Afirmações
É interessante o seu ponto, só há um pequeno problema nele. Você não leu Karl Popper. De forma errônea, no início deste ano a ideia de que Popper defende o limite da tolerância, foi propagado de inúmeras formas, foram de vídeos à tuítes. O problema é que O Paradoxo da Tolerância nada mais é que um ensaio dialético.
Ensaio Dialético
Popper observou na sociedade, que a tolerância possui - o que chamamos hoje de area cinzenta - a possibilidade da existência de discursos intolerantes, para Popper, permitir isso era como um tiro no próprio pé, uma vez que o intolerante não daria ao tolerante o mesmo direito em uma possível subida ao poder (Fascismo, Stalinismo, Nazismo, Regime Franco, Era Mao e outros…). Karl Popper entendeu então, que esse paradoxo só poderia ser resolvido com uma possível legítima defesa, surge então sua célebre frase:
“A tolerância ilimitada deve levar ao desaparecimento da tolerância. Se ampliarmos a tolerância ilimitada mesmo para aqueles que são intolerantes, se não estamos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque do intolerante, então o tolerante será destruído - e a tolerância com ele”
Legítima Defesa
Quando Popper, em seu ensaio dialético chega à primeira conclusão, seus questionamentos mudam. Para Karl Popper, a legítima defesa contra o intolerante era a melhor forma de se lidar com o problema, no entanto, ele prevê em sua dialética, que todos podem ser considerados intolerantes diante os círculos sociais, para Popper a legítima defesa contra o intolerante se torna um poder de exceção. Ele questiona "Como se determina se alguém é tolerante ou intolerante?”, esse novo questionamento o faz chegar a sua conclusão final a respeito do paradoxo da tolerância.
Paradoxo da Tolerancia
Quem detém o poder de definir quem é o intolerante pode o censurar, calar e até destruir, tendo essa conclusão em mente, Popper defende. Toda, e qualquer discordância que estiver no campo das ideias, deve ser tolerada, a exceção surge quando, segundo Popper, as discordâncias se tornam algo além de suas ideias e não se deve ser tolerada quando argumentos são respondidos com punhos e pistolas (violência).
Liberdade de Expressão
Para Popper a liberdade de expressão é um direito inviolável, portanto seu ensaio dialético chegou à conclusão que o mesmo já tivera antes, portanto, a liberdade de expressão encontra-se como um direito ilimitado, pois não existe meia liberdade de expressão, do contrário, existe a censura. Ainda segundo seu raciocínio, quando o intolerante sai do campo da ideia e da argumentação e parte para agressão, ele já está sob os regimes de lei aplicados, portanto, já há a existência de leis que coíbam tais atitudes.
Conclusão Pessoal
Entendendo como Popper pensou, chegamos à conclusões lógicas. Infelizmente, hoje está se tornando comum haver discursos anti-liberdade de expressão, pessoas que antes defendiam tal direito, hoje são publicamente contra, alegando haver um “limite à liberdade” (até a frase é contraditória), esse discurso vem ganhando espaço graças à polarização política gerada no país nos últimos anos, que, apesar de poder ter sido evitada, se tornou um âmbito de vale-tudo, onde algumas pessoas escolhem se entram para esse ringue ou simplesmente se mantém aos seus ideais. No antro do vale-tudo, a censura para opositores; prisão para pessoas que pensam diferente e cancelamento de reputação para perfis discordantes se tornou algo comum, e nesse momento chegamos em um nível onde a sociedade se encaixa em algo muito próximo do que foi o regime nazista.
Quando a população Alemã foi conivente com as atrocidades do nazismo, houveram-se inúmeros pseudo-argumentos, segundo Joseph Goebbels em seu livro (Diário - Últimas Anotações: 1945), a sociedade alemã estaria lidando com o fim das prováveis ações contra a igualdade ariana para poder transformar a Alemanha em uma suprema sociedade. O resultado disso foram, censura, mortes, holocausto, um estado inflado com controle total da sociedade alemã - incluíndo as empresas e a elite burguesa. Conforme explica George Orwell em uma de suas alegorias, o caminho que uma sociedade toma para uma ditadura começa com a supressão da liberdade de expressão, sob o pseudo-argumento de:
Todos tem direitos iguais, mas alguns tem menos direitos do que outros, portanto, cabe o poder sob eles.
- A Revolução dos Bichos
A sociedade Alemã entendeu que, para que o regime nazista chegasse ao seu ápice, era necessário haver a opressão de qualquer persona que se colocasse como oposição às ideias do regime e do partido (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães), para que isso fosse feito, era necessário um discurso anti-stalinista, pois para o nazismo, o Stalinismo representava a desigualdade da sociedade ariana, a censura e o ódio (conforme explicava Hitler em seus discursos anti-marxista), para lidar com isso, o partido tomou a radical decisão de usar, dos mesmos preceitos Stalinistas para suprimir seus opositores.
Seguindo a lógica de Karl Popper, podemos então chegar à conclusão que, a censura e o limite da liberdade de expressão - mesmo em estágios embrionários (discursões argumentativas) é equivalente às atitudes nazistas do passado. Eis aqui o paradoxo da tolerância.
O fascista de hoje viu, que no passado a perseguição à certas etnias pôde ser explorada pelos seus opositores através de um argumento antifascista, por isso hoje o fascismo não os persegue mais, apenas se expõe como um bom moço.
- C.S. Lewis
Resumo
- Limite da liberdade de expressão se chama censura (Já tivemos durante a ditadura militar e estamos tendo hoje).
- Karl Popper não defendeu que não devemos tolerar o intolerante mas sim, não devemos tolerar o intolerante que sai do campo argumentativo e parte para a violência.
- Regimes fascistas, stalinistas, nazistas, socialistas e afins surgem com o limite da tolerância e com a quebra da liberdade de expressão, nesses casos, todos se equivalem, uma vez que agem na mesma linha, com diferenças apenas em ações (nazismo perseguiu minorias étnicas).
- O discurso do limite à liberdade de expressão (portanto, favorável à censura) é o que explica Orwell em uma de suas alegorias, onde ele define que, a chegada ao poder, faz com que um certo círculo social defina que algumas pessoas devem ser punidas por APENAS pensarem diferente.
- O discurso anti-liberdade de expressão ganhou força no Brasil após o surgimento de um movimento político direitista (antes inexistente no país), para responder a isso, movimentos de esquerda definiram seus opositores como sendo fascistas, portanto intolerantes (generalização das massas), conforme fez a sociedade Alemã, ao definir seus opositores como sendo Stalinistas.
- O discurso autoritário se torna evidente quando pessoas com o controle do poder, passam a definir quem é o intolerante apenas por pensarem diferentes, se eu tenho esse poder, eu posso facilmente apontar o @filipedeschamps como sendo um intolerante, portanto, ele mereceria ser preso em prol da “democracia”.
Moderação
É do poder da empresa TabNews definir as medidas de moderação, e tais medidas deverão ser respeitadas, o problema é se o estado interfere nessa moderação ao definir que questionamentos à respeito do processo eleitoral, por exemplo, é um discurso intolerante (o que claramente não é).
Karl Popper foi um gênio, e conseguiu prever inúmeras vezes como a sociedade pode chegar ao colapso, em casos onde a liberdade de expressão é violada apenas sob a narrativa de que isso seria por um bem maior.