Photopea: Web App de Uma Pessoa Só que Gera US$ 1 Milhão/Ano
O Photopea é um editor de imagens, um “clone do Photoshop”, que roda 100% dentro de um navegador web, todo escrito em JavaScript.
Foi criado por um único desevolvedor e hoje gera uma receita anual de 1 milhão de dólares!
Como tudo começou
O Photopea começou a ser desenvolvido em 2012 por Ivan Kutskir, um programador de 33 anos (nascido na Ucrânia, mas que mora na República Tcheca).
E o projeto nasceu de uma história bem interessante: inicialmente, a ideia não era recriar um Photoshop "do zero" na web, mas ele estava apenas buscando uma solução simples para manipular arquivos PSD do Photoshop que usava nos jogos que estava desenvolvendo.
Em 2011, quando o Ivan ainda estava cursando a faculdade de Ciência da Computação, ele decidiu criar jogos online, escritos em JavaScript e usando WebGL, para renderizar tudo em 3D.
A ideia de usar JavaScript e WebGL, na época, foi bem avançada – a maioria dos jogos online usava o Flash, um reprodutor multimídia proprietário da Adobe que precisava ser instalado na máquina do usuário como um plugin.
Um dos primeiros jogos bem sucedidos que ele criou foi o Dino Hunt 2, um jogo de "Tiro em Primeira Pessoa" que dá para jogar hoje em dia ainda.
E foi durante o desenvolvimento de jogos que ele começou a se incomodar com o processo de alterações constantes nos arquivos PSD dos assets do jogo. Mesmo quando fossem pequenas alterações, como por exemplo, só manipular uma das layers, ele precisava abrir e esperar carregar o Photoshop toda a vez.
Daí ele teve uma ideia: criar um parser simples para manipular esses arquivos, de forma super rápida, na web.
Durante o desenvolvimento, ele acaba gostando do trabalho e decide então transformar em um pequeno projeto, mas apenas como um módulo JavaScript, que daria pra ser usado por outras pessoas.
Com um visualizador e manipulador de layers de arquivos PSD, ele também adicionou um conversor de imagem, para exportar para outros formatos como o JPEG ou PNG, sendo esse o início do Photopea, lá em 2012.
Em 2016, logo depois da faculdade, ele decidiu que poderia tentar ser mais ambicioso e começou a trabalhar no projeto em tempo integral – sem falar nem para a família dele, para não acharem que ele era maluco! Ele nunca teve um emprego formal: o Photopea foi o único trabalho que ele teve até hoje!
O projeto atualmente
A versão mais recente do Photopea (5.6, 2024-04-22) tem 138.541 linhas de código, tudo escrito na mão, inclusive o HTML e CSS, sem nenhum framework e já foi traduzido para mais de 40 idiomas (pelos próprios usuários).
Um das grandes vantagens do Photopea em relação ao Photoshop é o fato de funcionar em qualquer lugar com um navegador moderno (ou seja Windows, Mac, Linux, Chromebook, Android, iOS). Inclusive, o Android é a segunda plataforma mais popular:
O editor funciona offline, armazenado no cache do dispositivo (~2 MB) e pode ser usado sem internet, porque não depende de um servidor.
O editor também abre 5 vezes mais formatos de arquivo do que o Photoshop. Há suporte para edição de arquivos PDF (reescrever textos, editar gráficos vetoriais, alterar cores), arquivos SVG, arquivos GIMP e até mesmo arquivos de vídeo, como MP4, WEBM e MKV (cada quadro se torna uma camada, pode ser exportado de volta para GIF ou MP4).
E segundo o Kutskir, muitos usuários dizem que costumam usar o Photopea simplesmente porque ele inicia mais rápido que o Photoshop – o site abre em ~2 segundos, enquanto o Photoshop pode levar até 15 segundos para inicializar.
Um aspecto interessante do desenvolvimento do Photopea é que 15% do tempo é gasto com o relatório de bugs para navegadores: ele já reportou tantos problemas do Chrome que ele tem contato direto com a equipe de desenvolvimento do navegador.
Muitas partes do Photopea são open source, como os parsers para formatos de imagens, mas o projeto não é de código aberto. Há um repositório no GitHub, mas ele serve mais como um local para relatório de bugs, solicitações de recursos e discussões gerais.
Para não copiarem o código, ele criou um obfuscador próprio, o "[SQZR.js]"(https://github.com/google/closure-compiler/issues/2522), 60x mais rápido do que o Closure Compiler do Google.
O modelo freemium + anúncios
O Photopea gera aquela receita de 1 milhão de dólares por ano de duas formas: anúncios e créditos que eliminam os anúncios.
Para cada hora de uso dentro do Photopea, o site gera, em média, 5 centavos de dólar com anúncios, que ficam rotacionando na parte lateral direita do aplicativo.
É possível comprar créditos que eliminam os anúncios por uma quantidade específica de dias: 8 dólares compram 30 dias, por exemplo, já por 50 dólares, o site ficam sem anúncios por um ano.
Há também uma conta Premium, que custa 5 dólares por mês, permitindo fazer o upload de imagens para uma nuvem particular e créditos de IA para algumas operações específicas, como a "Remove BG" e "Magic Replace" – essas operações também estão disponíveis gratuitamente, mas é preciso assistir a anúncios de vídeo a cada operação.
Recentemente, o Ivan também lançou uma nova ferramenta, especial para a edição de imagens vetoriais (SVG, PDF, Adobe Illustrator), chamado Vectopea, com uma interface muito similar ao Photopea.
Conclusão
O Photopea é um exemplo claro da estratégia de inovação incremental (“pegar algo que já existe e fazer melhor”). O Ivan foi pegando o retorno dos usuários ao longo dos anos, com obviamente uma persistência extrema necessária para ir aprimorando e expandindo a funcionalidade da ferramenta, fazendo com que ela se tornasse uma ferramenta robusta, que facilmente pode substituir o Photoshop para uma grande parte de usuários casuais e prossumidores. O modelo de negócios freemium aqui também foi uma sacada muito boa do desenvolvedor, permitindo que o projeto se mantesse independente e financiado pelos próprios usuários.