A minha desilusão com a programação
Demorei anos até entender como o jogo funciona
Apesar de ser apaixonado por programação desde os 11 anos de idade, durante muitos anos eu “fiquei de mal” com a profissão. Graças a Deus, isso mudou.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa, eu conto um pouco mais sobre a minha briga com a área de tecnologia e como eu fiz para superar esse trauma.
A minha briga com a programação
Eu comecei a programar aos 11 anos de idade. Tive um professor de história, professor Pedro, que foi visionário e sacou rápido as proporções que a internet teria no futuro. Ele decidiu “sacrificar” uma das suas míseras 3 aulas semanais para nos ensinar HTML e CSS. Eu contei mais sobre essa minha iniciação na programação em outra edição.
Com 19 anos de idade, eu consegui o meu primeiro emprego na área. Um estágio na área de suporte técnico de uma empresa que desenvolvia softwares web. Também contei mais sobre meu começo profissional em outra edição. Depois de 8 anos “brincando” de programar, eu finalmente poderia trabalhar com o que amava.
Sabe aquela frase “trabalhe com o que você ama e nunca mais trabalhe na vida”? Você sabe que essa é uma das maiores ciladas da história, né? A frase certa é “trabalhe com o que você ama e passe a odiar tudo o que um dia gostou”. Brincadeiras a parte, de fato, foi isso o que aconteceu comigo.
A programação é muito parecida com qualquer outra profissão. Existe uma parte prazerosa, sim, sem dúvida. Mas, o dia a dia é cheio de pepino, como em qualquer outro trabalho. Mas é difícil para um menino de 20 e poucos anos de idade entender isso, né?
Nessa época, eu trabalhava em um lugar que era quase que uma repartição pública. Havia pouquíssima cobrança. Praticamente ninguém era mandado embora da empresa (fun fact: conheço uma única pessoa que foi mandada embora, e ele é um figurão do mercado).
Eu trabalhava pouco, e, obviamente, ganhava pouco também (ganhava bem, para a média, mas, mal para quem trabalhava com tecnologia). Lembro de meus amigos trabalharem no Bradesco e ganharem vales-refeições polpudos, e eu ficava puto porque não ganhava VR e tinha que levar marmita. Essa, entre outras frustrações, me fizeram procurar outro emprego.
E eu encontrei um emprego que pagava um bom vale-refeição. Não só isso. Pagava também um bom salário, e um bom bônus de final de ano. Então, eu passei a ganhar muito, mas também trabalhar muito.
Trabalhar muito não era, necessariamente, um problema. O ruim mesmo era o ambiente. Projeto ruim, escopo mal definido, equipe mal dimensionada, prazo irreal. Eu também já contei essa história por aqui. Antes, eu gostava de trabalhar, apesar dos pesares. Agora, eu odiava trabalhar. Foi quando eu decidi pedir as contas e abandonar a programação.
Nessa época, eu tinha conhecido um amigo que estava ganhando “muito dinheiro” com eventos, como casamentos, festas de 15 anos, etc. Incentivado por ele, decidi também entrar no ramo, com o Instaplay, uma solução de brindes fotográficos para eventos. Também contei essa história por aqui. Quando larguei o trabalho como programador, o plano era transformar esse side job no meu principal ganha-pão.
Acontece que, enquanto eu não conseguia viver exclusivamente do Instaplay, eu ainda precisava pagar minhas contas. Então, comecei a fazer alguns freelas de programação. Esses freelas eram, quase sempre, um site em Wordpress para alguma agência. Mas, volta e meia aparecia um sisteminha em Python, ou até mesmo PHP.
Mas, que fique claro: eu fazia isso porque era obrigado. O que eu queria mesmo era ganhar dinheiro com outra coisa. E foram várias outras coisas que tentei. Tentei ganhar dinheiro jogando poker profissionalmente. Tentei ganhar dinheiro comprando coisas no Aliexpress e vendendo no Mercado Livre. Tentei vender seguidores, tentei vender um software de automação de redes sociais… tentei bastante coisa, e nada deu certo.
Resumo da minha vida até então: trabalhar com projetos sem graça para pagar as contas, e ficar tentando um jeito diferente de ganhar dinheiro a cada mês. Ainda que, volta e meia, pintava um freela que acaba evoluindo para uma relação um pouco mais séria e eu ganhava um bom dinheiro. Mas, no geral, era sempre só por dinheiro. Eu tinha muito pouco tesão em trabalhar na área de tecnologia.
Até que, depois de anos nesse vai e vem de freelas, ideias, iniciativas frustradas, e muito “tô rico, tô pobre”, eu fiz um freela para uma startup, gostei do ambiente, e decidi aceitar uma proposta de emprego full time que eles me fizeram. Eu estava, oficialmente, de volta ao mercado de trabalho.
Essa foi uma experiência muito importante na minha vida. O ambiente foi um dos mais agradáveis que trabalhei. Gostava muito da galera de lá. Mas, profissionalmente falando, eu voltei a encontrar todo aquele caos e desorganização que é meio padrão em empresas de tecnologia.
Depois de 7 meses de muito trabalho, noites viradas e, principalmente, muito desperdício de energia, tempo e saúde (devido ao ambiente caótico), eu tive a certeza que aquilo era o que eu NÃO queria. Mas, o que eu queria?
A tal da autonomia
Saindo dessa empresa, sem saber direito o que fazer dali pra frente, eu decidi ir à Python Brasil e ver o que estava acontecendo no mercado. Lá, eu conheci uma turma de malucos, todos vestidos iguais, de preto, e tomando muita cerveja. Também já contei essa história por aqui.
Essa era a turma dos alunos do curso Welcome to the Django, capitaneado pelo Henrique Bastos. Era uma turma feliz, que aparentava estar de bolsos cheios, mas, principalmente, felizes em seus trabalhos como programadores. “Como assim?!! É possível ser feliz trabalhando com programação?” Foi a primeira coisa que pensei.
Imagine que eu era, até então, uma pessoa completamente desacreditada disso. Para mim, para ter sucesso no mercado de tecnologia, ou você deveria ser bom de politicagem e puxa saquismo para conseguir subir na hierarquia e mandar nos outros, ou você era vítima dos que subiam, e acabava tendo que aceitar as longas e inúteis jornadas de trabalho. Aí, de repente, aparece um maluco dizendo que é possível ser capaz de falar de igual pra igual com todo mundo, desde o faxineiro até o CEO. Como assim?!?!?!
Foi através do Henrique e da turma do WTTD que eu consegui entender o conceito de geração de valor. Entender esse conceito me fez conseguir, pela primeira vez, conectar as pontas, e entender, com clareza, para quê servia o meu trabalho.
Quando eu ouvi o Henrique dizendo que “o programador é capaz de, literalmente, gerar riqueza a partir do nada”, eu consegui realizar o quão poderosa era a habilidade que eu tinha nas mãos. Poderosa, não só no sentido de fazer dinheiro, mas, também, no sentido de melhorar a vida das pessoas.
Daí em diante, minha vida decolou. Eu criei uma fábrica de software que faturou milhões ao longo dos anos. Virei sócio de uma empresa de educação, e fiz essa empresa faturar alguns outros milhões. Depois, criei um SaaS que chegou em R$ 100k MRR em menos de 9 meses e, hoje, em menos de 2 anos, já atingiu a marca de R$ 350k MRR.
Pessoalmente, a minha vida também decolou. Eu casei, tive filho, me disciplinei e, há 8 anos, treino e estudo praticamente todo dia, de forma quase que religiosa.
O nosso trabalho precisa de propósito
Hoje, eu consigo entender porquê eu fiquei anos de mal com a tecnologia. Isso aconteceu porque, antes, meu trabalho não tinha propósito. E, por favor, não me entenda mal. Não estou falando daquele sentimento romântico, nobre e altruísta. Estou falando de algo mais simples: entender o valor que o seu trabalho gera no mundo.
Até então, nenhuma das minhas experiências profissionais tinham tido propósito. Não digo que as empresas nas quais trabalhei não tinham propósito. Longe disso. O que eu digo é que eu, como profissional, não conseguia enxergar o meu propósito dentro desses lugares.
Depois que eu entendi e internalizei o conceito de geração de valor, eu consegui enxergar propósito no meu trabalho.
Eu consegui entender que o software que eu construía permitia meu cliente atender o cliente dele, seja provendo saúde, seja provendo crédito, seja permitindo que esse cliente renegocie suas dívidas e limpe seu nome. Eu consegui entender que os cursos que a gente vendia permitiam que pessoas migrassem de profissão, e acessassem mais dinheiro e bem estar para si e para sua família. Hoje, eu entendo que o software que eu comercializo, o Tintim, permite que pequenas e médias empresas vendam mais através da internet e, com isso, produzam mais riqueza para si e para sua comunidade.
O segredo é entender que o nosso trabalho, que a tecnologia, não é fim, mas, sim, meio para atingir um propósito: gerar valor ao próximo.
✉️ Esta foi mais uma edição da Newsletter do Moa!
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