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Emprestei um sofá e consegui um sócio investidor

Segundo Pierre Bourdieu, um sociólogo francês aparentemente influente (pelo menos é o que o Chat GPT diz), existem quatro tipos de capital: o capital econômico, o capital cultural, o capital simbólico e o capital social.

Esse último remete à rede de obrigações sociais (ou “contatos”) que pode ser convertido em capital econômico. Hoje em dia esse tipo de capital é mais conhecido como "networking".

Hoje eu quero falar de uma forma bem específica de se fazer networking: pagando para ter acesso a boas pessoas.

Ficou curioso? Então leia o texto!

A minha incursão por esse mundo de masterminds

Abril de 2019. Eu estava trabalhando muito pela Codevance. Até então, estávamos na nossa melhor época. No último ano a gente se envolveu em pelo menos 2 projetos de grande sucesso. Isso tinha elevado bastante o meu moral.

Acontece que ainda não dava para considerar a Codevance uma empresa completa, de fato. A nossa capacidade de entrega ainda dependia muito de mim, seja colocando a mão na massa, seja coordenando o time de desenvolvimento. Não tínhamos, também, um processo comercial. Todas as nossas vendas vinham da minha rede de relacionamentos. Isso gerava uma grande imprevisibilidade de receita. Essa imprevisibilidade me preocupava.

Paralelo a isso, já fazia anos que eu me interessava por empreendedorismo, mais especificamente, por empreendedorismo digital. Eu me fascinava pelos números. Imagina… Uma audiência de 100 mil seguidores. Se você consegue converter 1% dessa base em compradores de um produto de R 297, você tem um faturamento de quase R 300k. Eu trabalhava 10h/dia + final de semana para faturar isso no ano (deixando boa parte pra pagar a galera que trabalhava comigo). Essas cifras eram muito tentadoras.

Eu tinha muita vontade de entrar nesse mercado, mas sempre acabava adiando, por vários motivos. Depois de ficar namorando essa ideia de trabalhar com marketing digital durante uns 2 anos, em 2019 eu decidi que esse desejo ia se tornar realidade. Foi quando, em Abril, eu decidi contratar a mentoria individual de uma pessoa relevante nesse mercado. Ela tinha bons resultados e andava com uma galera que também tinha bons resultados. Parecia uma boa ideia.

Mentoria é diferente de curso. O curso está lá, gravado. Não tem ninguém no seu pé te cobrando a execução. Não tem ninguém para você tirar dúvidas, trocar ideias. Na mentoria você tem. Esse foi o principal motivo que me fez investir pesado (para valores da época).

Mas também houve outros motivos. Acho que até de forma meio inconsciente, eu queria "comprar" o acesso a aquela pessoa e, consequentemente, a rede dela. Eu já tinha feito esse movimento antes e tinha dado muito certo. No finzinho de 2017 eu paguei para fazer o curso Welcome to the Django, mesmo já trabalhando com o framework por, pelo menos, 5 anos. O objetivo não era o aprendizado, mas sim ter acesso aquele clima tão virtuoso que tinha experienciado na Python Brasil, ao conviver por alguns dias com aquela galera. Foi a melhor decisão, de longe, que eu tomei na vida.

O primeiro grande salto que dei na minha carreira foi graças ao Henrique Bastos e a toda a comunidade que se criou em torno dele. Convivendo com aquelas pessoas eu cresci como profissional e, principalmente, como ser humano. A partir de 2018, minha vida decolou. Participar dessa comunidade foi tão game changer pra mim que praticamente todas as minhas empreitadas com software, depois disso, tiveram alguma relação com o WTTD. A maioria dos meus clientes vieram por lá. A maioria dos meus fornecedores vieram por lá. Tenho sócios que vieram de lá. Os melhores conselhos que recebi na vida vieram de lá.

Inconscientemente, eu estava tentando repetir esse movimento com a mentoria que contratei. Os encontros foram muito bons e, desses encontros, nasceu o meu primeiro produto digital: o curso Freelancer de Sucesso.

Na mentoria eu aprendi a fazer uma análise de mercado, definir um público alvo, definir uma proposta única de valor, criar uma primeira estratégia de vendas e produzir o conteúdo que seria vendido. Depois de tudo isso, sabe quantas vendas eu fiz? Exatamente 4 vendas. O valor faturado não pagou nem a mentoria kkk.

Por mais que isso pareça um fracasso, eu enxergo como um baita sucesso. Fiz poucas vendas, mas desbloqueei um marco importantíssimo nessa minha nova carreira: fiz minha primeira venda. Aprendi, da melhor forma possível, como era o processo de concepção de um produto digital. Aprendi o que devemos fazer e, principalmente, o que não devemos fazer. Foi a primeira vez que "coloquei o pé na água".

Nessa época eu trocava muita ideia com o Renzo (que conheci na comunidade do WTTD). Nós tínhamos valores e interesses muito parecidos. Já havíamos trocado alguma ideia online, mas foi nos eventos da comunidade Python que a gente estreitou nossa amizade. Um dos nossos interesses em comum era justamente o empreendedorismo via marketing digital.

O Renzo tinha uma empresa chamada Python Pro. Desde sempre ele teve paixão por ensinar. Ele vinha dando aulas em paralelo à sua carreira como programador há vários anos. Durante esse tempo ele produziu vários cursos. Quando o conheci, ele havia convertido todos os cursos dele em um supercurso que levava o nome da empresa. A primeira turma desse novo formato deu muito certo. Agora, o objetivo dele era escalar esse modelo e ensinar Python para mais pessoas. Por isso ele se interessava por marketing digital.

Eu, por outro lado, nunca tive o sonho de ensinar. Pra dizer a verdade, naquela época eu nem me sentia tão capaz assim de ensinar ninguém. Eu só queria ganhar mais dinheiro tendo menos trabalho. O meu propósito não tinha tanta nobreza assim (mas nem por isso, era menos genoíno, que fique claro). Independente dos motivos, eu também estava estudando muito sobre marketing digital. Graças a essa coincidência, falávamos muito sobre isso.

Resumindo a história, depois de meses discutindo e um ajudando o outro, resolvemos enxergar o óbvio que estava em frente aos nossos olhos. O real interesse do Renzo não era marketing, mas sim educação. O meu real interesse não era educação, mas sim marketing. "Por que a gente não se junta?" Em agosto de 2019, paralelo a Codevance, eu virei o marqueteiro oficial da Python Pro.

Nessa época eu estava bitolado no assunto. Consumia absolutamente todo conteúdo relacionado. Conhecia todos os influenciadores, assistia todos os vídeos e ouvia todos os podcasts. Aquele meu sentimento de que "é preciso estar ao lado de pessoas boas" que havia nascido com o pessoal do WTTD era reforçado a todo momento pelos gurus do marketing digital. Graças a esse sentimento, eu decidi entrar na primeira turma de mentoria em grupo de um gestor de tráfego muito fera. Isso já era finalzinho de 2019.

Era um cara de bastidor, pouco conhecido, mas que já tinha investido e, principalmente, faturado, muito dinheiro. Ele era sócio de caras muito grandes e era uma pessoa muito inteligente. Entrar para a mentoria dele foi, sem dúvidas, foi um dos grandes acertos que fiz nesse início de carreira. Lá eu conheci gente muito boa. Essa galera estava jogando um jogo muito grande. Pela primeira vez eu estava vendo, com meus próprios olhos, que aquelas cifras astronômicas que eu ouvia nos podcasts podiam ser realidade.

Mas por que eu estou te contando tudo isso?

Qual é o ROI de pagar para acessar pessoas?

Eu entrei no WTTD para conhecer pessoas boas. Como eu disse, já conhecia profundamente o Django pela minha experiência de mais de 5 anos. O aprendizado seria consequência. As duas mentorias que participei, até então, o principal objetivo era conhecer gente boa. O aprendizado seria consequência.

Nessa época eu tinha uma espécie de sentimento, de intuição, de que o meu sucesso estava diretamente atrelado a minha capacidade de conviver com gente boa. Depois de todas essas experiências, já não era mais questão de intuição. Eu já sabia, de forma lógica e racional, que isso era verdade.

A partir de 2020 eu fiz o possível para entrar nos mais diversos grupos de mastermind. "Grupos de mastermind" são compostos por pessoas que se reúnem regularmente para discutir metas, desafios, estratégias e progresso em suas carreiras e negócios. O conceito é baseado na ideia de que a colaboração e a troca de ideias aceleram o sucesso e a realização de objetivos.

Nem todo grupo que eu entrava era um mastermind, tecnicamente falando. As mentorias em grupo não são, necessariamente, masterminds. Os eventos e as comunidades também não. Mas, na prática, esses grupos acabavam se tornando uma reunião de pessoas boas trocando ideias sobre melhorias em seus negócios.

No mercado de marketing digital isso é uma prática comum e, inclusive, um negócio. O que é ótimo, inclusive. O fato de ser um negócio te permite, literalmente, comprar acesso a boas pessoas. E foi exatamente isso que eu fiz nos últimos 3 anos da minha carreira como marketeiro. Eu já investi mais de R$ 100 mil na "compra de acesso à pessoas boas".

Imagino que você deva ter se assustado com o tamanho da cifra. Eu, pelo menos, me assustei quando fui levantar esse valor. Esse susto até fez eu me questionar: será que valeu a pena?

Financeiramente falando, sem dúvidas. Só com o dinheiro que ganhei na Python Pro, que foi o primeiro projeto onde eu pude aproveitar o conhecimento e o relacionamento construído nessas comunidades, esse investimento retornou com muita folga. Agora, esse é o retorno financeiro, que é tangível e palpável. Acontece que o verdadeiro valor de participar de grupos como esses não está no retorno tangível, mas sim no retorno intangível.

Durante esses anos de participação em grupos, eu construí uma rede de relacionamentos muito sólida. Essa rede é composta por pessoas muito boas, tanto de caráter, quanto de habilidades profissionais (um dos maiores incentivadores do surgimento desta newsletter, inclusive, é um grande amigo que conheci nesses grupos). Dessa rede de relacionamentos surgiram parceiros profissionais. Também surgiram colegas que tenho a liberdade de me aconselhar sempre que preciso. Surgiram sócios e, principalmente, amigos que sei que posso contar. Quer ver um exemplo?

Em março de 2020, um pouquinho antes da pandemia, nós tivemos um encontro presencial dos membros da mentoria em grupo que eu havia entrado há poucos meses. Foi um dia super produtivo, que terminou num happy hour super gostoso.

Lá pelas tantas, uma das pessoas do grupo, o Gregori, disse que precisava ir embora pois ainda teria que pegar um ônibus rumo a Sorocaba. Só quem gosta de uma cerveja e um petisco sabe o quanto é ruim abandonar o rolê no meio. Eu, como um boêmio experiente, me compadeci da dor do meu amigo Gregori e disse que, se ele quisesse, poderia dormir no sofá de casa. Ele, também sendo um bom boêmio, não exitou em aceitar.

Esse acontecimento, casual e inocente, fez com que a gente estreitasse nossa relação profissional. Nos meses seguintes fez alguns trabalhos pra gente lá na Python Pro. Eu também indiquei alguns clientes para seu serviço de consultoria de marketing digital.

Isso foi em 2020. Corta para o início de 2023.

O Tintim estava bem no comecinho e eu estava completamente perdido em relação a o que fazer para escalar o produto. Até então, eu só tinha vendido cursos e desenvolvimento de software. Nunca tinha vendido um SaaS. Estava ainda dando os meus primeiros passos nessa nova empreitada.

O Gregori, vendo as divulgações que eu fazia nas minhas redes, resolveu colaborar. Me chamou no WhatsApp e me deu algumas dicas sobre como eu poderia vender melhor e mais fácil. Uma das dicas era construir uma máquina comercial via prospecção outbound. Sobre esse assunto, ele indicou consumir o conteúdo de um dos maiores especialistas do meio. Um cara chamado Luiz Mazini.

Ao pesquisar mais sobre esse cara, vi que ele tinha uma imersão sobre o assunto agendada para Janeiro. A imersão não era específica para empresas de SaaS, mas mesmo assim fazia muito sentido eu participar. Isso porque uma das táticas que o Gregori havia comentado era justamente participar de hubs que concentrassem pessoas que se encaixavam no meu público alvo. Na época, o público alvo em que eu mirava eram agências de marketing digital, justamente o público alvo da imersão.

Participei da imersão e aprendi uma técnica nova de vendas. Sabe quantas vendas fizemos através dessa técnica? Chuto que menos de 10 kkk. Mas o meu objetivo principal ali, de novo, não era aprender, mas sim me conectar com gente boa.

Seguindo a lógica de pagar para acessar pessoas, eu chamei o Mazini para trocar uma ideia e propor uma parceria. Já que ele tem uma carteira de clientes cheia de agências e eu quero vender para agências, vamos fazer negócio, oras. Ele gostou da ideia e então marcamos uma reunião.

Encurtando a história: entrei nessa reunião buscando um parceiro e saí com um sócio. Sócio esse que foi fundamental para que o Tintim atingisse os resultados que atingiu. O Mazini não só colocou dinheiro na empresa como, principalmente, colocou outros ativos valiosíssimos. Nosso atual head comercial veio da empresa dele. Nossos primeiros clientes vieram da carteira de clientes dele. A concepção do nosso modelo comercial e de marketing teve grande contribuição dele.

Se a gente for olhar para trás e traçar os pontos, eu consegui um sócio porque eu ofereci o sofá para um amigo que conheci só porque decidi pagar para entrar em um grupo de mentoria. Louco, né? Esse "feliz acaso" tem um nome: serendipidade. Em outras palavras, é quando alguém encontra algo que não estava procurando. São aquelas descobertas acidentais ou inesperadas que impactam nossa vida positivamente.

Claro, existem diversos outros fatores que contribuíram positivamente para essa história. A ideia do Tintim é muito boa. O mercado é grande. O timing é bom. A nossa capacidade de execução, como time, também é muito boa. Temos um track record muito bom com a Python Pro e a Codevance. Todos esses são fatores relevantes. Mas, sem dúvidas, o "feliz acaso" de emprestar um sofá e conhecer um sócio também foi relevante.

Esse é o real valor de se construir uma forte rede de relacionamentos. Em todas as vezes que paguei para participar de grupos e ter acesso a gente boa, eu esperava, sim, ter o retorno desse investimento. E tive. O que eu não esperava era encontrar um sócio, ainda mais de uma forma tão "não-linear" como essa.

Ah, um detalhe importante: essa, e outras coisas boas, aconteceram num curtíssimo espaço de tempo. Se tantas coisas boas aconteceram em menos 4 anos, o que pode acontecer nos próximos 20 anos?

A conclusão de todas essas histórias que te contei é a seguinte: sempre que tiver a oportunidade, invista dinheiro para estar no meio de pessoas boas. Esse investimento é uma decisão muito fácil e óbvia de se fazer. Mesmo que você não consiga enxergar, pode confiar que o retorno vem. Para mim se pagou no curto prazo, e no longo prazo também. A chance disso também acontecer com você é muito grande.

Só não esquece que acessar boas pessoas é só uma das etapas do processo. Pagar para acessar é um hack para acelerar o processo. O fundamento, de verdade, está em gerar valor.


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