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[BUILD] De professor de biologia a DevOps - Um estudo de caso

Opa! Blz?

De duas, uma: Você clicou neste artigo porque achou muito estranha a associação ou porque se identificou com o possível assunto de migração de área. Bom! Independentemente do que você pensou ao ler este título, posso afirmar que o objetivo deste texto não é dar dicas, ensinar ou pagar de coach para novas gerações. :D Na verdade, a intenção é um tanto egoísta. Gostaria de compartilhar minhas dúvidas, dificuldades e aprendizados ao longo desse processo de mudança de área. Quem sabe, assim, eu possa realmente ajudar ou dar uma luz para aqueles que estão na mesma situação profissional que eu. Vamos lá?

Uma breve história do meu tempo

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A Teoria de Tudo 2014

Iniciei minha carreira acadêmica aos 18 anos, em 2003, ao ingressar na faculdade que hoje é conhecida como famigerada e odiada (na minha época, era a única forma de "crescer" na vida, mas isso é assunto para outro texto). Escolhi o curso de Ciências Biológicas devido a uma certa facilidade com a matéria, o que significa que eu estava completamente perdido e não sabia ao certo o que fazer da minha vida - algo bastante comum nessa idade. No entanto, rapidamente me identifiquei com o curso e me dediquei ao máximo para descobrir qual área da biologia me tornaria um jovem rico e bem sucedido (sem risos, por favor :D).

Entre muitas idas e vindas, percebi que gostava mais do trabalho em laboratório do que do campo, e comecei a procurar nos departamentos qual laboratório daria uma oportunidade para esse jovem e empolgado cientista. Tive a sorte de encontrar um instituto chamado IPEATRO, onde tive o privilégio de conhecer profissionais incríveis que serviram como espelho para minhas escolhas e me levaram a seguir a pesquisa por um tempo. Lá, consegui atuar em algumas frentes que envolviam bastante conhecimento de tecnologia. Foi lá que tive os primeiros contatos com a programação.

Naquela época, uma nova área da biologia estava ganhando popularidade, uma área que exigia profissionais com um perfil multidisciplinar: a Bioinformática. Logo de cara, fiquei fascinado. Achei muito f@d4! A possibilidade de estudar genomas, desenhar primers e comparar organismos através de programas feitos em Perl, por exemplo, me deixou extremamente animado.

Segui nesse caminho por muitos anos da minha vida, e logo outras necessidades surgiram (infelizmente, a parte de "ser rico" não estava muito presente). Comecei a lecionar no ensino superior e no ensino médio, algo que fiz por um pouco mais de 11 anos da minha carreira acadêmica. Foi uma experiência incrível, que me ensinou muitos valores humanos.

Apesar de gostar muito de dar aulas, sempre tentava me envolver de alguma forma com a área de TI. No entanto, meu envolvimento era superficial, pois eu fazia apenas pequenas gambiarras para automatizar alguns processos. A necessidade de me aprofundar e finalmente ingressar na área se tornava cada vez mais presente. Foi então, em 2021, durante a pandemia da COVID-19, que decidi me concentrar e estudar para finalmente entrar de vez na área.

Eu, eu mesmo & o sistema

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Eu, Eu Mesmo & Irene 2000

Nesse momento, precisei ativar minha personalidade estudiosa (haha) e começar a elaborar um plano de estudos que funcionasse de forma satisfatória para mim. Aprender sozinho algo tão complexo como programação e suas ramificações requer uma concentração e disciplina invejável, o que não era exatamente o meu caso :(. Na realidade, o que aconteceu foi o seguinte: primeiro me deparei com a dúvida sobre fazer uma graduação ou cursos técnicos na área. Ainda tinha uma memória vívida da importância de ter um diploma universitário e acreditava que só conseguiria uma vaga como desenvolvedor se fizesse um curso relacionado. No entanto, percebi que, no momento, isso não seria possível devido a dificuldades financeiras e à falta de tempo para me dedicar integralmente a isso.

Segundo, ao perceber que não poderia iniciar uma nova graduação naquele momento, decidi fazer o que qualquer pessoa sensata e com recursos limitados faria: comecei a procurar tutoriais no YouTube que tivessem uma didática interessante e pudessem me guiar pelo caminho certo. O canal escolhido foi, obviamente, o curso em vídeo :))) (Guanabara tem uma didática incrível!).

A playlist que escolhi para começar foi baseada em algumas pesquisas que fiz, levando em consideração três pontos básicos:

  • Qual seria a linguagem mais tranquila e acessível para aprender?
  • O que eu conseguiria fazer com essa linguagem escolhida?
  • Existem muitas oportunidades de trabalho para profissionais que dominam essa linguagem?

Após fazer pesquisas no Google e considerar rankings confiáveis e precisos, cheguei à conclusão de que o Python seria a melhor escolha. Levando em conta minha experiência com análise de dados e o uso dessa linguagem nesse contexto, me pareceu uma opção sensata seguir por esse caminho. Então, comecei a assistir ao curso de python 3 - mundo 01 e criei meu próprio roteiro de estudos.

O roteiro foi baseado em um método que me oferecesse a maior evolução possível dentro do que eu estava me propondo a fazer. E é nesse momento que costumo dizer que não existe fórmula pronta ou melhor maneira de fazer isso, pois depende muito do seu perfil de aprendizado. Depois de mais de onze anos em sala de aula, eu sabia muito bem que não adiantava buscar formas inovadoras e simplificadas para aprender. Aprender a aprender não tem mágica, é preciso se conhecer e tentar várias abordagens para encontrar o melhor formato. No entanto, existem alguns "life hacks" e "learning hacks" (10 Powerful Learning Hacks to Boost Your Learning Ability - LifeHack) que podem ajudar nesse processo de descoberta e adaptação ao estudo de novos conteúdos.

Como biólogo, posso dizer que o lifehack mais básico e necessário, que ajudará você a aprender melhor, é cuidar da sua saúde física e mental. E eu te digo isso como um profissional da área da saúde que muitas vezes negligenciou o que acabei de mencionar. No entanto, com certeza você concordará comigo: uma alimentação adequada, exercícios físicos e uma boa qualidade de sono fornecerão os recursos necessários para uma boa saúde mental e vai te dar mais gás para estudar.

Com o passar do tempo, percebi que aprender uma linguagem de programação era apenas uma pontinha muito pequena de todo o universo que envolve a área de TI. Essa realidade se tornou evidente assim que consegui minha primeira oportunidade de trabalho, mesmo que não tenha sido como desenvolvedor. Essa experiência foi ao mesmo tempo a pior e a melhor oportunidade que tive naquele momento.

Nada de novo no trampo

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Nada de Novo no Front 2022

No meio do ano de 2021, participei de uma seleção para trabalhar no setor de logística e monitoramento de uma terceirizada da AMBEV. O trabalho se limitava a monitorar e direcionar as equipes de entrega. Um trabalho que tem um perfil bem monótono e repetitivo, mas foi nele que tive o primeiro contato com um sistema legado e monolítico. Tive a chance de entender um pouco melhor suas dificuldades e características e também de colocar o aprendizado de Python em ação. Outro desafio que tive que entender foi o fato do local não ser um ambiente de desenvolvimento, portanto não existiam ferramentas para isso. Eu utilizava uma espécie de thin client que se conectava via VPN a um servidor da matriz. Era bem limitado e não permitia a instalação de softwares que poderiam facilitar a função, pois era exclusivamente para acessar a página da aplicação e utilizar planilhas gigantescas do Excel. Toda manhã, fazia a mesma coisa: ligava o terminal, acessava a página, baixava as planilhas, rodava as rotinas e gerava os resultados :(.

Essa rotina me fez pesquisar maneiras de tornar o processo o mais automatizado possível, algo que me renderia mais tempo para estudar outras coisas. Com a pesquisa, consegui encontrar um pacote chamado Selenium, que possibilitava a interação com elementos da página da web, como preencher formulários e clicar em botões, tudo isso de forma automatizada. Utilizava a ferramenta para baixar as planilhas e, em seguida, era só carregar os dados e executar as rotinas em Python. Devido à limitação do hardware, acabei utilizando o colab notebook da Google.

Chego então no porquê do trampo ter sido o pior e a melhor oportunidade daquele momento. Por um lado era um trabalho que oferecia uma função repetitiva, mas que por outro lado me ofereceu a chance de conseguir por em prática o básico e entender como aplicar no mundo real. E foi lá que acabei recebendo o convite para participar de uma seleção para um grande empresa do ramo tecnológico. E aí começa minha corrida na área.

Run Dev, Run!

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Forrest Gump - O Contador de Histórias 1994

Um amigo viu as gambiarras que eu estava fazendo para tentar facilitar o processo tedioso e perguntou se eu tinha interesse em tentar alguma vaga na área de TI. No momento que ouvi isso já pintou aquele sentimento de impostor. Mesmo assim eu mandei aquele “só me falta o QI :D”.

Ele disse que tinha alguns contatos que poderiam me ajudar nisso. Conheci então um dev que já estava atuando na área há algum tempo e que poderia me indicar no trabalho dele. Eu pensei na hora que não ia dar em nada e continuei minha vida como estava. Pra minha surpresa alguns dias depois recebi uma ligação de uma tech recruiter.

Foi um papo muito bacana onde ela perguntou se eu já havia trabalhado com desenvolvimento de software e quais tecnologias eu conhecia. Fui sincero em todo o processo e falei abertamente que nunca tinha trabalhado de fato com desenvolvimento e que não conhecia muitas tecnologias, mas que estava disposto a trabalhar bastante para evoluir nesses pontos. Provavelmente, ela deve ter me achado um maluco, mas de alguma forma ela achou interessante e o processo deu continuidade.

No segundo contato ela me falou qual vaga tinha disponível e como ocorreria o processo de seleção. A vaga era para backend e a escolha seria através de um desafio seguido de mais algumas entrevistas técnicas. Esse desafio teria o objetivo de construir uma API RESTful usando a tecnologia NodeJS. E completou dizendo que deveria ser entregue no prazo de 4 dias, mas que se eu quisesse entregar antes, não tinha problema. Nesse momento eu me segurei pra não rir, de tão nervoso e tenso que eu estava. Simplesmente não fazia ideia de como fazer aquilo. Era uma quinta e eu teria até domingo pra entregar o projeto completo e versionado no github.

Quando desliguei a minha intensão era deixar aquilo de lado, focar no trabalho e dedicar mais tempo aos estudos e talvez pintasse outra oportunidade no futuro. Mas nada te motiva mais para novas oportunidades que um dia lascado no trabalho, passando raiva e fazendo aquilo que você não gosta.

Terminei aquela quinta decidido a tentar de todas as formas concluir o desafio, nem que eu passasse os dias seguintes sem dormir. E foi o que de fato eu fiz. Cheguei em casa e comecei a pesquisar o tema no Google e quais cursos poderiam me dar uma luz.

Fiz uma pesquisa por termos e tecnologias que seriam utilizadas para o projeto e com o tempo as buzzwords começaram a ficar mais claras e o entendimento do todo começou a melhorar. Segui buscando algum curso rápido que poderia me deixar mais seguro e que eu conseguisse seguir um passo a passo e replicar no desafio. Encontrei um muito bom, que usei como base para fazer o projeto - Projeto Completo: XD, NodeJs, MongoDB, React Native e React encontrado na Udemy.

Bom! Não preciso dizer que não consegui entregar o projeto antes do prazo, na verdade fiquei até próximo ao fim das 23h tentando concluir. O projeto ficou horrível mas estava funcional e organizado - Teste.

Era isso! Agora era esperar por algum retorno. Estava zero confiante, mas não estava triste, nem nada. Apenas estava com a cabeça tranquila por não ter desistido. Qual fosse o resultado, receberia com tranquilidade. MENTIRA!! Fiquei com uma azia absurda e uma ansiedade que não tinha tamanho.

Era a primeira semana de outubro de 2021 quando recebi o e-mail informando que havia passado no teste e que passaria por mais duas entrevistas técnicas. Na primeira tive uma péssima atuação, estava muito nervoso e percebi na hora que o tech lead não tinha gostado muito. E de fato foi o que ocorreu. A recruiter me informou que infelizmente não deu match. Mas pra minha sorte absurda, um outro tech lead gostaria de bater um papo comigo. Dessa vez não poderia deixar escapar a oportunidade. Fiz o que não tinha feito antes daquele momento. Pesquisei a empresa e sobre como agir em entrevistas daquele tipo. Um vídeo que assisti na época foi o do Código Fonte TV. Ajudou bastante!

À Procura de uma Felicidade

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À Procura da Felicidade 2006

Demorou mais uns 3 dias e recebi a notícia que havia passado nas entrevistas e que começaria no próximo mês. Não sei explicar a alegria que senti naquele momento. Algo parecido com a cena de À Procura da Felicidade com Will Smith (S2).

Obviamente foi uma sensação incrível e que seria seguida de muitas outras a partir daquele momento. Finalmente estava entrando na maravilhosa fábrica de programadores. Mas como já me estendi absurdamente, vou deixar para uma outra oportunidade e falar um pouco como foi a transição de backend para DevOps e sobre a curva de aprendizado, vários bugs, noites em claro e equipes inteiras saindo do time.

Se você chegou até aqui. Obrigado pela paciência. :D

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eu gostei muito da forma como você deixa as referências :)

no meu caso ainda estou estudando e só prendendo arrumar um trabalho aos 18, quero aproveitar o tempo que ainda me resta pra estudar tudo que tiver interesse

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Cara, vc escreve bem, ficou muito interessante, creio que seja meio a história de todo mundo, mas contada de forma entusiasmada! Leiria mais até.
Legal não ter fechado sua mente, afinal, vindo de Python e indo para Node(Javascript) é um belo desafio pessoal. Continue a compartilhar e meus parabéns!

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Legal que vc sentiu o entusiasmo. Pq era exatamente isso que queria passar no texto. Seu feedback me anima a escrever mais. Valeu bro!! \o/

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Muito legal PH! Parabéns por essa força que teve em trabalhar sua habilidade de adaptação. E também, parabéns pelo texto que foi bem divertido de ler. A espera dos próximos episódios.

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Adoraria ouvir sobre Backend -> DevOps. Eu comecei em Maio de 2021 e 2 anos depois ja cheguei em 9K, mas sempre tive vontade de dar uma fuçada em DevOps. Até fiz imersão (aliás, excelente) do Fábio Veronez e outros similares que não me recordo agora. Meu receio da transição é descer o salário (tipo, mais que 2K) já que não tenho tanto XP na área. Estou numa zona de conforto bem grande, atualmente rsrs

Ah... Comecei como Geofísico, depois Mestrado em Engenharia de Petróleo, que larguei para virar garoto de programa (de computador, é claro).

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O curioso que a transição pesquisa para o desenvolvimento acaba sendo bem mais natural que imaginamos. Não sei se vc sentiu a mesma coisa!!? Claro que tem todo o aparato técnico que precisa ser nivelado, mas o processo de descoberto e evolução dentro da área é bem semelhante.

DevOps tem sido um desafio gigante que acabou surgindo. De fato é uma quebra de zona de conforto que precisa ser avalidada com cuidado. Quem precisa pagar contas, tem que pensar bem onde pisa kkk

Logo estarei compartilhando essa mudança. Seria legal ler tmb como foi sua passagem de Geofísico para o munda da programação. Penso que essas histórias ajudam muito a todos. Valeu!!

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Sim. Achei mais natural.

E um comentário. Eu programava mais como pesquisador do que como engenheiro de software. Se eu analisar, na verdade, eu programava mais código ruim, já que como pesquisador a mais importante era mostrar meus resultados. Agora, como engenheiro de software, há uma grande preocupação com a qualidade do código, porque dificilmente você trabalhará sozinho.

Sobre a minha passagem... Meio que tá banalizada. Já contei diversas vezes. Aqui, LinkedIn e até no YouTube (lives do canal programador lhama. Acho que nessa última eu falei com um pouco mais de detalhes)

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Primeiramente, parabéns pela atitude em mudar de carreira, são poucos que se arriscam assim.

Segundamente, achei o texto bem divertido e leve, daqueles que dá vontade de continuar lendo.

Parabéns PH, quem teve o prazer de te conhecer direta ou indiretamente sabe o potencial valor que tem ter uma amizade, convívio, troca de ideais contigo, isso faz de você um profissional e ser humano diferenciado. Abs.

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Muito obrigado pelas palavras meu amigo. Eu só posso agradecer a vc por fazer parte desse momento. Foi através de pessoas incríveis como vc que consegui engajar na área. Valeu man!! TMJ