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A analogia dos quiropraxistas e como você não é tudo isso

Te desafio a selecionar 3 quiropraxistas na sua região e realizar de 3 a 4 consultas com cada um deles; Realizar as 3-4 consultas antes de iniciar o tratamento com o próximo profissional; Anotar o máximo que puder sobre o prognóstico que relatarem e sobre o progresso do seu tratamento; detalhe, você jamais pode mencionar que se consultou com um profissional da área.

Caso você tenha condições de realizar esse experimento, volte aqui e me diga se seu relato se parece com esse resumo:

Toda primeira consulta, o quiropraxista vai analisar sua postura e verificar se sua pisada está desalinhada e vai avaliar o alinhamento da sua coluna e dizer que você está todo torto; toda consulta ele vai te comunicar um progresso; E o processo vai se repetir com todos eles.

Não tenho a intenção de dizer que o procedimento funciona, ou não funciona, e nem que esse tipo de comportamento acontece só com a quiropraxia, mas é aí que está o ponto central deste texto.

Desde meu início na programação, não só pratiquei, mas vi praticarem análises "super especializadas" que mais estavam alinhadas com uma visão limitada de mundo. Ou vai dizer que você nunca ouviu um

"Vamos refazer usando (qualquer coisa da moda)..."

;ou

"A pessoa que fez isso aqui tem que ser muito burra pra ter feito desse jeito. Eu teria feito melhor (confia)";

;ou ainda mais próximo da minha anedota:

"(analisando o código alheio) Hummm, esse problema de performance a gente resolve com microserviços"

Conforme fui amadurecendo e trabalhando com cenários de alta escala, e a resolver bugs em produção que representam alto impacto financeiro e de imagem, fui perdendo aquela aura de "especialista sabe tudo" e comecei a entender meu papel como programador. É muito fácil cair na armadilha da egotrip, quando você trabalha com pessoas que apresentam esse mesmo tipo de comportamento e que alimentam a ideia de que "você é foda", mesmo sem ser.

Toda demanda que chega: "É fácil"; mas o tempo passa e nada é entregue com consistência.

Eu poderia abordar vários aspectos que criam esse efeito, mas acredito que o maior deles, é a crença de achar que tudo que você sabe é o que existe. É não saber o que não se sabe e realmente acreditar que não há mais nada a ser aprendido. É não reconhecer profissionais que sabem mais que você, e de fato ouví-los, e aprender com eles.

Tem um texto do Erik Dietrich, o "How Developers Stop Learning: Rise of the Expert Beginner", que explora um perfil de profissional chamado por ele de "Iniciante Especialista" que em suas palavras (tradução livre):

Ao considerar o modelo Dreyfus, você notará que, ao longo do tempo, há uma tendência de ser fortemente orientado por regras e não ter compreensão do quadro geral, para ser extremamente intuitivo e compreender totalmente o quadro geral. O estágio Iniciante Avançado é o último em que o adquirente da habilidade não tem compreensão do quadro geral.
Como tal, é a última fase em que o adquirente pode confundir-se com um Especialista. Um Competente tem muito controle sobre o cenário geral para se confundir com um Especialista: ele sabe o que não sabe. Isso não é verdade durante a fase Iniciante Avançado, uma vez que Iniciantes Avançados estão na extremidade “não qualificada” do Efeito Dunning Kruger e tendem a resumir a noção de que “se eu não entendo, deve ser fácil”.
Como tal, os Iniciantes Avançados podem avançar de duas maneiras: podem passar para Competente e começar a compreender o panorama geral e o seu lugar nele, ou podem “graduar-se” para Iniciante Especialista, assumindo que se graduaram para Especialista.

Recomendo a leitura do texto na íntegra, e se possível, compre o livro.

A lição que fica é: Seja mais profissional, busque entender o seu lugar e seja sobretudo competente de verdade.

Isso vai exigir muito estudo, paciência, experiência prática com problemas reais, e ter ao seu lado pessoas melhores que você.

Não tem haver com se diminuir, mas sim entender suas limitações, pois em um cenário aonde há profissionais realmente especialistas, você vai passar vergonha se falar mais do que for capaz de fazer.

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Excelente observação!

Recentemente, tenho refletido sobre algo semelhante:

Quando dei meus primeiros passos na área da tecnologia, adotava essa mesma abordagem: ao receber uma tarefa, gastava tempo analisando, criticando e sugerindo melhorias. Muitas vezes, acabava tentando recriar o processo do zero na esperança de aprimorá-lo. O resultado? Perdia tempo reinventando a roda e enfrentando os mesmos obstáculos que outros já haviam superado.

Agora, aprendi a me concentrar na resolução direta dos problemas. É válido expressar sugestões de melhoria, mas percebi que simplesmente oferecer uma visão de como eu faria as coisas não resolve necessariamente o problema; isso é apenas ser um "engenheiro de obra pronta".

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Agradecido, Abner ;)
Essa é uma armadilha que costuma pegar principalmente aquele profissional que está começando a ganhar performance fazendo tarefas mais gerais, e que começa a ouvir elogios como: "Tu é rápido hein"; "Você é foda".
E antes de atingir um grau alto de competência, pra subir de nível, é pego na crença de que realmente é muito foda. Desse ponto em diante, fazer o caminho de volta pra se tornar competente, se torna mais difícil.
Recomendo muito a leitura do texto que mencionei. Há muito mais lá do que o que consegui expressar no meu texto.

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Perdoe-me meu Winnie the Pooh Bear sized brain, mas eu não consegui entender a relação entre falácias quiropraxianas e achar que "tudo o que você sabe é o que existe". Sei que a relação é bem clara na sua mente e certamente outras pessoas a entenderam muito bem, mas infelizmente, eu não a entendi, pode clarificar para mim? Muito obrigado.

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A lógica está no fato de que todo pseudocientista, sempre se porta como especialista, e acredita que o que faz realmente funciona (porque aquilo é tudo que ele conhece e acredita).
Ao sugerir a experiência, quero apenas escancarar como todos que se portam assim, no fim do dia, não estão entregando nada de valor concreto. Aliás, como pode na sua primeira consulta com o terceiro profissional, você ouvir exatamente o que o primeiro profissional disse? quer dizer, nada mudou depois de passar por outros 2 profissionais?
Uso essa lógica como pano de fundo pra discutir como isso está presente na área de tecnologia e o quanto isso te atrasa profissionalmente.
Já fiz muito isso e hoje tento ao máximo ser mais coerente com a realidade.
Talvez a forma como apresentei o exemplo anedótico não tenha sido a melhor, mas espero que agora Eu tenha sido capaz de expressar a ideia que Eu gostaria.
Abraço, Thalysson.

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Conseguiu sim, entendi. Mas agora se foi citada a atitude que não devemos ter, o que ser então? Ao encontrar aquelas situações que geraram aqueles comentários típicos que você descreveu em seu artigo, como devemos nos portar?

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A definição de como devemos nos portar se encontra tanto no texto do Erik Dietrich, quanto logo após o mesmo.

No texto do Erik é dito logo no final:

Como tal, os Iniciantes Avançados podem avançar de duas maneiras: podem passar para Competente e começar a compreender o panorama geral e o seu lugar nele, ou podem “graduar-se” para Iniciante Especialista, assumindo que se graduaram para Especialista.

E logo após o fim do texto, temos a parte que diz:

A lição que fica é: Seja mais profissional, busque entender o seu lugar e seja sobretudo competente de verdade.

Colocando de um lado a analogia do quiropraxista e do outro o real comportamento que devemos manter, seria fatídico acreditar que para não sermos um quiropraxista como o citado (que se porta como especialista mas no fim não entrega nada de valor concreto) devemos compreender o contexto como um todo, nos colocarmos em nosso próprio lugar e admitir que nunca iremos entender o contexto como um todo.