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O que eu faria se eu estivesse no início da carreira como programador

Eu programo há 20 anos. Profissionalmente há 15. Os meus últimos 5 anos de carreira eu passei liderando outros programadores.

Durante todos esses anos eu vivi muita coisa. Acertei muito e errei muito. Também testemunhei vários colegas tomando decisões acertadas e fazendo algumas burradas.

Levando toda essa experiência em consideração, eu resolvi dizer o que eu faria se estivesse começando agora com minha carreira na programação.

A minha trajetória

Grande parte dos meus amigos de infância não trabalham com o que estudaram. Tenho colegas de faculdade que trabalham no mercado de investimentos. Outros na área do turismo. Conheço, inclusive, gente que estudou economia e hoje vende consórcio no banco.

Não existe, necessariamente, um problema nisso. A única desvantagem é a "demora" em se encontrar na vida. Nesse quesito eu tive muita sorte. Me interessei por computadores antes mesmo de aprender a escrever. Com 11 anos eu escrevi as minhas primeiras linhas de código e a paixão pela máquina só aumentou. Eu sempre soube o que queria fazer da vida desde muito cedo.

Com 18 anos eu ingressei numa faculdade. Era federal, mas não era de primeiro escalão. Era suficientemente renomada, mas, seu principal atributo, é que era de graça.

Com um pouco mais de um ano de faculdade, consegui meu primeiro estágio: suporte técnico. Eu atendia webmasters que tinham dificuldade de instalar os softwares que a empresa distribuía. Quase sempre eram demandas complexas, que necessitavam de soluções artesanais.

Depois de um ano de estágio, fui efetivado da melhor forma possível: transferido para a área de desenvolvimento, ocupando o cargo de Analista Jr.

Vivia praticamente o dia todo programando. Usava muito PHP e também codava plugins e temas em Wordpress. Em um determinado momento fui apresentado ao Python e ao Django. Amor à primeira vista com ambos. Eu estava realizado. Ganhava bem o suficiente para me sustentar. Tinha um salário acima dos meus amigos de fora da programação, mas abaixo dos de dentro.

Depois de 2 anos fiquei de saco cheio de não ganhar vale-refeição e resolvi procurar por uma nova oportunidade. Acabei mudando de emprego. Pagava melhor (e tinha vale-refeição) mas sugava a alma. Foi uma experiência breve.

Depois dessa experiência frustrada, me desiludi do mercado de tecnologia e resolvi pedir as contas. Abandonei a CLT e resolvi tentar outras formas de viver a vida. Foi nessa época que toquei uma empresa de fotos para casamento e que tentei ser jogador profissional de poker. Mas, o que pagava minhas contas eram os freelas.

Depois de alguns anos de altos e baixos com freelas, fui seduzido pelo ambiente descolado de uma startup e resolvi tentar novamente a vida de CLT. Esse delírio não durou nem 6 meses, mas me abriu os olhos para várias oportunidades no mercado de desenvolvimento de software. Foi quando eu decidi criar a Codevance.

Na mesma época, conheci meu amigo Henrique Bastos, que me mostrou que era possível trabalhar com programação em um ambiente saudável. Esse foi o empurrão para eu me enfiar de cabeça e trabalhar que nem um maluco. Deu certo. E, por dar certo, começaram a aparecer os "bons problemas": gestão, liderança, relacionamento com cliente, administrativo, marketing e vendas, etc.

Outro problema que comecei a enfrentar foi a dependência de alguns poucos clientes. Querendo fugir desse tipo de problema, acabei virando sócio da DevPro. Queria mudar de uma empresa de poucos clientes que pagam muito para muitos clientes que pagam pouco.

Depois de 3 anos e uma trajetória de sucesso, devido a incompatibilidade de momentos de vida entre eu e Renzo, decidimos encerrar a parceria.

Durante esses 3 anos o Ronaldo, meu sócio, seguiu tocando a operação e o dia a dia da Codevance. Eu atuava part-time, como comercial e também ajudando o Ronaldo de forma mais estratégica. Com a minha volta ao dia a dia da empresa e seguindo com a ideia de diminuir risco, decidimos criar um SaaS. Foi quando nasceu o Tintim. Dada toda a minha experiência, eu sabia exatamente o que fazer. O resultado não poderia ser diferente: R$ 100k MRR em 9 meses.

Os pontos positivos e negativos da minha trajetória

Escrever essa newsletter é um exercício de nostalgia. Confesso que, ao relembrar essa trajetória, sinto muito orgulho do que fiz até aqui. Tirando alguns acontecimentos pontuais e irrelevantes, não tenho nenhum arrependimento. Mas é importante citar que eu tive muita sorte.

Como disse no começo do texto, tive sorte de saber desde pequeno o que queria fazer da vida. Também tive muita sorte nos meus primeiros anos de carreira. Digo que tive sorte porque não houve absolutamente nenhum tipo de análise ou planejamento da minha parte. Eu simplesmente fui levando a vida.

Houve sim, algum planejamento dos meus pais. Eles se esforçaram muito para me dar valores e também me dar uma educação de qualidade. De novo, sorte.

Tive sorte em cair de paraquedas no ecossistema de startups. Tive sorte, também, em cruzar com pessoas que me apresentaram uma nova forma de pensar, como o Henrique. Inclusive, foi quando o conheci que comecei a pensar na minha carreira de forma minimamente estratégica.

Hoje, com 15 anos de experiência e muito estudo (tanto técnico quanto psicológico) eu consigo olhar para trás e enxergar erros e acertos na minha jornada.

Acontece que é muito fácil ser profeta do passado ou engenheiro de obra pronta. É injusto apontar erros e acertos que se fazem claros depois de anos, mas que, na hora, eram praticamente impossíveis de serem identificados. Por isso, ao invés de erros e acertos, prefiro falar em pontos positivos e negativos. Graças a Deus tive mais pontos positivos do que negativos na minha trajetória profissional.

Ter iniciado minha carreira como analista de suporte, e não direto como programador, foi um grande ponto positivo. Por conta da conexão diária que tinha com o usuário final, me tornei, mais tarde, um programador muito mais empático que a média.

Aliás, começar minha carreira em uma empresa especializada em desenvolvimento de software foi outro grande ponto positivo. Em uma época em que tecnologia era vista como custo, e não como vantagem competitiva, eu tive a sorte de trabalhar com grandes programadores (inclusive com um dos maiores nomes de Python do mundo: Luciano Ramalho). Tive a sorte também de trabalhar com tecnologia de ponta e aprender Python muito antes do seu hype.

Agora, consigo enxergar também que o fato de a BIREME, primeira empresa em que eu trabalhei, ser praticamente um órgão público, foi um ponto negativo. Durante meus primeiros 3 anos de carreira eu não tinha a mínima ideia do impacto financeiro do meu trabalho. Eu não fazia ideia de como funcionava o jogo do capitalismo. Demorei muito tempo para entender e aprender as regras do jogo.

Ter mudado de emprego e sair de uma empresa quase zero capitalismo para uma empresa que era full-capitalismo foi um ponto positivo. Apesar do stress, aprendi rápido e na marra como o jogo funcionava.

Pedir as contas e largar a CLT foi outro grande ponto positivo. A falta de um salário pingando todo santo mês me fez aprender, a duras penas, a conquistar meu próprio dinheiro.

Entretanto, esses períodos turbulentos de carreira acabaram por desenvolver em mim um ressentimento muito grande pelo mercado de trabalho de tecnologia. Isso foi um ponto negativo.

De fato, o mercado de tecnologia é hostil e cheio de profissionais ruins de trabalho. Essa hostilidade acabou desenvolvendo um trauma que demorei alguns anos para curar. Por muito tempo eu fazia freelas "obrigado", porque era a única forma que eu tinha de pagar minhas contas de forma sustentável. Trabalha puramente por obrigação, quase que sem tesão. Essa falta de empenho, com certeza, atrasou meu desenvolvimento em alguns anos.

A volta à CLT foi um ponto negativo, mas também, um ponto positivo. Eu acabei voltando pelos motivos errados. Eu estava perdido na vida e acabei seduzido pelo bom salário e pelo ambiente descolado de uma startup. Acabei "traindo" meu espírito empreendedor.

Por outro lado, ao frequentar esse ambiente eu me deparei com diversas oportunidades. Tanto que a motivação de criar a Codevance veio daí (e, no futuro, vários clientes, fruto dos relacionamentos que desenvolvi nesse ambiente).

Falando em Codevance, esse foi um grande ponto positivo. Foi aí que evolui de programador para desenvolvedor de software que gera valor. Foi aí que aprendi a fazer software de verdade. Em pouco tempo consegui desenvolver a habilidade de decifrar o que o cliente queria e entregar o que ele precisava. Essa qualidade na entrega foi o responsável pelo nosso crescimento no boca a boca.

Virar sócio da DevPro foi outro baita ponto positivo. Na Codevance meu desafio era entregar software de qualidade para os clientes que chegavam até mim de forma orgânica. Na DevPro, o desafio era criar uma máquina de marketing e vendas sustentável e, por consequência, lidar com todos os pepinos operacionais, gerenciais e burocráticos derivados dessa máquina. Aprendi a fazer marketing da melhor forma possível: nas trincheiras.

Também entendi o verdadeiro poder da produção de conteúdo (olha você aqui lendo minha newsletter rs). Tive a oportunidade de frequentar grupos de networking, eventos e mentorias. Por fim, ganhei um amigão, que é o Renzo, e também coloquei algum dinheiro no bolso.

Toda essa trajetória culminou na criação do Tintim, outro grande acerto. Hoje me sinto na minha melhor forma como profissional. Me sinto um ótimo empreendedor e um ótimo marketeiro. Claro, muuuuuuito aquém de onde quero chegar. Mas caminhando com velocidade e constância rumo aos meus objetivos.

O que eu faria se eu estivesse começando?

Depois dessa breve análise da minha trajetória, eu enxergo que existam algumas decisões-chave em cada etapa de uma carreira que podem acelerar em muito o desenvolvimento de um profissional de tecnologia.

Algumas coisas que vou falar aqui eu fiz e recomendo. Outras, não fiz e me arrependo (também é importante lembrar que a lógica do meu pensamento se aplica não só a programadores, mas também a qualquer tipo de profissional. Basta ser uma pessoa ambiciosa).

Eu faria um intercâmbio

Como eu disse, eu demorei bastante para começar a pensar e planejar a minha vida profissional de forma ativa. O gatilho para que eu tomasse as rédeas da minha vida foi ter ido morar sozinho.

Além disso, eu também demorei para me expor a outras culturas. Até os meus 26 anos de idade eu praticamente não conhecia vida fora da pacata e provinciana zona norte de São Paulo. Foi quando eu comecei a frequentar comunidades de programadores, marketeiros e empreendedores que eu entendi o poder de ser exposto a outras culturas.

Por fim, a minha velocidade de aprendizado melhorou drasticamente quando eu decidi levar o inglês a sério. Não há a mínima chance de jogar um jogo de alto nível sem dominar a língua inglesa.

O intercâmbio te entrega tudo isso, de mão beijada, num preço acessível e no melhor momento da sua vida: o início da vida adulta.

Eu tentaria uma faculdade FODA

O ensino da minha faculdade foi bem meia boca. Havia, sim, alguns professores bons. Mas uma ementa arcaica somada às constantes greves me fez levar muito pouco comigo dessa época.

A minha sorte mesmo foi ter uma habilidade natural para as ciências exatas e também para o aprendizado. Na falta de uma boa faculdade, eu aprendi sozinho o que precisava.

Devido a essa experiência, até pouco tempo atrás eu acreditava que fazer faculdade era perda de tempo. Essa visão mudou depois que passei a conviver diariamente com o Renzo, que fez ITA. Eu pude testemunhar in loco o quanto uma faculdade foda te entrega três ativos muito poderosos.

O primeiro deles é o ensino de ponta. Tanto ao se preparar para o vestibular quanto para conseguir se formar, você PRECISA aprender a estudar. Não tem como escapar.

O segundo deles é networking. A seleção natural de um vestibular concorrido te coloca numa sala com pessoas altamente capazes. Essas pessoas vão seguir caminhos condizentes com sua capacidade e você terá, em anos, diversos amigos em altos escalões de diversos mercados.

Por fim, uma excelente faculdade te trás status. Eu vi várias portas se abrindo para a DevPro devido ao "selo ITA" do Renzo.

Se eu pudesse voltar atrás, teria me dedicado com afinco a passar em uma faculdade foda. Caso não passasse, pegaria qualquer pública de segunda linha para conseguir um estágio na área e não gastar dinheiro com ensino (como fiz).

Eu procuraria um lugar FODA para trabalhar

Certa vez ouvi do Gabriel Mineiro algo que me marcou:** **

> "Os primeiros 10 anos da vida profissional servem para aprender. Os próximos 10 anos servem para ganhar dinheiro".

No começo da carreira você não deve ligar para dinheiro. Você deve ganhar o mínimo necessário para conseguir se sustentar minimamente bem. O foco de alguém no começo de carreira deve ser em se esforçar para conseguir trabalhar em um lugar muito muito muito foda.

Uma empresa foda vai te entregar diversos ativos que são muito mais valiosos que dinheiro. Você vai ter a oportunidade de trabalhar com excelentes profissionais, que vão elevar seu nível de capacidade praticamente por osmose.

Além disso, você vai se deparar com projetos desafiadores que vão te forjar como profissional. O aprendizado de verdade acontece nas trincheiras.

Geralmente as grandes (e algumas médias) consultorias são capazes de fornecer um ambiente desses. Se eu estivesse começando, eu me esforçaria muito para trabalhar em uma empresa dessas.

Então, eu decidiria o que quero da vida

Depois de alguns anos de experiência eu começaria um trabalho intenso de autoconhecimento para entender o que quero da vida, em termos profissionais.

Se eu entendesse que minha paixão é desenvolver software, eu iria para a gringa, sem dúvidas. O câmbio te faz ganhar 5x mais, o networking é muito mais qualificado e seu currículo ficará muito mais bonito. Se você decidir trabalhar para a gringa morando no Brasil, você poderá viver uma vida de rei.

Agora, se eu quisesse empreender, eu começaria a investir pesado em aprender sobre negócios, marketing e vendas (na real esse conhecimento vale para os dois casos, mas não vou entrar no mérito agora). Generalizando, esse é o maior déficit de um programador, sem dúvidas.

A melhor forma de desenvolver essas habilidades é encontrar algum emprego relacionado a isso. É válido até dar um passo atrás e topar ganhar menos. O upside de aprender nas trincheiras compensa o downside financeiro. Cargos de gestão em startups early-stage são um bom caminho.

Paralelo a isso começaria a frequentar comunidades de empreendedores e marketeiros. Isso ajuda a expandir a consciência e nos faz ter contato com novas culturas.

Depois de um tempo de experiência eu começaria a procurar algum problema grande para resolver e desenvolveria uma tese.

Em resumo: eu faria exatamente o que fiz rs.

Disclaimer

Por fim, quero deixar claro que não existe verdade absoluta. O objetivo desse texto não é te dizer o que fazer. É simplesmente dizer o que **eu faria. **

Cada ser humano possui uma história de vida única. Um contexto muito específico. Eu desenvolvi essa lógica baseado no que vivi e testemunhei nos meus 15 anos de experiência.

A minha única recomendação é que você absorva esse conteúdo e também absorva outros conteúdos de outras pessoas, com outros pontos de vista. Após se expor a diversos pontos de vista distintos, tome a sua decisão.

Meu papel é apenas ajudar.


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Boas Moacir,

Muito obrigado por contar de forma animada os seus pontos positivos e negativos da trajetória. Estou no início da minha carreira enquanto programador (2º ano atuando), e tenho me baseado em princípios muito parecidos com os seus.

Sua história é motivadora, essencialmente por não ser perfeita!
Obrigado.

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