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Por quê eu uso o ArcoLinux e a minha história com as Tiling Windows Managers

Por Thiago Souza

O começo de tudo

Sem querer me alongar no assunto principal, mas desejo narrar um pouco sobre a minha experiência com sistemas Linux.

Comecei neste maravilhoso mundo há pouco tempo (pouco mais de 2 anos) graças ao fato de ter um PC ruim demais. Acho que muita gente que começa no Linux para desktop é em razão disto: ressucitar um computador com configurações sofridas para rodar um Windows 10. Logo, eu parti pora o conhecimento do meu amigo Felipe que já usava o Ubuntu há um tempo por influência de um professor do seu curso de Física.

Fiz a instalação e as coisas correram bem e eu fiquei um tempo até não conseguir fazer um software de desenho, que só tinha para Windows, rodar no Ubuntu através do Wine. Acabei voltando para o sistema da Microsoft pois a minha dependência daquela aplicação (Jump Paint, para ser mais específico) me obrigou.

Poderia ter acabado ali a minha experiência com sistemas Linux até esse mesmo computador (com um Celeron de 2,5 GHz e 4GB de RAM) "decidir" que não funcionaria mais. Então, órfão de computador e com um problema de iniciar a faculdade no formato remoto em razão da pandemia sem um, fiquei à deriva até que minha sogra me deu um notebook surrado - que até àquela data já somava 14 anos de uso.

Ele funcionava, mas óbvio que não bem. Era simplesmente uma máquina com um Celeron muito, mas muito mais fraco que o meu anterior, que possuía apenas 512MB de RAM e 80GB de espaço de armazenamento em um HD que estava com defeito. O computador funcionava, possuía um Windows 7 instalado, mas que por suas limitações era muito, mas muito lento! Foi aí que lembrei do universo Linux e parti em busca de uma distribuição que fosse leve o bastante para conseguir fazer algum proveito daquele computador antigão.

Depois de muitos experimentos e fracassos, 3 distribuições se deram bem com ele: TinyCore, Porteus e Puppy Linux (base Slackware), onde, destes três, o último foi que teve uma performance que me agradou mais. Então fiquei utilizando aquele notebook guerreiro durante o começo das aulas remotas na universidade (inclusive, foi nele que escrevi a minha carta de interesse para a bolsa de IC da qual acabei sendo selecionado!) até que consegui uma grana, com a bolsa, para comprar um computador novo!

Adquiri esta nova máquina que veio com um Windows 10 instalado e sabe qual a primeira coisa que fiz? Sim! Instalei o Ubuntu mais uma vez! Dessa vez em dual-boot já que eu ainda dependia daquele software de ilustrações (só pra deixar claro, hoje já não dependo mais, me dou muito bem com o Krita, que é maravilhoso e muito superior em muitos aspectos!).

A partir deste momento eu virei um "distro hopper" - e acho que é isso que acontece com pelo menos alguns recém usuários de Linux (rsrsrsrsr). Em um espaço curto de tempo, eu utilizei, nessa respectiva ordem: Ubuntu, Zorin OS 15, Pop_OS, Kubuntu, Fedora e Linux Mint. Com exceção do Fedora, todos na minha zona de conforto de distribuições com base Ubuntu/Debian. O Linux Mint, inclusive, foi a única distribuição com a qual eu fiquei durante mais tempo. Com ela eu cheguei a encerrar a minha fase "distro hopper" porque tinha gostado demais da distribuição. O fluxo de trabalho dela era tudo o que eu queria até aquele momento - apesar das limitações que eu encontrava um pouco para customizar sua aparência, porque outra coisa que eu me tornei nesse tempo foi o "rato da customização" (rsrsrsr).

A minha maturidade com as distros Linux

Cada distro que eu experimentava e a liberdade que as disribuições me davam para poder mexer e alterar quase tudo que eu quisesse me fez sentir mais prazer em utilizar meu computador. Passei a estudar programação graças ao Linux e o terminal e os seus comandos deixaram de ser um medo e passaram a ser o meu melhor amigo. Com os sistemas linux eu passei a ser de fato um usuário ativo do meu computador, a enteder sobre seus processos, a automatizar algumas tarefas ou simplesmente fazer brincadeiras curiosas com ele. Linux me deu esse gás que eu havia perdido com o uso de computadores desde o tempo em que eu não tinha PC e precisava utilizar o do meu primo para poder gravar os episódios de One Piece que eu baixava nos sites de animes em um DVD para assistir em casa.

O computador passou a ter utilidades incríveis para mim e passei a estudar de fato o Linux por causa disso.

Foi quando eu, depois de um bom período de tranquilidade no mundo estável do Linux Mint, fiz amizade com o João Pedro através de outro amigo amante de Linux, Axel, o primeiro qual me sugeriu utilizar as tão maravilhosas, e até então desconhecidas por mim, Tile Window Manager. Eu já comentava que gostava de usar o recurso de Tiling Window Manager no Pop_OS, com o Pop_Shell, mas não sentia vontade em retornar para o Pop àquela altura do campeonato. Foi quando, a partir da sugestão dele, entrei nessa e decidi instalar a mais amigável de todas, I3WM.

Para quem não conhece, as Tile Window Manager são gerenciadores de janela que funcionam com a abertura automática lado a lado e que funcionam sempre por teclas de atalho do teclado, permitindo um melhor uso exclusivo do teclado para tudo no computador. Isso melhora e muito a agilidade no ato de lidar com as janelas dos aplicativos e com a mudança das áreas de trabalho. Outro grande benefício no uso de TWMs é o baixo consumo tanto de processamento quanto de memória - seja primária ou secundária, pois exigem pouco do espaço de armazenamento volátil e não volátil do computador. Para se ter uma ideia, a minha máquina inicializa com consumo médio de memória RAM de 500MB! Eu simplesmente passei a adorar tudo isso! Apesar de não ter uma máquina miserável como eu tinha antes, ainda assim eu passei a adorar os sistemas mais otimizados que eu poderia encontrar. Quanto eu menos comprometesse minha máquina com os processos básicos para o simples funcionamento do sistema operacional, melhor. Esse milagre ocorre pois as TWMs funcionam independentemente de se ter um Desktop Enviroment (uma área de trabalho comum, como um Gnome, Cinammon ou Plasma). Existe a possibilidade de se conseguir o mesmo feito sem utilizar uma Tile Window Manager no mundo Linux, utilizando apenas um gerenciador de janelas, como o OpenBox (que já testei e achei bem interessante), mas o que eu queria mesmo eram as TWMs e ali eu estava feito!

i3wm reddit

Acima, uma customização do Arch Linux com o I3wm (imagem retirada do Unixporn, do Reddit)

No Mint mesmo eu fiz todo o processo de instalação e configuração seguindo alguns tutoriais do YouTube e sites sobre Linux. Foi uma experiência bem peculiar, bastante trabalhosa, mas muito gratificante, pois foi aí que eu de fato caí de cabeça no sistema operacional e consegui entender na prática coisas além daquilo que eu havia aprendido e até achava que sabia mas que ainda estava muito aquém. Pude entender melhor sobre a arquitetura do sistema, o que me deu uma independência mais mais adiante para poder solucionar alguns problemas que eu encontrava e que eram corrigidos apenas movimentando arquivos de um diretório para o outro.

Fiquei um tempo no Mint, até que algumas coisas nessa minha ânsia por customizações não estava dando tão certo. Então, o mesmo amigo que me sugeriu usar as TWMs, agora estava me dizendo: "por que você não experimenta o Arch Linux?". Eu, que ainda não tinha saído da minha zona de conforto das instalações gráficas, fiquei receioso e argumentei que não daria certo. Inclusive, já havia tentado instalar o Arch em uma máquina virtual e simplesmente não sabia o que fazer, mesmo com a documentação em mãos no celular! Então ele me disse que existia um script do arch que bastava rodar que a instalação seria mais fácil. Então conheci o mágico "archinstall" e me perguntei: "para que serve uma DE mesmo?". Consegui instalar o Arch com um I3 e consegui ser feliz por um tempo. Até que...

Entra em cena as distros base Arch focadas em RICE LINUX

Eu, como um bom "buliçoso", estava enfrentando algumas inconsistências na rede e percebi que poderia ser alguma coisa no Arch que eu não estava sabendo identificar. Havia instalado o Linux Mint mais uma vez em dual-boot com o Arch e não estava enfrentando este mesmo problema lá - é o mundo LTS, não é mesmo? Então decidi que por enquanto o Arch ficaria de lado e voltaria para o Mint. Fiquei esse tempo mas tinha me apaixonado pelo universo do Arch, onde praticamente tudo é possível. Onde qualquer programa pensado de alguma maneira existe lá, seja nos repositórios oficiais ou no AUR (abençoado seja o AUR).

Lembrei do Manjaro que era base Arch e em seu site eu vi que haviam algumas versões feitas pela comunidade que usavam o I3WM e outros Window Managers, então instalei. Mas o Manjaro possuía uma TWM muito pronta, que era possível modificar, mas eu já não estava mais tão empolgado em ter que configurar tanto para conseguir chegar onde queria. Ficava com preguiça, e apesar de não ser fã de verde, fiquei com o tema padrão do Manjaro durante muito tempo (sim, isso é extremamente trivial, mas como eu disse, eu era o rato da customização).

Manjaro I3wm

Manjaro com I3WM padrão

Foi então, que de alguma forma, não lembro se em algum review do YouTube em algum canal que falava a respeito de TWMs, eu descobri o ArcoLinux. Por ser base Arch já me interessei, mas o melhor era ver o universo que essa distribuição trazia - o universo da customização!

A distro simplesmente pode vir pronta ou não pronta a depender do seu gosto, e te permite fazer uma instalação simples ou mais complexa, podendo escolher pacote por pacote e montar o seu sistema como você quiser - contando que tenha paciência (eu não tive).

ArcoLinux

ArcoLinux com BSPWM padrão

Apesar de ser Rolling Release como o próprio Arch, não tive o mesmo problema com a rede - o que me deixou feliz, pois era muito triste ter a opção de downloads paralelos e mesmo assim o download continuar tão lento quanto um download em qualquer distro que não possua esse recurso.

Mas o melhor estava no recurso "Arch Linux Tweak Tool", que te permite instalar várias e várias opções de interface já pré-configuradas em seu sistema. Pude me aventurar em TWMs que eu havia ficado com preguiça de instalar por ter que aprender a configurar tudo do zero. Foi uma maravilha, depois de muito lidar com arquivos de configuração, me dar de frente com opções pré-prontas de qualquer uma das interfaces apenas para poder experimentar e ver o que melhor se adequaria a mim.

Arch Linux Tweak Tool

Arch Linux Tweak Tool no ArcoLinux

Percebi que de fato o que realmente me agrada é o bom e velho I3WM, com uma menção honrosa ao BSPWM que durante um bom tempo - principalmente no meu tempo de Linux Mint - foi a minha TWM favorita, apesar de não ter citado ela no começo da minha história com as TWMs para não me alongar muito.

Bom, então é isso, é por isso que hoje estou no ArcoLinux. Facilidade de escolher a interface que eu quiser dentre uma enorme lista de opções. Várias alternativas de configurações prontas, de temas das DEs ou WMs, ícones e fonts, tudo em um só lugar com o Arch Linux Tweak Tool e o fato de ser uma base Arch, Rolling Release (tem uma versão LTS, mas não é a que uso) muito sólida que tenho utilizado com muito prazer.

Então, para aqueles que têm a curiosidade de adentrar o mundo das TWMs e o Rice Linux, eu indico começar por aqui, pelo Arco. Não será um início doloroso, muito pelo contrário, e ainda asim servirá de muito aprendizado, assim como foi e ainda tem sido para mim, quando o assunto é Linux.


Quanto a ausência de alguns detalhes técnicos

Não quis escrever um texto de análise técnica de desempenho e comparativo com relação ao ArcoLinux e outras distros que utilizei, pois isso muitas vezes varia de acordo com o hardware o que acaba tornando a experiência sempre muito pessoal - apesar de o texto ser sobre o porquê de EU utilizar o ArcoLinux. Outra questão é que eu optei por escrever um texto mais em tom de crônica, tentando deixá-lo menos enfadonho que um simples manual técnico. A minha intensão foi mais a de apresentar um pouco sobre o universo das TWMs e seu mundo das customizações para as pessoas, que assim como eu, adoram mudar a aparência e o comportamento do seu sistema operacional, para além de simplesmente utilizá-lo.

Sites e canais ótimos para iniciar no mundo das TWMs

  • Subreddit Unixporn, onde você irá se deparar com todo o tipo de customização de vários sistemas Nix (abrange todos os sistemas base Unix).
  • TWM Linux - Gabriel é um excelente canal do YouTube que aborda muito bem o assunto das TWMs, trazendo muitos tutoriais ótimos para quem quer sacar a respeito mas se sente meio perdido.
  • Terminal Root é outro canal ótimo, onde é possível encontrar, dentre os diversos assuntos que ele aborda a respeito do Linux e programação, tutoriais de customização de Tile Window Manager.
  • Um ótimo review sobre o ArcoLinux está aqui neste vídeo do canal Diolinux.

Meu GitHub: https://github.com/tjbass2021

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Acima, uma customização do Arch Linux com o I3wm (imagem retirada do Unixporn, do Reddit)

Isto foi literalmente uma das interfaces mais bonitas que eu já vi. Que paleta de cores sensacional. É muito bom quando um profissional gosta do que faz 🤝

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Que post massa Thiago. Parabens!

Eu curto demais o Ricing Linux. Conforme o tempo foi passando, eu fui afundando mais no sistema e acabei preferendo mais o ricing por debaixo do capô, tunar kernel, escolher pacotes a dedo e opções. Igual voce citou, ai começa a querer fazer scripts, aplicar patches, modificar cada vez mais, put* coisa gostosa isso.
Todas heranças do meu amado Gentoo 💜

Parabens mais uma vez, e keep ricing 🤓

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É uma maravilha! Quanto mais você aprende de Linux mais você quer fazer por descobrir o poder que tem em mãos! E o aprendizado que vai se tendo então, é sem preço!

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Fala Thiago, excelente post primeiramente! Deu até saudades do meu ArchLinux <3

Nunca cheguei a testar o ArcoLinux, mas fiquei bem tentado na época. Tentei alguns scripts de instalação, mas eu não tinha muita paciência, então fui de ArchLinux GUI que usa o Calamares (o mesmo instalador visual do Manjaro) e aí fiquei um bom tempo com esse sistema. Depois acabei migrando pro Manjaro KDE e fiquei com ele até o começo desse ano.

Confesso que nunca cheguei a me aprofundar nos TWM pois eu não sou muito fã de trabalhar com várias janelas na mesma tela. Percebo que apesar da estética ser maravilhosa, minha produtividade cai demais. Nesse ponto, prefiro usar a função de diversas áreas de trabalho e aí as separo por estudos/trabalho/diversão.

Uma coisa que sinto falta diariamente é essa estética Nordic, realmente é um alento pros olhos hahaha

P.S: No parágrafo 12, acho que tem um erro na parte que fala dos 500GB de RAM!

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Sim, a possibilidade que se pode chegar no aspecto de customização das TWMs é praticamente infinita. Concordo que também o modelo de trabalho delas não é para todos. Eu acabei me adaptando melhor ao fluxo das TWMs ao ponto de às vezes me atrapalhar quando me deparo com um sistema com uma DE e ficar teclando os atalhos enquanto nada acontece kkkkkkk.

E obrigado por encontrar esse ERRO ABSURDO! Corrigi já para 500MB kkkkkkkk.