Saber perguntar é mais importante do que ter as respostas
É bastante comum em nossa área - tecnologia - precisarmos lidar com alguns "egos". Não é que sejamos um bando de arrogantes, longe disso. Nós somos um grupo, talvez, dos mais solicitos e dispostos a compartilhar que existem. Muitas vezes é nosso ego refletindo em nós mesmos.
Acontece que a tendencia na área tecnológica, principalmente desenvolvimento, é que nos tornemos mais especializados em alguma área. Eu, por exemplo, conseguiria fazer alguma coisa em Python, mas não sei discorrer sobre a funcionalidade como saberia caso me fosse pedido para fazer em Typescript.
Essa especialização acaba por nos trazer certa segurança naquilo fazemos e, claro, isso é desejavel. Mas se você trabalha na área de tecnologia também sabe que NÃO EXISTE BALA DE PRATA! Ou seja, não há apenas uma resposta, não há Santo Graal das Linguagens ou Frameworks, não existe "saber tudo de...". Talvez sejamos a área que mais rapidamente se adapta, muda, evolui. Como saber tudo? Como ter todas as respostas? É impossível, concordam?
Uma coisa que quase quinze anos de experiência me ensinou é que saber perguntar é mais importante do que ter todas as repostas. Claro que o conhecimento tem grande valor, mas a tecnologia evolui muito mais na dúvida e na perseguição da melhor resposta do que na monocracia das decisões.
Toda vez que alguém me pergunta: "Quero fazer um site com Tecnologia Xis, é bom?", eu pergunto: "O que você quer que seu site faça?". Quando a pessoa me responde, eu pergunto novamente: "Quão rápido você precisa que seu site responda?". E esse jogo de perguntas leva a uma reflexão que não havia acontecido antes. Invariavelmente nós não refletimos em tudo. É impossível. Precisamos de outras visões, opiniões, prismas, raciocínios, precisamos questionar o que não sabemos e precisamos, muito mais, questionar o que pensamos saber. Talvez você perceba que, na verdade, não sabia nada.
Claro que eu tenho fé na tecnologia, pois ela já me provou que funciona muito bem resolvendo problemas. Mas fé é diferente de fideísmo. A primeira requer uma experiência, a segunda submete a experiência à crença, ou seja, só se experimenta aquilo que se crê. Isso é a receita para decisões ruins. Nem Deus requer isso de seus seguidores. Para cristãos, Deus vive dando motivos que alimentam a fé. Até mesmo eventos físicos - para os menos religiosos - requerem uma experiência para que se creia, e não o contrário. Credo ut intelligam, entender para crer.
Valide sua "crença", teste seu conhecimento, pense numa boa pergunta para fazer. É assim que se chega a uma boa decisão. Não tenha medo da pergunta boba. Ela parece boba, porém pode levar a um raciocínio que não se esperava.
Certa vez, em uma reunião com americanos, fiquei me segurando para corrigir um erro gramatical que percebi num texto que foi escrito durante essa reunião. Pensei que estava enganado, pensei que talvez não fossem gostar de um brasileiro corrigindo o inglês deles. Enfim. No final, quando eu me coloquei a respeito do erro, fui elogiado por ter sido o único que percebi.
Em planejamentos de projetos, quando um Project Manager chega com o planejamento, é muito mais enriquecedor colocar nossas dúvidas do que se submeter cegamente ao plano apresentado. Experimente isso!
Outros fatos como esse já me acontenceram. Esse é um exemplo de gramática. Tenho outros exemplos "tecnológicos". E você com certeza tem também.
Não se envergonhe de questionar. Não contenha suas dúvidas. Questione-se a você mesmo. Não presuma, jamais, que alguém saiba tudo. Isso te ensinará mais que tentar obter todas as respostas.