O que não é um agente?
Chatbot não é agente. Assistente virtual também não é agente. Qualquer sistema que não toma decisões nem realiza ações por conta própria não é agente. Para ser agente, é preciso autonomia e iniciativa.
Na área de Inteligência Artificial, o conceito de agente é uma abstração para descrever entidades que percebem um ambiente por sensores (que podem ou não ser dispositivos eletrônicos), processam essas informações, tomam uma decisão e agem sobre o ambiente usando seus atuadores (também não restritos a dispositivos eletrônicos). Isso implica que há autonomia na tomada de decisão: um agente não depende de controle externo.
Por exemplo, um carro de controle remoto não é um agente. Ele não percebe o ambiente, não processa informações de entrada, nem toma decisões autonomamente. Quem percebe o ambiente e toma as decisões é quem está com o controle remoto. Portanto, sistemas controlados externamente não são agentes.
Um robô que limpa a casa sozinho, por mais simples que seja, batendo nos pés de mesas, paredes com seus sensores, é um agente. Ele navega em um ambiente de forma autônoma. Alguns modelos ainda retornam à base de carregamento quando a bateria está baixa, outro exemplo de autonomia. Esse é um exemplo de agente reflexivo simples, no qual “reflexivo” está relacionado a agir por reflexo (regras simples) e não a "refletir" no sentido humano.
Ultimamente, com a popularização da Inteligência Artificial Generativa, o palavra "agente" está sendo vista em toda parte. Muitas vezes associada a aplicações que usam grandes modelos de linguagem para tomar decisões.
É natural essa associação, pois esses modelos têm grande capacidade de compreensão e geração de texto. Porém, dependendo de como forem usados, eles não são agentes por si só.
Para facilitar, vamos pensar nos grandes modelos de linguagem como motores. Eles podem ser o núcleo de um agente, processando entradas e tomando decisões. Mas, sozinhos, não são agentes. É preciso adicionar as engrenagens e transmissões para fazê-los funcionarem desse jeito. É preciso acoplá-los a sensores e atuadores que permitam perceber o ambiente e agir de forma autônoma.
Por que um chatbot não é um agente? Se alguém abre a tela de um chatbot e não faz nada, não escreve nada, não clica em nada, o chatbot não vai fazer nada. Ele não tem autonomia para agir sem uma interação inicial. Ele só responde a demandas, não possui iniciativa própria. E os assistentes virtuais, que são versões especializadas de chatbots, seguem a mesma lógica.
Exemplos interessantes de agentes baseados em grandes modelos de linguagem destacam sua capacidade de atuar em ambientes nos quais podem perceber, processar informações, tomar decisões de forma autônoma e agir seguindo um objetivo.
Em Generative Agents, os pesquisadores exploraram agentes que interagiam em uma cidade virtual. Tais agentes chegaram ao ponto de organizar uma festa de Dia dos Namorados, demonstrando capacidades de planejamento e interação multiagente.
Já no ChatDev, os agentes assumiram papéis em uma simulação de um equipe de desenvolvimento de software, como CEO, CTO, programadores, testers e designers, colaborando para criar aplicações, incluindo jogos executáveis.
O Agent Hospital simulou a interação entre pacientes, enfermeiros(as) e médicos(as) em um ambiente hospitalar, resultando em agentes especializados em dar diagnósticos para doenças respiratórias de forma mais acurada.
Ao utilizarmos a palavra “agente” de forma adequada, conseguimos consolidar os conceitos que ela engloba e aprofundar nosso entendimento sobre autonomia, decisão e ação em sistemas de IA. Isso nos permite refletir criticamente sobre o grau de autonomia que estamos dispostos a conceder a esses sistemas.
Por outro lado, o uso indiscriminado e inadequado do termo não apenas dilui sua riqueza conceitual, mas também prejudica o entendimento coletivo, dificultando uma análise crítica mais precisa.
É importante lembrar que o conceito de agente possui mais de 30 anos de história na Inteligência Artificial, carregando uma base teórica robusta e essencial para discussões no campo.