Dúvida: como vc mediu esses tempos? Porque eu testei aqui e não teve essa diferença tão grande. Na verdade os tempos foram bem próximos.
Pergunto porque simplesmente rodar a função uma vez isoladamente (assumindo que esse foi seu teste, mas por favor confirme) raramente é o meio mais confiável, pois tem vários fatores que podem influenciar - por exemplo, a inicialização do runtime, caso use um como o Node.js ou Deno, o próprio console.log
(I/O sempre atrapalha essas medições), etc.
Enfim, o ideal é usar alguma ferramenta que elimina ou minimiza esses fatores externos na medição. Eu fiz um teste usando o Benchmark.js, segue o código:
function fatorial(n) {
if (n == 1 || n == 0) return 1;
return n * fatorial(n - 1);
}
function fatorial_acc(n, acc = 1) {
if (n == 1 || n == 0) return acc;
return fatorial_acc(n - 1, n * acc);
}
const n = 100;
var Benchmark = require('benchmark');
var suite = new Benchmark.Suite;
suite
.add('fatorial', function () { fatorial(n); })
.add('fatorial_acc', function () { fatorial_acc(n); })
.on('complete', function () { console.log('Fastest is ' + this.filter('fastest').map('name')); })
.on('cycle', function (event) { console.log(String(event.target)); })
.run({ 'async': true });
Lembrando que os números exatos podem variar de acordo com o hardware, mas enfim, na minha máquina o resultado foi:
fatorial x 1,009,360 ops/sec ±3.16% (81 runs sampled)
fatorial_acc x 1,023,571 ops/sec ±1.30% (88 runs sampled)
Fastest is fatorial_acc,fatorial
Os números (1,009,360
e 1,023,571
) estão em notação americana (a vírgula separa os milhares) e representam a quantidade de operações por segundo (ou seja, quanto maior, melhor). E na prática, houve empate técnico, tanto que ele mostra ambas como a "mais rápida".
Rodando o mesmo teste várias vezes, às vezes a primeira é ligeiramente mais rápida, e às vezes é a segunda. Mas a diferença continua tão pequena que na prática ainda é um empate técnico. Nada chega perto da diferença que vc chegou, por isso pergunto novamente como foi feita a sua medição.
Testando online no jsbench.me, os resultados foram similares (empate técnico, embora curiosamente o primeiro tenha sido um pouco mais rápido na maioria das vezes).
Enfim, respondendo à pergunta, atualmente a maioria das engines não otimizam a recursão em cauda, então não deveria ter tanta diferença assim.
Aliás, uma das respostas disse que o segundo caso não empilha as chamadas, mas não é verdade. Vejamos novamente a função:
function fatorial_acc(n, acc = 1) {
if (n == 1 || n == 0) return acc;
return fatorial_acc(n - 1, n * acc);
}
Suponha que eu chame fatorial_acc(3)
. Então temos:
- (em
fatorial_acc(3)
): n
é 3
e acc
é 1
- (em
fatorial_acc(3)
): não entra no if
, então retorna fatorial_acc(n - 1, n * acc)
, ou seja, fatorial_acc(3 - 1, 3 * 1)
-> fatorial_acc(2, 3)
(é uma chamada recursiva, que é empilhada sim, já que não há otimização em cauda)
- (em
fatorial_acc(2, 3)
): agora n
é 2
e acc
é 3
- (em
fatorial_acc(2, 3)
): não entra no if
, então retorna fatorial_acc(n - 1, n * acc)
, ou seja, fatorial_acc(2 - 1, 3 * 2)
-> fatorial_acc(1, 6)
(é outra chamada recursiva, que é empilhada sim, já que não há otimização em cauda)
- (em
fatorial_acc(1, 6)
): agora n
é 1
e acc
é 6
- (em
fatorial_acc(1, 6)
): entra no if
, então retorna acc
, que no caso é 6
- (dentro de
fatorial_acc(2, 3)
): fatorial_acc(1, 6)
retornou 6
, então o return
retorna 6
- (em
fatorial_acc(3)
): fatorial_acc(2, 3)
retornou 6
, então o return
retorna 6
- o resultado é
6
Ou seja, há empilhamento das chamadas recursivas (só não haveria empilhamento se tivesse otimização em cauda).
Só pra completar, segue o empilhamento da primeira:
function fatorial(n) {
if (n == 1 || n == 0) return 1;
return n * fatorial(n - 1);
}
Se chamarmos fatorial(3)
:
- (em
fatorial(3)
): n
é 3
- (em
fatorial(3)
): não entra no if
, então retorna n * fatorial(n - 1)
, ou seja, 3 * fatorial(3 - 1)
-> 3 * fatorial(2, 3)
(chamada recursiva)
- (em
fatorial(2)
): agora n
é 2
- (em
fatorial(2)
): não entra no if
, então retorna n * fatorial(n - 1)
, ou seja, 2 * fatorial(2 - 1)
-> 2 * fatorial(1)
(chamada recursiva)
- (em
fatorial(1)
): agora n
é 1
- (em
fatorial(1)
): entra no if
, então retorna 1
- (dentro de
fatorial(2)
): fatorial(1)
retornou 1
, então o return
retorna 2 * fatorial(1)
, ou seja, 2
- (em
fatorial(3)
): fatorial(2)
retornou 2
, então o return
retorna 3 * fatorial(2)
, ou seja, 6
- o resultado é
6
Em ambas a quantidade de empilhamentos é a mesma, já que a quantidade de chamadas recursivas é a mesma. A única diferença é que a versão sem acc
precisa multiplicar o resultado da chamada recursiva com n
, enquanto a versão com acc
já vai passando as multiplicações intermediárias pra frente, então ela só retorna o mesmo valor retornado pela chamada recursiva. Mas a quantidade de chamadas empilhadas é a mesma.
Visualizando a pilha de chamadas
Modifiquei a função para usar console.trace()
, que mostra que as chamadas são de fato empilhadas:
function fatorial_acc(n, acc = 1) {
console.trace('antes if', n, acc);
if (n == 1 || n == 0) return acc;
console.trace('antes return', n, acc);
return fatorial_acc(n - 1, n * acc);
}
const n = 3;
fatorial_acc(n);
A saída foi (eliminei as linhas do próprio Node, deixando apenas as do meu arquivo de testes, para ficar mais fácil visualizar):
Trace: antes if 3 1
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:10:13)
at Object.<anonymous> (/home/hkotsubo/teste.js:17:13)
Trace: antes return 3 1
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:12:13)
at Object.<anonymous> (/home/hkotsubo/teste.js:17:13)
Trace: antes if 2 3
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:10:13)
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:13:12)
at Object.<anonymous> (/home/hkotsubo/teste.js:17:13)
Trace: antes return 2 3
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:12:13)
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:13:12)
at Object.<anonymous> (/home/hkotsubo/teste.js:17:13)
Trace: antes if 1 6
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:10:13)
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:13:12)
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:13:12)
at Object.<anonymous> (/home/hkotsubo/teste.js:17:13)
Repare que no final (quando chamamos fatorial_acc(1, 6)
, que é o caso em que ele entra no if
) há 3 chamadas de fatorial_acc
empilhadas. O que mostra que de fato não há tail call optmization, e que as chamadas são empilhadas sim.
Mais uma prova de que as chamadas são empilhadas
Alterei o valor de n
para 50000
:
function fatorial_acc(n, acc = 1) {
if (n == 1 || n == 0)
return acc;
return fatorial_acc(n - 1, n * acc);
}
const n = 50000;
console.log(fatorial_acc(n));
Com isso, ele estoura o limite de chamadas recursivas que o engine suporta, daí o Node.js deu erro, porque a quantidade de chamadas empilhadas estourou o tamanho máximo da pilha:
RangeError: Maximum call stack size exceeded
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:11:22)
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:11:22)
at fatorial_acc (/home/hkotsubo/teste.js:11:22)
... trocentas linhas iguais
Ou seja, as chamadas são empilhadas sim. No Node.js é possível aumentar o tamanho da pilha através da linha de comando:
node --stack-size=50000 teste.js
Aí ele roda. Como curiosidade, o resultado será Infinity
, já que o fatorial de 50000 é um número tão grande que estoura os limites máximos da linguagem.
Por fim, testei no Chrome e Firefox (que atualmente não otimizam), e deu erro também (inclusive, no Firefox a mensagem de erro é "too much recursion").