Qual o futuro dos óculos de realidade aumentada e realidade virtual?
Nunca usei óculos de realidade aumentada (ou virtual), nem mesmo aqueles que podem ser "alugados" em shoppings por alguns minutos para uma experiência numa montanha russa ou algo assim. Apesar disso, é uma tecnologia que desperta muito o meu interesse. Quero usar esta publicação como um espaço para discutirmos a evolução dela, experiências, e o quão longe isso pode ir.
O que me motivou foi um vídeo que vi no Instagram, que perdi o link e reencontrei no TikTok (precisa de uma conta), mas também tem outra versão do vídeo disponível no Facebook (pode ver sem conta). No vídeo é o aniversário de 10 anos da Kendyl, uma menina surda, e ela ganhou um óculos de presente que mostra legendas em tempo real sobre o que está sendo dito. É bem emocionante e, ironicamente, é melhor assistir ao vídeo com áudio do que o GIF abaixo.
Então, motivado pela utilidade do óculos acima, montei uma lista com alguns óculos que me vieram à mente e o que é possível fazer com cada um.
Google Glass
O primeiro óculos de realidade aumentada do qual eu me lembro de ter ouvido falar foi o Google Glass, lançado em 2013. Talvez “realidade aumentada” não seja o termo certo, ele é chamado de "óculos inteligente", mas no mínimo é um caminho parecido. Ele não era exatamente um óculos, porque não tinha lentes. Era como uma armação com um pequeno visor. Lembra até o "medidor de Ki" do Dragon Ball.
Apesar do "medidor de Ki" não ser útil no nosso mundo, o Google Glass tinha potencial. O óculos tinha uma barra sensível ao toque na lateral, um visor no olho direito, e respondia a comandos de voz e "balançadas da cabeça". Além de exibir informações no visor, o óculos também podia gravar vídeos.
Custava caro, US$ 1.500, mas era algo bem inovador. Quer dizer, quando falamos de óculos de realidade aumentada hoje em dia, ainda são caros e inovadores. A tecnologia melhorou bastante, mas ainda não está perfeita e nem tão acessível quanto um celular.
Tiveram algumas iterações, parece que a última foi lançada em 2019, chamada de "Google Glass Enterprise Edition 2". Foi descontinuado em 2023.
Microsoft HoloLens
O HoloLens foi lançado em 2016 e me marcou porque, diferentemente do Google Glass, que eu só achava legal mas não imaginava algo muito útil para fazer com ele, eu vi uma apresentação na faculdade em que mostraram que dava para usar ele para arquitetura. O cliente poderia "entrar na casa" e ver como ela está antes de fazer o projeto. Também podiam expandir uma maquete com o HoloLens e andar por ela.
O GIF abaixo mostra alguns exemplos de aplicações úteis, de uso profissional. Repare que ele já é um óculos de realidade aumentada mais parecido com os populares hoje em dia, como os da Apple, Meta, Sony e Valve.
Também custava caro, ainda mais que o Google Glass: U$ 3.000. Pelo menos esse óculos tinha aplicações profissionais práticas.
O HoloLens 2 foi lançado em 2019, mas infelizmente a Microsoft o descontinuou em 2024.
Hearview Subtitle e concorrentes
Hearview é o primeiro óculos que mencionei aqui. É o que exibe legendas no óculos. Foi lançado em 2024, e agora está custando US$ 1.099.
Ele é para uso pessoal, e pode ser usado em qualquer lugar, porque parece um óculos normal. A Hearview não é a única empresa que faz esse tipo de óculos, mas no caso dela, o óculos precisa de uma conexão com a Internet para que o áudio possa ser processado e transformado em texto. Quando pesquisei, vi que alguns concorrentes cobram um valor mensal por causa disso, mas não lembro se a Hearview segue esse modelo de negócio.
O lado negativo é que você depende da empresa. Se ela falir, os servidores fecham, e o óculos não irá funcionar mais. Uma alternativa offline, com maior privacidade e que funcionaria mesmo a empresa falindo, seria embutir o processamento no próprio óculos. Talvez já exista algum assim.
(Fonte: vídeo)
Ray-ban Meta AI Glasses
Mais um que lembra um óculos normal. O Ray-ban Meta AI Glasses é uma parceria da Meta com a Ray-ban (marca de óculos), foi lançado em 2023 por preços a partir de US$ 299. Ele é a mistura de um óculos normal com funcionalidades extras, então ele pode ter uma lente de sol ou de grau, e pode ter lentes de diferentes qualidades: podem ser polarizadas, transition etc. Não chega a ser um óculos de realidade aumentada, está mais para um “óculos inteligente”.
Peguei a foto abaixo diretamente no site da Ray-ban. É um óculos com uma armação um pouco mais grossa, mas não parece chamar muita atenção.
Tem câmera na armação, a lateral é sensível ao toque para realizar algumas ações, e o óculos também tem áudio. O áudio é relevante por causa do que dá nome ao óculos: a Meta AI. Tem um assistente virtual de IA que pode responder comandos de voz, por exemplo, se você solicitar uma informação sobre um monumento histórico que está vendo, ler um código QR, ou anotar informações para mais tarde.
Como o óculos é da Meta, ele tem uma integração direta com o Instagram, onde você pode gravar stories com o óculos e publicar, ou tirar fotos.
Meta Quest, Valve Index, PS VR
Todos esses óculos são bem parecidos e surgiram com o mesmo propósito: jogos. Por isso, agrupei todos. Os óculos tiveram diferentes gerações, foram evoluindo com o tempo, mas o foco é você jogar de forma imersiva. Em boa parte dos casos será uma "realidade virtual", e não "realidade aumentada". Abaixo estão os lançamentos dos óculos mencionados:
- PS VR: 2016, US$ 399.
- Oculus Quest: 2019, por US$ 399. (primeira versão do Meta Quest)
- Valve Index: 2019, por US$ 999.
Esses óculos são mais complexos. Precisam de um poder de processamento maior para processar os jogos numa frequência e resolução boas o suficiente para não causar enjoo, as lentes podem ter grau, não podem ser pesados para não ser desconfortável usar por horas, precisa de alguma engenharia para não ficar embaçando as lentes com o calor, cuidado com os cabos para não "embaralhar" tudo ao ficar se movimentando enquanto joga, mapear o ambiente para não esbarrar em objetos do mundo real... São muitas variáveis.
Veja abaixo um exemplo de como uma pessoa se sente jogando Beat Saber (para quem usa o óculos, o jogo é em primeira pessoa).
Alguns óculos funcionam em conjunto com outras coisas que aumentam a sensação de realidade. Por exemplo, o Meta Quest tem uma "camisa" que dispara sensações táteis em jogos compatíveis, que custa US$ 329.
Também tem "esteiras" para você poder correr sem sair do lugar, como no GIF abaixo, que peguei do The Verge:
Apple Vision Pro
A aparência é similar aos óculos de jogos, mas o propósito é diferente. Parece mais voltado para produtividade, trabalho e entretenimento. Foi lançado em 2024 por US$ 3.499.
Se formos ver pelo lado de utilidade, parece uma evolução do HoloLens (não sei se o HoloLens conseguia fazer as mesmas coisas que esse óculos). Eu publiquei um artigo bem completo sobre o óculos em 2024: Uma análise do Apple Vision Pro feita por um desenvolvedor de realidade aumentada.
Abaixo, um exemplo de entretenimento, onde a pessoa vai assistir uma série:
Ressalto que esse ponto do entretenimento perde boa parte da funcionalidade caso você queira assistir algo com outra pessoa. Talvez dê para cada um usar um óculos e sincronizar os vídeos, mas parece uma individualização da experiência que seria em conjunto.
Qual é o futuro?
Com a tecnologia que temos hoje, o Google Glass me parece ultrapassado. Já vimos alguns óculos que parecem mais normais e conseguem fazer coisas legais, como o Ray-ban Meta AI Glasses e o Hearview.
Ah, e esse óculos da Meta tira fotos e grava vídeos! Será que voltaremos a ter shows, apresentações, concertos e casamentos sem as pessoas segurando o celular e olhando para uma tela pequena, mas sim, finalmente, gravando aquilo que estão de fato vendo, e aproveitando o momento ao mesmo tempo que grava uma recordação? Isso parece um sonho próximo!
E a utilidade do Hearview? É fantástica. Apesar disso, não vejo sentido em um óculos específico como ele. Um óculos capaz de fazer transcrição e exibir textos na lente poderia ser capaz de fazer mais coisas também, e provavelmente no futuro será assim. Vejo os óculos como os celulares, que começaram apenas para ligação e mensagem (SMS), e foram adicionando mais funcionalidades com o tempo.
Seguindo o raciocínio, ao adicionar o potencial de visualizar informações, o Ray-ban Meta AI Glasses poderia ser muito útil para mostrar direções, principalmente quando a pessoa está a pé, que a velocidade de resposta pode ser menor do que se estivesse dirigindo um carro. O Google Maps tem uma funcionalidade assim no celular, que você pode ligar a câmera e ele mostra setas, então ter isso no óculos seria bem mais cômodo (e, em alguns casos, mais seguro também).
Agora, sobre os óculos maiores... Ao invés de ter um monitor físico, ocupando espaço e fixo num lugar só, talvez seja mais interessante ter vários monitores usando um óculos como o Apple Vision Pro? Ou esse tipo de óculos sempre incomodará um pouco, principalmente em épocas quentes? E, acho que ainda precisaremos de pelo menos uma tela, para compartilhar coisas com outras pessoas que não estejam usando o óculos.
Ah, e tudo acima eu falei do ponto de vista do consumidor. Se formos falar sobre a área de desenvolvimento, bem, o trabalho não vai acabar tão cedo. Aplicações desktop, web, mobile, "óculos", IoT... Repito que, apesar de eu nunca ter usado qualquer óculos que mencionei acima, vejo um grande potencial nessa "plataforma", mas que não deve demorar mais do que os celulares para termos algo consolidado.