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Como virei um programador fazendo um "clone" do Orkut quase 20 anos atrás 🚀

Desde pequeno eu sempre gostei de computador, passando a ter um somente aos 11 anos de idade, e como naquela época a internet não era algo tão acessível assim, só fui descobrir o que de fato era aquilo no ano seguinte, mas essa demora valeu tanto a pena, que bastou o primeiro acesso para decidir que aquilo alí era o que eu queria fazer da vida.

Aproveitei todo o tempo que eu tinha disponível no computador, que não era muito, pois eu tinha que dividir ele com mais três irmãos, e comecei a estudar os códigos fontes de todos os sites que eu acessava, tentando entender a lógica por trás daquilo tudo.

Não demorou muito e eu já conseguia fazer os meus próprios sites localmente, inclusive divulgando alguns deles no finado HPG, que era um serviço gratuito para hospedar sites.

Passado algum tempo, eu queria evoluir o meu conhecimento, e fazer sites com recursos impossíveis de se fazer usando apenas HTML, e a minha primeira frustração foi tentar fazer um Bate-Papo. Através de muita pesquisa, finalmente descobri o tal do PHP, e o plano do Bate-Papo parecia alcançável.

Mas como toda história, o final feliz não vem tão fácil, sendo necessário que apareça uma pedra no caminho, e comigo não foi diferente, e essa pedra se chamava MySQL, e ele foi o vilão que me fez desistir de fazer o Bate-Papo por um tempo.

Depois de tantas batidas de cabeça, e muita horas em fóruns caçando artigos para ler, finalmente consegui achar uma forma de fazer o Bate-Papo, e a solução "porca" foi gravar as informações num arquivo TXT, que mesmo sendo infinitamente menos performático do que um Banco de Dados, funcionava de boas, e como toda mãe sempre vai achar o seu filho lindo e maravilhoso, aquele Bate-Papo rodando era o bebezinho mais lindo do mundo pra mim.

Mesmo depois de todo o "sucesso" alcançado, do êxtase de ter feito algo grandioso, pelo menos na minha cabeça era, a realidade foi tomando conta, e eu passei a enxergar aquele Bate-Papo como uma colcha de retalhos, pois boa parte do código eu nem fazia ideia de como funcionava. Quem começou a programar em PHP talvez tenha passado por isso.

Eu estava decidido que queria ser um programador, mas não me sentia nem próximo disso por ter feito o Bate-Papo Frankenstein, remendando códigos, e isso foi outra frustração para a minha coleção.

Revista Quando eu menos esperava, minha mãe comprou uma revista, aleatória, numa banca, lá no Terminal Rodoviário da Barra Funda, sim, ela não fazia a menor ideia do conteúdo daquela revista, e só comprou porque viu que era de tecnologia e tinha um CD-ROM.

Ao embarcar de volta pra minha cidade natal, numa viagem de três horas, eu fui ler a Revista, e coincidentemente havia um tutorial que ensinava MySQL, de uma forma totalmente descomplicada, e ainda como conectar ele com o PHP.

Durante a viagem eu li e reli aquela revista umas cinco vezes, e fiquei desesperado querendo chegar em casa, ligar o computador, e replicar os ensinamentos daquele tutorial.

A mágica aconteceu e finalmente eu consegui fazer o PHP conversar com o MySQL, aprendi a fazer tabelas, consultar, editar e excluir registros. Pode até parecer pouco, mas aquilo abriu um leque infinito de possibilidades, e tudo isso somado com aquele CD-ROM que veio recheado de conteúdo de PHP, de onde eu passei a entender muitas coisas das quais eu não fazia ideia lá na época do Bate-Papo, e também passei a rodar as aplicações PHP num servidor local, não precisando mais ter que subir pro FTP toda hora, o que tornava o desenvolvimento lento e chato.

Eu tinha a faca e a laranja na mão, mas ainda faltava fazer o suco, e foi então que eu me desafiei a fazer um clone do Orkut, que era a Rede Social que estava bombando no momento. Por que não?

Demorei alguns meses até a minha Rede Social tomar forma e ficar usável, mas ainda faltava um diferencial, e foi quando eu tive a ideia de integrar aquele meu Bate-Papo feioso nele, pois naquela época o Orkut não tinha esse recurso.

Criei coragem e resolvi então refazer o Bate-Papo, refatorando o código PHP, mesmo só conhecendo o termo "refatorar" muito tempo depois. A cereja do bolo, ou o açúcar para adoçar o suco, era substituir o registro em TXT pelo MySQL, e como eu já havia feito as pazes com esse Banco de Dados, enxergava aquilo como o encerramento de um ciclo, afinal, essa história merecia um "felizes para sempre".

Em 2006 o SamaKut vai ao ar, e com ele eu passei a me enxergar como programador pela primeira vez.


SamaKut

A Rede Social funcionou por bons 7 anos, angariando uns três mil usuários, que puderam se divertir e interagir entre si, inclusive servindo de alternativa ao Orkut, que era bloqueado nas escolas, faculdades e empresas. Aprendi muitas coisas e colhi muitos frutos com esse projeto, inclusive virando matéria no jornal local.

A mensagem que eu queria deixar é: Nunca desista do seu sonho de virar um programador.

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Cara, que historia emocionante, muito da hora poder ver a tua trajetoria.
Estou desenvolvendo uns projetos, e me inspirou a continuar... obrigado!

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A foto da revista me fez viajar no tempo. Só quem viveu final dos anos 90 e inicio dos anos 2000 sabe o que é comprar revista com um cd de games ou de programas.

Parabens (atrasado) pelo projeto.

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Essas Revistas com CD-ROM eram a nossa salvação, já que baixar programas e jogos através de uma internet linha discada era complicado. Ninguém merece uma conexão de 56 kbps 😄

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Acho que gera vontade, sim, mas antes é preciso saber da existência desse "mais", e que esse "mais" possa ser alcançável. Eu só fui entender o que era internet com 13 anos.

Talvez se eu já tivesse crescido com computador e internet desde pequeno, aquilo tudo seria algo tão normal, que não iria me cativar, mas também poderia ter adiantado o meu processo de aprendizado e eu poderia ter sido o criador do Facebook. Vai saber... kkkk

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Sei como é, comecei a estudar programação em 1987, Cp-400, Xenix, Basic, Cobol seria aproxima, mas a internet nem era uma boa possilidade ainda, montei meu primero computador em 92 ... ai ficou mais interessante... Aquele Cd passou por muitas vezes, mas qntes só os livros de Pascal, algoritmo. Fico muito empolgado com o seu resultado. Parabéns!

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Costumo falar que na minha época a internet era tudo mato, das dificuldades de ter uma conexão discada, do material escasso sobre programação, de ter sobrevivido ao Internet Explorer 6, e tal, mas vendo uma geração anterior à minha, como é o seu caso, eu tenho que tirar o chapéu, pois as dificuldades que vocês passaram para conseguir aprender a programar foi surreal.

Hoje é tudo mais fácil, pois temos muito mais acesso, tanto em conhecimento, quanto em máquinas, porém, a complexidade das aplicações aumentou exponencialmente.

Um site em 2000, por exemplo, era HTML puro praticamente, o que faz seguir aquela lógica do "quanto mais é dado, mais será cobrado".

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Já pensei em abrir o código, mas o único problema é a vergonha. Fiz o Samakut entre 2005 e 2006, e como foi o meu primeiro projeto de fato, ficou um código macarrônico, com trocentos bugs e vulnerabilidades. Preciso dar um tapa no código antes, senão vão caçar a minha carteirinha de programador. 😆

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Oxi, manda esse bugão enorme pra comunidade implementar kkkkk lançar o Samakut opensouce e vamos reviver a epoca que uma rede social era... como posso dizer... social!

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Com a repercussão dessa postagem, o que foi uma surpresa pra mim, e com alguns pedidos de abrir o código, fiquei bastante animado em criar um repositório público no Github e subir o Samakut.

Antes de fazer isso, preciso montar o ambiente com o docker, pois estamos falando de versões antigas do PHP e do MySQL, e também preciso fazer uma documentação, mesmo que simples, explicando um pouco sobre o sistema, e ensinando como instalar e rodar ele.

Apesar da vergonha, pois o código é absurdamente feio e repleto das piores práticas possíveis e inimagináveis, já que se trata do meu primeiro projeto, acredito que vai ser divertido e didático.

Podemos fazer um trabalho em comunidade para refatorar ele. Só pra se ter uma ideia, a senha era armazenada sem nenhum tipo de proteção, quando o correto deveria ser o hash dela, enfim, tem muitos conceitos interessantes que surgiram ao longo do tempo, e que foram ignorados naquela época, que poderiam ser aplicados.

Vou organizar meu tempo, tentar tirar isso do papel, e quando eu conseguir subir esse Projeto no Github, farei uma postagem aqui no TabNews.

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Caraca que massa. Se desejar voltar ela e precisar de infra, avisa que liberamos uma VPS para rodar a rede para a acessar, testar e melhorar ela!

abs

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Que história massa! obrigado por compartilhar, creio que vai inspirar muitos outros assim como eu. Também no aguardo do projeto e quem saiba eu faça meu primeiro PR, tbm tenho muita vergonha :p

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Adoraria ver como funciona e aprender com isso, arriscaria em dizer que sou voluntario pra criar uma redezinha de meme, brincadeira old-school pra aprendizado e fortificação de curriculo.

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Cara, que sensacional, muito massa ler histórias assim. Por isso que amo programação, são começos e momentos que ficam marcados nas nossas vidas!

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Sim, do lado. Que legal. O Samakut teve um alcance regional pequeno, se destacando mais em São Manuel e Botucatu, mas tinha uns 100 usuários de Lençóis Paulista, uns perdidos de Macatuba, Agudos e até Bauru.

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Cara, meus parabéns pela baita publicação, muito bem escrita, coerente, leitura fácil, divertida e inspiradora, sensacional!!!

Eu não tive essa oportunidade de caçar logo de cara como as páginas funcionavam, mas sempre fui curioso para entender como os joguinhos funcionavam daquele minigame famoso de mais de 8 mil jogos hehehehe

Mas, independente da onde veio o "start", o importante é nunca desistir do sonhos de ser programador e quando se tornar, nunca desistir da garra e da curiosidade de sempre aprender coisas novas e da vontade e criatividade de fazer a diferença, nem que seja para uma só pessoa!

Ser programador é ter super poderes que podem impressionar pelo menos sua namorada, pode apostar hahahaha

Muito obrigado por essa inspiração incrível @filipericardo!!!!!!!

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Sem dúvida alguma disso, vi uma vez o Guilherme da Alura presentando mágica com programação e foi sensacional aquilo, é incrível demais os poderes que os grandes programadores tem!

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Cara, inspiradora demais a sua história. Parabéns mesmo!! E eu acho que vc deveria subir o seu código aí de novo e aproveitar que o criador do orkut vive promentendo voltar a rede e não volta. Então vai lá vc e lança o orkut 2.0.. kkkkk

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Que história fantástica e inspiradora. E como uma revista de míseros 10,00 (talvez até menos) pode mudar a vida de uma pessoa persistente. Parabéns e obrigado por compartilhar.

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Custou exatamente 11,90 Reais, que corrigido pela inflação seria algo em torno de 40,00 Reais hoje, ou seja, o valor de um Curso na Udemy.

Essa Revista foi o divisor de águas na minha carreira de programador, e se ela não tivesse cruzado o meu caminho, talvez hoje eu estivesse em outra profissão.

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11,90 na época ou 40,00 hoje, financeiramente é insignificante, mas que trás uma mudança na vida de uma pessoa ou toda uma geração. Acho isso Fantástico. Sempre gostei dessas revistas. Só que no meu caso era para eletrônica, esquemas elétricos etc. Sucesso!

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Muito bom, poderia me falar mais sobre como foi o deploy, implementação de deixar ele no ar, teve alguma coisa de lei te incomodando ou fazendo você fazer algum trabalho extra sobre a plataforma, LGPD não existis na epoca, mas hoje em dia fazer uma rede social assim, será que teria incomodação com leis se deixasse online direto, ou é preciso toda uma pesquisa antes com advogados e tal?

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O GIT não existia, e eu também não fazia ideia do que era versionamento. Era basicamente uma pasta com a aplicação, e eu subia ela por FTP no servidor, precisando só tomar cuidado pra não substituir o arquivo config.php, porque tinha o config_.php, com as configurações do servidor. Fazia uns backups de tempos em tempos. Caótico. 😅

Em 2006 até meados de 2012 não tinha LGPD e nem Marco Civil da Internet, então nessas questões de responsabilidades legais era bem mais tranquilo, porém, o serviço de hospedagem era bem mais caro, e isso foi um fator limitante para o crescimento dessa Rede Social, tanto que o limite de fotos por usuário era de 9, também somado com o fato dela ser desenvolvida de forma rudimentar, sem ter como escalar, e se tivesse um número X de usuários simultâneos, o servidor iria colapsar, como aconteceu algumas vezes.

O que me fez desistir de fato foi o medo de tomar algum processo, pois no último ano estávamos sofrendo muitos ataques, com perfis postando conteúdos pornográficos, racistas, e até nazistas.

Fiquei bem preocupado com aqueles conteúdos e resolvi bloquear novos cadastros, e a Rede Social foi se dissipando.

Talvez se eu tivesse desenvolvido um sistema de moderação, filtros, podendo habilitar outros usuários para ajudar a guardar o espaço, o Samakut poderia ter durado mais tempo.

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Que história legal e inspiradora.
Lembrei aqui que no meu primeiro contato com um computador, como usuário, foi em uma lan house, apresentado por um amigo, que abriu o navegador no sote "cadê" e a primeira curiosidade que veio na minha nente foi: "como posso fazer isso?" referindo qo browser. Eu, no primeiro contato já queria não apenas usar, mas saber como era feito. Infelizmente, só fui ter um computador próprio uns 5 anos depois e apesar da curiosidade, sempre achei que fosse algo inalcançável, por isso nunca parei para pesquisar como os programas funcionava (eu nem sabia da existência de linguagens de programação)