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Na verdade, há os dois movimentos - de entrada e de saída da nuvem. A saída não é o padrão de toda empresa. E nem é necessariamente o movimento "correto".

Há empresas que nasceram na nuvem, e agora estão migrando parte do seu desenvolvimento para servidores próprios, para enxugar custos. Elas nascem na cloud pois o capital inicial necessário é menor. Quando começam a ter lucro, compram servidores próprios para evitar custos desnecessários com nuvem em partes da aplicação onde não há vantagem de se terceirizar (por exemplo, para análise de dados usando GPU, treinamento de redes neurais, ou qualquer coisa assim).

Existem empresas que nunca migraram para a nuvem por estarem atrasadas mesmo. Pode ser devido a burocracias, ou conservadorismo (o famoso "em time que está ganhando não se mexe"), ou empresas grandes com metodologias de administração tradicionais (que parecem um Titanic, e custam mudar qualquer coisa). E agora estão começando a ir pra nuvem.

Existem aquelas que já estão na nuvem, está tudo certo, e não pretendem mudar nada.

E existem aquelas que testaram a nuvem, e por quaisquer motivos disseram "não vale a pena", e resolveram voltar 100% para servidores próprios. Sobre essas empresas, eu tenho os comentários abaixo:

É importante lembrar que não é toda empresa que tem know-how o suficiente de nuvem, e nem uma metodologia administrativa apta a adotar esse tipo de tecnologia de forma eficiente e eficaz. Posso dar dois exemplos reais:

  1. Em um trabalho meu, havia uma contratada de tecnologia com um time de Cloud que prestava serviços à empresa que eu trabalhava. Nunca vou me esquecer do dia que o responsável de Cloud, que fazia a comunicação diária conosco (do time de IA) disse "uai, se tem orçamento, usa essa tecnologia mais cara aí mesmo. Já foi aprovado mesmo. A empresa de vcs é gigante, isso aí pra eles é centavos". A alternativa que nosso time estava sugerindo era 4x mais barata, era mais escalável, e cumpria o mesmo papel... Foi a maior falta de profissionalismo que eu já vi na minha carreira. Se fosse o dinheiro dele, eu duvido que ele diria algo assim. Cheguei a me perguntar se é isso que acontece com dinheiro público. No final, decidimos usar a alternativa mais barata, e conseguimos economizar o suficiente pra termos um ambiente de desenvolvimento em paralelo (que não estava no orçamento), o que nos economizou várias noites mal dormidas. A empresa pode ter muito dinheiro, mas nosso projeto não! Se o responsável por Cloud dá sugestões assim, é impossível fazer a nuvem valer a pena mesmo!

  2. Eu tive uma tarefa de migrar um programa que rodava em um servidor local para a nuvem (em 2022. Empresa atrasada, como mencionei). Quando fui efetuar a migração, reparei que nosso maior custo de execução era em um componente específico. Havíamos ouvido antes que aquele componente era caro mesmo, então já era esperado. Era um custo elevado, mas estava dentro do orçamento que já havia sido aprovado pelo time de arquitetura e pelo financeiro. Muita gente seguiria a vida nesse ponto.
    Mas eu pedi para investigar mais a fundo, e meu líder aprovou.
    Percebi que a maior parte do custo elevado não era de processamento, e sim de networking. Depois de alguns dias, entendi que o que acontecia é que uma parte do nosso algoritmo (código legado, feito para rodar localmente) era escrever em um arquivo toda vez que havia um dado fora do padrão. Mas o acesso ao arquivo não era feito todo de uma vez, e sim a cada iteração - ou seja, a cada dado analisado. E cada acesso ao arquivo na nuvem cobrava algumas frações de centavos. Ou seja, analisando várias tabelas com centenas de milhares de dados, onde havia sempre vários dados fora do padrão (pela natureza da aplicação), eram centenas de milhares de acessos ao arquivo.
    Somando tudo, dava mais de 400,00 reais POR EXECUÇÃO, só por causa dessas escritas em arquivo de forma sequencial. E a execução era semanal! Então ao mudar a lógica do algoritmo pra escrever tudo de uma vez, o custo desceu para 0,06 (centavos) POR MÊS.

Repare que ao trabalhar com a nuvem temos que tomar esses cuidados. Não basta migrar algo que já existe para a nuvem, exatamente da forma como está, e depois falar que não teve a redução nos custos como esperado, e voltar para servidores locais. Tem que fazer da forma correta. Tem que gastar tempo analisando o resultado e tentando otimizar o que for possível. É um trabalho difícil, demorado. Por isso hoje em dia nascem cargos como FinOps, mesmo durante um aparente êxodo da nuvem por parte de algumas empresas. Porque estas empresas entenderam a necessidade e a possibilidade de ter o ROI esperado da migração para a nuvem, se tomados os devidos cuidados.

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