Como garantir que absolutamente ninguém copie sua ideia
Entenda o conceito de “moat”
Esses dias, estava scrollando no Instagram e me deparei com um post do Tiago Costa, do @construindoumastartup. Ele estava puto, reclamando que copiaram seu produto na maior cara de pau.
Depois de anos trabalhando com internet e tecnologia, eu entendi exatamente qual é a fórmula mais eficaz para evitar que alguém te copie. Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu te conto como fazer isso.
Roubaram meus leads…
Imagine a cena…
Estávamos super empolgados, afinal, nossa estratégia de vender o Tintim através de webinários estava dando certo.
Era segunda-feira, véspera de webinário. Lista cheia de leads novos. O custo por lead estava super em conta. Vínhamos de uma sequência de excelentes taxas de conversão.
De repente, chega uma mensagem do Luiz no Discord:
— Estão roubando nossos leads.
Como assim?! Roubando nossos leads? Então, o Luiz me mostrou a mensagem de um lead. A pessoa tinha recebido um contato frio de uma pessoa dizendo algo como “se você quer assinar o Tintim, saiba que eu tenho uma solução que é 3x mais barata”.
O cara estava entrando nos grupos de WhatsApp que montávamos para cada apresentação, e mandando mensagem para cada um dos participantes do grupo.
Eu fiquei muito puto da cara. Imagina… um trabalho enorme para escrever, gravar e editar anúncios. Depois, você vai lá e investe dinheiro nesses anúncios, para poder gerar leads. Aí chega um safado e simplesmente começa a ROUBAR os leads que você gerou, oferecendo uma CÓPIA da sua solução.
Como não ficar puto?
Quando vi esse post do Tiago, do @construindoumastartup, entendi exatamente o sentimento de revolta dele.
Nós temos um documento em que mapeamos todos os concorrentes do Tintim, sejam eles diretos ou indiretos. Ao total, já são mais de 18 soluções mapeadas. Dessas, algumas são cópias descaradas.
Teve gente que copiou só a ideia do software. Teve, também, gente que copiou a ideia do software e também a ideia por trás da marca. Teve gente que copiou até telas do nosso produto (e quando eu digo que copiou, eu quero dizer que a pessoa, literalmente, copiou a diagramação, o texto e até os emojis).
Um dos copiadores até teve a cara de pau de me mandar mensagem dizendo que era um grande fã e, por isso, decidiu “concorrer” comigo.
Assim como o Tiago, eu também fico puto com isso. Agora, ficar puto vai mudar alguma coisa? Por causa do meu ataque de pelanca, essa galera vai deixar de copiar o que eu faço?
Não.
O tal do “moat”
Fosso do Estádio Colosso do Tapajós — Foto: Bena Santana/94 FM
Moat, em inglês, significa fosso.
Geralmente, quando se fala em moat, é usada a imagem de um castelo rodeado de água. Mas, você provavelmente é brasileiro e, como um bom brasileiro, deve ser fã de futebol. Sabe aquele vão, aquele fosso, que separa a torcida do gramado, que existe em muitos estádios do Brasil? Ele existe para dificultar que vândalos invadam o gramado durante um jogo.
No mundo startupeiro, quando se fala de moat fala-se justamente sobre isso: qual é a vantagem competitiva que dificulta que seu concorrente “invada” e roube sua posição no mercado?
Existem várias categorias de moat. Em negócios digitais, acredito que os principais são:
- Marca Forte: Empresas como Coca-Cola ou Apple têm marcas que geram confiança e lealdade, tornando difícil para concorrentes roubarem seus clientes.
- Custos de Troca: Quando mudar de fornecedor ou sistema tem custos altos ou é inconveniente para o cliente, como acontece com ERPs, por exemplo.
- Efeito de Rede: Quando o valor de um produto aumenta à medida que mais pessoas o utilizam, como no caso do Instagram ou WhatsApp.
Percebe que o elemento tecnologia não aparece na lista? Isso porque a grandesíssima maioria de nós, programadores, não somos criadores de tecnologia. Somos apenas implementadores de tecnologia.
Se eu entrasse em uma sala cheia de programadores que se interessam por SaaS e Micro-SaaS e perguntasse “Como se aloca memória na linguagem C?”, eu chuto que 80% não saberia responder (por mais que eu tenha aprendido isso na faculdade, eu também não sei). Se um programador high code não sabe isso, imagine um programador low code?
Quem cria tecnologia não é programador, é cientista. É o cara que trabalha na universidade, ou então no laboratório de pesquisa e desenvolvimento de uma big tech. É o cara que está envolvido com deep tech. Esse cara cria a tecnologia e, nós, mero mortais, as implementamos.
Há problema nisso? Nenhum. Eu sou um implementador, e com muito orgulho. Nós, implementadores, somos quem aplica a tecnologia desenvolvida por essa galera, para resolver problemas. Meu objetivo aqui é somente alinhar expectativas.
Ler uma documentação, assistir alguns vídeos tutoriais no Youtube, fazer meia dúzia de perguntas no Substack, no Reddit, ou na comunidade fechada de um curso online... se você é capaz de fazer isso, seu concorrente também é.
Produtos que são desenvolvidos dessa maneira não tem moat. Se não tem moat, qualquer pessoa igual a você pode copiar. Iguais a você existem milhares espalhados por aí.
Como construir moat
Se a sua tecnologia não possui diferencial competitivo, é preciso desenvolver diferenciais competitivos em outras áreas do negócio.
Antes de citar algumas formas de fazer isso, é bom lembrar que, no Brasil, um feijão com arroz bem feito já é um baita diferencial competitivo. Portanto, se você fizer a sua lição de casa e construir um produto que…
- Resolva uma dor e gere valor;
- Seja fácil e intuitivo de usar;
- Tenha um suporte rápido, focado em resolver problemas;
- Tenha uma área de CS focada genuinamente em ajudar o cliente a aumentar o valor…
… você já sairá na frente de MUITA gente.
Mas, além disso, existem outras formas, um pouco mais complexas e estruturadas, de gerar moat.
Vou assumir que você, meu caro leitor, é um quebrado que nem eu e não tem grana para desenvolver estratégias que dependam de grandes investimentos. Diante desse cenário, existem três grandes formas de criar moat de forma acessível (uma delas é, sem dúvida, a mais eficaz de todas).
Gere um “custo de troca”
Essa é a primeira forma acessível de gerar moat. Tem muito software que eu não troco simplesmente porque vai dar muito trabalho trocar.
Esta semana mesmo, tivemos MUITOS problemas com o Activecampaign. Esses problemas vêm sendo frequentes ao longo dos últimos meses. Toda vez que acontece eu falo “agora chega!”, até o momento em que começo a analisar, de fato, em como fazer essa troca. É quando vejo que a gente tem um monte de automações lá dentro que teríamos que migrar uma a uma, de forma manual, para um novo software. Obviamente, desisto. E nessa, eu já estou há mais de dois anos com o mesmo software de email marketing.
Esse não é o melhor dos cenários, afinal, você não está mantendo o cliente porque ele quer, mas, sim, porque a dor de trocar é maior do que a dor de ficar. Ainda assim, há dor ao ficar. Ideal que não houvesse.
Mas, pelo menos, nesse cenário, você tem tempo para identificar e corrigir os problemas que causam a vontade de sair do seu cliente (não é o que o Activecampaign está fazendo).
Gere “efeitos de rede” com sua solução
Valeria um post inteiro somente sobre esse tópico. Existem até livros inteiros dedicados ao tema, como o excelente “The Cold Start Problem: How to Start and Scale Network Effects”, do Andrew Chen. Existem até fundos de VC que investem somente em empresas que possuem network effects (a NFX, um desses fundos, tem uma excelente Masterclass sobre o assunto).
Network effects é um fenômeno que ocorre quando o valor de um produto aumenta à medida que mais pessoas o utilizam. Quanto maior a base de usuários, mais útil ou valiosa essa rede se torna para seus participantes.
O WhatsApp é um ótimo exemplo. O Telegram foi, durante anos, uma solução muito mais robusta e completa que o WhatsApp. Ainda sim, o WhatsApp é, de longe, a solução mais usada, simplesmente pelo fato de que as pessoas estão lá, e não no Telegram. O maior ativo do WhatsApp não é a qualidade do seu produto, mas sua base de usuários.
Existem diversos outros tipos de negócios que se aproveitam de network effects, como Uber, Mercado Livre, Slack, Stripe, etc. Cada um ao seu modo. Sugiro pesquisar mais sobre o assunto.
A forma mais eficaz de criar moat é produzindo conteúdo!
Ainda que tudo o que eu citei acima seja válido, essas não são as formas mais eficazes de se criar moat. Isso porque todas essas formas ainda assim são copiáveis. Algumas são mais fáceis de copiar, outras menos. Independentemente da dificuldade, é tudo uma questão de dinheiro. Qual é a profundidade do bolso do seu concorrente?
Só existe uma coisa no mundo todo que não é copiável: você! Só você pode ser você mesmo.
Você pode não ter o melhor produto. Você pode não ter o melhor suporte. Você pode não ter o melhor CS. Você pode não ter o melhor time de vendas… Se o seu cliente for seu fã, ele vai ignorar tudo isso e comprar de você!
Além de comprar de você, ele também vai te defender quando alguém falar mal de você. Ele vai te recomendar quando alguém precisar de você. Ele vai ajudar seus outros clientes quando você não puder estar presente.
Esse é o poder de um fã.
É por isso que o Elon Musk twitta, em média, 60 vezes por dia. É por isso que o Talis Gomes fala o que fala e é cancelado mês sim mês não. É por isso que o João Adibe posta sua vida luxuosa todo santo dia nos stories.
Esses caras já sacaram que pessoas compram de pessoas, então, eles trabalham sistematicamente para produzir conteúdo diariamente e projetar uma persona que gere admiração nas pessoas.
O grande moat deles são eles mesmos.
✉️ Esta foi mais uma edição da Newsletter do Moa!
💪🏻 O meu objetivo com essa newsletter é ajudar profissionais de tecnologia que desejam desenvolver uma visão mais estratégica.
Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.
Portanto, se você se interessa por soft-skill, desenvolvimento pessoal, empreendedorismo e opiniões relativamente polêmicas, sugiro que você se inscreva para receber as próximas edições. ⬇️