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Dev na Gringa: carga horária e cultura

Postado originalmente no Dev na Gringa Substack.


Semana passada, falamos de modelos de contratação, impostos, hardware e como começar do zero. Hoje, vamos discutir a questão de carga horária e cultura. Como são os dias trabalhando pra fora e dicas para se dar bem nesse ambiente.

Um explorador olhando adiante, imaginando o trabalho para empresas americanas.

📣 O que esperar do artigo

  • Como é a carga horária trabalhando pra fora?
  • Quais são as diferenças culturais entre empresas brasileiras e americanas?
  • Dicas para se destacar nesse ambiente
  • Para assinantes: mentoria em grupo do mês e nosso plano seguindo em frente
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🕰️ Carga horária? Bate ponto? Como funciona?

O horário sempre foi flexível, tanto em contratos PJ quanto CLT.

Meus contratos para posições em período integral seguiam o padrão de 40 horas semanais. A escolha de quando cumprir essas horas era minha.

Para empresas onde você é contratado por hora, é necessário enviar o relatório de horas todo mês. Isso é usado para o invoice da empresa contratante, que determina o quanto você vai ganhar.

Apesar do horário ser flexível, todas as equipes em que trabalhei têm um conceito de core hours. É um período fixo no dia onde todos do time tentam ficar online. Costuma ser ajustado ao fuso horário da maioria da equipe ou do fundador.

Gráfico ilustrando o período de core hours entre 14h e 17h.

Contratos CLT são geralmente dados como cargos de confiança. Não precisa registrar ponto. A performance é medida pelo impacto e resultados entregues, sem pagamento de horas extras.

Oncall (ou sobreaviso)

Estar em oncall significa ser responsável pelo sistema caso algo dê errado. No mundo do software, espera-se que os sites e aplicativos estejam funcionando 24/7.

Mas, eventualmente algo irá dar errado. Essa é a natureza dos sistemas distribuídos.

Quando você está oncall, é acionado para resolver esses problemas. Nunca estive oncall numa empresa brasileira, mas trabalhando para fora, isso faz parte da minha rotina desde 2021.

Não é comum receber pagamento de horas extras por estar oncall, mas algumas empresas oferecem folga após determinados períodos.

🇧🇷 As diferenças na cultura corporativa

Vou discutir três áreas onde notei as maiores diferenças ao trabalhar pra gringa. Existem outras, mas essas foram as que mais afetaram o meu dia a dia.

Comunicação, feedback e promoções

No Brasil, a comunicação tende a ser mais indireta, com foco em construir relações antes de abordar questões profissionais. Há uma tendência de evitar conflitos e críticas diretas, o que também afeta o feedback.

Nos EUA, a comunicação é mais direta e específica. Feedbacks são dados de forma clara e objetiva, o que facilita o entendimento e a ação.

Promoções no Brasil muitas vezes dependem de anos de experiência, enquanto nos EUA, são baseadas no impacto e resultados.

Tomadas de decisão e hierarquia

No Brasil, as decisões são geralmente top-down, centradas na diretoria e com burocracia envolvida. Nos EUA, em empresas de tecnologia, há mais oportunidade para dar opiniões em decisões estratégicas.

Além disso, gerentes nos EUA tem um papel maior como coach. Eles nos ajudam a alinhar nossos objetivos pessoais com as prioridades da empresa.

Prazos e pressão

A pressão por prazos pode variar muito, mas notei um cuidado maior com a saúde física e mental nas empresas americanas. Historicamente, em algumas empresas no Brasil, a pressão por entregar resultados pode ser extrema, com horas extras excessivas.

Nunca vou esquecer do dia onde eu fiquei 23 horas (de 9h até 8h do dia seguinte) no prédio da empresa. Dica: não façam isso.

📈 Dicas para a transição de trabalhar pra fora

Aqui estão três dicas essenciais para quem está fazendo essa transição:

  1. Para todo feedback que você receber, agradeça. Feedback é raro e valioso. Dizer "obrigado" é uma maneira fácil de construir e manter relacionamentos.
  2. Fale o que você pretende fazer, faça, e depois explique o que aprendeu. Isso ajuda a construir confiança com a liderança e desbloqueia projetos mais ambiciosos.
  3. Avise cedo se algo saiu fora do planejado. É normal que estimativas não se cumpram. Comunique cedo e frequentemente qualquer mudança ou incerteza.

Essas são as principais para começar nessa nova cultura. Se quiser saber mais, veja conselhos mais abrangentes nesse artigo.

✅ TL;DR

  • Carga Horária e Bate Ponto: Horário flexível, geralmente 40 horas semanais. Core hours são comuns para alinhar com o time. Contratos CLT não exigem registro de ponto.
  • Oncall: Responsabilidade de resolver problemas fora do horário normal. Não há pagamento extra, mas algumas empresas oferecem folgas compensatórias.
  • Diferenças Culturais:
    • Comunicação: Nos EUA, é mais direta e objetiva. No Brasil, tende a ser mais indireta.
    • Tomada de Decisão: Mais oportunidades de participação nos EUA. No Brasil, é geralmente top-down.
    • Prazos e Pressão: Empresas americanas demonstram maior cuidado com a saúde mental e física.
  • Dicas para Transição:
    • Agradeça todo feedback.
    • Comunique claramente suas ações e aprendizados.
    • Avise cedo sobre mudanças nos planos ou prazos.
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Olá, Lucas.

Atualmente tomei a decisão de migrar de carreira, mas tenho muitas dúvidas em todo o processo.
Um dos meus objetivos é conseguir um vaga para o exterior e, talvez eu pareça utópico, conseguir morar fora em busca de uma qualidade de vida. Então me deparei com seu relato que chamou minha atenção com muitas informações relevantes para mim.
Então, pensei que talvez eu pudesse tirar dúvidas com você se eu contasse um pouco do meu cenário atual.

  • Desde já, peço desculpas pelo incomodando e agradeço pelo retorno e pelo tempo que dedicou para ler e/ou me responder.

Bom, atualmente trabalho com call center (chato pra caramba ¬¬) e estou mudando de carreira tomando posse em concurso público (policial). Ambas as carreiras não são o que desejo para mim, mas prestei concurso para ter o mínimo de qualidade de vida ganhando 5k.

Estou concluíndo meu curso de ADS e já estou pensando em começar uma nova graduação em Eng de Software, mas é algo que demanda um tempo mínimo de 4 anos. Não há problemas para mim me dedicar todo esse tempo, na verdade vejo como um investimento.

Mas eis o ponto que me fez tentar buscar ajuda com você. Seria possível conseguir uma oportunidade de emprego na programação sem experiência de estágio ou contrato anterior para ganhar algo pelo menos perto dos 5k?
Freelas da vida me dariam a experiência necessária que o mercado pede para conseguir minha primeira oportunidade? Você me daria dicas?

_Bom, meu pensamento é trabalhar duro para estar o mais preparado possível para o mercado. Tempo não seria problema para mim. Mas o ponto que me preocupa é como conseguir migrar de carreira sem transgredir drásticamente minha vida financeira.

Grato!

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Oi Luciano!! Não precisa pedir desculpas por perguntar. Toda dúvida é sempre bem vinda.

Tenho um amigo que está numa situação parecida. Ele já é analista numa empresa, e não poderia pegar um salário menor do que ele ganha nessa transição.

Então, é possível? É sim. Porém é um caminho mais complicado do que os outros.

Contratar alguém é um exercício de confiança. Como candidato, você precisa mostrar pra pessoa duas coisas:

  1. Mostrar que você quer o trabalho
  2. Mostrar que você sabe fazer o trabalho

Mostrar que você quer é algo que vc pode fazer aplicando de maneira diferenciada. Por exemplo: você viu uma vaga numa empresa gringa. Apesar de nunca ter trabalhado pra fora (ou mesmo na área), você achou que se encaixaria nessa vaga, porque as tecnologias batem com o que você tem estudado.

Como vc não tem experiência, fica difícil passar só por conta do currículo, o filtro mais comum que temos nessa fase.

Então, você precisa se destacar de outra forma. O que eu faria:

  1. Mandaria um email direto pro fundador da empresa, falando do porque eu acho que me encaixaria nela.
  2. Nesse email, sugira uma funcionalidade, reporte algum bug no produto da empresa. Ou mostre algo que você fez que se orgulha.
  3. O seu objetivo é responder a pergunta: "por que eu contrataria essa pessoa?"

Isso te ajuda a mostrar que você quer o trabalho.

E também, caso você envie projetos que já trabalhou (acessíveis publicamente na Internet), também mostra que você sabe fazer o trabalho.

Para se acostumar com isso, minha dica é: faça coisas em público. Poste sobre o que você tem trabalhado no LinkedIn, Twitter, e aqui no TabNews também.

Compartilhe as lições que você tem aprendido.

Essa é a melhor maneira de aprender e também de construir uma marca pra você.

Se você conseguir uma vaga pra fora, com certeza irá ganhar mais do que 5k. Provavelmente ao menos uns 10k jogando bem pra baixo. Eu imagino que seria uns 15-20k.

Agora, se você não souber inglês, você ainda consegue fazer isso em empresas brasileiras. Só que é mais difícil encontrar as empresas que pagam esse nível de salário para juniors.

Não sei aonde você mora, mas a melhor alternativa seria procurar empresas de São Paulo que contratam remotamente. Os melhores salários estão em SP.

Espero que tenha ajudado! Qualquer outra dúvida, pode falar. Se quiser entrar no Discord, lá costumo responder com mais rapidez tb.

Abraços e desejo sucesso na transição!!!