Como ter vários empregos sem ser um p** no c*
Hoje é o primeiro dia, em quatro anos, em que não tenho nenhuma agenda profissional. Isso porque, depois de 4 anos (2 sendo dono de empresa e 2 sendo Tech Lead), finalmente abandonei todos os meus trabalhos part-time. O motivo? Consegui um trabalho full-time que cobre toda a minha renda anterior e no qual vou focar por completo.
E sim, tenho total liberdade para comentar sobre isso e até mesmo conversar com meus ex-chefes. Sabe por quê? Porque consegui conciliar todos os trabalhos de forma transparente, e todas as empresas para as quais prestei serviço tinham conhecimento umas das outras.
Ao contrário da maioria, que aceita quatro empregos como PJ, deixa de entregar em três e vive à beira do burnout, eu, depois de vender minha empresa, sabia que, se quisesse manter minha renda, deveria encontrar uma forma de organizar meu tempo entre as empresas e dividir os escopos corretamente.
Por quatro anos, fiquei variando entre dois a quatro empregos, sendo pago por pacotes de horas ou contratos de serviço mensal sem horas estipuladas (do que me arrependo, e falarei mais sobre isso adiante). Isso significava que cada empresa exigia, no mínimo, quatro horas diárias, fazendo com que minha carga horária variava entre oito a dezesseis horas de trabalho por dia.
Inicialmente, tentei seguir um horário fixo para cada empresa, mas logo percebi que não era funcional. Primeiro, porque a última empresa do dia sempre saía prejudicada, pois minha performance já não era a mesma. Segundo, porque a qualquer momento poderia surgir uma reunião em um horário que coincidisse com outra empresa, quebrando meu foco e reduzindo minha produtividade.
E sabe os contratos sem horas estipuladas? Livre-se deles. No final, querem que você trabalhe 240 horas por mês pagando o equivalente a 120, o que simplesmente inviabiliza a possibilidade de trabalhar para múltiplas empresas. Sabemos que, para muitas empresas, o PJ é um falso CLT: tem todas as obrigações e nenhum benefício. Esse é o pior tipo de local para se trabalhar, então, sempre que possível, evite.
Foi então que decidi aplicar um novo método: não teria mais horários fixos em nenhuma empresa. Eu atuaria em todas como se fossem uma só, definindo prioridades de acordo com o escopo do momento. No início, foi desafiador, pois todas as empresas eram do setor de e-commerce e tinham períodos de alta e baixa demanda muito semelhantes. No entanto, percebi que, apesar dos meses de alta serem os mesmos, os dias variavam. Essa foi a chave para meu problema.
Havia dias em que trabalhava dezesseis horas para apenas uma ou duas empresas, resolvendo as questões mais urgentes antes de seguir para as próximas. Eu tentava sempre estar disponível para todas, deixando claro que minhas agendas eram compartilhadas. Os primeiros meses foram difíceis, mas, depois do primeiro ano, eu já estava completamente adaptado a essa rotina. Todas as deadlines eram cumpridas, e, com o tempo, conquistei ainda mais espaço na maioria dessas empresas.
Uma grande dificuldade foi lidar com gestores do “caos” — aqueles sem organização e controle de prioridades. Isso tornava meu trabalho mais difícil, afinal, se tudo é urgente, nada é.
Eu tive um caso de um gestor que mentia para o cliente sobre o status de uma atividade, mentia para o desenvolvedor sobre o prazo e para o PO sobre a entrega. No final, ele ainda conseguia alterar os fatos para a Diretoria. Como muitas vezes eu não sabia que tal tarefa era crucial ou que, na verdade, já estava atrasada há mais de um mês quando chegou a mim, eu não dava a devida importância. Porém, na hora de “precisamos entender onde erramos”, o líder técnico muitas vezes acabava levando a culpa. Então, aprendi que, caso você tenha esse tipo de gestor, deve sempre deixar seu trabalho visível para o chefe do seu gestor, copiar outros em e-mails e sempre discutir temas importantes nos chats abertos da empresa, nunca no 1:1. Assim, você se resguarda de ser engolido pelo caos dessa pessoa.
Ontem foi meu último dia nessa rotina, e já sinto um pouco de nostalgia. Mas, com essa experiência, percebi que devo continuar no caminho da liderança e deixar o papel de especialista para trás. Depois de dez anos, o gerenciamento de times se tornou minha prioridade, embora eu ainda pretenda programar sempre que possível.
E sabe o mais legal? Eu só consegui essa transição graças às cartas de recomendação dos meus ex-chefes. Eles sabiam que esse era o emprego que eu queria no momento.
Você sempre deve colocar sua carreira acima dos interesses de qualquer empresa, mas isso não significa que precisa ser um grande p** no c*. Seja transparente, desde que seu chefe também seja. Se ele esconde informações e não compartilha o escopo completo do trabalho, então ele não é um bom líder.
Quanto mais cada integrante de um time entende os objetivos da empresa, mais ele percebe a importância de sua performance. Esse foi um dos combustíveis que fez minha startup dar certo. Como líder, você não precisa abrir planilhas financeiras ou contar o que comeu no almoço, mas, se sua equipe souber o objetivo final do que está sendo pedido, com certeza terá mais interesse em tornar isso realidade.
Se você gostou deste texto, fique ligado nos próximos. Vou compartilhar tudo o que puder para ajudar você a se destacar nas soft skills que o mercado espera!
Até a próxima!