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O paradoxo da Tolerância e uma reflexão sobre a moderação no tabnews

Nenhuma rede social acontece no vácuo, ela está inserida no tecido da sociedade e seu tempo histórico, seus dilemas e suas contradições. Nas últimas décadas assistimos à polarização dos discurso e o ressurgimento de grupos de manifesta intolerância.

E as redes sociais precisam lidar com isto sem cair na falsa equivalência de comparar aqueles que defendem a cooperação, solidariedade e a inclusão com aqueles que defendem seu direito individual de oprimir, discriminar e ofender os demais.

O manto da liberdade de expressão não pode ser utilizado para encobrir narrativas que corroem os fundamentos da vida em sociedade. Não existe imparcialidade, não há dois lados quando defendemos valores comuns á convivência pacifica entre grupos humanos.

Dito isso, Devemos tolerar o intolerante? Este dilema é chamado de “paradoxo da intolerância”

Segundo Karl Popper, amplamente considerado um dos maiores filósofos da ciência do século XX:

“A tolerância ilimitada deve levar ao desaparecimento da tolerância. Se ampliarmos a tolerância ilimitada mesmo para aqueles que são intolerantes, se não estamos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque do intolerante, então o tolerante será destruído - e a tolerância com ele”

Em resumo, se uma sociedade tem a tolerância como um valor absoluto, a ponto de tolerar discursos intolerantes, esses mesmos discursos vão se aproveitar dessa condescendência para se espalhar a ponto de destruir a tolerância. Para que isto não ocorra devemos ter o direito de não tolerar a intolerância, isso não quer dizer suprimir sumariamente estas filosofias, mas criar mecanismo para que, por exemplo, movimentos intolerantes sejam postos fora da lei, para que as ideias intolerantes não possam ir além de uma discussão ou argumentação, mas que de qualquer outra forma elas sejam proibidas ainda que seja necessário o uso de ações punitivas.

Uma rede social que planeja pensar uma moderação que permita oferecer razoável liberdade e, enquanto, fomenta um ambiente saudável de discussões, embates, cooperação e trocas de ideias precisa considerar este paradoxo.

Precisamos ser imparciais em favor da inclusão, dos direitos humanos, das reivindicações historicamente conquistadas de identidade e autodeterminação. É preciso apoiar a ideia de uma liberdade material, de uma liberdade real, em detrimento de uma liberdade abstrata e virtual. A liberdade ilimitada não existe, somos todos pertencentes a uma estrutura social, somos organismos sociais, todos precisamos uns dos outros para exercer nossa humanidade. A liberdade é coletiva, é inclusiva ou não é liberdade. A liberdade excludente é violência, opressão e autoridade.

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Afirmações

É interessante o seu ponto, só há um pequeno problema nele. Você não leu Karl Popper. De forma errônea, no início deste ano a ideia de que Popper defende o limite da tolerância, foi propagado de inúmeras formas, foram de vídeos à tuítes. O problema é que O Paradoxo da Tolerância nada mais é que um ensaio dialético.

Ensaio Dialético

Popper observou na sociedade, que a tolerância possui - o que chamamos hoje de area cinzenta - a possibilidade da existência de discursos intolerantes, para Popper, permitir isso era como um tiro no próprio pé, uma vez que o intolerante não daria ao tolerante o mesmo direito em uma possível subida ao poder (Fascismo, Stalinismo, Nazismo, Regime Franco, Era Mao e outros…). Karl Popper entendeu então, que esse paradoxo só poderia ser resolvido com uma possível legítima defesa, surge então sua célebre frase:

“A tolerância ilimitada deve levar ao desaparecimento da tolerância. Se ampliarmos a tolerância ilimitada mesmo para aqueles que são intolerantes, se não estamos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque do intolerante, então o tolerante será destruído - e a tolerância com ele”

Legítima Defesa

Quando Popper, em seu ensaio dialético chega à primeira conclusão, seus questionamentos mudam. Para Karl Popper, a legítima defesa contra o intolerante era a melhor forma de se lidar com o problema, no entanto, ele prevê em sua dialética, que todos podem ser considerados intolerantes diante os círculos sociais, para Popper a legítima defesa contra o intolerante se torna um poder de exceção. Ele questiona "Como se determina se alguém é tolerante ou intolerante?”, esse novo questionamento o faz chegar a sua conclusão final a respeito do paradoxo da tolerância.

Paradoxo da Tolerancia

Quem detém o poder de definir quem é o intolerante pode o censurar, calar e até destruir, tendo essa conclusão em mente, Popper defende. Toda, e qualquer discordância que estiver no campo das ideias, deve ser tolerada, a exceção surge quando, segundo Popper, as discordâncias se tornam algo além de suas ideias e não se deve ser tolerada quando argumentos são respondidos com punhos e pistolas (violência).

Liberdade de Expressão

Para Popper a liberdade de expressão é um direito inviolável, portanto seu ensaio dialético chegou à conclusão que o mesmo já tivera antes, portanto, a liberdade de expressão encontra-se como um direito ilimitado, pois não existe meia liberdade de expressão, do contrário, existe a censura. Ainda segundo seu raciocínio, quando o intolerante sai do campo da ideia e da argumentação e parte para agressão, ele já está sob os regimes de lei aplicados, portanto, já há a existência de leis que coíbam tais atitudes.

Conclusão Pessoal

Entendendo como Popper pensou, chegamos à conclusões lógicas. Infelizmente, hoje está se tornando comum haver discursos anti-liberdade de expressão, pessoas que antes defendiam tal direito, hoje são publicamente contra, alegando haver um “limite à liberdade” (até a frase é contraditória), esse discurso vem ganhando espaço graças à polarização política gerada no país nos últimos anos, que, apesar de poder ter sido evitada, se tornou um âmbito de vale-tudo, onde algumas pessoas escolhem se entram para esse ringue ou simplesmente se mantém aos seus ideais. No antro do vale-tudo, a censura para opositores; prisão para pessoas que pensam diferente e cancelamento de reputação para perfis discordantes se tornou algo comum, e nesse momento chegamos em um nível onde a sociedade se encaixa em algo muito próximo do que foi o regime nazista.

Quando a população Alemã foi conivente com as atrocidades do nazismo, houveram-se inúmeros pseudo-argumentos, segundo Joseph Goebbels em seu livro (Diário - Últimas Anotações: 1945), a sociedade alemã estaria lidando com o fim das prováveis ações contra a igualdade ariana para poder transformar a Alemanha em uma suprema sociedade. O resultado disso foram, censura, mortes, holocausto, um estado inflado com controle total da sociedade alemã - incluíndo as empresas e a elite burguesa. Conforme explica George Orwell em uma de suas alegorias, o caminho que uma sociedade toma para uma ditadura começa com a supressão da liberdade de expressão, sob o pseudo-argumento de:

Todos tem direitos iguais, mas alguns tem menos direitos do que outros, portanto, cabe o poder sob eles.

  • A Revolução dos Bichos

A sociedade Alemã entendeu que, para que o regime nazista chegasse ao seu ápice, era necessário haver a opressão de qualquer persona que se colocasse como oposição às ideias do regime e do partido (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães), para que isso fosse feito, era necessário um discurso anti-stalinista, pois para o nazismo, o Stalinismo representava a desigualdade da sociedade ariana, a censura e o ódio (conforme explicava Hitler em seus discursos anti-marxista), para lidar com isso, o partido tomou a radical decisão de usar, dos mesmos preceitos Stalinistas para suprimir seus opositores.

Seguindo a lógica de Karl Popper, podemos então chegar à conclusão que, a censura e o limite da liberdade de expressão - mesmo em estágios embrionários (discursões argumentativas) é equivalente às atitudes nazistas do passado. Eis aqui o paradoxo da tolerância.

O fascista de hoje viu, que no passado a perseguição à certas etnias pôde ser explorada pelos seus opositores através de um argumento antifascista, por isso hoje o fascismo não os persegue mais, apenas se expõe como um bom moço.

  • C.S. Lewis

Resumo

  • Limite da liberdade de expressão se chama censura (Já tivemos durante a ditadura militar e estamos tendo hoje).
  • Karl Popper não defendeu que não devemos tolerar o intolerante mas sim, não devemos tolerar o intolerante que sai do campo argumentativo e parte para a violência.
  • Regimes fascistas, stalinistas, nazistas, socialistas e afins surgem com o limite da tolerância e com a quebra da liberdade de expressão, nesses casos, todos se equivalem, uma vez que agem na mesma linha, com diferenças apenas em ações (nazismo perseguiu minorias étnicas).
  • O discurso do limite à liberdade de expressão (portanto, favorável à censura) é o que explica Orwell em uma de suas alegorias, onde ele define que, a chegada ao poder, faz com que um certo círculo social defina que algumas pessoas devem ser punidas por APENAS pensarem diferente.
  • O discurso anti-liberdade de expressão ganhou força no Brasil após o surgimento de um movimento político direitista (antes inexistente no país), para responder a isso, movimentos de esquerda definiram seus opositores como sendo fascistas, portanto intolerantes (generalização das massas), conforme fez a sociedade Alemã, ao definir seus opositores como sendo Stalinistas.
  • O discurso autoritário se torna evidente quando pessoas com o controle do poder, passam a definir quem é o intolerante apenas por pensarem diferentes, se eu tenho esse poder, eu posso facilmente apontar o @filipedeschamps como sendo um intolerante, portanto, ele mereceria ser preso em prol da “democracia”.

Moderação

É do poder da empresa TabNews definir as medidas de moderação, e tais medidas deverão ser respeitadas, o problema é se o estado interfere nessa moderação ao definir que questionamentos à respeito do processo eleitoral, por exemplo, é um discurso intolerante (o que claramente não é).

Karl Popper foi um gênio, e conseguiu prever inúmeras vezes como a sociedade pode chegar ao colapso, em casos onde a liberdade de expressão é violada apenas sob a narrativa de que isso seria por um bem maior.

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Gostaria de incluir aqui uma parte da seção Usuário que está em nosso Termos de Uso que eu acredito complementar esta discussão:

  1. O usuário do TabNews é uma pessoa brutalmente exata e empática, simultaneamente, onde o termômetro para entender se isso está sendo aplicado é simples: as pessoas estão se afastando ou se aproximando dentro de uma discussão?
  2. Qualquer usuário que através de suas publicações esteja propositalmente afastando outros usuários, que contenha posturas negativas aplicadas de forma genérica ou generalizada, que contenha sarcasmo gratuito, que esteja atacando ou sendo agressivo, poderá ter sua conta conta permanentemente bloqueada, junto com a invalidação de todas as suas publicações e ativos gerados por elas.
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Saudações cibernéticas champs! Gostaria de aproveitar o ensejo para comentar algo que é também de grande importancia. Postagens não relevantes estão sendo listadas como relevantes, muitas vezes postagens com apenas um tabcoin ou apenas um comentário. Isto fere o principio da curadoria de que a comunidade decidiria o que é relevante por meio dos tabcoins. Caso a rotatividade de conteúdo relevante seja o problema, não seria mais interessante a abertura também de uma outra abra que lista "tendencias"? postagens que receberam mais tabcoins por um periodo de tempo como 24 horas por exemplo? Como consequencia de como as coisas estão, gastamos mais tempo buscando conteúdos relevantes do que precisariamos e isto também desestimula a escrita de artigos mais elaborados visto que eles estão misturados com conteúdos não relevantes.

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