Desafios que Enfrentei ao Migrar Arquiteturas para Microserviços (E Por Que Valeu Muito a Pena)
É polêmico, mas vou dizer logo de cara: muita gente exagera quando fala em microserviços. Parece que, para alguns times, microserviços são a solução para todos os problemas, o que, claro, não é verdade. Por outro lado, quem decide embarcar nesse caminho sem uma estratégia sólida também está se arriscando a cometer erros que podem custar caro. Passei por essa transição, e os desafios foram grandes. Mas, apesar dos erros iniciais e das dúvidas ao longo do processo, posso afirmar com segurança: valeu muito a pena.
Erro Comum: Planejar Micros Antes Mesmo de Entender o Problema
Vou ser direto: o maior erro que cometemos no início foi tentar prever quais microserviços seriam necessários antes de realmente quebrar o monolito. A ideia parecia brilhante. "Vamos desenhar tudo com calma para garantir que nada será esquecido". Na prática, gastamos tempo criando bases de micros que nem sequer foram usadas. Isso é um exagero que vejo se repetir em muitas empresas. A migração para microserviços é sobre dividir e conquistar, mas você só sabe o que precisa ser dividido quando está com as mãos no código e entende as dores reais do sistema monolítico.
Apesar disso, esse erro trouxe algo positivo. Como criamos uma base antecipada de micros, acabamos "amadurecendo" a equipe para o momento em que a migração real começou. A prática foi importante para termos um melhor controle de processos quando estávamos no calor da transição.
Momento Crítico: Quando Tudo Desmoronou
Seis meses após o início do projeto, ainda estávamos com o monolito funcionando, e os microserviços ainda não tinham entrado em produção. Tudo parecia tranquilo, até que a empresa decidiu lançar uma campanha promocional que levou a um pico de acessos inesperado. O que aconteceu? O monolito simplesmente não aguentou a demanda e caiu. Nesse momento, a grande dúvida surgiu: "Será que a migração vai mesmo resolver isso?".
Olha, naquele dia, se tivéssemos microserviços em produção, alguns sistemas teriam caído? Provavelmente sim. Mas essa queda teria sido limitada a uma pequena parte do sistema, em vez de derrubar o ambiente todo. Foi nesse momento que percebemos, de forma muito clara, a vantagem de uma arquitetura descentralizada e como ela poderia garantir uma estabilidade que o monolito jamais conseguiria oferecer.
Os Benefícios que Transformaram Nossa Arquitetura
Após a migração de 70% dos micros, posso dizer que o impacto positivo foi maior do que esperávamos. Vou listar aqui alguns dos benefícios mais significativos que observamos:
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Escalabilidade Focada: Um dos maiores problemas com monolitos é que eles exigem que todo o sistema seja escalado, mesmo que o gargalo esteja em apenas uma parte dele. Com os microserviços, pudemos escalar apenas os serviços que realmente precisavam. Isso reduziu os custos e otimizou o uso de recursos de forma massiva.
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Resiliência e Alta Disponibilidade: Como mencionei, antes tínhamos um sistema que, ao falhar, derrubava tudo. Agora, com microserviços independentes, cada serviço pode falhar isoladamente sem comprometer a operação geral. Nosso uptime aumentou consideravelmente, e mesmo em cenários de alta carga, conseguimos manter a operação rodando com estabilidade.
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Desempenho: O ganho de desempenho foi outro aspecto notável. Nossas APIs, que antes sofriam com a complexidade do monolito, agora respondem em menos de 100ms. Isso se deve não só à divisão do sistema, mas também à capacidade de otimizar cada serviço de forma independente, aplicando padrões de arquitetura específicos para cada necessidade. Este é um dos maiores ganhos que não tínhamos previsto em toda sua magnitude.
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Ciclo de Deploys Mais Ágil: Outra vantagem que vale a pena mencionar é a independência de deploy. Antes, qualquer mudança no sistema exigia um deploy massivo do monolito, o que muitas vezes atrasava o time-to-market de novas features. Com microserviços, podemos fazer deploys independentes, reduzindo o tempo para entregar novos recursos e correções. Isso gerou uma flexibilidade incrível para a equipe de desenvolvimento.
Desafios que Persistem
Nem tudo são flores, claro. O gerenciamento de micros é uma complexidade à parte. A comunicação entre serviços exige um esforço para garantir consistência e resiliência. É aí que muitos times se perdem, porque os microserviços introduzem uma nova camada de complexidade operacional. Monitoramento, observabilidade e tracing são peças fundamentais que precisam estar no lugar desde o início, ou você corre o risco de ter um sistema ainda mais difícil de manter do que o monolito original.
Se você está considerando migrar para microserviços, é essencial entender que o caminho não será fácil. Haverá erros, desafios e momentos de dúvida. Mas, quando bem implementado, o impacto positivo é inegável. No nosso caso, o aumento de performance, escalabilidade e resiliência mostrou que, apesar dos obstáculos, a transição valeu muito a pena.
Se você quiser se aprofundar nos padrões de arquitetura que utilizamos para atingir tempos de resposta tão rápidos ou quer saber como garantir uma migração sem traumas, acompanhe meus próximos posts aqui no TabNews. O caminho não é simples, mas com as estratégias certas, pode ser transformador.
Agradecimentos Especiais, essa migração não seria possível sem a contribuição essencial de algumas pessoas da equipe. Quero deixar um agradecimento especial para:
Bruno Santana, que puxou todo o time para fazer a migração e definiu as diretrizes que nos guiaram durante todo o processo.
Daniel Useler, que assumiu a responsabilidade de micros críticos e entregou com maestria cada um deles.
Jieff Cavalcanti, que trouxe ótimas ferramentas e padrões de projeto.