Como eu me aproveito de grandes mentes para resolver meus problemas
Já pensou receber conselhos dos maiores pensadores da humanidade? Não, eu não estou falando de um GPT que emula o jeito de um grande filósofo. É muito mais profundo que isso.
Cada uma das grandes mentes da história possui uma forma bem específica de se abordar um problema. Na edição de hoje da Newsletter do Moa eu vou te ensinar um modo simples de se aproveitar dessas formas e resolver seus problemas de forma muito mais efetiva.
"O que você quer da vida?"
Durante muito tempo eu não consegui me encaixar no mundo. O caminho tradicional não me apetecia.
A minha trajetória profissional seguiu a trajetória desenhada para o brasileiro classe média padrão. Fiz ensino fundamental, depois fiz ensino médio, depois fiz faculdade, depois consegui um estágio na minha área, depois fui efetivado nesse estágio. Aos 20 anos de idade eu consegui o tão sonhado primeiro registro na minha CLT.
Confesso que, nessa época, eu estava até que satisfeito com essa trajetória. Eu era apaixonado por computadores desde os meus 6 anos de idade. Estudei em um ótimo colégio. Tirava boas notas sem muito esforço. Consegui uma vaga em uma universidade federal também sem muito esforço. Com menos de 20 anos já trabalhava com algo que eu amava. Nada mal, certo?
No começo tudo é novidade. A novidade é legal… ela te faz olhar somente para o lado bom das coisas. Mas, como tudo na vida, havia um lado ruim.
De fato, tive muita sorte de trabalhar com ótimos programadores no meu início de carreira. Construímos projetos muito legais. Sei, inclusive, que tem um projeto meu em produção até hoje, mais de 10 anos depois da minha saída. Mas, nem tudo são flores…
O local onde trabalhava era praticamente uma repartição pública. O salário era baixo e praticamente não havia cobrança. No começo isso era ótimo, mas, depois de um certo tempo, eu fiquei muito acomodado. Parte de mim gostava dessa vida boa, mas parte de mim ansiava por desafios.
Então decidi trocar de emprego. Fui para uma nova empresa, num estilo completamente diferente. Enquanto no primeiro emprego eu entrava e saia a hora que bem entendia, nessa empresa nova eu precisava trabalhar de social e enfrentar jornadas de mais de 10 horas de trabalho. Saí de um extremo e fui para o outro.
Depois de meses trabalhando num ritmo insano e, principalmente, sem conseguir entregar o projeto no qual estávamos trabalhando, eu decidi pedir as contas e viver de freelas. Eu estava tão de saco cheio que saí sem perspectiva prática nenhuma do que iria fazer. Só com a fé e a coragem.
Depois, durante anos, tentei várias coisas. Fiz muitos freelas como programador e, paralelo a isso, tentei (e fracassei) em diversos empreendimentos. Tentei trabalhar com eventos, tentei ser jogador de poker, tentei criar softwares… tentei até voltar a ser um CLT. Nada deu certo.
Foram cerca de 5 anos de tentativas e erros. A minha carreira se estabilizou e começou a avançar depois que fundei a Codevance, uma fábrica de software. Ainda sim, através da Codevance, participei de vários projetos que fracassaram, por diversos motivos.
Durante todos esses anos eu fui questionado por parentes e amigos: "toda hora você inventa algo novo… por que você não sossega?". Vendo de fora, essas pessoas não conseguiam entender qual era a motivação que me fazia agir dessa forma. Se, de fora, ninguém conseguia entender, eu, de dentro, entendia menos ainda.
Foi quando, em 2018, num evento chamado Autonomize-se (liderado pelo meu grande amigo Henrique Bastos), eu fui questionado: "Afinal de contas, o que você quer da vida?". Depois de uma reflexão profunda eu consegui responder…
"Não sei!".
Me lembro até hoje… No exato momento em que essas palavras saíram da minha boca, eu senti vergonha… muita vergonha. "Como assim?? Quase 30 anos na cara e não sabe o que quer da vida?". Eu mesmo me julgava.
Eu tinha certeza que os outros também pensariam assim. De fato, minha família e colegas pensavam assim. Mas o pessoal do evento não. Imediatamente após dizer "não sei", o Henrique disse pra mim: "tudo bem não saber o que quer. Eu também não sei. O importante é saber o que NÃO quer". Em seguida, ele perguntou: "O que você NÃO quer da vida?"
A partir dali iniciou-se um processo de reflexão que tirou um peso absurdo das minhas costas. Eu passei a refletir profundamente sobre o que eu não queria da vida. Aqueles 5 anos, pulando de galho em galho, deixaram de ser um "desperdício de vida" para se tornar a minha principal fonte de consulta. Uma bagagem de vida cheia de exemplos sobre o que eu não queria da minha vida.
Mentalmente, eu analisei evento por evento e identifiquei tudo o que não queria. Eu não queria trabalhar com chefe cuzão. Eu não queria trabalhar em ambientes tóxicos. Eu não queria passar aperto financeiro. Eu não queria ficar refém de salário. Eu não queria trabalhar em um local que me fizesse trair meus valores. Eu não queria trabalhar em projetos mal planejados, mal estruturados e mal executados.
Eu ainda continuava sem saber o que eu queria da vida. Mas, pelo menos agora, eu tinha um checklist claro do que eu NÃO queria para minha vida profissional e pessoal.
O que são modelos mentais?
Anos mais tarde, mais especificamente em julho de 2022, caiu nas minhas mãos um livro chamado "The Great Mental Models". Eu nunca tinha ouvido falar na minha vida sobre o tema. Entretanto, o livro foi indicado por um cara que admiro muito. "Se ele indicou, eu vou ler". Que livro! Dos 22 livros que li no ano de 2022, este com certeza está nos Top 5!
Modelos mentais são conceitos abstratos que nossa mente utiliza para entender como as coisas funcionam no mundo. Eles, quase sempre, são utilizados de forma irracional, pelo nosso inconsciente. São pensamentos que acontecem abaixo da superfície, sem a gente perceber.
De forma resumida, um modelo mental é a representação da realidade dentro da nossa cabeça. Usando o próprio exemplo do autor:
Imagine um grupo de pessoas cegas que se aproxima de um animal estranho, chamado elefante. Nenhum deles tem consciência de sua forma e estrutura. Assim, decidem entendê-lo através do tato.
A primeira pessoa toca a tromba do elefante e diz: "Esta criatura é como uma cobra grossa". A segunda pessoa toca uma orelha e diz parecer ser um tipo de leque. A terceira pessoa, cuja mão está em uma perna, diz que o elefante é um pilar como o tronco de uma árvore. O quarto homem coloca a mão na lateral e diz: "um elefante é uma parede". O quinto, que sente sua cauda, imagina uma corda. O último, que toca sua presa, pensa que o elefante é algo duro e liso, tipo uma lança.
Cada pessoa utilizou os modelos mentais existentes em sua cabeça para definir esse bicho estranho que estavam apalpando. Acontece que todos definiram de forma errada. Isso aconteceu porque cada um estava com o foco específico em uma parte do elefante. Por estarem muito próximos do elefante, não conseguiram enxergar o todo.
O livro, como o próprio nome sugere, nos apresenta ÓTIMOS modelos mentais para enxergarmos a vida. Ao conhecer novos modelos mentais (que geralmente foram elaborados por grandes pensadores), deixamos de depender somente dos modelos mentais que desenvolvemos com base em nossas experiências.
Utilizar-se de bons modelos mentais é tomar emprestado o modo de pensar de grandes mentes. Quer um exemplo muito famoso? A tal Lei de Pareto. Ela sugere que, em muitos casos, 80% dos efeitos vêm de 20% das causas.
Através da forma de pensar de Pareto, podemos orientar nosso pensamento a identificar uma oportunidade em que eu aplique apenas 20% do meu esforço para conseguir 80% de melhoria.
Vamos imaginar um contexto conhecido: o de desenvolvimento de software. Podemos estimar, por exemplo, que 80% dos bugs acontecem em 20% do código. Se você identificar e corrigir essas partes críticas do código, você elimina a maioria dos problemas. O resultado é uma melhoria significativa na qualidade do software com muito menos esforço do que se você tentasse corrigir todos os bugs de uma vez, sem nenhum tipo de estratégia.
Resolvi falar hoje sobre modelos mentais justamente porque o que me trouxe paz de espírito, lá em 2018, foi a aplicação de um modelo mental (mesmo que de forma inconsciente).
Estou falando do modelo mental da inversão. Esse modelo funciona da seguinte forma: Ao invés de abordar um problema pensando diretamente no resultado desejado, experimente começar pelo oposto.
O que devo fazer para NÃO alcançar esse resultado?** Busque por maneiras de falhar**. Por mais que pareça contra-intuitivo, esse é um dos melhores caminhos para identificar possíveis armadilhas. Através desse modelo é possível esclarecer objetivos, identificar riscos potenciais e evitar erros.
Hoje percebo, depois de muitos anos de psicanálise e investigação interior, que tenho um espírito empreendedor. Minha mente é movida a desafios. Eu gosto do novo, do diferente, do que ninguém fez.
**Como eu vou saber o que quero da vida? Eu já quis tantas coisas. **Profissionalmente, eu já fui programador, marketeiro, já trabalhei com eventos, já quis ser jogador de poker… Na vida pessoa então… Eu já pratiquei musculação, futebol, voleibol, corrida, Crossfit, futevolei, squash… Me interesso por filosofia, história… adoro ler, adoro ver filmes e séries.
Em resumo, o que eu gosto é do novo. Em cada fase da minha vida eu quis algo diferente. Diante de tantas possibilidades, é muito mais fácil eu saber o que NÃO quero. Por isso, aplicar o modelo mental da inversão faz todo sentido aqui.
A primeira edição do livro (que foi a que li), é focada em conceitos gerais e universais de pensamento. Ela lista diversos modelos mentais que aplico diariamente para enfrentar os mais variados problemas que aparecem na vida de um empreendedor. Alguns exemplos: Mapa != Território, Círculo de Competência, Primeiros Princípios, Pensamento de Segunda Ordem, Probabilidades, Navalha de Occan e Navalha de Hanlon.
Lembre-se: a vida trata-se de resolver problemas. Nada melhor que "pegar emprestado" a mente de grandes pensadores para resolver seus problemas com muito mais eficácia.
Estude de forma profunda sobre modelos mentais.
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