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Mais patos, menos águias.

Meu falecido avô, Antônio Estevão, tinha várias frases que me marcaram muito, e uma delas é: "Tenho conhecimento do tamanho de um oceano, mas com um palmo de profundidade." O que ele queria dizer é que há uma vantagem competitiva em ser um generalista. Admito que por um tempo pensei que esse mineiro de São João Del Rei tinha alguma razão, mas era para uma época específica. Hoje, como um profissional de dados em uma organização gigantesca e passando por uma transformação de agilidade, tenho repensado nas palavras dele.

Um generalista faz o que um pato faz.
Por definição, um generalista faz de tudo um pouco, assim como um pato, que nada, mas não muito bem; voa, mas não muito bem; e anda, mas de forma desengonçada. Sempre entendi que esse profissional, o profissional pato, estaria fadado à mediocridade, pois o ideal é ser como uma águia: focada, veloz, forte e especialista em caça. Tenho buscado desde então uma forma de me especializar e de buscar ser bom o suficiente em algo específico. Apesar do esforço, sinto-me longe de me tornar excelente em algo específico e acabo tendo várias “querências” (para usar um termo mineiro). Gosto e aprendo Power BI, Python e suas bibliotecas associadas (Pandas, Polar e outras), Air Flow, Big Query e tantas outras coisas incríveis que podem ser feitas com dados. Mas também há outros conhecimentos e ferramentas que não são diretamente relacionados aos meus interesses. Reaper, Canvas, Photoshop, Illustrator são exemplos de ferramentas, mas também há outros temas, como programação web, podcasts, dependência química, co-dependência, contrabaixo, teclado, produção musical, economia e outras dezenas de temas que me pego pesquisando e aprendendo, tanto para garantir meu “palmo de conhecimento”. Esses conhecimentos, relacionados ou não, me desfocam da especialidade e acabo gastando ou perdendo tempo com essas coisas, o que invariavelmente acaba me frustrando. Afinal, o que o mercado quer são somente águias, não é? O processo de agilidade me demonstra que não.

Uma esperança para os patos.
No modelo ágil, se um time possui somente especialistas, o resultado tende a não ser tão eficiente quanto em um time de patos, pois os generalistas vão se reorganizar e se dividir para que as tarefas da sprint ou iteração sejam as mesmas, enquanto no time de águias cada um é especialista em um único tema e somente executa as atividades de sua especialidade. É mais ou menos assim. No time de águias, a tarefa A será feita pelo especialista do conhecimento A, e a tarefa B pelo especialista do conhecimento B. Caso a tarefa B esteja com tendência de não ter seu prazo cumprido, o especialista do conhecimento B precisa exercer a técnica “Dê seus pulos”, enquanto o outro profissional aguarda pacientemente por uma atividade de sua zona de conhecimento. Em um time de patos, a coisa tem outra figura: a tarefa A será executada pelo pato A e a tarefa B pelo pato B. Quando a tarefa B estiver sob risco de não ser entregue no prazo, o time todo se ajustará para que a tarefa B seja entregue. Todo mundo faz o que pode com o que tem.

Nem tanto patos nem tanto águias.
Não serei leviano a ponto de dizer que todo time só precisa de patos e que as águias não têm serventia. Meu ponto é valorizarmos os generalistas ao nosso redor, porque mesmo não voando, nadando ou andando tão bem quanto um especialista, as tarefas estarão caminhando para a conclusão. Então, mais vale uma tarefa entregue do que duas justificativas de duas tarefas não concluídas.
A agilidade nos processos de desenvolvimento de software e gerenciamento de projetos tem ganhado destaque nas últimas décadas. Conceitos como os descritos no Manifesto Ágil, que enfatiza a colaboração entre indivíduos, a adaptação a mudanças, entregas contínuas de valor ao cliente e o aprendizado constante, têm sido fundamentais para a eficiência e sucesso de muitos projetos.
Times ágeis valorizam a diversidade de habilidades e a colaboração entre membros. Embora a especialização seja importante em certos aspectos, como profundidade de conhecimento técnico, a capacidade de adaptação e flexibilidade dos generalistas é crucial para lidar com os desafios dinâmicos e imprevisíveis que surgem durante o desenvolvimento de software.
O conceito de "patos" e "águias" reflete a ideia de que equipes compostas exclusivamente por especialistas podem ser menos eficazes em lidar com mudanças de escopo ou prioridades, enquanto equipes de generalistas têm a capacidade de se adaptar mais facilmente a essas mudanças, distribuindo responsabilidades de acordo com as necessidades do momento.
Além disso, a abordagem ágil promove a transparência, a comunicação aberta e a responsabilidade compartilhada, o que permite que os times enfrentem os desafios de forma colaborativa e eficiente. Dessa forma, tanto os patos quanto as águias têm seu lugar e contribuição valiosa dentro de uma equipe ágil.
Em resumo, a agilidade não se trata apenas de seguir um conjunto de práticas ou ferramentas, mas sim de cultivar uma mentalidade colaborativa, adaptativa e centrada no valor do cliente. Valorizar tanto os especialistas quanto os generalistas dentro de uma equipe ágil pode levar a resultados mais eficazes e satisfatórios.

Obrigado por existir

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Que texto massa.

Meus cinco centavos de contribuição, porque já refleti um pouco sobre essa dicotomia "generalista vs especialista":

Uma carreira generalista também é uma especialização. Digo, na minha visão, ser generalista não é somente saber um pouco de cada um dos assuntos, mas sim, saber muito sobre como conectar todos eles.

Para destacar a diferença: Acredito que a pessoa generalista não é só aquela que conhece um pouco de A e um pouco de B, sendo capaz de executar qualquer atividade fácil em um desses domínios.
Ser generalista é ser especialista na conexão que existe entre A e B.

Pela minha experiência, especialistas em A e especialistas em B são incapazes de trabalhar na conexão dos dois domínios, mesmo que estejam trabalhando juntos.

Nesses casos, é como se ambos estivessem presos na Caverna de Platão, onde os especialistas de um lado conversam com a projeção dos especialistas do outro.

Um paralelo que acho relevante:
O jogo "Path of Exile" ficou bastante famoso por ter uma grande árvore de habilidades. Nele você escolhe uma especialização para iniciar a sua jornada mas, diante da história, você pode escolher livremente em que caminho irá evoluir, mesmo que não tenha relação com sua escolha inicial.

A relação da carreira de generalista com a árvore de habilidades do jogo é: Na árvore, exitem habilidades que só podem ser acesssadas a partir do momento que você já tem um nível satisfatório em A e um nível satisfatório em B.

A partir desse momento você pode seguir se especializando em C, um caminho que mora na interseção dos outros dois.

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Muito obrigado por vc existir. Eu realmente penso muito sobre o assunto e esse prisma nao tonha passado por minha cabeça.
Terei mais algumas dezenas de horas para pensar e refletir sobre: Um generalista é um especialista entre os assuntos gerais.