Executando verificação de segurança...
14

A minha sincera dúvida: por que?

A tendência de complicar projetos simples com tecnologias avançadas não é nova, refletindo uma verdade que perdura no design desde sua concepção. A escola Bauhaus, entrou para história do design, justamente por promover a filosofia de que "a perfeição é finalmente atingida, não, quando não há mais nada a adicionar, mas sim, quando não há mais nada a retirar". Isso contrasta com a tendência natural ao over-engineering.
Sala de controle de um u-boat 1918
Sala de controle de um u-boat 1918

Mas, por que, indagamos, por que essa tendência natural ao labirinto, ao complexo, quando o simples aguarda, paciente, por sua vez?

A famosa resposta de um alpinista ao ser questionado sobre por que queria escalar o Monte Everest: "porque ele está lá", reflete essa tendência humana. Essa declaração ilustra uma atração quase primal pelo desafio, pela conquista.

Não é a busca pelo complicado em si, mas na exaltação da conquista, na adrenalina do desafio, no peito estufado pela sensação de domínio sobre o caos. Os desenvolvedores, esses designers do digital, veem nas linhas de código não apenas instruções, mas pinceladas de sua próprio intelecto. Quanto mais código, quanto mais complexo, mais bibliotecas, mais frameworks, mais ferramentas empilhadas com destreza em uma torre de Babel: maior e profunda a sensação de avanço, de progresso, de escalada rumo ao seleto grupo dos virtuosos da programação. É um delírio? Sim!

Esse delírio, de fato, reflete a própria natureza do capitalismo, onde nossa sociedade é moldada para promover um ciclo contínuo de consumo, superprodução e superengenharia. Esse impulso não apenas influencia o comportamento individual dos desenvolvedores, mas é também um reflexo das estruturas sociais mais amplas que valorizam o crescimento e a inovação constante, muitas vezes à custa da simplicidade e sustentabilidade.

A resposta ao "por que" dessa pergunta é comparável à por que destruir o meio ambiente em nome do progresso tecnológico? Ninguém tem uma resposta, mas na raiz de todas, está o capital: a plata, dinheiro, bufunfa. Reconhecer essa dinâmica é crucial para redirecionar práticas para soluções mais equilibradas.

Quem está ensinando os aprendizes que a tecnologia é tão complicada?

Os incentivadores dessa complexidade são muitos e variados, desde os vendedores de cursos, esses modernos alquimistas prometendo transformar o chumbo do desconhecimento em ouro puro da expertise, até os gigantes, os titãs, os colossos do mundo da tecnologia – Amazon, Microsoft, Google, e todos seus ilustres irmãos e irmãs, primos e primas que veem na complexidade não um problema, mas uma oportunidade lucrar alto!

Ao voltar nossa atenção para os provedores de nuvem, como AWS, GCP, Azure, esses gigantes, ganham com cada byte transferido, com cada ciclo de CPU consumido, com cada gigabyte armazenado. Eles nos encorajam, com sorrisos benevolentes e promessas de escalabilidade, segurança, eficiência, a complicar, a adicionar mais uma camada, mais um serviço, mais uma ferramenta, pois em cada camada, em cada adição, há uma taxa, um custo, e o pior, um fio invisível que nos liga a eles, drenando não apenas nossos recursos financeiros, mas muitas vezes nossa capacidade de ver a beleza na simplicidade e autonomia.


Não nos deixemos cair em tentação e livrai-nos do mal:

A chave para resistir eficazmente reside, sem dúvida, no discernimento. Esta capacidade inestimável de discernir nos possibilita avaliar com precisão se uma ferramenta ou abordagem realmente adiciona valor ao nosso projeto, ou se, ao contrário, apenas acrescenta uma camada de complexidade desnecessária. No entanto, a aquisição de tal discernimento segue um caminho longo e árduo, forjado pela experiência.

É através da jornada — um trajeto marcado por um acúmulo de experiências, falhas, sucessos, refatorações que desafiam nossa perseverança, e epifanias repentinas sob a água quente do chuveiro — que começamos, aos poucos, a perceber a verdade. Uma verdade tão absoluta quanto o teorema de Pitágoras, segundo o qual o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos; essa realidade apenas se revela após inúmeras noites de debugging e inspeção meticulosa, momentos que nos equipam com a bagagem necessária para dizer não às complexidades desnecessárias e abraçar o simples, o estúpido.

Entretanto, não devemos ceder a pressão. Mesmo diante deste cenário, existe espaço para a escolha, para o exercício do discernimento, para a prática da sabedoria. Podemos optar por aprender, sim, mas aprender a questionar criticamente: "Isso realmente simplifica o processo? Isso realmente adiciona valor? Isso beneficia a mim ou apenas contribui para engordar ainda mais os cofres dos gigantes tecnológicos?" A verdadeira maestria no design está em saber quando é hora de complicar e quando é hora de simplificar. E o caminho para a maestria é longo!

A analogia com o U-boat ilumina de forma única os desafios enfrentados na inovação e no design tecnológico. O primeiro submarino já construído: os engenheiros não tinham precedentes claros para guiá-los na determinação do que era essencial e do que não era. A tendência natural foi incluir o máximo possível de controles e funcionalidades, numa tentativa de preparar o submarino para o "desconhecido". Esse instinto de adicionar em vez de subtrair reflete uma cautela natural, mas também destaca uma verdade fundamental no design e na engenharia: a dificuldade em identificar o que é verdadeiramente necessário.

layers

Carregando publicação patrocinada...