Médicos britânicos criticam tecnologias “da idade da pedra” do NHS, um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo
Segundo eles, a gestão das listas diárias de pacientes é feita em um computador, acessado por uma conta compartilhada. Esse processo exige que dois médicos se revezem duas vezes por dia para atualizar a lista de pacientes, enviar para seus próprios e-mails e, então, imprimir uma cópia para a equipe em outro computador próximo. Um dos médicos observa que algumas unidades do NHS estão, no mínimo, 12 anos atrás em termos tecnológicos em comparação a outros hospitais.
De acordo com a Associação Médica Britânica, médicos na Inglaterra perdem cerca de 13,5 milhões de horas anuais devido a sistemas de TI e equipamentos inadequados. Entre as causas estaria um investimento menor em ativos de saúde, cerca de 37 bilhões de libras a menos do que países como Alemanha, França e Austrália desde 2010. Paralelamente, uma pesquisa de 2022 da Health Foundation revela que o Reino Unido investiu aproximadamente 20% a menos por pessoa em saúde, em relação a países europeus comparáveis, na última década. Como resultado, várias partes do NHS permanecem sem tecnologias básicas.
Além disso, os médicos relatam que, mesmo onde há infraestrutura digital, os sistemas tendem a ser isolados, dificultando o acesso às informações dos pacientes. Um médico sênior afirma precisar abrir até três sistemas de registros eletrônicos, quatro aplicativos web e dois sistemas internos para consultar resultados. Em alguns departamentos, ainda há uma combinação de registros eletrônicos e de papel, criando uma “grande variação na infraestrutura básica” e prejudicando a eficiência do trabalho.
Os profissionais alertam para riscos à segurança dos pacientes devido à falta de interoperabilidade entre sistemas de registros e de exames laboratoriais, o que já resultou em rotulação incorreta de amostras de sangue, identificação equivocada de pacientes e até perda de resultados de exames, eventos que, segundo eles, podem contribuir para fatalidades.
Um relatório recente sobre o estado do NHS na Inglaterra indica que o sistema de saúde está apenas no início de sua transformação digital. O Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido possui um plano de dez anos para modernizar a infraestrutura, equipando o serviço com tecnologia avançada para enfrentar filas de espera, aprimorar a experiência do paciente e acelerar diagnósticos.