Olá!
O NVDA é uma das tecnologias que pessoas cegas usam para interagir com o computador.
NVDA é a sigla para Nonvisual Desktop Access.
É um software leitor de tela.
Basicamente, um leitor de tela tem como função transformar texto em voz.
Tudo que é entrada (algo que a gente escreve) e tudo que é saída (resposta do terminal de comando ou um site que está aberto no mozilla), é falado para nós, que não podemos ver a tela.
Respondendo sua pergunta de como é minha interação com o Mozilla, não é necessário instalar extenções para que ele fique acessível.
Quem cuida disso é o leitor de telas, no meu caso, o NVDA.
Pode até existir alguma extenção que ajude em tarefas específicas (não me ocorre nehuma agora, mas, pode existir), mas, quase cem porcento conseguimos com o mozilla sem qualquer extenção, apenas com o leitor de telas nos dando feedback sonoro.
A vantagem disso é que podemos usar mozilla, chrome, brave, edge... os leitores de tela conseguem processar as informações da maioria dos navegadores hoje.
Obs: estou tentando resumir, por que isso tem assunto pra mais de metro!
Falo em navegadores, mas, o leitor de telas nos auxilia em tudo que você pensar rodando dentro do windows.
*Linux também tem seu leitor de telas, o Orca, mas, sei muito pouco sobre acessibilidade em linux, mas ela existe.
Dispositivos móveis com android e ios também tem seus leitores de telas.
Ah, sim!
Me lembrei de uma situação onde precisávamos de extenção no mozilla.
Um grande vilão de quem não enxerga são os benditos captchas.
Aqueles caracteres distorsidos, por serem imagens e não texto, não são processados pelo leitor de telas.
Para isso, havia uma extenção chamada Web visum.
Ela pegava a imagem do captcha, decifrava e convertendo para texto, jogava o resultado na área de transferência e a gente só fazia colar no campo específico para digitar o texto da imagem.
Hoje isso já não funciona mais, e, também, com a evolução, muitos sites nem usam mais isso, trocando essa solução das letras estranhas pela caixinha (não sou um robô).
Voltando a falar mais sobre leitor de telas.
Na verdade, um leitor de tela trabalha dividido basicamente em duas partes:
O programa leitor de telas.
Ele pega os dados de entrada e de saída e processa.
Leitores de tela trabalham de forma parecida, mas, há diferenças entre eles.
Há cegos que gostam de ter mais de um instalado, e alternam entre um e outro, a depender do que irão fazer.
A outra parte é o sintetizador de voz, que recebe do leitor de tela o dado já processado e transforma em informação falada.
Alguns leitores de telas para windows:
Narrator.
O windows possui hoje, o seu próprio leitor de telas, o Narrator.
Se você tiver o windows aí e pressionar o atalho ctrl+windows+enter, vai ativar o Narrator, um leitor de tela nativo.
A partir do windows 10,
o narrator nos trouxe uma possibilidade muito legal: a de ativá-lo na tela de instalação do windows, antes dele estar instalado no computador.
Em resumo: a partir do windows 10, um cego consegue formatar uma máquina e instalar o windows sem ajuda de ninguém.
Isso já era feito a partir do windows 7, mas a coisa era mais trabalhosa.
Precisávamos de usar o windows Pe com modificações para ficar acessível, e, dentro desse ambiente de pré instalação, a gente chamava o instalador do windows e mandava brasa.
Embora o Narrator tenha dado um salto em qualidade, ele não é o suficiente, precisamos de outro leitor de telas.
Acho que a microsoft nem tem a intenção de tornar o Narrator o único leitor de telas para Windows, até por que, pelo pouco que já ouvi dizer, eles apoiam o NVDA, então, o Narrator fica para o uso em momentos especiais, como é o caso da formatação, que escrevi agora.
NVDA. Leitor de telas gratuito e de código aberto.
https://www.nvaccess.org
Jaws (Job access with speech).
Foi por muito tempo o leitor de telas mais usado no mundo.
Hoje, não tenho certeza, mas, é possível que ele perca para o NVDA.
O motivo é o alto preço da licença do Jaws.
Antes do NVDA, que só veio em 2006,
o Jaws era disparado o mais utilizado.
Ele continua em desenvolvimento, e, ainda tem público para ele.
Há coisas muito muito específicas, em que ainda se usa o Jaws, e o NVDA não consegue cobrir.
Estou tentando até pensar num exemplo onde valha a pena usar o Jaws, que é muito mais pesado, consome infinitamente mais CPU, e que não se consiga fazer com NVDA.
Acho que músicos cegos, que necessitam de ferramentas específicas usam ele.
O jaws trabalha muito atrelado a placa de vídeo, enquanto o NVDA usa a api do windows e mais algumas "magias" que desconheço, para obter as informações para processar.
Página da freedom scientific, empresa que desenvolve o Jaws:
https://www.freedomscientific.com
No Brasil, temos também o Virtual Vision.
Embora exista desde 1998, o Virtual vision é usado por um número menor de pessoas.
Quem desenvolve é uma empresa chamada micropower.
O virtual vision pode ser obtido gratuitamente por pessoas cegas que tem conta no banco Bradesco, e empresas podem comprar sua licença, caso tenha um funcionário cego.
Mas vou falar a verdade:
Fazendo uma estatística imaginária,
Se você pegar 100 cegos, talvez você ache uns 40 que utilize e goste de virtual vision.
O restante vai se dar bem com o bom e gratuito NVDA.
Site do virtual vision:
https://www.virtualvision.com.br
E encerrando, uma outra solução muito usada aqui no Brasil e em países de língua portuguesa é o Dosvox.
De propósito, não chamei o dosvox de leitor de telas, pois, ele não é isso.
Diferente de um leitor de telas, que pega informações do próprio sistema operacional e a transforma em voz, o dosvox tem seu ambiente próprio, que roda dentro do windows.
O dosvox é formado por um ambiente principal, sintetizador de voz, voz gravada e um conjunto de utilitários que rodam dentro dele e consomem essas rotinas.
Esse é um projeto aqui, do Brasil.
Foi criado em 1993, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A inspiração para a criação do dosvox, foi um aluno cego.
Seu professor de computação gráfica, vendo que esse aluno teria dificuldades numa disciplina tão visual, resolveu orientá-lo a criar algo que serviria para ele mesmo usar, e, de quebra, servir depois para outras pessoas cegas.
Tive a felicidade de estagiar 1 ano no projeto, e hoje, continuo ajudando com o que posso.
Se eu começar a falar de dosvox aqui, vai sair uma bíblia (risos).
É por que dosvox para mim, tem um valor sentimental imenso.
Mas eu ainda pretendo, se possível, falar e mostrar alguma coisa sobre isso.
Página do projeto dosvox:
http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox
Inclusive... já estou matutando aqui um cliente do tabnews rodando no dosvox, rs.