma indústria e prestação de serviços. O seu trabalho, como desenvolvedor de software, serve como insumo para a venda de tecnologia.
Como Ganhar Muito Dinheiro Sendo Programador?
Como eu disse no começo, é difícil encontrar um programador que conheça sobre negócios.
Nós programadores possuímos um perfil muito específico: temos grande afinidade por fuçar as coisas. Precisamos entender como essas coisas funcionam. Quase sempre somos introspectivos, tímidos e até mesmo não-sociáveis.
Uma pessoa com esse perfil quase sempre possui uma profunda curiosidade por algum assunto em específico. No caso do programador, sempre haverá o interesse na nova linguagem, na nova tecnologia, no novo framework. O desafio técnico sempre interessa muito.
Por outro lado, o programador padrão não se interessa nem um pouco por outras coisas "mais banais", como marketing, suporte, operação. Se não tiver tecnologia no meio, não tem graça. O objetivo final sempre é satisfazer sua curiosidade tecnológica. Resolver um desafio. "Montar o quebra-cabeça". À primeira vista, essas áreas não ajudam em nada nisso.
É possível que uma pessoa com esse perfil ganhe muito dinheiro? Sem dúvidas. Basta ser MUITO FODA no que faz e ter a sorte de a tecnologia envolvida gerar MUITO dinheiro. Essa combinação resulta em tanto dinheiro que qualquer empresa ficará satisfeita em contratar outras pessoas para “fazer o resto do trabalho” e deixar que você foque simplesmente em exercer sua arte, que é programar.
Conheço programadores tão bons, tecnicamente, que chegam a ganhar mais que diretores de grandes empresas. Um amigo de um amigo (que não vou citar o nome), trabalhou por anos numa big tech ganhando algo na ordem de $80k mensais EM DÓLAR. Ele é MUITO bom, num nível quase que extraterrestre.
Se você for bom o suficiente e der a devida sorte, pode seguir com essa postura que você vai ganhar muito dinheiro. Agora, se você for como eu, uma pessoa mediana, no máximo boa (o que eu acho que é 99% dos casos), para ganhar muito dinheiro como programador você precisa aprender a fazer negócio.
Para isso, você precisa entender muito mais do que tecnologia. Você precisa saber sobre pontos não técnicos. Qual problema a sua empresa resolve? Por que esse problema existe? Qual o produto que você vende? Qual o mercado que você atua? Quais as características desse mercado? Tamanho? Valor? Perfil? Quanto a empresa que você trabalha fatura? Quanto tempo (ou seja, dinheiro) custa para produzir seu software? Quanto custa manter este software rodando? Quanto custa para vender este software?
Ao saber responder minimamente bem estas perguntas, finalmente você vai saber o porquê seu chefe decidiu, por exemplo, usar aquele framework velho e sem graça, mas que todo mundo da equipe conhece. Vai saber também porque ele não deixou você usar essa nova linguagem que todo mundo fala, mas que ninguém ainda teve coragem de colocar em produção.
Seu chefe não toma essas decisões “impopulares” só porque ele é um malvado que não deixa você brincar com seu brinquedo predileto. Existe um porquê que transcende a tecnologia. Ele toma essas decisões porque, no fim do dia, o trabalho dele é trazer lucro para a empresa.
Conheça as regras do jogo
De novo citando o Henrique Bastos, certa vez ele me disse uma frase que eu nunca vou esquecer:
"Todo mundo já percebeu que o programador é uma máquina de fazer dinheiro. Menos o próprio programador."
Para se jogar um jogo, é preciso conhecer as regras. Vou repetir: empresas precisam dar lucro. Essa é a regra do jogo que você está jogando quando decide trabalhar no mercado de tecnologia.
Não há problema algum em querer trabalhar com a nova linguagem, com o novo framework ou com a nova boa prática. Isso é ótimo e demonstra que você tem compromisso com qualidade, evolução técnica e também que tem prazer em exercer a sua profissão.
O problema está em perder de vista o objetivo final do seu trabalho. Tecnologia é meio para resolver problemas. Meio para gerar valor. É através da geração de valor que vem o lucro.
Transforme-se num programador que pensa além da programação.
Esta foi mais uma edição da minha newsletter.
O meu objetivo, com essa newsletter, é ajudar programadores que desejam empreender, ou que querem desenvolver seus soft-skills, mas ainda possuem uma visão muito técnica e pouco estratégica.
Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus aprendizados ao longo dos anos.
Portanto, se você se interessa por empreendedorismo, desenvolvimento pessoal e opiniões relativamente polêmicas, se inscreva para receber as próximas edições.