Como consegui um emprego na Holanda como Desenvolvedor
Vamos lá, quero compartilhar com vocês como que eu me preparo para uma entrevista de emprego e como isto me ajudou a me recolocar no mercado após falhar na minha última jornada empreendedora (again).
Então, se tu ta buscando uma oportunidade de trabalhar no exterior, ou até mesmo no Brasil, esse post é para você.
Contextualizando, hoje estou trabalhando na Holanda como Senior Android Engineer na Disney Streaming Services / HQ Amsterdam, mas, me mudei para Holanda em 2018 para trabalhar em uma Startup chamada Speakap e como não tinha um passaporte Europeu eu tive que aplicar pra minha permissão de residência na Holanda.
Para coletar essa permissão é preciso estar na Holanda, e como brasileiro para estar aqui o primeiro passo é conseguir um visto de permanência temporária, ou também chamado de visto de longa duração (porque o vencimento é maior que os 90 dias do visto de turista). Você encontra facilmente informação sobre este visto pesquisando por MVV.
Então, como fiz para solicitar um cartão de residência e um MVV?
Da pra fazer isso de 2 maneiras: através de um patrocinador nos Países Baixos ou pessoalmente em uma embaixada neerlandesa. E tu pode solicitar o teu cartão de residência e o MVV ao mesmo tempo.
No meu caso, eu fiz através de um patrocinador. Então, eu consegui um emprego antes de vir, e a empresa fez a solicitação do MVV e da permissão de residência pra mim. O tipo de solicitação que ela fez foi de Highly skilled migrant.
Aqui na Holanda eles vão avaliar se você é highly skilled ou não pelo cargo e salário que você vai receber. A empresa que vai te contratar só vai conseguir te trazer pra cá se ela comprovar pro sistema de imigração da Holanda que você é qualificado.
Falando da comprovação de Highly skilled
No meu caso, como trabalho na área de tecnologia, não é nem preciso ter um diploma para exercer a profissão por aqui. Basta encontrar uma empresa que esteja buscando um profissional especialista e passar nas entrevistas.
Eu mesmo vergonhosamente nunca fui buscar meu diploma na faculdade.
Esclarecendo que isto vai depender de profissão pra profissão. Eu estou falando do meu caso.
Porém, mesmo que você não seja um programador(a) ou trabalhe na área de tecnologia, algumas dicas que eu vou falar agora são de anotações que fiz baseado na experiência de buscar um emprego, qualquer que seja ele.
Nivel de Inglês
A primeira coisa que tive que fazer antes de procurar emprego na Europa, e achar esse patrocinador foi aperfeiçoar o meu inglês. Não é preciso falar holandês pra vir morar na Holanda, mas é preciso ter um bom nível de inglês.
É neste momento que a gente percebe que saber falar inglês não é um item do currículo, não é um diploma ou algo que tu só vai colocar como atributo num pedaço de papel. Não é aquele velho conselho de: “aprenda inglês pra ser mais competitivo”, “vai ser bom pro teu currículo”. — BULLSHIT!
Saber se comunicar é a única coisa que importa!
Um dos momento mais frustrantes de procurar uma vaga no exterior é quando tu não consegue expressar o teu entusiasmo pela oportunidade, quando não consegue compartilhar histórias, experiências. Eu fracassei em vários testes por não saber me comunicar em inglês.
Perguntas simples, mas ao mesmo tempo difíceis de responder em uma língua não nativa:
- como era o seu ultimo empregador?
- conta uma historia de conquista interessante no seu ultimo projeto?
- como você se imagina em cinco anos?
- o que mais te atraiu nessa oportunidade?
Não conseguir responder as perguntas acima (perguntas reais), porque o meu vocabulário se limitava a: very good, awesome, I think it’s a great opportunity.
Foi após rodar em 4 entrevista por não saber me expressar e compartilhar o quanto eu sou bom que decidi me preparar melhor para as entrevistas. Quando digo me preparar, não é só treinar o inglês, mas sim de fato treinar as perguntas que eu poderia receber. Desenvolver no papel uma linha de raciocínio para explicar minhas experiências. Praticar isto no banho, gravar em áudio e treinar a forma de falar, os gestos e passar uma boa energia.
Quando tu ta inseguro com o que vai falar em inglês, tu não consegue passar a energia pro entrevistador. E insegurança a gente enfrenta com pratica não coragem. A coragem vem pra fazer a primeira vez, mas a segurança vai vir na repetição do sucesso. Então é treinar, repetir, várias vezes até que você se sinta confortável.
E a partir deste momento você vai começar a passar a energia que é preciso em uma entrevista de emprego.
HeadHunter
A segunda coisa que me ajudou muito foi achar um HeadHunter de qualidade. Head Hunter é uma pessoa ou empresa que ajuda outras empresas a encontrar profissionais especializados. É um recrutador basicamente, que não é funcionário da empresa que tem a vaga de emprego em aberto.
O Head Hunter que me ajudou me apresentou para várias empresas. Ele fez uma primeira entrevista comigo, analisou meu currículo e a partir daí filtrou empresas com vagas em aberto que tinham "fit" comigo.
Esse recrutador só recebe algo se você conseguir o emprego, pois normalmente a empresa que vai te contratar paga um % do seu salário para ele. Isto não vai sair do que você vai ganhar, é uma comissão que o empregador paga direto para ele.
Então se esse cara for bom e gostar de você, ele é um dos mais interessados no seu sucesso! No meu caso o Head Hunter também me ajudou nas pré-entrevistas.
Antes das entrevistas ele sempre me ligava para que eu pudesse falar em inglês com ele, e assim poder praticar. A Holanda estava 4 horas na frente do Brasil naquele período, e quase sempre as entrevistas aconteciam bem cedo.
Ele me ligava meia hora antes, para meu o cérebro ligar o inglês, dar aquele arranque inicial. E também para falar um pouco da empresa que iria me entrevistar.
Formato das entrevistas que tive
Aqui no exterior você provavelmente vai fazer 3 entrevistas com a mesma empresa por Skype, antes deles te trazerem para um teste presencial. Em cada entrevista você vai ser abordado por um tópico: Perfil (RH ou Fundadores), Técnico (com equipe que você vai trabalhar junto), aí eles vão te aplicar um teste remoto e você fará a terceira entrevista para falar sobre as decisões que tomou no teste técnico.
Após as 3 entrevistas e o teste remoto, eles provavelmente vão pagar uma viagem para Holanda (no meu caso Amsterdam), onde você vai fazer a entrevista presencial. No meu caso eu tive que trabalhar com o time por dois dias para eles avaliarem se eu era o cara certo para a vaga. A minha experiência foi incrível, gostei muito destes dois dias.
Adaptar o CV
Terceiro ponto da preparação para conseguir um emprego de especialista no exterior é adaptar o seu currículo.
Três pontos que eu acredito serem fundamentais e que julgo importantes para você ter conhecimento.
— Muitas empresas de recrutamento ou setores de RH de empresas que contratam com sua própria equipe utilizam sistemas de análise de curriculo. Como se fosse um robo que faz um pré-filtro. Então, o seu CV tem que estar bem formatado para esses sistemas conseguirem extrair as tags necessárias.
Coloca no Google CV Analyzer ou CV Scanner.
Se mostre como um "achiever", não um "doer".
O que isso significa: escreva suas experiências mostrando o que você concluiu ou realizou e não a função ou tarefas que você fazia. Você não precisa mentir sobre suas experiências, mas sim saber expor elas de uma maneira mais clara e harmônica. Aqui na Europa eles gostam muito de ver os teus resultados, pois a parte mais técnica eles vão testar nas provas práticas de qualquer forma.
Não ultrapasse 2 folhas.
Se você tá ultrapassando significa que não tá focando nas informações relevantes, e o excesso vai jogar contra você. Tu vai ser aquele cara do CV que não coube em uma folha frente e verso. E isto passa um sentimento ruim para o entrevistador, principalmente holandês que tem uma cultura de ser prático.
Só ultrapasse 2 folhas se de fato você tem muita experiência relevante para o cargo exato que está buscando aqui.
Último ponto que pode causar um desconforto se é a primeira ou segunda ou terceira vez que você passa por um processo seletivo no exterior: as provas práticas são difíceis, maçantes. Principalmente se você é programador(a) ou trabalha na area de TI em geral.
Essas entrevistas são conhecidas como de "Whiteboard”. Para me preparar para esse tipo de entrevista eu dei uma lida em alguns livros, e também procurei em sites como Glassdoor, Stackoverflow por pessoas compartilhando suas experiências.
Eu treinava em casa respondendo os testes mais comuns e anotava tudo em um bloco de notas no computador. Deixei esse bloco de notas sempre do lado da janela do Skype :)
Mas, chegou um momento que eu parei de estudar pra testes de whiteboard e só esperei a empresa certa aparecer. E ela apareceu. A empresa que me trouxe pra cá, o meu sponsor, não fez nenhum testes bullshit comigo.
Mas eu rodei em 4 de 5 entrevistas no ano passado até encontrar a empresa certa. E nesta que tive a sinergia e consegui passar o meu entusiasmo, fez eu me apaixonar por ela pelo processo de seleção deles 👌
Dica Extra
O processo de seleção não é somente da empresa para você, ele é também de você para a empresa. Então, se tu tá buscando uma oportunidade de emprego em outro continente, além do salário e da carreira, a decisão passa a ser de vida. Escolha sabiamente o seu sponsor pois ele vai ser o maior facilitador da sua vida aqui no exterior.
Se eu puder ajudar, estou por aqui.
Um abraço, e até a próxima!
Fonte: https://youtu.be/dEBt0DU1tMk