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A crise invisível e como o programador deve se proteger

Vivemos uma séria crise educacional. O modelo atual de ensino é arcaico e não prepara o indivíduo para encarar problemas do mundo moderno. Acredito que isso não seja novidade para você, certo?

Nossa educação prioriza somente o ensino técnico. Você sai da escola sabendo a fórmula de Bhaskara, mas sem saber os fundamentos básicos de uma negociação, por exemplo.

Mas será que a crise educacional é a única vilã do momento? Para escrever a edição de hoje, eu me peguei pensando: atualmente, quais são as habilidades mais esperadas de um profissional? e quais as mais escassas? Foi quando eu me dei conta que existe mais uma crise nos assolando: a crise de liderança.

Na edição de hoje eu quero falar um pouco mais sobre a importância de se ter uma postura de liderança na vida.

Vivemos uma crise de liderança

Semana passada eu assisti um reality sensacional, chamado "90 dias para ser um milionário". A premissa é super simples: será que um bilionário consegue sair do zero e construir uma empresa milionária em 90 dias?

Na primeira temporada do reality, o bilionário Glenn Stearns foi quem tentou a façanha. Ele foi largado em uma cidadezinha americana no meio do nada, com apenas um celular, 100 dólares no bolso e uma caminhonete velha. Detalhe: sem poder usar sua identidade real. Será que ele conseguiu?

A resposta é: não vou dizer hehe. Estou te contando isso porque, no meio do processo, aconteceram fatos super interessantes. Um deles, em especial, foi com um dos integrantes do time que Glenn montou para o ajudar a realizar a façanha.

Vou tentar explicar sem dar spoilers. Uma das estratégias do Glenn era participar de um festival local relacionado ao mercado de atuação do negócio que estava construindo. Para isso, ele montou um time de pessoas que não tinham experiência específica com festivais, mas que tinham experiência no ramo de atuação.

Esse foi, justamente, o critério que fez escolher uma das candidatas em específico. Seu nome é Christine. No processo seletivo, o trabalho dela não foi tão bom quanto o dos outros candidatos, mas, por ela ter experiência profissional, enquanto os outros eram apenas hobbystas, ela foi a selecionada.

Faz todo sentido. Estamos falando de um baita desafio: atender, pela primeira vez, o grande público de um festival. Uma pessoa com experiência prática (mesmo que não seja exatamente em festivais) vai conseguir dar conta da batida que é produzir o suficiente para vender para tanta gente em um curto espaço de tempo. (Desculpe se o texto está confuso. Eu estou tentando ser o mais genérico possível para não dar spoiler.)

Além de preparar o time para o festival, Glenn tinha diversos outros assuntos para resolver. Justamente por isso, ele a incumbiu de ficar no comando. Acontece que, na "hora do vamo vê", ela não conseguiu garantir os equipamentos necessários, não conseguiu garantir a produção necessária e, para finalizar, não conseguiu aguentar a pressão de trabalhar firme para atender a alta demanda do público e também ser cobrada por suas responsabilidades (não cumpridas). Abandonou tudo, pegou sua bolsa e foi embora. Deixou todo mundo na mão.

Estou te contando essa história para ilustrar o quão importante é ter um bom líder e quais os problemas que a falta de um podem trazer. Desorganização, retrabalho, falta de comunicação, falta de tomada de decisão, desmotivação. Tenho certeza que você já passou por algum desses problemas na sua vida profissional. Esses são problemas que acontecem sempre que não temos um bom líder cuidando das coisas.

Como eu disse no começo desta edição, eu acredito que uma das crises que vivemos atualmente é a crise de liderança. Bons líderes são um ativo raríssimo no mercado e, portanto, super escassos.

Não tenho a pretensão de fazer uma análise filosófica e nem antropológica do porque esse fenômeno acontece. Mas tenho algumas pistas que podem ser que façam algum sentido.

Somos uma geração que não quer assumir responsabilidades. Faz sentido, afinal, como assumir responsabilidades em um mundo completamente incerto?

Nossos avós, quando tinham 20 anos de idade, sabiam que o ideal de uma vida perfeita seria encontrar um bom emprego, casar, ter filhos, trabalhar durante 30 anos no mesmo lugar para conseguir comprar uma boa casa, um bom carro e encerrar sua carreira com uma boa aposentadoria. Não havia muitas escolhas.

Hoje em dia, não. O jovem de hoje não sabe o que estudar e, muito menos, em qual profissão vai aplicar esse estudo. Conheço várias pessoas que não atuam na sua área de formação.

Casamento? Vale a pena casar? Os pais de todos os meus amigos (inclusive os meus) são divorciados. Se aposentar, então? Esquece. O jovem que confia que um dia vai se aposentar pela previdência pública ou é louca, ou inocente.

Num mundo de tantas incertezas, realmente é muito mais difícil assumir responsabilidades. As garantias, que antes eram um pouco mais claras (ainda que ilusórias) não existem mais. Some a isso, também, o fato de vivermos na era das redes sociais. Além da incerteza da nossa vida pessoal, nos deparamos diariamente com a aparente certeza de que a vida dos outros é perfeita. Na busca pela perfeição, fica ainda mais difícil assumir algum tipo de responsabilidade, afinal de contas, não podemos errar.

Zygmunt Bauman é um filósofo polonês que definiu um termo legal para esse fenômeno: modernidade líquida. Esse é o modelo de relações sociais volátil e instável no qual vivemos.

Na modernidade líquida, as relações pessoais são superficiais e não duram muito tempo, diferentemente do que acontecia antigamente. Segundo Bauman, a gente vive em um mundo incerto, onde tudo muda rapidamente, como empregos, relacionamentos e amizades. É na filosofia dele que estou embasando essa minha análise.

E o que tudo isso tem a ver com a crise de liderança que vivemos? Simples: a postura fundamental de um líder é assumir responsabilidades. Sem pessoas capazes de assumir responsabilidades, não temos líderes.

Uma questão de perspectiva

Olhando assim, parece que essa crise é um problema, mas eu te digo que tudo é uma questão de perspectiva.

De fato, coletivamente falando, isso é péssimo. Uma sociedade sem líderes é uma sociedade apática, sem a capacidade de se autogerir. Num cenário desses, a tirania do Estado possui terreno fértil para avançar e cada vez mais controlar nossas vidas.

Agora, quando falamos do ponto de vista do indivíduo, isso é uma ótima oportunidade.

Uma das minhas missões com essa newsletter é ajudar você, meu caro leitor, a desenvolver uma visão mais estratégica e empreendedora. Para isso, é necessário ter uma visão mais pragmática do mundo.

Ok. Vivemos uma crise de liderança. O primeiro passo é aceitar esse fato. O segundo passo é entender que, se o ato de reclamar tivesse algum efeito prático no mundo real, o jovem twitteiro teria alguma utilidade na vida. Ele não tem. Diante desse cenário, o que fazer então?

Simples: arregaçar as mangas e usar a boa e velha fórmula de geração de valor: resolver o problema. Ou seja, desenvolver em si mesmo uma postura de liderança.

É claro que você, sozinho, não vai conseguir resolver todos os problemas de falta de liderança do mundo. Mas vai, sim, conseguir resolver parte dos seus problemas e dos problemas dos que estão à sua volta.

O primeiro passo para desenvolver uma postura de liderança é entender que um líder deve estar sempre conectado com o objetivo.

Comece a fazer perguntas para entender o contexto. Para entender mais sobre o projeto que participa, faça perguntas como "por que essa feature precisa ser construída?", "por que devemos corrigir esse bug?", "por que NÃO devemos corrigir aquele bug?".

Entender o porquê devemos fazer o que fazemos é o primeiro passo para se conectar com o objetivo.

(dica: no caso da nossa profissão, o objetivo quase sempre está conectado com alguma métrica financeira ou de alto impacto.)

Em seguida, um líder entende que ele precisa ocupar os espaços. Um bom líder é como a água, ou o ar, que se comportam de forma fluida e vão preenchendo todos os espaços disponíveis.

O que isso significa na prática? Significa enxergar e aproveitar as oportunidades. Sempre que você enxergar uma oportunidade de liderar, lidere!

Apareceu um problema na sprint? Assuma a responsabilidade de resolver. Um colega está com dificuldade? Assuma a responsabilidade de ajudá-lo. O time de operações está com dificuldade de automatizar certas partes do trabalho? Assuma a responsabilidade de entender o problema e criar um script.

A proatividade é um dos ativos mais importantes de um líder. Além disso, essa também é uma das habilidades mais importantes para quem deseja desenvolver uma visão mais estratégica.

Um bom líder também entende o valor de ajudar os menos experientes.

E não pense que aqui estou falando puramente de altruísmo, fazer o bem ao próximo ou todo um papo colorido. Sem dúvidas, essa é uma das partes que envolve ajudar os colegas, mas tem mais que isso.

Primeiro é importante dizer que, ao ensinar, você aprende duas vezes. O ato de ensinar nos faz, primeiro, revisar o conteúdo mentalmente. Esse reforço ajuda a encontrar e completar possíveis brechas no nosso aprendizado, além de fortalecer o conteúdo aprendido.

Ao ensinar você também está praticando uma das habilidades fundamentais para ser um bom líder: sua capacidade de comunicação.

Mas, o principal motivo de ajudar o próximo é despertar no outro um sentimento de gratidão. Essa é a base para a construção de um bom networking.

Ajudar o próximo é o ato altruista mais egoísta que conheço. Vale a pena tentar.

E, por fim, entenda que ter responsabilidade é responder pelo resultado esperado.

Ser responsável por uma entrega, ou por resolver um problema, não necessariamente significa que deva ser você quem vai meter a mão na massa. Encontrar alguém que resolva o problema, por exemplo, também funciona. Um líder é responsável pelo resultado, e não pela execução.

Além disso, o superior de um líder não espera que esse líder o traga problemas, mas sim soluções.

Isso não significa que você não deva compartilhar seus problemas com seus superiores. O ponto é que, um bom líder entende que ele é responsável por resolver o problema. Leve o problema, mas, principalmente, leve como você está pensando em resolver esse problema. Ou, principalmente, por que você está com dificuldades.

Essa é a melhor forma de pedir ajuda. Um bom líder sabe pedir ajuda.

Ser líder está muito mais relacionado à postura do que ao cargo.

De fato, não foram todas as pessoas que nasceram para serem grandes líderes. O autoconhecimento é peça fundamental para um bom desenvolvimento profissional e também pessoal.

Mas é preciso entender que, por mais que nem todos sejam líderes natos, todos PRECISAM assumir responsabilidades. Uma vida em sociedade demanda isso de seus indivíduos. Essa é a condição humana que nos fez chegar até aqui.

Experimente ir adotando, aos poucos, uma postura de liderança. Pode até doer num primeiro momento, mas com certeza vai te fazer muito bem.

Ao menos uma pessoa eu tenho certeza que você vai conseguir liderar: você!


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Além disso, pretendo também compartilhar outras coisas, como um pouco dos bastidores da construção de um negócio SaaS, as minhas opiniões e meus aprendizados. A ideia geral é ser uma documentação pública e estruturada dos meus pensamentos e aprendizados ao longo dos anos.

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Hoje em dia textões não fazem muito sucessso, muitos não tem paciência de ler. Mas não todos!
Ótimo texto que abre o leque de capacidades de um profissional de desenvolvimento de software para abraçar mais soft-skills, e se tornar mais completo não apenas profissionalmente, mas como pessoa.
Desenvolvedores que enxergam além da programação ganham mais valor pois entendem bem como levar um time ao sucesso, entendendo tanto quem pede a demanda quanto quem executa a demanda.

Parabéns pelo texto bem desenvolvido.

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