A importância de uma meta
Fim de ano é época de reflexão. Época de balanço do ano que passou e também época de planejamento para o futuro. O dia primeiro de Janeiro é o dia oficial da meta.
Você possui metas para 2024? Você possui metas para sua vida? Uma das formas de dividir a minha trajetória de vida é considerar um Moacir antes das metas e outro Moacir depois das metas. Quando eu comecei a definir e cumprir metas para o ano, minha mudou da água para o vinho.
Na edição de hoje da Newsletter do Moa eu vou contar minha relação com a meta e dar algumas dicas práticas para você definir suas metas para 2024.
A fuga da responsabilidade
Me lembro que, quando criança e adolescente, nunca fui muito de ter responsabilidades.
Quando eu jogava futebol ou vôlei no time da escola, lembro de "fugir" do protagonismo para não ter a responsabilidade de ganhar sob os meus ombros. Quando acabava indo para a reserva, apesar de ficar puto, lembro de parte de mim sentir alívio.
Claro, tudo isso era sentimento. Um sentimento misto. Eu não pensava, apenas sentia. Não entendia direito o que estava sentindo e principalmente porquê. Tenho a capacidade de fazer essa análise somente depois de adulto (e de anos a fio de psicanálise).
Fato é que eu não gostava de responsabilidade.
Metas, então… Deus me livre! Se tem uma coisa que exige 100% de responsabilidade é a definição de uma meta.
Não tem como atingir uma meta sem se responsabilizar pelo processo. Bater uma meta não cai do céu. Exige estratégia, planejamento e, principalmente, disciplina.
Bater meta exige responsabilidade.
Responsabilidade é a capacidade de responder por algo. Não existe nenhum tipo de vida significativa sem a assunção de responsabilidade. Por mais que doa, o ser humano anseia por algum tipo de protagonismo. De controle. De querer ser responsável por algo.
É um sentimento paradoxal.
Eu consigo entender isso porque já estive dos dois lados.
Até a metade dos meus 20 anos eu trabalhava ativamente para evitar responsabilidades. Eu vivia na utopia de ter a possibilidade de escolher tudo o que eu quisesse.
"Não posso assumir um compromisso no sábado de manhã porque pode surgir uma ótima balada na sexta e eu não posso perder".
"Não posso me mudar para perto do trabalho porque vou ficar longe dos meus amigos e posso perder algum evento importante que aconteça de última hora".
Na ânsia de garantir que eu estivesse disponível para qualquer oportunidade que pudesse aparecer, eu acabava como uma pessoa sem responsabilidades.
Mas isso começou a mudar lá pelos idos de 2015. Já contei essa história aqui antes. Durante essa época eu senti o gostinho de começar a ganhar um bom dinheiro e, motivado pelo sentimento positivo, comecei a estudar mais sobre o assunto.
Comecei a estudar sobre finanças e, invariavelmente, acabei caindo nos conteúdos de desenvolvimento pessoal. E qual é uma das primeiras matérias que iniciantes do desenvolvimento pessoal se deparam? A tão famosa meta.
Motivado pelos conteúdos que vinha lendo, na virada de ano eu decidi definir uma meta para 2016: consumir 50 livros.
Hoje, depois de anos de um intenso trabalho de autoconhecimento, sei que sou uma pessoa extremamente competitiva. Muito provavelmente esse era o motivo que me fazia fugir da responsabilidade quando criança. Se eu me comprometesse e falhasse, eu me sentia muito mal. A fuga da responsabilidade, no fim das contas, era a fuga do sentimento da derrota.
Em 2016 eu assumi a responsabilidade de atingir a meta ousada de consumir 50 livros. Durante todo o ano, o sentimento que tomou conta de mim foi o de competitividade, só que comigo mesmo.
Foi esse sentimento que me fez traçar uma estratégia que contava com livros físicos, livros digitais no kindle e audiobooks. Foi esse sentimento que me fazia escolher livros pequenos, em determinado momento, porque sabia que ler um livro grande me tomaria mais tempo.
Eu sei… parece bobo. Mas foi durante essa trajetória que eu percebi o poder desse sentimento de competição. 50 livros é MUITA COISA. Com certeza eu avancei alguns anos em poucos meses, intelectualmente falando.
Diante do sucesso de ter atingido essa meta, eu nunca mais virei um ano sem ter metas muito bem definidas. Foi assim, desde 2016 até os dias de hoje. Todo fim de ano eu separo uma parte de Dezembro para refletir e definir minhas metas do próximo ano.
Eu sempre documentei essas metas. Enquanto eu estava preparando este texto, fui buscar esses documentos e, por sorte, encontrei praticamente todos. Tenho anotado minhas metas para o ano de 2018, 2019, 2020, 2021, 2022 e 2023.
Analisar essas metas foi uma gostosa jornada de volta ao passado. Através dessas metas, eu consegui perceber claramente a evolução da minha mentalidade como pessoa, como profissional e como empreendedor.
Eu até pensei em fazer uma análise minuciosa de cada meta de cada ano, mas o texto ficaria longo demais.
Portanto, o que vou fazer é passar rapidamente por cada ano, focando principalmente nos insights que tive olhando para a minha trajetória. A ideia é te mostrar os erros e os acertos para que eu consiga te economizar alguns anos.
O que dizem as metas dos meus últimos 6 anos
Infelizmente não tenho documentado as metas de 2017. Mas me lembro que esse foi um ano que eu não fui uma pessoa muito disciplinada. Tanto que comecei a documentar as minhas metas a partir do ano de 2018.
As metas deste ano deixam claro o início da minha preocupação com saúde. Esse foi o primeiro ano que coloquei uma meta de constância de exercícios físicos: 230 dias no ano. Consegui alcançar.
Também tinha uma meta de me alimentar dentro de uma dieta. Não consegui cumprir. Durante anos, inclusive, não conseguir fazer dieta foi uma questão pra mim. Resolvi isso há alguns anos decidindo simplesmente comer de forma saudável na grande maioria do tempo e praticando muito exercício físico e de forma regular.
Em relação ao trabalho, claramente eu estava perdido. Eu tinha acabado de abrir a Codevance e tinha várias metas. Queria prestar serviço de alocação de desenvolvedores. Queria fazer projetos in-house. Queria desenvolver um SaaS. Normal.. era o primeiro ano e eu ainda não sabia direito o que fazer.
Financeiramente, não consegui atingir nenhuma das metas. Faz sentido, pois foi o ano em que eu comecei a investir pesado em mim mesmo. Em 2018 eu fui morar sozinho e isso praticamente dobrou meu gasto mensal (preço muito pequeno a se pagar, em comparação com a evolução como ser humano que morar sozinho te trás).
Nesse ano eu já sonhava em empreender e ganhar a vida com marketing digital. Eu tinha várias metas relacionadas a crescer um blog que escrevia na época, de forma anônima. Tinha também metas de fazer alguns testes como afiliado. Nada disso foi pra frente porque, durante o ano, eu ajustei 100% do meu foco na Codevance. Sábia escolha.
Analisando as metas de 2018, fica muito claro que eu queria muita coisa e acreditava que tinha o controle absoluto sobre o que aconteceria com a minha vida. Esse foi o primeiro ano que eu resolvi assumir que não sabia praticamente nada sobre a vida e comecei a ouvir quem realmente sabia algo. Que bom!
Para 2019, eu mudei as minhas metas para serem atingidas de forma trimestral, e não mais anual. Acredito que fiz essa mudança muito influenciado pela moda do OKR, que florescia da época.
Eu tinha somente 3 metas anuais: 210 dias de exercício físico, palestrar em 6 eventos de tecnologia com um tema relacionado a Codevance e manter os gastos mensais abaixo de R$ 8k. Só consegui atingir a primeira.
A segunda meta mostra que eu entrei em 2019 bastante determinado em crescer a Codevance. A meta de palestrar em eventos refletia a ideia que eu tinha de aumentar minha autoridade e, por consequência, trazer mais contratos para a Codevance.
Não deu certo e hoje sei porque. Eu não gostava de trabalhar prestando serviço de desenvolvimento de software. O que eu queria era construir software pra mim, não para os outros. Mas não tinha clareza mental sobre isso na época.
Esse desejo fica claro com a meta de criar meu primeiro projeto no marketing digital. Essa meta eu consegui conquistar. Criei o curso Freelancer de Sucesso. O curso vendeu apenas 3 unidades, mas foi o grande responsável por me levar até o Renzo e, por consequência, pela minha sociedade da DevPro.
Esse ano, pela primeira vez, apareceu uma meta de faturamento anual. Aqui, em 2019, eu comecei a destravar a minha mentalidade em relação a dinheiro. Também, pela primeira vez, apareceu alguma meta em relação a aperfeiçoar minha capacidade em consumir conteúdos em inglês.
Além disso, seguia com metas agressivas para a Codevance. Seguia, também, querendo atirar para todo o lado.
Olhando as metas de 2020, eu percebo que comecei a assumir para mim mesmo, ainda de forma tímida e meio inconsciente, que não queria passar o resto da vida trabalhando como prestador de serviço. Já não havia meta financeira para a Codevance. Somente meta para a DevPro e uma meta pessoal.
Eu estava bastante focado em saúde. Lembro, inclusive, que eu estava muito focado no Crossfit e na dieta e fiquei muito puto quando começou a pandemia, que me impossibilitou de seguir treinando.
Essa foi a vez em que mais estava determinado a treinar e comer bem. Acho que esse fato é uma consequência da mentalidade focada em alta performance que começava a se consolidar na minha mente.
Esse também foi um ano bem focado em desenvolvimento pessoal. Segui buscando melhorar meu inglês e também comecei a estudar sobre temas mais filosóficos e menos técnicos.
Pela primeira vez, inclusive, coloquei uma meta de trabalho social. O meu objetivo era doar o que eu acreditava ser meu ativo mais valioso na época: o tempo. Essa foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Sigo fazendo até hoje.
Uma coisa que percebi, também, é que, conforme os anos foram passando, as metas seguiram ambiciosas, mas cada vez mais focadas. Quanto mais os anos passaram, menor foi a quantidade de metas.
Dá pra ver isso claramente nas metas para 2021. Menores em números e muito mais claras.
Pela primeira vez decidi operar da miopia, mas não consegui fazer. Também decidi tirar mais férias. Acho que comecei a sentir o peso do trabalho duro dos últimos anos.
Mantive o foco em saúde física e comecei a me preocupar mais com saúde mental. Tinha uma meta específica para meditação.
Mudei a meta de livros para focar em constância, e não mais em objetivo. A meta agora foi ler durante 250 dias. Ótima decisão, pois aumentei consideravelmente a quantidade de livros lidos e, ao mesmo tempo, parei de ficar escolhendo somente livros pequenos.
De novo, uma meta muito ambiciosa de grana. Importante frisar que eu não atingi praticamente nenhuma meta financeira ao longo dos últimos anos. Ainda sim, minha vida financeira tem sido confortável o suficiente. Isso se dá pelo fato das metas sempre serem muito ambiciosas. Falarei mais sobre isso no final do texto.
Essa ambição financeira também valia para a DevPro. Colocamos uma meta MUITO ambiciosa. Acabamos ficando pela metade do caminho (o que ainda sim foi ótimo, by the way). Essa constante ambição moldou nossa mentalidade como empresário.
As metas de 2022 eu lembro que saíram praticamente de forma automática. Fiz somente para cumprir tabela. Acho que isso demonstra que, pela primeira vez na vida, eu estava muito satisfeito com a minha vida, como um todo. As metas de 2022 foram praticamente uma cópia das metas de 2021.
Esse ano, pela primeira vez, eu coloquei uma meta de cultura: assistir a 50 filmes. Claramente, ao longo dos anos, eu fui entendendo o desenvolvimento pessoal como algo muito mais holístico, que envolve diversas disciplinas. Arte e cultura, com certeza, são exemplos delas.
Pela primeira vez, também, surgiu a meta de me desligar completamente da prestação de serviço. Isso não aconteceu neste ano, mas sim no ano seguinte.
Também baixei a meta de guardar dinheiro. Isso mostra que eu estava começando a entender que não dá para construir patrimônio na pessoa física e na pessoa jurídica ao mesmo tempo.
Estava começando a entender o mantra "empresa rica, dono pobre". Para comer o bolo, é preciso primeiro esperá-lo crescer. Abandonei os 50% de poupança e foquei somente em 20%. Não atingi essa meta.
Em compensação, a meta para a DevPro era bastante ambiciosa, de novo. Mal sabia eu que, naquele ano, a DevPro como a gente conhecia iria se desfazer e eu sairia do projeto.
Além disso, coloquei uma meta muito importante: me desenvolver como um líder. Eu havia entendido, finalmente, que não dá para construir nada relevante sozinho, por mais que a mentalidade de programador sugira o contrário.
Já que não dá para construir nada relevante sozinho, meu papel deixa de ser técnico e passa a ser muito bom em convencer as pessoas do porquê vai ser bom para elas trabalharem comigo e colaborar para concretizar minha visão.
2022 foi um ano bem atípico na minha vida. Eu saí da DevPro e, pela primeira vez depois de anos, eu estava "atoa", sem saber o que fazer. Além disso, minha esposa estava grávida e meu filho nasceria no fim de Novembro. Imagina como estava a cabeça…
Por isso, as metas de 2023 foram as mais simples de todas. Eu sabia que seria um ano de descobertas, tanto no lado pessoal quanto no lado profissional. Por isso, elenquei apenas metas conservadoras, com o objetivo apenas de dar manutenção nos hábitos.
Apesar disso, colocamos uma meta bem ambiciosa para o Tintim. R 100k MRR no primeiro ano. Essa meta, inclusive, dobrou com a chegada de um novo sócio. Conquistamos a meta dos R 100k em 9 meses, mas passamos longe da meta final. Ainda sim, aprendemos muito.
O que eu pude perceber analisando todas essas metas
Acho que o aprendizado mais fundamental de todos é: você precisa ter metas na vida.
Essas metas precisam ser do tipo SMART, ou seja, específica, mensurável, atribuível, realista e temporal (não vou entrar no detalhe, qualquer vídeo de 5min no Youtube vai falar mais sobre o assunto).
Uma meta é a tangibilização de um desejo, de uma vontade. Traçar e buscar uma meta acaba canalizando a sua energia em prol do que você realmente deseja. Claramente existem um Moacir antes das metas e outro depois.
Inclusive, acredito que decidir traçar uma meta é muito mais importante que conseguir conquistá-la. Ao definir uma meta, não existe a certeza de que ela será atingida. Mas, ao não definir, existe a certeza que você não trabalhará de forma inteligente e focada. Meta traz direcionamento.
Metas ambiciosas são muito mais difíceis de alcançar. Em compensação, elas elevam seu nível de exigência. A meta tem que ser SEMPRE ambiciosa, principalmente quando estamos falando de alguma novidade. Eu não alcancei praticamente nenhuma das "metas novidade" que defini ao longo dos anos. Ainda sim, tive um ótimo desempenho nelas. Se é pra errar, que erremos pra cima.
Agora, para o que não é novo e que eu quero simplesmente manter constância, eu gosto de ser mais conversador. As minhas metas relacionadas à saúde são sempre "fáceis" de se atingir, e é pra ser assim mesmo. Talvez eu nem precisasse de uma meta para exercícios físicos, dado que o hábito já está incutido no meu dia a dia. Ainda sim, definir uma meta me ajuda a não vacilar e manter a constância.
Por fim, entenda que o foco importa muito. Algo grande não se constrói do dia pra noite. Conforme os anos foram passando, eu fui diminuindo consideravelmente a quantidade e a variedade das minhas metas. Ao mesmo tempo, meu senso de realização só aumentou.
Por fim, repito: defina metas para sua vida. Faça um exame de consciência e busque identificar seus desejos. O que você quer melhorar? O que você quer conquistar? Defina uma meta e assuma a responsabilidade por esse desejo.
Tenho certeza que seu ano de 2024 será muito mais significativo e intencional se você traçar metas.
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