Sou programador a alguns anos e agora estou começando a entrar no mundo da música. Gostaria de saber se há alguma forma de eu misturar as duas áreas da minha vida. Se ja existe um nicho para isso ou se vocês sabem de algo interessante que eu poderia fazer
Claro que sim! Hoje em dia, a música pop é dominada pela música eletrônica em todos os aspectos, desde a composição até a distribuição. Pense no processo de gravação, onde DAWs como o Pro Tools e o Reaper são essenciais E falando em DAWs, não podemos esquecer dos VSTs (Virtual Studio Technology). Qualquer produtor de áudio sabe o que são e usa VSTs diariamente em seu trabalho. Basicamente, os VSTs são plugins, frequentemente desenvolvidos em C++, que se integram às DAWs para expandir suas funcionalidades. Eles permitem adicionar desde instrumentos virtuais até efeitos complexos.
Entretando não são apenas as DAWs ou desktops/laptops que fazem uso massivo de software; por definição, todas as mesas de som digitais (como as da Yamaha, Behringer entre outras) são computadores programados. Instrumentos modernos, como workstations com sintetizadore,s drum machines, samplers, são essencialmente computadores. Aqui destaco especialmente Elektron e Teenage Engineering. O mesmo vale para pedaleiras; muitas delas são digitais e, portanto, são basicamente computadores. Há um nicho crescente de pedaleiras DIY que utilizam software.
O famoso teclado Nord que revoluciou a musica Pop é essencialmente, uma caixa de plástico teclado para um computador rodando um software sofisticado. Se olharmos para a música eletrônica, as coisas ficam ainda mais intricadas. Muitas vezes, toda a produção acontece dentro de softwares de computador, como Ableton, Reason, Logic, além dos utilizados por DJs, como Serato e Traktor. E não apenas isso, os modernos CDJs e mixers usados por DJs profissionais feitos por marcas como Pioneer, Denon e Xone são, na essência, também softwares rodando em um hardware customizado.
Estou falando principalmente sobre gravação e produção, pois é o que conheço. Mas pense também no MP3, ou nos codecs de próxima geração para transmissão de áudio sem fio em tempo real. Há muitas pessoas pesquisando e discutindo esse tipo de coisa. E, falando sobre complexidade, entrar no campo do processamento de sinal digital é verdadeiramente desafiador. A quantidade de matemática envolvida é impressionante. E os problemas se tornam extremamente complexos à medida que nos aprofundamos nesse domínio.
O processamento de sinal digital apresenta problemas notoriamente difíceis, e os engenheiros muitas vezes estão mais preparados para resolvê-los do que os programadores. Lembra-se das séries e transformadas de Fourier? Estas são ferramentas básicas que você precisará começar a entender.
Algumas recomendações:
Plataformas digitais, como Spotify e YouTube, transformaram a música utilizando algoritmos avançados. O Spotify recomenda faixas baseado não apenas no comportamento dos usuários, mas também em análises sofisticados de similaridade no audio de cada música. Enquanto o YouTube, com sistemas como o Content ID, detecta automaticamente infrações de direitos autorais.
Além disso, algoritmos de recomendação estão se tornando mais precisos graças à inteligência artificial, adaptando-se a moods e situações do ouvinte. A música gerativa, exemplificada por canais como "Lofi Girl", aponta para um futuro onde a IA produz música personalizada em tempo real, unindo músicos e programadores em experiências musicais únicas, o que para muitos é o futuro da música em certo sentido.
Dado o seu interesse em programação e música, eu sugiro um exercício prático para mergulhar nesse mundo. Há algum tempo, um usuário fez um clone do synth Arturia usando Tailwind e postou aqui no Tabnews. Embora o foco tenha sido majoritariamente no design grafico do instrumento, que ficou perfeito, a parte de síntese de som embora boa, tinha algumas limitações.
Uma boa ideia seria estudar a Tone.js e tentar fazer com que o som do clone web seja idêntico ao do instrumento real. Espero que se intersse e que consiga encontrar esse projeto aqui no Tabnews. Seria uma ótima forma de unir suas habilidades em programação com seu interesse na música e ajudar a comunidade!
Um abraço e bons estudos!
Sim! Complementando o que o amigo @clacerda já disse, existe também a área de musicologia computacional! Minha tese de mestrado foi nessa área, inclusive.
Resumidamente, a ideia é utilizar métodos computacionais para o estudo da área da música.
Por exemplo, a minha tese foi criar algoritmos de mineração de dados para encontrarmos automaticamente padrões sequenciais em partituras, que se relacionam a determinadas emoções. Por exemplo, será que uma sequência das notas dó-ré(b)-dó-ré(b), com duração 1/4-1/4-1/4-1/4, é associada a suspense? Se sim, será que se tirarmos esse segundo ré(b), ainda teremos essa emoção de suspense? E se a duração for 1/4-1/8-1/8-1/4, essa emoção se mantém? Quais outros padrões são associados à suspense também? E quanto às outras emoções?
Rcomendo procurar a biblioteca Music21 em Python e brincar um pouquinho pra ver como funciona.
É bem desafiador, pois não existe muito conteúdo para ajudar na internet, já que é um nicho pequeno. E só existe conteúdo em inglês... se quiser algo em português e fácil de fazer, recomendo alguma outra opção que o @clacerda sugeriu. Mas se animar, é uma área bacana pra caramba! Esse exemplo que eu dei é só uma das possibilidades dessa área de musicologia computacional. Há inúmeras!