Manifesto Zen Pela Vida
Manifesto Zen Pela Vida
Escrevi esse texto no Medium, acredito ser relevante, então vou transcrever aqui :-)
O grande mal do mundo moderno é a onipresente pressa, a urgência quimérica de que tudo deve ser para ontem. O mais incrível é que não é difícil perceber o quão absurdo é tudo isso. O tempo é o bem mais precioso da vida, ou seria a vida o bem mais precioso do tempo? É exatamente essas duas coisas que estamos perdendo e desperdiçando. E como sabemos, o tempo é a única coisa que não podemos recuperar em nossas vidas. Podemos recuperar a saúde, dinheiro, bens, relações, mas nunca recuperamos o tempo. E como temos utilizado o tempo que temos? Será que estamos usando com sabedoria? Gastamos nosso tempo com coisas e pessoas que realmente importam? Ou será que gastamos tempo com futilidades, com pessoas nocivas, com atividades que nos prejudicam e comprometem nossa saúde e nossa paz?
Somos obrigados a fazer tudo sem pensar, indo apenas no embalo do fluxo alucinado do dia-a-dia, temos muito mais tarefas a fazer do que cabem em 24 horas, e a sensação de que nunca conseguimos cumprir tudo o que deveríamos, no trabalho, estudos, relacionamentos, lazer, descanso, atividades físicas, atividades culturais, viagens, aquisições, melhoria de hábitos, atenção aos relacionamentos com amigos e familiares, relacionamentos amorosos, e uma infinidade de itens… essa sensação de que não conseguimos dar conta de tudo nos gera altíssimos níveis de estresse, e uma terrível ansiedade e/ou depressão. Essas duas últimas (ansiedade/depressão) não são o que chamam atualmente de o mal do nosso século, são apenas o reflexo, são as consequências de uma causa, que é a pressa!
Sou da área de T.I., e todos sabemos muito bem sobre os grandiosos projetos com prazos exíguos, recursos escassos e planejamentos irrealistas. Ainda assim, damos conta, ao custo de nossa saúde, tempo e qualidade de vida, para conseguir atender às ambições de quem não precisa se preocupar em receber um salário. Isso se aplica a praticamente todos os setores e áreas de trabalho. Desde a antiguidade tem sido assim, dos construtores de pirâmides a Michelangelo em sua obra na capela Sistina, da corrida do ouro à corrida espacial. Em séculos, a humanidade nada aprendeu sobre o que importa de verdade, e geração após geração, as vidas das pessoas se escoam pelos ralos do tempo sem que tenham de fato, vivido.
Nossas mentes não param nem por um segundo, os pensamentos se atropelam o tempo todo, a paz é apenas um conceito abstrato que não é vivenciado. A paz é justamente a ausência de pensamentos, é o que os zen budistas chamam de "não-mente". A consciência plena é a consequência da não-mente, e o estado que isso produz é o que chamamos de paz. Não é um conceito abstrato, é um estado de ser, e deveria ser vivenciado, ao menos em alguns momentos do dia, da vida.
Quanto mais mente, menos consciência. Quanto menos consciência, menos controle temos sobre nós mesmos e sobre nossas vidas, nossas escolhas. O pensamento é uma ferramenta útil que deve ser utilizada quando necessário, e assim como qualquer outra ferramenta, deve ser colocado de lado após ter cumprido sua utilização, para que possamos contemplar as obras que construímos, contemplar a natureza, as pessoas, viver o momento e expandir a consciência.
Assistimos vídeos e ouvimos áudio em velocidade 2X, 3X, e sabe-se lá até que ponto entendemos e absorvemos realmente o que há de importante. Não somos máquinas, mas estão nos obrigando a nos tornarmos uma. Quanto mais rápido fazemos as coisas, tanto mais rápido chegaremos ao fim de nossas vidas, e quando piscarmos, estaremos numa situação em que já não será possível se arrepender e fazer diferente. Talvez quando nos dermos conta de que corremos tanto e não vivemos nada, já não tenhamos mais tempo para viver.
Pare agora. Respire fundo. Relaxe. Observe seu corpo, tenha consciência da sua respiração, de sua postura, do turbilhão de pensamentos que não te deixa em paz nem por um segundo com suas ordens de "tenho que fazer isso, tenho que fazer aquilo, preciso parar de fazer isso… fazer, fazer, fazer!" - apenas pare!
Você tem vivido bem? Tem dado a devida atenção aos que você ama? Tem dado atenção e cuidados para si mesmo? É tempo de repensarmos nosso estilo de vida, estilo doentio esse que é imposto à maioria das pessoas pelo mundo inteiro. Trabalhamos a maior parte do dia para enriquecer quem já é muito rico, e essa parte do dia é o precioso tempo de nossas vidas. Todos precisamos sobreviver, e para isso temos que dedicar uma parte de nosso tempo ao trabalho, mas não somos obrigados a doar nossa saúde física e mental, e muito menos a nossa paz de espírito.
Talvez não precisemos ter tudo o que nos dizem para ter, nem fazer tudo o que nos dizem para fazer. Há um movimento chamado essencialismo, li a respeito, o conceito é muito interessante, procure se informar.
Uma grande árvore brota através de uma pequena semente. É isso o que estou plantando aqui e agora. Uma semente de mudança, pode ser que demore a formar os primeiros brotos, e demore ainda muito mais para dar os primeiros frutos. Mas é assim que deve ser, devagar, no tempo certo, sem pressa, com raízes fortes.
A princípio pensei nos profissionais de T.I., que simpatizem com a filosofia zen, para ajudar a pensar em como podemos implementar isso em nossas vidas, em nosso dia-a-dia que de modo geral, é muito corrido. Mas não apenas pessoas de T.I., qualquer um que queira contribuir com ideias em direção a ambientes de trabalho mais saudáveis, interessados em aprender a meditar, a praticar o zazen ou qualquer outra atividade que ajude a expandir a consciência e a não-mente, como o mindfulness, por exemplo, são muito bem vindos. Que deixe a pressa de lado, e venha com calma. Ajudem a cuidar e desenvolver essa semente, seremos suas raízes dentro de algum tempo!
Proponho uma experiência com pessoas com este grau de maturidade, pessoas que acreditam que a consistência é mais importante do que a pressa. Pessoas que acreditam que as coisas feitas com calma e bom planejamento são mais duradouras, sustentáveis e agregam muito mais valor e qualidade. É uma proposta de ir na contra-mão do mundo, contra a loucura desenfreada o imediatismo, contra o sequestro da consciência, é ir contra tudo o que está causando essa pandemia de estresse, ansiedade e depressão, que é muito mais antiga e mais perigosa do que a covid.
Vamos trabalhar com calma, pensar em cada parte do código com tranquilidade, para que possamos produzir o melhor desempenho possível. Vamos comer com calma, sentir os diferentes sabores, aromas, texturas. Vamos caminhar com calma, com passos mais lentos e tranquilos enquanto respiramos o ar a plenos pulmões, ouvindo os sons e observando os arredores, com consciência em cada passo. Vamos viver! É aqui que está a vida, no momento presente, no eterno aqui e agora, pois passado e futuro não existem, e apesar disso, é onde costumamos passar a maior parte da vida, relembrando o passado ou imaginando o futuro, e perdemos o agora.
Medite sobre a sábia frase do Mestre Oogway: "O ontem é história, o amanhã é um mistério, mas hoje é uma dádiva, por isso chama-se presente."
Lembre-se sempre disso: quanto mais mente, menos consciente.
Obrigado pelo seu tempo, sei o quão valioso ele é. Tenha uma boa vida!