9 Erros que cometi quando quebrei a minha Agência Digital
Você sabia que em média 460 mil empresas surgem no Brasil por ano? Dessas, mais de 220 mil delas fecham as portas em até 3 anos!
Olá, meu nome é Thiago Pacheco, durante cinco anos, tive uma agência digital no interior de São Paulo e quebrei ela! Desde sua abertura, a agência web passou por muitas transformações e processos: um início complicado, o primeiro cliente, reuniões, crescimento… Foram diversos passos e etapas que eu faria diferente, e outros que intensificava se soubesse. Leia o texto, e faça diferente.
01 - O Início da Agência
02 - O Velho e Clichê: Propósito
03 - Onde Você Quer Chegar?
04 - Um Escopo de Trabalho Garante a Paz
05 - Quanto Tempo Para Crescer?
06 - Evite Telefone sem Fio
07 - Para Onde O Dinheiro Vai
08 - Quem e Quando Contratar
09 - Combinou? Entrega!
10 - O Tal do Não
Início da Agência Digital
Em 2011 e 2012 o mercado web design no Brasil estava crescendo absurdamente! Todo mundo queria entrar para o mundo digital com foco em crescer financeiramente. Era a oportunidade perfeita para o vender sites, loja virtual, landing pages, criação de site, links patrocinados, serviços de redes sociais e até mesmo a primeira página do Google, o famoso SEO (otimização de site).
Em meados de 2013 pedi demissão de uma agência digital em Sorocaba onde trabalhava há 5 anos como programador. Apesar de ter uma visão simplista do mundo dos negócios, decidi montar uma agência digital focada em desenvolvimento de sites e marketing digital. Pensava: é só fazer um site colocar no Google Ads e teremos clientes batendo na nossa porta. Mal sabia…
Este raciocínio estava em partes certo, mas, quem vai contratar uma empresa digital sem cases e portfólio? Sem um escritório para reunião? Sem um telefone fixo?
A única coisa que tinha era o conhecimento e a vontade de ter uma agência web descolada no interior de São Paulo.
Este é outro ponto de maturidade: eu pensava muito em como ela deveria aparecer e não no que ela realmente deveria ser.A agência digital ficou em atividade durante 5 anos, de 2013 a 2018. Durante este período, passamos por altos e baixos até encerrar a empresa. A melhor forma para você não errar é aprendendo com a experiência dos outros, por isso escrevi este texto!
1 - O bom e velho Propósito
Escolha 30 livros de empreendedorismo ou histórias de empresários que construíram um império e muito provavelmente encontrará um capítulo falando sobre propósito em todos eles. Nos últimos 5 anos, li muitos livros e vi muitas histórias se desenrolarem no mundo da tecnologia, e todos tinham um propósito muito bem definido.No processo de criação e construção da agência digital não dei muita importância para o tal propósito, acreditava que em partes era um pouco de balela. Na época pensava que com o meu conhecimento técnico e vontade de fazer acontecer já era o suficiente para ter um negócio.
Hoje com mais experiência do que quando comecei, te digo que o conhecimento técnico não é tão importante quanto o conhecimento de negócio. Entenda esses dois conhecimentos e isso certamente te ajudará.
Conhecimento Técnico
O conhecimento técnico te ajudará apenas a tomar decisões técnicas: qual o melhor layout, qual a melhor programação, qual tecnologia devo usar para determinado cliente, etc.Provavelmente são decisões importantes do projeto em que você e sua equipe estão trabalhando, mas essas decisões não necessariamente farão o seu negócio crescer. A principal vantagem de uma decisão correta no lado técnico é ganhar tempo nos projetos da agência.
Conhecimento de Negócio
Na minha concepção, o conhecimento de negócio só vem com a experiência, e está aqui o tal pulo do gato.Um empresário não precisa saber qual é a melhor tecnologia ou o melhor layout para determinado projeto, ele tem uma visão mais voltada para o negócio, como por exemplo: qual é a tendência de mercado? Vou fazer esse serviço pelos próximos 5 anos? Meu diferencial de mercado é vantajoso para o cliente? Como posso reduzir o meu tempo com a produção? O que meus concorrentes estão fazendo?
Um empresário não necessariamente precisa ter conhecimento técnico. Obviamente é recomendado, mas se ele apresenta um bom conhecimento de negócio (Serviço/Produto, Processo e Pessoas) certamente está a frente de alguém que possui apenas conhecimento técnico.
O conhecimento de negócio só vem com a experiência e hoje acredito que ele é a chave. Pensar e adquirir conhecimento de negócio é fundamental para a saúde e longevidade da sua agência digital.
2 - onde você quer chegar?
Essa é uma pergunta que fiz várias e várias vezes na minha mente, pensando em onde a agência deveria estar daqui a 3, 4 e 5 anos. Recentemente tive a oportunidade de participar de uma aula online e acabei me deparando com o seguinte questionamento:- Você sairia na rua e pegaria um ônibus sem saber para onde esse ele está indo?
- Quem faz isso pra você é o que? Um maluco, certo?
POIS É...
Muitos empresários fazem isso todos os dias. E pior, levam seus colaboradores junto. Se você não sabe onde quer chegar, qualquer lugar serve.Se todos os meus colaboradores soubessem onde a empresa queria chegar, seria muito mais fácil para todos os departamentos. Aliás, não seriam necessárias reuniões prolongadas em que cada um quer opinar sobre o destino da empresa. A visão deve vir de cima para baixo! Claro que nada impede de termos conversas sobre alguns direcionamentos e melhorias, mas o objetivo precisa estar definido.
Com uma visão muito bem definida fica claro quais são os próximos passos. Por exemplo: para ser uma agência web referência no mercado de Sorocaba, o que preciso fazer durante os próximos três anos? Claro que a rota pode mudar diversas vezes, mas o destino continua o mesmo.
3 - um escopo de trabalho garante a paz
No início da agência digital a cada novo contrato fechado era uma festa!! Eu fazia reuniões externas para comunicar aos colaboradores do novo projeto e de fato era um marco na agência: isso mostrava tanto aos colaboradores quanto aos concorrentes que estávamos crescendo.Ao longo do tempo essa animação com os novos contratos fechados foi se transformando em uma verdadeira dor de cabeça!
Já pensou: você propõe um projeto e no meio do processo o cliente exige outra coisa? É o que acontece quando não existe escopo de trabalho. Os projetos não tinham as tarefas que executaríamos bem definidas, o que dava muita abertura para o cliente.
O escopo de trabalho é responsável por dar tranquilidade a agência, evitando você ficar correndo para solucionar eventuais problemas.
4 - Quanto tempo para crescer?
Lembro da minha primeira reunião com um cliente... Era uma excelente oportunidade para a agência e estávamos todos animados pois tínhamos nosso primeiro case! O projeto tinha uma duração de 6 meses e nesse período conquistamos um crescimento de 100 para 6.900 usuários orgânicos.Aquele era um resultado extraordinário conquistado em tão pouco tempo! Mas quando saímos da reunião, estávamos com a sensação de fracasso.Isso aconteceu porque o cliente esperava um crescimento muito maior! Quando iniciamos o projeto, não alinhamos com o cliente as expectativas dele com o serviço.
Ter esse tipo de reunião não é nada legal. Você está com a expectativa alta para mostrar ao cliente a qualidade do serviço e o resultado. Do outro lado, o cliente está "puto" porque o crescimento não está dentro do que ele acredita.
Sempre faça um follow up com os seus clientes, isso vai evitar muita dor de cabeça.
5 - Evite Telefone sem Fio
Reuniões e alinhamento entre clientes e colaboradores são importantes para um projeto de sucesso numa agência web. Um projeto de sucesso é um projeto que dá lucro para a empresa e alcança o sucesso para o cliente.Se seu cliente contratou um site novo com a entrega estipulada em 30 dias, o sucesso é entregar o site neste prazo! Um dia a mais na entrega gasto por ajuste, detalhe, material do cliente ou integração é quando começa o prejuízo.
Entenda o que o cliente comprou e passe isso para a sua equipe. Nos cinco anos de agência esse foi o meu calcanhar de Aquiles.
É muito difícil ter alinhamento entre ambas as partes, por dois motivos:
1° O cliente sempre vai querer botar o dedo no projeto. Quanto maior o cliente em relação a sua agência, menos poder de convencimento você tem sobre ele.
2°Os colaboradores sempre vão querer executar a tecnologia mais nova ou seguir as novas tendências, isso não é problema! Pelo contrário, é um ponto positivo do colaborador. A questão é que nem sempre o cliente pagou por isso, nem sempre vai comprar essa ideia, e sempre ele vai querer botar o dedo, frustando o colaborador.
6 - para onde o dinheiro vai
A gestão financeira é extremamente importante para a estabilidade e crescimento de qualquer negócio. Como todo mundo sabe, uma empresa é criada para gerar lucro e para isso você precisa ter clareza com o dinheiro que entra e sai.Não vou ditar regras nem apontar uma ferramenta específica. O importante mesmo é entender como a sua agência web gera lucro e quais são os gastos. Parece simples, mas não é tão simples assim, uma vez que aqui no Brasil temos um monte de impostos e o famoso jeitinho brasileiro.
A nossa cultura é barganhar ao máximo os valores dos serviços, contratar algo e cobrar 5 vezes aquilo que foi contratado do prestador de serviço.
Quem nunca pediu aquele desconto, ou até mesmo pediu para o pedreiro olhar algo que ele não tinha orçado durante a obra?
7 - Quem e quando contratar
Lembro quando contratei meu primeiro colaborador! A empresa tinha acabado de começar a faturar 4 mil por mês, com isso conseguia pagar o aluguel e o funcionário por meio período.Com o meu conhecimento técnico, a contratação nunca foi um problema. Eu conseguia identificar um bom colaborador quando conversava com ele, saber se ele era um bom profissional, era só no dia a dia. Aliás, durante esses 5 anos de agência nunca precisei demitir nenhum colaborador.
Se fosse iniciar uma agência digital/web hoje, com certeza contrataria todos eles novamente. Contanto, mudaria algo: o quando contratar.
No meio da correria dos jobs e dos achismos do dia a dia, acabei contratando um colaborador visando o futuro. Essa sim , foi uma bela cagada.
Não foi um erro pelo funcionário em si. Foi um erro pela decisão de contratar sem ter a demanda, fui precipitado. Estava contratando um funcionário para criar uma ferramenta que poderia ser o nosso diferencial, mas novamente era o meu lado técnico e não o meu lado negócios que estava falando.
8 - Combinou? Entrega!
Esse é um tópico que poderia estar junto com a Expectativa do Cliente, no entanto decidi separar, por ser mais importante.Por mais que pareça óbvio, uma agência web/digital é uma prestadora de serviço e o que esperam dela? Que ela entregue os serviços prestados! Ora, ora, temos um Sherlock Holmes aqui!!
A entrega deveria ser algo como preparar um café com leite: simples, rápido e delicioso. Mas o que acontece quando você não tem tempo para fazer o café, não tem açúcar e o leite está vencido? Algo que deveria ser simples, acaba se tornando complexo por diversos motivos.
E a complexidade não acaba por aí: esquecemos que imprevistos sempre acontecem, e não colocamos isso na ponta do lápis.
Quer você tenha uma agência digital, quer seja um colaborador, provavelmente você já passou por uma destas três situações:
O típico cliente
Quem nunca teve aquele cliente que fecha o contrato e a entrega está prevista para 30 dias. Mas, ele deseja ter pelo menos a página inicial alterada ou pequenas alterações no site atual (e não se esqueça de colocar a tela novo site em desenvolvimento...).efeito bola de neve
No planejamento da agência está previsto a entrega de 3 projetos para este mês. Mas, o que acontece é que por algum motivo os clientes demoraram para retornar, teve alteração e os 3 projetos que seriam fechados neste mês ficaram para o próximo mês junto com o novo.escopo
Como eu falei no item acerca do Escopo do Trabalho, o cliente contratou A, exige B e a sua equipe está mudando o escopo do projeto para C.É óbvio que esses itens não podem ser resolvidos com uma simples postura. Mas, se você combinou, entregue.
9 - O tal do NÃO
Todos os itens mencionados no tópico anterior podem ser resolvidos com um não. Apesar de serem apenas três letras, o não é complicado. Existe uma série de pensamentos que passam na cabeça ao rejeitar um job.Manda quem pode, obedece quem tem juízo.Muitas vezes ouvi "só fecho essa proposta se você conseguir encaixar X funcionalidade no meu projeto ou Y integração". Em sua maioria, essas funcionalidades e integrações são simples. Mas, as mudanças no meio do projeto se tornam um problema, e isso, como eu já disse, é um tiro no pé do projeto e da agência.
O tal do não seria a solução ideal para estes casos, ele é extremamente importante e você deve recorrer a ele sempre que necessário. Mas, toda empresa tem suas obrigações financeiras e é complicado dizer não quando falta uma estabilidade. Além dos custos com colaborador, aluguel, água, luz, etc, havia 5 famílias que dependiam do sucesso da agência! E, somando todos esses pontos, fica um pouco mais difícil rejeitar uma proposta simplesmente por não se encaixar na expertise da empresa.
10 - Conclusão
Eu não abri um negócio para ganhar dinheiro, eu abri um lugar para trabalhar.E como bom trabalhador que sou, sei da importância de preservar os colaboradores, o que fiz. Aqueles que trabalharam comigo são bem mais do que colaboradores, tenho um carinho muito grande por cada um deles. Hoje, mesmo depois de fechar a agência, nos encontramos para beber e contar novidades.
Seus princÍpios ou Dinheiro?
Antes de abrir uma agência, eu havia trabalhado em algumas empresas grandes da área, em algumas a regra era bater o ponto às 8 horas e sair depois das 19hr. Sei que as empresas que funcionam desta forma estão ganhando dinheiro, mas também sei o quanto isso pode ser estressante para quem trabalha com criatividade. Mas, eu não queria isso para a minha agência digital.Não é meu perfil explorar ao máximo o funcionário para ganhar dinheiro. Como eu já disse, construí relacionamentos que vão além do usual colaborador-empregador, e isso vale mais do que qualquer coisa.
Independente dos erros e acertos, esses 5 anos me trouxeram muito aprendizado que hoje posso colocar em prática e compartilhar neste post com vocês.