Como usar e criar Annotations em Kotlin - Spring Framework
Este é um guia que crie para auxiliar na criação de annotations customizadas no Spring Framework utilizando Kotlin
Trabalhando com Spring, uma das primeiras coisas que se nota é a quantidade de annotations que precisamos utilizar. Sendo que elas têm a finalidade de fornecer informações adicionais tanto para o compilador quanto para o Spring Framework, indicando como lidar com determinadas classes, métodos ou propriedades.
Como exemplo temos o @Service, @Controller, @Component e dentre várias outras comumente utilizadas. Mesmo com um grande número de anotações disponíveis por padrão pode ser interessante criar a sua própria, nesse artigo vou explicar um pouco sobre como criar e utilizar anotações em Kotlin.
Repositório projeto de exemplo
Todos esses exemplos podem ser encontrados no seguinte repositório no GitHub: https://github.com/jjeanjacques10/annotations-kotlin-spring-boot
Pondo a mão na massa 👨🏻💻
Para isso vamos criar uma nova aplicação Spring Boot para realizar o cadastro de livros. Vamos começar adicionando o seguinte controller, observe que estou utilizando o @Valid, essa annotation é utilizada para validar os dados de entrada de uma requisição, sem ela as próximas configurações na classe BookRequest não funcionarão.
import javax.validation.Valid
@RestController
class BookController {
@PostMapping("/book")
fun create(@Valid @RequestBody book: BookRequest): BookRequest {
return book
}
}
Utilizando anotações de validação do Spring
Um dos usos mais comuns quando trabalhamos com API's Rest é validar os dados de entrada enviados pelo usuário. Para isso podemos importar a lib javax.validation.constraints
, nela temos várias anotações que podem ser utilizadas para validar os dados de entrada. A classe BookRequest representa os dados de entrada que serão enviados pelo usuário.
import javax.validation.constraints.NotBlank
data class BookRequest(
@field:NotBlank
val title: String? = ""
)
Nela temos o atributo title que possui acima dele o @NotBlank, essa annotation indica que o atributo não pode ser nulo e nem vazio. Temos diversas possibilidades quando utilizamos essa lib de validação, seguem as principais:
- @NotNull - Indica que o atributo não pode ser nulo
- @NotEmpty - Indica que o atributo não pode ser nulo ou vazio
- @NotBlank - Indica que o atributo não pode ser nulo ou vazio e não pode conter apenas espaços em branco
- @Size(min = 1, max = 10) - Indica que o atributo deve ter no mínimo 1 e no máximo 10 caracteres
- @Email - Indica que o atributo deve ser um email válido
- @Pattern(regexp = "^[a-zA-Z0-9]*$") - Indica que o atributo deve seguir o padrão regex informado
Importante: Passei um tempo quebrando a cabeça por não saber que no caso de validações em Kotlin precisamos utilizar o @field: para que a anotação seja aplicada ao atributo
Por baixo dos panos 🕵🏼♂️
Vamos olhar um pouco mais fundo para entender como que essa flag com @ na frente funciona. Quando utilizamos uma annotation em Kotlin estamos utilizando uma feature chamada reflection, que basicamente permite que o código acesse informações sobre si mesmo em tempo de execução. Com isso podemos acessar informações sobre classes, métodos, atributos e etc.
Se entrarmos em uma das anotações do Spring, como por exemplo a @NoEmpty
, podemos ver que ela é uma interface que herda de @Constraint, @Target e @Retention.
@Constraint(validatedBy = {})
@Target({ElementType.METHOD, ElementType.FIELD, ElementType.ANNOTATION_TYPE, ElementType.CONSTRUCTOR, ElementType.PARAMETER, ElementType.TYPE_USE})
@Retention(RetentionPolicy.RUNTIME)
public @interface NotEmpty {
...
}
Existem mais anotações que compõe NotEmpty, mas para fins didáticos não vou entrar em detalhes.
@Target especifica os tipos possíveis de elementos que podem ser anotados. Os valores possívies são:
- CLASS: Pode ser aplicada em classes, interfaces e enums.
- FUNCTION: Pode ser aplicada em funções e construtores.
- PROPERTY: Pode ser aplicada em propriedades de classes.
- FIELD: Pode ser aplicada em campos de classes.
@Retention especifica se a annotation é armazenada nos arquivos de classe compilados e se ela é visível por meio de reflection em tempo de execução (por padrão, ambas são verdadeiras). Existem três possíveis valores para essa propriedade:
- SOURCE: É descartada pelo compilador e não está presente no bytecode gerado.
- CLASS: É mantida no bytecode, mas não está disponível em tempo de execução.
- RUNTIME: É mantida no bytecode e também está disponível em tempo de execução.
Esse é o básico de como funcionam as configurações das principais annotations no Spring. Vamos agora ver como podemos criar nossas próprias aplicando esses conceitos.
Criando uma annotation customizada
Mas não apenas do padrão vive o dev, às vezes nossos projetos pedem por comportamentos específicos que o framework não está apto a fornecer. Nesse caso podemos criar nossas próprias annotations, vamos então adicionar a validação se o gênero do livro é válidos.
Como comentado anteriormente, precisamos ter o @Target, que nesse caso será FIELD, pois queremos que apenas seja utilizada em atributos de classes. Também precisamos do @Retention, sendo ele definido como RUNTIME, já que esse tipo de validação é feita em tempo de execução. E por fim, a mais importante, a annotation @Constraint, nela que definimos a regra de validação que será utilizada.
import javax.validation.Constraint
import javax.validation.Payload
import kotlin.reflect.KClass
@MustBeDocumented
@Target(AnnotationTarget.FIELD)
@Retention(AnnotationRetention.RUNTIME)
@Constraint(validatedBy = [GenreValidator::class])
annotation class Genre(
val message: String = "O gênero do livro é inválido",
val groups: Array<KClass<*>> = [],
val payload: Array<KClass<out Payload>> = []
)
Definimos na annotation @Genre três parâmetros: message, groups e payload. O primeiro é a mensagem de erro que será exibida caso a validação falhe, o segundo é um array de classes que podem ser utilizadas para agrupar validações e o terceiro é um array de classes que podem ser utilizadas para definir payloads customizados. Vamos preencher apenas a mensagem de erro, pois os outros parâmetros não serão utilizados nesse exemplo.
enum class GenreType {
FANTASY,
SCI_FI,
ROMANCE,
MYSTERY,
HORROR,
THRILLER,
NON_FICTION
}
class GenreValidator : ConstraintValidator<Genre, String> {
override fun isValid(value: String?, context: ConstraintValidatorContext?): Boolean {
if (value == null) false
return try {
GenreType.valueOf(value!!)
true
} catch (e: IllegalArgumentException) {
false
}
}
}
A lógica da constraint se encontra na classe GenreValidator, nela apenas verificamos se o valor do atributo está presente na lista de GenreType, caso não esteja ele retornará que esse valor é inválido. Agora vamos aplicar essa annotation na classe BookRequest.
data class BookRequest(
@field:Genre
val genre: String
)
Testando a annotation customizada
Agora com nossas annotations criadas vamos testar se elas estão funcionando corretamente. Quando realizamos uma chamada na API com um gênero inválido o retorno será 422 Unprocessable Entity.
Também podemos retornar uma lista com diversos erros, como por exemplo, quando o título do livro é nulo e o gênero é inválido:
Ao realizar a chamada na API com valores válidos o retorno será 200 OK, mostrando que o livro foi criado com sucesso.
Conclusão
Passei um bom tempo estudando sobre annotations no Spring para poder utilizar em um projeto, esse conteúdo é um resumo de tudo que pesquisei e consegui aplicar, espero que tenha lhe ajudado em sua jornada.
Caso tenha alguma crítica, sugestão ou dúvida fique a vontade para me enviar uma mensagem:
Linkedin: https://www.linkedin.com/in/jjean-jacques10/
Até a próxima!